Através do jornal "O Nortista", editado no Ceará, e digitalizado pela Hemeroteca Nacional, do ano de 1849, encontramos uma biografia de João Carlos Wanderley, onde no final consta uma querela feita por seu pai, Gonçalo Wanderley contra o português José Gomes da Mota. Segue a transcrição da dita querela.
Pública forma – Diz Gonçalo
Wanderley Lins, morador no termo desta Vila, como administrador de sua mulher
Francisca Xavier de Macedo, que ele querela, e denuncia as justiças de Sua Alteza
Real, e especialmente o faz perante Vmc, de José Gomes da Mota, morador no
mesmo lugar: a razão de sua querela consiste em que sendo a mesma mulher do
suplicante menor de 13 anos, vivendo honestamente e com sua mãe Teresa Maria da
Conceição, com quem se achava então casado, o suplicado, e valendo-se este de
inconsideração da dita menor, a qual é ordinária em semelhante idade para acautelar
a sua ruina, entrou ele a seduzir, umas vezes com carícias, e promessas, e
outras com ameaças, por muito tempo, até que vencendo o fraco e inerme coração
da menor utilizou de sua honra e virgindade, e continuando nos mesmos excessos
sucedeu conceber ela um filho, que parindo se acha em casa de Antônio José, ou no
lugar Tapera, no riacho de Panema; e tratando de casar a mesma menor, quando
ela já se achava outra vez pejada, sem que ela fosse senhora de si, pois só
viveu entregue as disposições do suplicado seu padrasto, com efeito de promessa
do mesmo veio a casar o suplicante com a sobredita menor estando ignorante de
tudo o que veio patentear-se, por segunda vez parir a mulher do suplicante,
tendo passado poucos meses depois de casada, e porque o referido caso é de
querela na conformidade das ordenanças livro 5º título 17 §1ª título 23 em princípio,
e o suplicante a quer dar como administrador da dita mulher, a qual sendo necessário
o benefício de restituição por mulher, e por menor a fim de ser castigado o
suplicado, para emendas de outras, satisfações do suplicante, e república
ofendida, portanto – Pede a Sr. Juiz Ordinário, lhe faça mercê mandar que
distribuído atenda ao suplicado da sua querela jurada na forma da lei, e provado
quanto baste seja ao suplicado pronunciado e preso, e sendo necessário se passe
todos as ordens – ERM.
Testemunhas – Testemunha 1,
o ajudante Pedro de Barros Cavalcante, branco, casado, morador nesta Vila que
vive de suas agências – Testemunha 2, Francisco Ferreira da Silva, branco, solteiro,
morador nesta Vila, que vive de seu negócio – Testemunha 3, Antônio Ferreira Santos, branco, solteiro, morador nos
Pocinhos, vive de seus gados;
Despacho – Distribuído, e
jurado se lhe tome sua querela - Carvalho
Distribuído em correição –
Visto em correição, e advirto juiz com pena de culpa de que não pronuncia querela alguma sem assessor,
que assim o manda a lei, e da mesma sorte autos, porque se o fizesse não cairia
no absurdo de pronunciar a querela a folhas 81; pelo que mando, que mande dar
baixa na culpa, e rol de culpados a José Gomes da Mota, por o julgar sem culpa,
e a querela nula por ser contra direito, e não competir ao querelante
semelhante ação, senão depois de casado por fato então acontecido a ele que só
é quando o direito lhe permite a sua ação pela ofensa que se lhe faz, e não de fatos anteriores em
que a ele se não ofendia. Vila da Princesa, 6 de agosto de 1803 - Radamaker.
Obrigado pela remessa. Favor me manter incluido em sua lista, para envio de novas matérias.
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