Wandelinden, Fernado Pedroza, seu Nezinho, Silvio Pedroza |
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor de Matemática da UFRN e membro do INRG
Algumas vocações se repetem em membros de uma mesma família. Encontramos, ao longo do tempo, famílias de escritores, poetas, matemáticos, músicos e, também, de políticos. É o caso da família Alves do Rio Grande do Norte, onde a vocação política está presente ao longo de muitos anos. Não é simplesmente uma questão de oligarquia como se repete. Mais do que isso, entram as composições genéticas e ambientais.
No dia 10 agosto, Manoel Alves Filho, seu Nezinho, se fosse vivo, estaria completando 117 anos. Ele nasceu no dia 10 de agosto de 1894, tendo sido batizado no dia 09 de setembro do mesmo ano, tendo como padrinhos Nossa Senhora das Dores e Manoel Francisco Cordeiro. Seu aniversário é um dia antes do aniversário do seu filho mais famoso, Aluízio Alves. Este muito festejado, aquele muito esquecido.
Nos dias de hoje, os Alves vivem um período de glória, tendo passado anteriormente por momentos difíceis. Garibaldi Alves, que foi deputado estadual e vice-governador, é hoje senador da república; Garibaldi Alves Filho, que foi deputado estadual, prefeito, governador duas vezes, e presidente do Senado, é hoje senador e ministro da Previdência Social; Agnelo Alves, que foi prefeito de Natal e Parnamirim e senador, é hoje deputado estadual; Carlos Eduardo foi deputado estadual e prefeito de Natal; Valter Alves é deputado estadual; Henrique Alves, que é deputado federal há mais de dez legislaturas, é hoje líder do PMDB e forte aliado do Governo Federal. Ana Catarina Alves, irmã gêmea de Henrique, foi vereadora e deputada federal; Clemenceau Alves foi prefeito de Angicos; e Expedito Alves que foi prefeito de Angicos e foi assassinado.
Tenho uma curiosidade muito grande em saber mais sobre Manoel Alves Filho e sua esposa Maria Fernandes, ascendentes de todos esses políticos acima nomeados. Qual foi a participação deles no encaminhamento dessas vocações políticas? Nossos historiadores maiores não se aprofundaram nessa questão. Encontramos poucas informações sobre seu Nezinho, mas acredito que ele teve uma vida que merece uma boa biografia.
Manoel Alves Filho começou sua vida com um problema, pois seu irmão mais velho era Manoel Alves Martins Filho. Possivelmente, eles deveriam ser distinguidos por apelidos. O irmão mais velho, nascido em 2 de dezembro de 1891, batizado em 7 de dezembro do mesmo ano, era filho de Manoel Alves Martins e Joaquina Teixeira Martins (primeira esposa). Passei um tempo tentando descobrir a origem do velho Manoel Alves Martins. Francisca Martins, neta dele, após conversas com algumas irmãs mais velhas, informou que o pai dele poderia ser Manoel Alves Martins ou Joaquim Alves Martins, e que os mais antigos da família tinham vindo de Cacimbas do Vianna. Noélia Agripino, entretanto, escreveu: sou natural de Santana do Matos e meu avô, Luiz de França Martins, era filho de Delfino Alves Martins e Paulina Maria da Conceição. Coincidentemente, eles dois são irmãos dos pais de Nezinho Alves (Manoel Alves Martins e Maria Ignácia da Conceição, a segunda esposa), isso eu já sabia porque minha mãe falava muito que Nezinho e meu avô eram primos carnais).
Quando Manoel Alves Martins Filho foi batizado, em 1891,foram seus padrinhos Delfino Alves Martins e Josefina Alves Fernandes, irmãos, e que pelo que foi dito acima por Noélia, tios dele.
A trajetória dos ascendentes de seu Nezinho é povoada por homens que tiveram atuação e prestigio em suas épocas. O pai dele, Manoel Alves Martins, era filho do negociante José Alves Martins e de Francisca Martins de Oliveira. José Alves nasceu em Macau, casou em Curralinho e atuava em toda região do Assu. Pelo que observamos nos registros da Igreja foi muito solicitado para padrinho de batismos ou testemunha de casamentos em Rosário, Oficinas, Cacimbas do Viana, Assú, praia do Rosado, Sítio Comissário e adjacências. José Alves Martins foi assassinado em Rosário em 1871. O pai de José Alves Martins era o Major José Martins Ferreira, que foi presidente da Mesa de Arrecadação de Macau, e também Juiz Municipal. Está na lista dos fundadores de Macau que saíram da Ilha de Manoel Gonçalves. Assim como José Alves Martins, era muito solicitado para padrinho de batismo e testemunha de casamento em várias regiões do Assu, principalmente Cacimbas do Vianna, para onde levou toda a família. O Major José Martins Ferreira sucedeu seu pai, o Capitão João Martins Ferreira, na administração das terras do Sertão do Assu, do tenente-coronel Bento José da Costa.
A esposa de Seu Nezinho, sua prima Maria Fernandes, conhecida como Dona Liquinha, tinha uma ascendência de pessoas muito ativas nas suas comunidades. Ela era filha de Josefina Emília Alves Fernandes e Absalão Fernandes da Silva Bacilon. Josefina era filha de José Alves Martins, já citado acima. Absalão era filho de Antonio Fernandes da Silva e Sabina Maria da Silva; neto paterno de Manoel Álvares da Fonseca e Anna Maria Barbosa, e materno de Francisco da Silva de Carvalho e Maria Joanna.
As poucas informações que obtive sobre seu Nezinho foram tiradas dos livros de Zélia Alves e de Aluízio Alves, além do livro Memória Viva, com entrevista de Aluízio. Por esses livros vemos que seu Nezinho saiu de Santana do Matos, onde nasceu, e foi ser comerciante em Angicos. Em 1929 era vice-prefeito, prefeito interino na revolução de trinta e prefeito designado em 31. Foi, também, presidente da Câmara Municipal de Angicos. Foi autor do ato que mudou o nome da povoação de Carapebas para Afonso Bezerra. Com a seca de 1932 veio com a família para Ceará - Mirim. Dois dias depois de Agnelo Alves ter nascido, foi preso, tendo permanecido nessa condição por 31 dias.
Numa época em que menino não se metia em conversa de gente grande, Aluízio adquiriu um espaço entre os adultos que o fez se projetar para o futuro. Por isso, acredito que seu Nezinho teve uma participação muito grande no sucesso de Aluízio e de todos os seus outros descendentes que enveredaram pela política.