João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
É difícil se falar em democracia em um país onde a ignorância e a injustiça social ainda estão presentes e tornam seus habitantes presas fáceis dos espertos. As propagandas não são apresentadas de forma correta para se fazer uma boa escolha. A ideia do marketing não é mostrar os candidatos como são de verdade, mas induzir o eleitor a acreditar em um candidato fabricado. E nós não fomos preparados para ver a verdade no falso, como diria Krishnamurti. Lógica, percepção, atenção e compreensão não são ensinadas nas nossas escolas para nossas crianças. Diferentemente do que pensa Amanda Gurgel, é na sala de aula que podemos mudar o mundo. Nas Câmaras Municipais de hoje, isso é impossível, como ela vai perceber se for eleita. Lá o que muda de verdade é o eleito, que é cooptado por um sistema de trocas. Nenhum projeto sobre educação dará certo, se não houver mudanças dentro da sala de aula. Estímulos externos, tipo bolsas, escola modelo, horário integral não resolvem coisa alguma. Tudo isso é periférico e não concorre para transformar a capacidade de compreensão das pessoas ou dos eleitores.
Uma coligação que leva ao ar a informação que o fracasso de dois mandatários, nos seus respectivos governos, é resultado de eleição em primeiro turno, não respeita a lógica, ou então usa o livro de Shopenhauer: Como vencer um debate sem precisar ter razão.
Usar as decisões da justiça, erradamente, ou as manchetes montadas dos jornais para confundir o eleitor é puro malabarismo eleitoral. Parece coisa combinada – você monta a manchete ou grava a declaração de fulana que nós replicamos na nossa propaganda.
Ninguém está suficientemente preparado para governar uma cidade com muitas dificuldades. Quem for eleito terá que fazer escolhas e pagará por isso. Os programas são meros esboços de vontade. Eles estão na mente e no papel, mas esbarram na realidade crua de um mundo que cresce desordenadamente, onde as capitais são privilegiadas e as cidades do interior são esquecidas. Não cabe amadorismo na administração municipal.
Há uma crise no mundo, no Brasil, no Rio Grande do Norte e nos municípios que alguns candidatos ignoram. Eles não conhecem a relação despesas/receitas, não conhecem as regras a que está sujeito o serviço público, e em particular a Prefeitura da Cidade do Natal. No dia que um eleito tomar posse, tomará conhecimento das muitas dificuldades de uma administração pública, bombardeada o tempo todo pelos diversos Ministérios Públicos, Justiça, Tribunais de Contas, Câmara Municipal, sindicatos, líderes comunitários e jornalistas. Nem com a boa vontade do governo federal ou estadual, teremos mudanças significativas. Todos sabem disso.
Fui presidente do Conselho de Saneamento Básico da Cidade do Natal. Conheci de perto a nossa Companhia de Águas e Esgotos (CAERN). Naquela data, 2003, estava completamente endividada e comprometida com toda a manutenção da estrutura do programa de recurso hídricos herdada do Governo Garibaldi. O esgotamento sanitário, as drenagens, não são coisas fáceis que se resolvam de uma hora para outro. As lagoas de captação e o destino dos dejetos são constantemente contestados pelos moradores ou o ministério público.
A regularização fundiária, tão prometida, não se resolve só com dinheiro. Quem tem terreno e casa sabe as dificuldades, principalmente, se há pendengas jurídicas ao longo dos anos.
Somente se colocará os postos de saúde em funcionamento total, equipando-os com materiais e servidores habilitados. Como fazer isso, se a folha de pagamento do município já atravessou o limite prudencial, e, atualmente, são feitos cortes em coisas essenciais.
A manutenção das praças por si só, tem um custo alto. Se houver opção por novas praças, se comprometerão as praças já existentes; os formigueiros já começam a aparecer em alguns canteiros de algumas avenidas; a guarda municipal, hoje existente, não é suficiente para cobrir todos os próprios da Prefeitura, e mais, não é suficiente nem para cobrir as escolas públicas municipais, e, por isso, há necessidade de se contratar novos guardas, aumentando consequentemente a folha, já exaurida; para melhorar a coleta de lixo, tem que se pagar as contas das empresas, em primeiro lugar, e isso não é fácil; as calçadas levarão anos para serem corrigidas, a menos que haja uma legislação mais precisa sobre elas; a malha viária não é tão fácil de recuperar em pouco tempo, pois os muitos buracos acabaram por comprometer toda a sua extensão; a dívida ativa que a Prefeitura tem a receber e atinge a casa de 1 bilhão de reais não é fácil de entrar nos cofres municipais.
Janeiro de 2013 é um mês de acomodação, transição, conhecimento do que está ocorrendo de verdade. E o futuro gestor não poderá usar mais o retrovisor e correrá o risco de se desgastar rapidamente.
Um segundo turno não trará novidades sobre os candidatos e seus programas. Pior, ainda, é que começaria uma série de negociatas que o eleitor não tomaria ciência de suas cláusulas. Os debates na televisão não dariam uma visão correta dos candidatos, pois seriam semelhantes ao que estamos vendo agora. Você já conhece esse povo que está aí ou seus partidos. Você aguenta um segundo turno?