João Felipe da
Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN,
sócio do IHGRN e do INRG
José de Oliveira Ramos, dono do
Engenho Salgado, lá em Porto de Galinhas, foi preso, logo no início da
Revolução de 1817, e, mesmo com os apelos do seu amigo Tollenare, só foi
liberado com o fracasso da mesma. O rico comerciante português e grande
traficante de escravos, Bento José da Costa, não foi afetado pelas mudanças de
poder. Na revolução, sua filha Maria Theodora casou com um dos líderes da
mesma, Domingos José Martins. Posteriormente, casou seu filho Bento com Emília
Júlia, filha de outro participante da Revolução, Gervásio Pires Ferreira, e,
também, outra filha Izabel Maria da Costa, com José Ramos de Oliveira, filho do
preso da revolução, José de Oliveira Ramos.
José Ramos de Oliveira e sua
esposa foram padrinhos do meu bisavô, o tenente-cirurgião Francisco Martins
Ferreira, como se vê do registro.
Francisco, filho legítimo do
Major Jose Martins Ferreira, e de D. Josefina Maria Ferreira, nascido, aos sete
de outubro de mil e oitocentos e quarenta e um, foi batizado aos seis de janeiro
de quarenta, e dois em Macáo pelo Padre João Francisco Pimentel que lhe impôs,
de minha licença, os santos óleos. Foram padrinhos o tenente-coronel José Ramos
de Oliveira, e sua mulher Dona (Izabel) Maria da Costa, por seus procuradores
em Macáo. Manoel Januario B. Cavalcanti. Vigário Encarregado de Angicos.
Quatro anos depois desse batizado,
o padrinho faleceu, como podemos ver da notícia que encontramos no Anuário
Político, Histórico e Estatístico do Brasil (Hemeroteca Nacional): o comendador
José Ramos de Oliveira, um dos mais ricos capitalista de Pernambuco, principal
acionista da Companhia Beberibe, membro da comissão diretora das obras do
teatro público, cônsul de Dinamarca, e presidente da Associação Comercial da
praça, faleceu em Pernambuco, no dia 7 de julho de 1846, em consequência de uma
espinha no rosto, ao pé do nariz, a qual foi escarificada e tratada sem
proveito.
Em 1848, Dona Izabel Maria da
Costa Ramos, já viúva de José Ramos de Oliveira, fez seu testamento nomeando,
como testamenteiros, seus irmãos Bento José da Costa (Jr.) e Joaquim José da
Costa e mais seu guarda-livros João Evangelista da Costa e Silva. Nomeou,
também, seu irmão Manoel José da Costa (futuro barão das Mercês), como tutor
dos seus filhos menores Bento José Ramos de Oliveira de 10 anos e 4 meses, e
Anna Isabel Ramos de Oliveira de 8 anos e 6 meses. Mesmo com a nomeação do
tutor, deixou a responsabilidade, para que fossem conservados, tratados,
educados e dirigidos, seus filhos, até alcançarem a maioridade, para sua irmã
Francisca Escolástica Josefa da Costa.
Entre os bens da viúva constava,
aqui na região do Assú, meia légua de terra no Rio Salgado, no lugar Santa
Luzia, em que estava sentada a Fazenda do mesmo nome, com casa, currais e umas
benfeitorias, tudo avaliado por quatro centos mil réis. Era seu procurador,
aqui, Manoel de Melo Montenegro Pessoa.
Na Vila do Príncipe, o casal
inventariado possuía duas Fazendas, Baixa Verde e Malhada. A primeira, que tinha
como criador Manoel Casado da Fonseca, media meia légua de comprido e meia
légua de largura, confinando pelo Sul com o Rio Seridó, pelo Norte com terras
da Fazenda Malhada, pelo Nascente com terras de Pedra Branca, e pelo Poente com
terras do Sitio Barra do Riacho Fundo. A segunda, na beira do Rio Seridó, que
tinha como criador José Casado da Fonseca, media uma légua de comprido, com
três léguas de fundo, confinando pelo Norte com a Fazenda dos Patos, pelo
Nascente com as terras da Fazenda Saco dos Martins, pelo Sul com terras da
Barra do Riacho Fundo, e pelo Poente com o Rio Seridó.
Em 1849, Dona Izabel já era
falecida. Entre os documentos, do inventário, encontramos um pleito do tutor de
Anna Izabel, no inicio de 1860, ao Juiz de Órfãos, nos termos a seguir: Diz
Manoel José da Costa, tutor da órfã D. Anna Izabel Ramos de Oliveira, filha do
finado comendador José Ramos de Oliveira, que tem contratado casar sua
tutelada, a qual já conta dezenove anos de idade, com o Bacharel Bento José da
Costa, primo legítimo da mesma senhora. E porque apesar de entender o
suplicante, que esse consórcio é vantajoso para sua tutelada não pode, todavia,
realizá-lo sem o consentimento de V. Sª, vem requerer a V. Sª, digne-se
concedê-lo mandando passar para este fim o respectivo alvará.
Com a expedição do alvará veio o
casamento da filha da inventariada com o filho do inventariante: Aos onze de
fevereiro de 1860, na capela de Nossa Senhora da Conceição de Ponte de Uchoa,
pelas sete horas e meia da noite, dispensados em segundo grau de
consanguinidade, e juntamente os banhos, por sua Excelência Reverendíssima,
como consta dos documentos, que ficam em meu poder, e não apareceu impedimento
algum, de licença do Reverendo Coadjutor Pro pároco, Manoel Cirillo de
Oliveira, em presença do Padre Agostinho de Lima Cavalcante de Lacerda, e das
testemunhas Bento José da Costa, e Comendador Manoel José da Costa, casados, ele
morador na freguesia do Cabo, este nesta, se receberam em matrimônio por
palavras de presente o Bacharel Bento José da Costa, com Dona Anna Izabel Ramos
de Oliveira, ele filho de Bento José da Costa, e Dona Emília Júlia Pires
Ferreira, esta filha do finado José Ramos de Oliveira e Dona Izabel Maria da
Costa Ramos, ambos moradores e naturais desta Freguesia, e logo receberam as
bênçãos nupciais do Rito Romano: do que para constar mandei fazer este assento
que me assinei. O Vigário Manoel Joaquim Chavier Sobreira.
José Ramos de Oliveira, falecido em 1846 |