João Felipe da
Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN,
sócio do IHGRN e do INRG
Pelo
Facebook, Manoel de Freitas Filho me interpela querendo saber quem eram os avós
de Anna Joaquina de Barros, que foi casada com o alferes José Rebouças de
Oliveira. Dizia que ela era filha de Antonio de Barros Passos e de Ana de Lima
Abreu.
Fui
até as imagens que tinha fotografado na Cúria Metropolitana e no IHGRN. Fiquei
confuso, pois, encontrei dois Antonio Passos Barros, e algumas imagens de
difícil leitura. Precisei ordenar minhas informações, para evitar informações
contraditórias. É importante salientar que até os documentos primários dão
informações equivocadas, não sendo garantia total da verdade. Mas vamos ver as
informações que reuni.
Em
primeiro lugar, vejamos o batismo que encontrei no projeto Ultramar, Antônio de
Barros Passos Junior conforme uma
certidão de Antônio Jácome Bezerra, Vigário Colado na Paroquial Igreja de São
Frei Pedro Gonçalves, da Vila do Recife de Pernambuco: Certifico que vendo os
livros dos assentos dos batizados desta Freguesia, no livro primeiro, as folhas
cento e oitenta da parte de Santo Antonio, achei o assento de teor seguinte:
Aos trinta e um de abril de mil setecentos
e trinta e três, batizou, de minha licença, o Reverendo Padre Felipe
Ribeiro de Brito, nesta Igreja do Santo São Pedro a Antonio, filho de Antonio
de Barros Passos, e de sua mulher Ana de Lima (de Abreu), moradores nesta
Freguesia, e lhe pôs os Santos Óleos, e foram padrinhos Domingos de Barros,
morador na Freguesia de São Lourenço e Josefa Maria, filha de Mathias (?) Luis
de Brito, morador nesta Freguesia. Felis Machado Ferreira, Padre Felippe
Ribeiro de Brito, e não continha mais o dito assento, a que me reporto, e afirmo
em fé de Pároco, do que mandei passar a presente em que me assino. Recife, 27
de setembro de 1803. O Vigário Antonio Jácome Bezerra.
Tanto
pai como filho, ambos militares, vieram de Pernambuco para o Rio Grande do
Norte, na mesma data: o pai era sargento e veio para Diretor dos Índios da Vila
de Extremoz, o filho era soldado e veio como Mestre de Escola dos Índios da
Vila de Extremoz, no ano de 1759. Aqui, Antonio de Barros Passos gerou outros
filhos, mas sua esposa não era mais Anna, mas sim Luzia de Abreu e Lima, talvez
irmã da primeira. Vejamos alguns assentos das irmãs de Antonio de Barros Passos
Junior, que nasceram aqui na nossa capitania.
Inocência,
filha legítima do tenente Antonio de Barros Passos, natural da Freguesia de São
Lourenço da Mata, e de Dona Luzia de Abreu Lima, natural de Santo Antonio do
Recife, neta por parte paterna de Domingos de Barros e de Ângela Vieira de
Passos, da Freguesia de São Lourenço da Mata, e pela materna de Domingos Grades
de Abreu, natural de Lisboa, e de Dona Caetana de Abreu e Lima, natural do
Recife, nasceu aos vinte e oito de dezembro do ano de mil e setecentos e
setenta e dois, e foi batizada com os santos óleos, de licença minha, pelo
Padre Miguel Pinheiro Teixeira, aos quatro de janeiro do ano de 1773, fui eu
padrinho, e madrinha Dona Caetana de Abreu e Lima, por procuração que mandou de
Pernambuco, onde é moradora. Do que mandei lançar este assento em que me
assino. Pantaleão da Costa de Araújo.
Águida,
filha do tenente da Fortaleza, Antonio de Barros Passos, natural da Freguesia
de São Lourenço da Mata, e de Dona Luzia de Abreu Lima, natural do Recife,
Freguesia de São Pedro Gonçalves, neta por parte paterna de Domingos Barros, e
de Ângela Vieira dos Passos, naturais da mesma Freguesia de São Lourenço, e
pela materna de Domingos Grades de Abreu, natural de Lisboa, e de Dona Caetana
de Abreu Lima, natural do Recife, nasceu aos cinco dias do mês de fevereiro do
ano de mil setecentos e setenta e cinco, e foi batizada com os santos óleos
nesta Matriz, de licença minha, pelo Padre Coadjutor Bonifácio da Rocha Vieira,
aos cinco de março do dito ano; foi padrinho o Doutor Provedor Antonio Carneiro
de Albuquerque Gondim, casado, do que mandei fazer este assento em que me
assinei. Pantaleão da Costa de Araújo.
Rita,
filha legítima do tenente Antonio de Barros Passos, e de Dona Luzia de Abreu e
Lima, foi batizada na Matriz desta cidade, de licença minha, pelo Reverendo
Vigário da Vila de Extremoz, Valentim de Medeiros de Vasconcelos, com os santos
óleos, neta por parte paterna de Domingos de Barros e de Ângela Vieira, naturais
de São Lourenço da Mata, e pela materna
de Domingos Grades de Abreu, e de Dona Caetana de Abreu e Lima, ele
natural de Lisboa, e ela natural de Pernambuco; foram padrinhos o licenciado
José Ignácio de Brito, e Anna Joaquina Noberta, ambos solteiros e moradores
nesta Freguesia, e não se continha mais nada neste assento em que mandei lançar
e me assino. Francisco de Sales Nunes, Vigário Encomendado do Rio Grande (ano 1782).
Neste registro havia uma troca das naturalidades dos pais de Luzia, com relação
aos registros anteriores, além de não conter a data de batismo.
Há
uma distância grande entre o nascimento do filho Antonio de Barros Passos
Junior e esses que nasceram aqui no Rio Grande. Encontra outra filha de Antonio
e Luisa, através de um registro de casamento: Em 10 de setembro de 1783, na
Igreja de Nossa Senhora do Rosário, Teodósio Luiz da Costa Moreira, filho de
José Antonio Moreira e Marta da Costa, da Freguesia de Nossa Senhora do Rosário
da Vila de Santa Cruz do Aracati, casou com Maria da Apresentação, filha do
tenente Antonio de Barros Passos e Luiza de Abreu e Lima, natural de Extremoz.
Em
um assentamento de praça, com anotações quase ilegíveis, fora da parte central,
consta que Antonio de Barros Passo, sargento da Companhia do tenente-coronel do
Regimento de Infantaria paga do Regimento de que é coronel João Lobo de
Lacerda, veio por Diretor dos Índios da Vila de Extremoz do Norte, chamada
antigamente Guajirú, sentou em 22 de junho de 1759. Passou este sargento para
tenente da Barra desta Cidade por patente do Ilustríssimo e Excelentíssimo
Senhor Conde de Pavolide, governador e capitão-general de Pernambuco, Paraíba e
nas capitanias anexas, e fica em praça sentado no livro 3 de matricula do
capitão Manoel da Silva Vieira. Consta, ainda, na lateral do assento, que
faleceu aos 29 de maio de 1795, tendo se habilitado Dona Luzia, até seu
falecimento. Não encontrei, ainda, o óbito de Dona Luzia.
Vejamos
mais detalhes da concessão da patente de tenente a ele concedida. No ano de
1769, o Conde de Pavolide, governador e capitão geral de Pernambuco, Paraíba e
das capitanias anexas, D. José da Cunha (Grã) Athaíde (e Mello), nomeava
Antonio de Barros Passos, na vaga por falecimento de Thomaz Pinheiro, como
tenente da Fortaleza dos Santos Reis Magos da Barra da cidade do Natal. Nas considerações
que fez para conceder a referida patente constava que o nomeado tinha servido
sua majestade durante 31 anos, 10 meses e sete dias, no Regimento de Infantaria
paga da Guarnição da Praça do Recife, em praça de soldado, cabo de esquadra,
sargento supra e de número, sem nota alguma em seus assentos que lhe servisse
de impedimento, indo no dito tempo destacado, uma vez para o presídio do Rio
Grande do Norte, duas vezes para o da capitania de Itamaracá, três para o da
Ilha de Fernando de Noronha e outra três vezes para o da Fronteira de Itamaracá,
procedendo sempre com procedimento, limpeza de mãos, zelo do Real serviço,
préstimo, atividade em obediência aos seus superiores, dando inteira conta de
tudo, o que lhe foi encarregado do mesmo Real serviço, procedendo igualmente no
emprego que lhe foi destinado e escolhido pelo governador Luis Diogo Lobo da
Sylva, em 15 de junho de 1753 (na verdade 1759), para Diretor dos Índios, da
nova Vila de Extremoz, ereta na capitania do Rio Grande do Norte, de onde ainda
se conserva, fazendo com seu desvelo, prudência e cuidado a (ilegível)
civilizar os seus habitadores e aumentar a cultura dela, de sorte que me consta
da boa economia a que se tem reduzido.