João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
Em 17 de setembro de 1753, na Capela de Nossa Senhora dos Prazeres da Aldeia e Missão de Guajirú, da Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação, Victoriano Rodrigues de Sá desposou Luisa de Sousa. Ele era filho natural de Leandro Rodrigues de Sá e Laura Pereira, já falecida; e ela filha do sargento-mor Manoel de Sousa Jardim, lá de Igarassú, e Felizarda Coelho Marinho, desta freguesia. D. Felizarda, era filha dos meus hexavós João Machado de Miranda e Leonor Duarte de Azevedo. Foi batizada em 1706, lá em São Gonçalo do Potengi.
Vamos conhecer melhor Victoriano através do seu testamento, que fez no dia 16 de setembro de 1797, no sítio Pirituba, de sua propriedade. Foram seus testamenteiros, o filho Manoel Rodrigues de Sá, o tenente Salvador de Araújo, e o irmão deste, tenente Alexandre Araújo. Nas suas determinações pediu para ser sepultado na Igreja de Nossa Senhora do Socorro de Utinga, em hábito de São Francisco. Antigamente, as pessoas eram enterradas nas Igrejas.
Nas suas disposições testamentárias, confirmou os pais citados acima no seu casamento, mas que na data do testamento já eram falecidos. Com Luisa de Sousa teve três filhos, Victoriano Rodrigues Junior, Manoel Rodrigues e Cordova (Córdula no batismo), todos casados. A filha Córdula foi casada com Liandro Rodrigues, contra a vontade dele, Victoriano. Informou ainda que o dito marido dela tinha feito um segundo casamento, e que os testamenteiros não dessem nada a ele de seus bens, pois deviam ser destinados aos netos, filhos dela, quando tivessem capacidade.
Cita uma filha natural de nome Anna Rodrigues que foi casada com Ignácio de Sousa (Jardim), morador no sertão de Mossoró. A essa filha já tinha dado o que lhe deveria dar, e mais nada os testamenteiros lhe deviam dar. O velho era ranzinza. Anna não era filha de Luisa de Sousa Jardim, mas casou com um irmão dela, Ignácio de Sousa Jardim.
Pelo que se nota do inventário tinha muitos bens, e acredito que foi arrematador de dízimos. Tinha vários escravos, gados cavalar e vacum que se achavam no Sitio Pirituba e Fazenda Condessa. Tinha ainda mais de meia légua de terras pelo Rio Potengi abaixo buscando a Magalhães.
Apresentou uma relação de devedores, que vale a pena citar pelos detalhes, pessoas e lugares: José de Freitas, morador em Mossoró, um cavalo que lhe emprestou há mais de um ano; Manoel Macedo, um cavalo, um boi e uma vaca; José de Araújo, morador em São Gonçalo, um cavalo que lhe tomou emprestado para ir ao sertão do Seridó; o capitão Manoel Ignácio Pereira do Lago, morador na cidade do Rio Grande, um cavalo que lhe tomou emprestado para ir a Pernambuco, no ano noventa; José Fidélis, um garrote que lhe emprestou; Luiz de Araújo, morador de Jundiaí, duas vacas; o Reverendo Francisco Sales, de Porto de Touros, uma vaca; Joaquim José de Barros, morador nas Bananeiras de Mipibú, dois mil réis; José Ferreira, morador no Rio Trairi, dois mil réis de resto de um boi; Manoel Pereira, morador de Mipibú, uma novilha que lhe vendeu por seis mil réis; o defunto Antonio Marinho, morador que foi em Papari, por ele lhe deviam os herdeiros, um boi de resto de dízimo do triênio 1761-1763; Francisco Xavier da Cruz, morador em Mipibú, uma besta braba que pegou sem ordem, desde 1791; a viúva de Francisco Tavares, morador em Pequiçaba, umas rezes, o que já foi tratado com o filho Manoel Rodrigues de Sá por vinte e cinco mil réis; Miguel dos Anjos, morador nesta, um garrote de empréstimo e mais três meia sola por dez patacas cada uma; me deve uma vaca que já paguei ao defunto José Teixeira, por Raimundo Pereira, morador na Utinga (?); Manoel Teobaldo, uma novilha que lhe emprestou; Manoel Machado, um garrote por empréstimo; Pedro Coitinho, dezoito mil e quatrocentos réis; Hieronimo de Sousa me deve 7 patacas; o coronel Francisco da Costa, uma besta; Ignácio Barbosa, uma vaca; Anna da Rocha, mulher de Manoel dos Santos, morador no Potengi, um corte de saia e mais sete patacas que recebeu por mão do capitão Manoel Álvares Correa, que lhe mandei dar, que perfaz seis mil e duzentos e quatro réis.
Disse mais que não devia nada. Informou que para o neto João que criava, deixava uma besta, com duas crias e uma vaca na Fazenda Condessa, já ferrada. Esses bens que deixava para João que se conservassem na posse do seu filho Manoel, não entregando ao pai. Deixou ainda vinte mil réis para um neta e afilhada, filha legítima do seu filho Victoriano Rodrigues Junior. Depois de cumpridos os legados da terça dele, deixa o restante para seu filho Manoel Rodrigues, em remuneração pelo muito que lhe tem servido e acompanhado sua mãe.
Anna Rodrigues de Sá, filha natural de Victoriano Rodrigues de Sá, reaparece em um inventário de Francisco de Barros Rego (1835). Quem me dá notícia dele é Marcos Pinto, lá de Mossoró.
Por esse inventário, Francisco de Barros Rego, informa que foi casado com Anna Rodrigues de Sá, filha de Ignácio de Sousa Jardim e Anna Rodrigues de Sá. Francisco de Barros Rego, também, teve uma filha natural, de nome Helena Maria Bezerra, casada com João Rodrigues de Miranda. Os filhos de Francisco de Barros com Anna, portanto, os bisneto de Victoriano, foram Ignácio de Sousa Jardim (2º do nome); Gonçalo de Barros Rego, casado com Theresa de Jesus; Anna de Barros Rego casada com Manoel Martins Bezerra; João do Vale Bezerra, casado com Anna Maria, 1ª núpcias, e com Maria Manuela, em 2ª núpcias.