João Felipe da
Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN e
membro do IHGRN e do INRG
Ele nasceu aos dezenove de novembro de mil oitocentos e
trinta e oito, e foi batizado aos treze de janeiro do ano seguinte, na Matriz
de Nossa Senhora da Apresentação. Era filho de Theotônio Coelho Cerqueira,
natural de Portugal, e D. Izabel Maria de Lacerda. Teve como padrinhos Simão
Antonio Gonçalves e sua mulher D. Maria Quitéria da Purificação.
Parte de sua carreira encontrei nos antigos jornais, da
Hemeroteca Nacional. No final de 1858, após prestar exames para Escola da
Marinha, foi aprovado, iniciou em 1859 e concluiu no final de 1860, tornando-se
apto para ser contratado como Guarda Marinha, tendo participado nessa condição,
já no ano de 1861, na corveta Bahiana. Em 1864, como segundo tenente, foi
promovido a 1º tenente por merecimento.
Em 1876, o Ministro da Marinha mandou louvar o 1º tenente
Theotonio Coelho Cerqueira de Carvalho pela apresentação do manuscrito intitulado
“Viagem de exploração ao Alto Paraná e Iguassú”, feito na Canhoneira Fernandes
Vieira, de que era Comandante. Nessa viagem, uma canoa, que usava para fazer as
explorações, virou, morrendo um homem e uma criança, escapando ele e mais cinco
tripulantes, depois de lutar contra a correnteza das águas por mais de 25
minutos.
Em 23 de setembro de 1890, após participar da eleição como
candidato ao senado pelo nosso estado, fez um agradecimento ao eleitorado
independente do Estado do Rio Grande do Norte.
Escreveu o capitão de fragata: Elevado pela brilhante
votação, com que sufragou o meu nome, no último pleito eleitoral, o povo do Rio
Grande do Norte, meu berço natal, venho oferecer-lhe a expressão de meus
sentimentos, assegurando-lhe profunda gratidão, e eterno devotamento de minha
vida. Desprotegido, embora, meu nome pelo bafejo oficial, nem por
isto arrefeceu o honroso acolhimento com que me distinguiu o independente
eleitorado do Rio Grande do Norte, circunstância especialíssima que mais obriga
o abaixo assinado para com seus dignos conterrâneos. Foi com orgulho, que muito me penhora, que soube de quanto
apreço, e quanta consideração cercaram aí os fracos serviços que, com lealdade
e nobreza, hei prestado ao país, e especialmente ao Rio Grande do Norte, a quem
dediquei a alma, o coração, e o braço. E esta justa compensação será abençoado incentivo para que,
se possível é, se ative em mim, fulgure mais a centelha do amor pátrio, talismã
sagrado que tem sido e será a estrela polar de todos os atos de minha vida. Acompanhando o digno eleitorado, a quem sou reconhecido em
extremo, penso corresponder a sua alta confiança, assegurando-lhe que, como
ele, só conheço uma religião – a do dever – só conheço uma liberdade – a que
conduz ao caminho da honra. Theotônio Coelho C. Carvalho.
Em 1890, foi nomeado para inspetor do Arsenal de Marinha do
Estado do Pará, e nessa época era capitão de fragata e exercia o cargo de
capitão do Porto desse mesmo Estado. Em 1891 foi nomeado para comandar a
Flotilha Amazonas e, em 1893, para comandar o Cruzado Guanabara, já como
capitão de mar e guerra. Em 1898, era nomeado para inspetor do Arsenal de
Marinha de Mato Grosso. Assumiu o comando da Flotilha, em Mato Grosso, em 1900.
Recebeu medalha de ouro, de mérito militar, em 1902. Em 1904 era nomeado para
assumir o cargo de administrador da praticagem da Barra do Rio Grande do Sul, e
comandar o vapor Jaguarão.
Nesse mesmo ano de 1904, faleceu no Município de São
Gonçalo, Justa Coelho Cerqueira de Paiva, esposa de Luiz Ignácio Freire de
Paiva, sogra do capitão José Coelho Pereira de Brito e irmã do capitão de mar e
guerra Theotônio.
No ano de 1906 esteve em Natal, visitando parentes. Em 1909,
o governador informa, em seu relatório, que a casa do almirante Theotônio
Coelho Cerqueira de Carvalho foi desapropriada para adaptação do Palácio e
residência dos governadores.
O Jornal do Brasil de 1904 anunciou: Questão de máxima
importância para a Armada Nacional foi ontem resolvida pelo Supremo Federal.
Tratava-se da interpretação de legalidade de promoção do capitão de mar e
guerra Alexandrino Faria de Alencar. Os capitães de mar e guerra, Theotônio
Coelho de Cerqueira de Carvalho, Miguel Antonio Pestana, José Ignácio Borges
Machado e José Pedro Alves Barros, reclamaram contra a promoção a
contra-almirante do capitão de mar e guerra Alexandrino de Alencar. Alegavam
que não foi ouvido o Conselho Naval, e nem Alexandrino de Alencar tinha
cumprido o tempo de 2 anos no cargo de capitão de mar e guerra. O Supremo
Tribunal Federal negou a solicitação.
Segundo Adauto Câmara, Theotônio casou com Cecília de
Carvalho Coelho, em Uruguaiana, RS, tendo desse casamento um filho, Joaquim de
Carvalho Coelho Cerqueira, nascido em 1878. Casou em segundas núpcias com Eugênia
de Gouveia Coelho de Cerqueira, de Areia, PB, filha do desembargador
Epaminondas de Souza Gouveia, nascendo desse casamento Maria Eugenia, Horminda,
Isabel. Tinha cinco irmãos: Rosa, Justa, Vulpiana, Maria Honorina e José Coelho
de Cerqueira. Faleceu em 14 de fevereiro de 1930, no Rio de Janeiro.
Segundo o Diário Oficial da União, foi reformado
compulsoriamente, em 21 de novembro de 1904, no posto e com o soldo de Vice-Almirante,
e graduação de Almirante, com 48 anos, 10 meses e 27 dias de serviço, na idade
limite de 62 anos. Informa Adauto, que a data de nascimento foi alterada para 19
de novembro de 1842, para entrar na Marinha.