Professor da UFRN,
membro do IHGRN e do INRG
Encontramos,
em um dos jornais antigos da Hemeroteca Nacional: esta Província foi
descoberta em 1499, antes de Pedro Álvares Cabral fundear em Porto Seguro,
segundo afirma Mello Moraes na sua Corografia Brasileira, fundado em Herrera, -
História das Índias – dizem que Alonso de Hogeda e Américo Vespúcio em 1499
encontraram em 5 graus ao sul equinocial uma terra alagada e segundo todas as
probabilidades uma das bocas do rio dá Piranhas ou Apodi (hoje Mossoró) e que
não seguiram mais ao sul pelas correntes das águas.
Em
1501, os portugueses chantaram o marcos de Touros, aqui no nosso Rio Grande do
Norte, e, depois disso, não há notícias da presença deles, nas nossas terras,
por décadas, diferentemente dos franceses que aqui aportaram desde 1503, se
consorciando com nossos índios, militarmente, comercialmente e maritalmente.
Pudsey, que esteve aqui com os holandeses, diz que os Cariris são originários
da miscigenação dos franceses com os tapuias.
Com
a instituição das capitanias hereditárias, João de Barros e seus herdeiros
tentaram por duas vezes se apossar do seu legado, mas fracassaram. Outros
viajantes e piratas devem ter, ao longo desse tempo, nos visitado, mas somente
em 1597 resolveu o Rei de Portugal, Felipe II da Espanha, tomar conta da sua colônia,
dando ordens a Mascarenhas Homem e Feliciano Coelho, para construir um forte,
expulsar os franceses e povoar nossa terra.
O
Forte dos Reis Magos é o símbolo maior do nosso Rio Grande do Norte e da cidade
do Natal. Diferentemente do que ocorreu em outras localidades, sua construção
precedeu a fundação da cidade do Natal.
No
dia 25 de dezembro de 1597 Mascarenhas Homem entrava no Rio Potengi, e no dia 6
de janeiro de 1598 dava início à construção do forte. Em 24 de junho do dito
ano de 1598, concluída a primeira versão, ele foi entregue a Jerônimo de
Albuquerque (mais tarde Maranhão), que tinha a missão de defender nossa terra e
trabalhar a paz junto aos índios para a fundação da cidade. Foi um processo
demorado. Somente em 11 de junho de 1599 foi feita a aliança com os indígenas,
na capital da Paraíba.
A
partir daí se iniciou a fundação da cidade com a demarcação de seus limites e a
construção da matriz, a meia légua do Forte. Acredito que programaram tudo para
que o ato de fundação se desse no aniversário de dois anos da entrada no Rio Potengi.
As datas estavam sempre associadas aos eventos religiosos: Natal, Reis Magos,
São João e novamente Natal. Em alguns registros aparecem nomes como cidade dos
Reis, Santiago, cidade do Rio Grande, Natal, ou Natal dos Reis.
A
partir de 1600, com a posse de João Rodrigues Colaço, como capitão-mor, começaram
as concessões de sesmarias, sendo o primeiro beneficiado, o próprio
capitão-mor, por ato de Manoel Mascarenhas Homem. Essa sesmaria foi comprada,
posteriormente, pelo padre vigário da capitania, Gaspar Gonçalves Rocha.
A
2ª já foi concedida por Colaço para os padres jesuítas. Na relação de terras
concedida até a data de 1612, quando houve uma revisão, citamos alguns: Jacque
de Py; Manoel Rodrigues; João Lostau, com grande descendência, no Brasil; Antonio
Gonçalves Minhoto; Francisco Coelho, talvez aquele vitimado pelos holandeses; Bartholomeu
Ledo; os irmãos Antonio de Albuquerque e Mathias de Albuquerque, filhos de
Jerônimo de Albuquerque, Dona Úrsula, filha de Antonio Cavalcanti; Catharina da
Costa, filha de Jorge Gonçalves; Jerônimo Cunha, pai do depois capitão-mor,
Manoel de Abreu Soares; Francisco da Cunha, filho de Jerônimo Cunha; Manoel de
Abreu; Jerônimo de Ataíde; José do Porto; Maria Rodrigues; Maria de Albuquerque;
Manoel Rodrigues Faleiros, talvez ascendente de Pedro e Gonçalo da Costa
Faleiros; Manoel Vaz de Oliveira; Inez Duarte, possivelmente a esposa de
Antonio Vilela Cid; Antonio Machado; Beatriz do Pania, filha do alferes Luis
Gomes; e Antonio Vilela. Foram 185 concessões, muitas delas distantes da nova
cidade, tendo alguns dos beneficiados recebidos mais de uma sesmaria.
O
núcleo da cidade não prosperou muito em termos de habitação. Nossos povoadores
tinham preferências pelas localidades mais distantes da matriz, talvez pela
qualidade da terra.
Os
holandeses, quando aqui tiveram, não trouxeram nenhum benefício, muito pelo
contrário, pois além de promover massacres contra nossos habitantes, destruíram
a cidade na conquista, assim a mantiveram, enquanto estiveram por aqui, e
pioraram na hora da saída.
Com
vimos em artigo anterior, alguns cronistas dizem, até agora não comprovado,
que, em 1654, D. João IV doou, para Manoel Jordão, parte do território do Rio
Grande, que alguns dizem ter sido Natal, por isso chamado de Natalópolis, e que
ele não tomou posse por ter naufragado na entrada do Rio Potengi, e, por isso,
o feudo retornou a Coroa; a segunda informação dava conta que D. Pedro II, de
Portugal, concedeu o título de Conde do Rio Grande para filho ou filha de
Francisco Barreto de Menezes, por sua participação na luta contra os
holandeses. Lopo Furtado foi beneficiado por casar com a filha de Francisco
Barreto. Segundo alguns, foi o primeiro titular que teve o Brasil.
Nosso
Forte passou por várias reformas até ter chegado ao formato atual. O IPHAN, que
tomou posse recentemente do Forte, realiza novas reformas, mas, antes disso, um
grupo de arqueólogos promove, atualmente, escavações mostrando os vários pisos
e intervenções no Forte. Devemos ter novidades sobre a história desse símbolo
da nossa terra.
Na
Hemeroteca Nacional, encontramos uma descrição da nossa cidade, no ano de 1883:
Natal, ou Rio Grande do Norte, pequena, mas bonita por sua posição na península
formada pelo Rio Potengi e o oceano, com três praças e dois grandes largos,
cinco ruas extensas e retas atravessadas por outras cinco; sendo notáveis os
seguintes edifícios: Igrejas de Nossa Senhora da Apresentação (matriz), Nossa
Senhora do Rosário, Santo Antônio e Bom Jesus; palácio do governo, assembleia provincial,
câmara municipal, tesouro da fazenda, tesouro provincial, alfândega, atheneu,
quartel de linha, quartel de polícia, hospital militar, casa de caridade e
cadeia.