segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

OS LEITE DE CHAVES E MELO NA SERRA DO MARTINS. (III).

   
Por Marcos Pinto

                  A  pesquisa  efetivada  em  mananciais  temáticos  da  história  social  dos  primeiros  habitantes  da  SERRA  DO  MARTINS,  delineia  para  a  assertiva  de  que  o  trivial, o  cotidiano  e  o  comum  angustiavam  esses  grandes  homens, pioneiros  no processo da  ocupação  do  solo. O  ambiente  lhes  imprimia o  colorido verista  da  contagiante  simplicida-
de  bucólica.  Sabiam  as  histórias  miúdas  e  muitos  segredos, que pediam  horas  de  luz  lunar  como  paisagem  indispensável  à suas  reminiscências.  
                  Na  retentiva  dos  documentos  oficiais  cartoriais, dos  arquivos  das  Freguesias  Eclesiásticas  setecentistas, evidencia-se  a saga  da família  LEITE  DE  CHAVES  E  MELO, cujos  atos de nobreza  justificava  suas  generosidades.  Tinham  como característica  comum  o  fato de serem  detentores   de  modos  cerimoniosos  e  cortezes.   Entrelaçaram-se  à  famílias  que  traziam no sangue  a  mesma  identidade, com os  seus  costumes  arraigados  em  firmes  convicções  de  reciprocas  lealdade  e  sinceridade.  O grande  tribuno  ALMINO ÁLVARES  AFONSO  foi um dos mais distintos  e  prestimosos  varões  Martinenses, que  ligaram o  seu  nome  de  maneira  indelével  aos  acontecimentos  de  um  passado glorioso, que tanto  enobrece, orgulha  e  exalta  as cidades  de  Martins, Mossoró, Fortaleza  e  Manaus.
                  Surgem os  liames  genealógicos, com  os  consórcios  dos filhos  do  famigerado  Capitão-Mór  GERALDO  SARAIVA  DE  MOURA (Inventariado em   1808) e de  sua  segunda  esposa  RITA  MARIA DE  JESUS, filha  do  1º  Cura  da  Freguesia  das  Várzeas  do  Apodi -  Pároco  no período  de  1766  a  1776  o  pernambucano  de  Recife  JOÃO DA  CUNHA PAIVA.  Dois  irmãos da  família  portuguesa  LEITE  DE  CHAVES  E  MELO  casaram-se  com duas  filhas  do  Capitão-Mór  Saraiva  de  Moura, respectivamente  FRANCISCO AFONSO DE  CHAVES  MELO  e  MANOEL  ÁLVARES  AFONSO, que casaram, o  primeiro com  LEANDRA,  e  o segundo  com  FRANCISCA, de cujo casal  nasceu  Francisco  Álvares  Afonso, que por  sua vez  foi  o  genitor  do  abolicionista  e  grande  tribuno  ALMINO  ÁLVARES  AFONSO.
                   O  celebrado  historiador  e genealogista  CARLOS  FEITOSA, em sua  obra  intitulada  "A  DESCENDÊNCIA  DE ANTONIO  LEITE  DE  CHAVES  E  MELO -  Revista  do Instituto do  Ceará, 68:155-177, 1954"  diz  que na  sepultura  de  D.  Luisa  Cândida  Teles  de  Menezes, mãe  de  Almino, no  cemitério  São  João  Batista, de  Fortaleza, lê-se  esta  inscrição: "Natural da  cidade  de  Aracati, Província  do  Ceará, casada  no  Rio  Grande  do  Norte com  Francisco  Manoel  Álvares  Afonso, neto  do  Capitã-Mór  Geraldo  Saraiva  de  Moura, ficando viúva  pobreza, educou  heroicamente  seis  filhos (Vide  livro "VELHOS INVENTÁRIOS DO OESTE  POTIGUAR - Pág. 33 - Coleção  Mossoronese - Série  C - Volume  740 - Ano 1992 - Autor:  Marcos  Antonio  Filgueira).  Os antigos  entrelaçamentos entre as famílias  do  Rio Grande  do Note  com as  do  Ceará atrelava-se ao  fato  de  que  até o  ano de  1850 a  cidade  de  Aracati  foi  um verdadeiro  empório  comercial  dos  sertões  cearenses,  a  primeira  praça  de comércio  e o  mais  opulento  povoado  da  Província, para  onde  acorriam  os  comboios  comerciais  do  Rio  Grande  do  Norte, transportando  algodão, couros  bovinos  e  caprinos, e  a  cera  da  Carnaúba.
                  Um  tio-avô  paterno  de  Almino  Afonso   exerceu  destacada  relevância  no movimento  denominado de  REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA DE  1817, no  Rio Grande  do  Norte.  Trata-se  do  intrépido  DAVID  LEOPOLDO  TARGINO, preso  a  06  de  Junho  de  1817, acusado  pelas  forças  legalistas, de  subir  a  serra  do  Martins  com  20  homens  armados e de  ser  dos  mais entusiasmados  agentes  da  revolução  no  Rio  Grande  do  Norte. No movimento havia  a  presença  de  bravas  mulheres,   mulheres que fugiam a regra da etiqueta do Séc. XIX, do espaço privado da casa, e lutaram ao lado dos maridos. Foi o que aconteceu  com  Ana  Clara  de  S. José  Coutinho, esposa  de  Estevão  Carneiro  da  Cunha. Para  enfrentar  as dificuldades, os  patriotas  mais ricos  fizeram doações, e Ana ofereceu  o seu  ENGENHO  DO MEIO  com tudo que tinha dentro: Quarenta escravos, quarenta  bois  e  mais utensílios  importantes  para  as  despesas. Um mulher  considerada  poderosa, que  juntou forças  com o seu  genro  David  Leopoldo  Targini, para  apoiar  o  movimento e, consequentemente, ficar  ao lado do seu  marido.  A  história  amalgama  os seus  anais  com  as  dinâmicas  estratégias  de  vida  adotadas  pelos  indômitos  sertanejos.