Por Marcos Pinto
A pesquisa efetivada em mananciais temáticos da
história social dos primeiros habitantes da SERRA DO MARTINS,
delineia para a assertiva de que o trivial, o cotidiano e o
comum angustiavam esses grandes homens, pioneiros no processo da
ocupação do solo. O ambiente lhes imprimia o colorido verista da
contagiante simplicida-
de bucólica. Sabiam as
histórias miúdas e muitos segredos, que pediam horas de luz
lunar como paisagem indispensável à suas reminiscências.
Na retentiva dos documentos oficiais cartoriais,
dos arquivos das Freguesias Eclesiásticas setecentistas,
evidencia-se a saga da família LEITE DE CHAVES E MELO, cujos
atos de nobreza justificava suas generosidades. Tinham como
característica comum o fato de serem detentores de modos
cerimoniosos e cortezes. Entrelaçaram-se à famílias que traziam
no sangue a mesma identidade, com os seus costumes arraigados em
firmes convicções de reciprocas lealdade e sinceridade. O
grande tribuno ALMINO ÁLVARES AFONSO foi um dos mais distintos e
prestimosos varões Martinenses, que ligaram o seu nome de
maneira indelével aos acontecimentos de um passado glorioso, que
tanto enobrece, orgulha e exalta as cidades de Martins, Mossoró,
Fortaleza e Manaus.
Surgem os liames
genealógicos, com os consórcios dos filhos do famigerado
Capitão-Mór GERALDO SARAIVA DE MOURA (Inventariado em 1808) e de
sua segunda esposa RITA MARIA DE JESUS, filha do 1º Cura da
Freguesia das Várzeas do Apodi - Pároco no período de 1766 a
1776 o pernambucano de Recife JOÃO DA CUNHA PAIVA. Dois irmãos
da família portuguesa LEITE DE CHAVES E MELO casaram-se com
duas filhas do Capitão-Mór Saraiva de Moura, respectivamente
FRANCISCO AFONSO DE CHAVES MELO e MANOEL ÁLVARES AFONSO, que
casaram, o primeiro com LEANDRA, e o segundo com FRANCISCA, de
cujo casal nasceu Francisco Álvares Afonso, que por sua vez foi o
genitor do abolicionista e grande tribuno ALMINO ÁLVARES
AFONSO.
O celebrado historiador e
genealogista CARLOS FEITOSA, em sua obra intitulada "A
DESCENDÊNCIA DE ANTONIO LEITE DE CHAVES E MELO - Revista do
Instituto do Ceará, 68:155-177, 1954" diz que na sepultura de D.
Luisa Cândida Teles de Menezes, mãe de Almino, no cemitério São
João Batista, de Fortaleza, lê-se esta inscrição: "Natural da
cidade de Aracati, Província do Ceará, casada no Rio Grande do
Norte com Francisco Manoel Álvares Afonso, neto do Capitã-Mór
Geraldo Saraiva de Moura, ficando viúva pobreza, educou
heroicamente seis filhos (Vide livro "VELHOS INVENTÁRIOS DO OESTE
POTIGUAR - Pág. 33 - Coleção Mossoronese - Série C - Volume 740 -
Ano 1992 - Autor: Marcos Antonio Filgueira). Os antigos
entrelaçamentos entre as famílias do Rio Grande do Note com as do
Ceará atrelava-se ao fato de que até o ano de 1850 a cidade de
Aracati foi um verdadeiro empório comercial dos sertões
cearenses, a primeira praça de comércio e o mais opulento
povoado da Província, para onde acorriam os comboios comerciais
do Rio Grande do Norte, transportando algodão, couros bovinos e
caprinos, e a cera da Carnaúba.
Um
tio-avô paterno de Almino Afonso exerceu destacada relevância
no movimento denominado de REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA DE 1817, no Rio
Grande do Norte. Trata-se do intrépido DAVID LEOPOLDO TARGINO,
preso a 06 de Junho de 1817, acusado pelas forças legalistas,
de subir a serra do Martins com 20 homens armados e de ser
dos mais entusiasmados agentes da revolução no Rio Grande do
Norte. No movimento havia a presença de bravas mulheres, mulheres que fugiam a regra da etiqueta do Séc. XIX,
do espaço privado da casa, e lutaram ao lado dos maridos. Foi o que
aconteceu com Ana Clara de S. José Coutinho, esposa de Estevão
Carneiro da Cunha. Para enfrentar as dificuldades, os patriotas
mais ricos fizeram doações, e Ana ofereceu o seu ENGENHO DO MEIO
com tudo que tinha dentro: Quarenta escravos, quarenta bois e mais
utensílios importantes para as despesas. Um mulher considerada
poderosa, que juntou forças com o seu genro David Leopoldo
Targini, para apoiar o movimento e, consequentemente, ficar ao lado
do seu marido. A história amalgama os seus anais com as
dinâmicas estratégias de vida adotadas pelos indômitos
sertanejos.