Transcrevemos, para cá, uma homenagem que José Vitaliano Teixeira de Souza fez para seu amigo Vicente Maria da Costa Avelino, quando da morte do mesmo em 14 de fevereiro de 1879. Vicente era o pai do jornalista Pedro Avelino e do deputado Emygdio Avelino, também advogado, avô de Edinor Avelino e Georgino Avelino, e bisavô do escritor Gilberto Avelino. Essa oração se encontra no Brado Conservador de 14 de abril de 1879, jornal digitalizado pela Biblioteca Nacional.
Vicente Maria da Costa Avelino era irmão do meu bisavô Francisco Avelino da Costa Bezerra. Nasceu em 23 de janeiro de 1837, morrendo, portanto, com 42 anos de idade.
Uma lágrima vertida
sobre o túmulo de Vicente Maria da Costa Avelino
O anjo tutelar da negra parca, ante quem nada tem
estabilidade, batendo as regaladas asas, voa das regiões celestes, e vem
desfechar o prematuro golpe sobre a apreciável existência de um cidadão, que
reunia em si as mais belas qualidades, quer como verdadeiro atleta do
catolicismo, quer como membro prestimoso da sociedade, a qual, unida à sua
inconsolável família, compartilha com ela dos profundos pesares causados por
tão sensível perda.
Sim; como católico não só o vimos frequentar os atos
religiosos, como recobre com seu óbolo, e até mesmo encarregar-se de agenciar
donativos dos demais fiéis, promovendo assim os meios ao seu alcance para a
propaganda do culto Divino; tal era o seu zelo e amor que dedicava à santa
causa da Religião.
E nem jamais se pode por em olvido os seus bons desejos,
desde que o seu coração era um cofre de piedade, sua alma uma dispensadora de
benefícios prodigalizados àqueles que eram dignos de compaixão, exercitando-se
assim na sublime virtude da caridade, e jamais o vimos ser indiferente aos
clamores dos necessitados.
E assim foi a sua norma de vida com referencia a Sacrossanta
Religião, esse balsamo consolador da humanidade que eleva o espírito do homem
ao seio do Eterno, não menos digno de menção foi o seu preceder no desempenho
da espinhosa missão de chefe de família, esposo desvelado, pai extremoso e incansável
em curar da educação de seus caros filhos; era um amigo dedicado; e além destas
excelentes qualidades, dispunha de uma bela inteligência, do que exibiu exuberantes
provas na profissão de advogado, que honradamente exercia no foro deste Termo,
aonde especialmente deixou um vácuo impreenchível.
Ah! Vida humana, quanto és precária e ilusória! E quem sou
eu que falo de suas cívicas virtudes?
Oh! Com os olhos orvalhados do mais amargurado pranto, com o
coração opresso da mais veemente dor, custa-me o expressar-me.
Já não existe o meu caro amigo Vicente Maria da Costa
Avelino!
Tendo sido acometido de uma terrível febre gástrica, esta
zombou dos recursos da ciência médica, que sem perda de tempo lhe foram
ministrados, e infelizmente tornaram-se impotentes para debelar o terrível mal,
que progredia de dia a dia, aproximando-o assim de seu termo final, o fez
sucumbir no dia 25 do corrente (na verdade, 14 de fevereiro de 1879). E quando
o sol surgiu no horizonte, sua alma recolhia-se à mansão dos justos, aonde
devemos crer que receberá o premio prometido pelo Divino Mestre àqueles que
como ele cumprissem os seus preceitos nesta vida de peregrinação:deixando de
seu consócio dez caros penhores na orfandade.
Resta-nos pois, resignados curvar a fronte aos irrevogáveis
decretos da Divina Providência, e unidos à sua inconsolável esposa e filhos
penetrarmos no templo do Senhor para aí dirigirmos ao Altíssimo nossa humilde
súplicas por seu eterno repouso na pátria Celeste; e, encaminhando-nos ao pé do
tumulo que guarda seus inanimados restos, ali depormos uma lagrima de dor e de
saudade.
Vila de Angicos, 22 de fevereiro de 1879.
José Vitaliano Teixeira de Souza.