João Felipe da
Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Matemático, sócio do
IHGRN e do INRG.
Há muitos desencontros nas
informações dessa localidade, que hoje recebe o nome de Fernando Pedrosa. No
próprio site da Prefeitura, encontramos a seguinte informação: Vila de São
Romão era assim chamada devido a uma antiga moradora por nome Crináuria que
doou a imagem de São Romão para a 1ª capela, que fica ao lado da estação
ferroviária, que hoje funciona como armazém. Outros disparates aparecem em
vários textos sobre Fernando Pedrosa.
Por isso, resolvi escrever algumas linhas
sobre São Romão, usando principalmente registros da Igreja do século XIX. Meu
interesse por São Romão vem do fato de alguns ascendentes meus terem vivido por
lá.
Manoel Ferreira Nobre, em suas
“Breves Notícias Sobre a Província do Rio Grande do Norte, não menciona São
Romão, mesmo escrevendo sobre Angicos; Nestor dos Santos Lima, quando escreveu
sobre esse mesmo município, disse o que se segue sobre São Romão: novo e
florescente povoado, a 10 km da Vila, sobre a estrada de Lages-Angicos, fica à
margem direita do Rio de Angicos, tem grande número de casas e uma capela,
recentemente construída e dedicada a São Romão. Tem escola rudimentar (1925) e
feira semanal. Mais adiante, quando tratou da Fazenda São Romão, informou como
pertencente a Joaquim Firmino Filho. Fala também sobre um serrote de mesmo nome.
Aluízio Alves, em “Angicos”,
fala sobre o distrito de Fernando Pedrosa, a partir da construção da estrada de rodagem Lages-Santana do Matos:
São Romão era, a esse tempo, uma extensa mata, propriedade de vários
agricultores, entre os quais Fernando Pedrosa, Joaquim Firmino e Miguel
Trindade.
Minha avó, Maria Josefina
Martins Ferreira, por exemplo, embora tenha nascido na Fazenda Cacimbas do
Vianna, hoje localizada em Porto do Mangue, foi batizada em São Romão, como
podemos ver do registro a seguir: Maria, filha legitima de Francisco Martins
Ferreira, e Francisca de Paula Martins Ferreira, moradores nesta Freguesia,
nasceu aos quatro de dezembro de mil oitocentos e setenta, e foi por mim
solenemente batizada, no sítio São Romão, desta mesma Freguesia, aos 10 de
agosto de mil oitocentos e setenta e um; foram padrinhos, o major José Martins
Ferreira (avô paterno da batizada), por seu procurador Vicente Ferreira Xavier
da Cruz, e Maria Ignácia Rosalinda Brasileira; Vigário Félix Alves de Souza. Dona
Crináuria, citada acima, minha tia, era filha de Miguel Francisco da Trindade e
Maria Josefina Martins Ferreira. Foi casada com Joaquim Firmino de Deus
Gonçalves Filho.
Minha bisavó, Francisca de Paula
Maria de Carvalho (nome de solteira), também foi batizada na mesma localidade
da filha: Francisca, branca, filha legítima de Vicente Ferreira Xavier da Cruz
e Maria Ignácia Rosalinda Brasileira, nasceu aos 13 de fevereiro de 1848, e foi
batizada, no Sítio São Romão, aos 30 de março do mesmo ano, pelo Reverendo
Félix Alves de Sousa, sendo padrinhos João Luis da Rocha, solteiro, e Izabel
Francisca de Sousa, viúva, do que para constar mandei fazer este assento, em
que me assino. Félix Alves de Sousa, Vigário Colado de Angicos.
Minha tia bisavó, Maria Ignácia
Teixeira do Carmo (nome de solteira), também foi batizada em São Romão, como
podemos ver do registro a seguir: Maria, branca, filha legítima de Vicente
Ferreira (Xavier) da Cruz, e de sua mulher Maria Ignácia Rosalinda
(Brasileira), naturais e moradores neste lugar, nasceu a 28 de fevereiro de
1846, e foi por mim solenemente batizada, no Sítio São Romão, a 17 de junho de
mesmo ano, sendo eu mesmo padrinho, digo = Procuração que dei a José Thomas
Pereira, e Rita Teixeira da Conceição; do que para constar, faço este assento,
em que assino. Félix Alves de Sousa, Vigário Colado de Angicos. Maria Ignácia,
quando se casou com José Francisco Alves de Souza, passou a se assinar como Maria
Ignácia Alves de Souza. Era a mãe do capitão J. da Penha, de José Anselmo e de
Maria das Neves, esposa do jornalista Pedro Avelino.
A maioria dos registros que
encontro da época, em São Romão está ligado ao meu trisavô Vicente Ferreira
Xavier da Cruz, e, por isso acredito que ele era o proprietário da Fazenda ou
Sítio São Romão. Vejamos mais um registro de filho de Vicente: Manoel, branco,
filho legítimo de Vicente Ferreira Xavier da Cruz e de sua mulher Maria Ignácia
Rosalinda Brasileira, nasceu aos 21 de novembro de 1850, e foi por mim
solenemente batizado, no Sítio São Romão, desta Freguesia, aos 10 de dezembro
do mesmo ano, sendo padrinhos Nossa Senhora da Conceição e Hermenegildo
Pinheiro de Vasconcellos, branco, casado, do que para constar fiz este assento,
em que assino. Félix Alves de Sousa; Pouco tempo depois, Manoel, em 27 de
janeiro de 1851, foi sepultado, tinha pouco mais 2 meses. No registro consta
que seus pais eram moradores da Fazenda São Romão.
O registro mais antigo da
Freguesia de Angicos, de um sacramento em São Romão, foi do casamento de Ignez,
escrava de Vicente Ferreira Xavier da Cruz, com Manoel Antonio, no dia 30 de
outubro de 1844, na presença de Joaquim Ignácio Pereira e João Luis da Rocha.
Aos dez de outubro de 1872, quem
casava no Sítio São Romão, com dispensa de afinidade ilícita, e na presença de
Francisco Martins Ferreira e Cosme Teixeira Xavier de Carvalho, era Marcolino
de Freitas Gogó, com Vicência Maria da Conceição, ele do Assú e filho de
Alexandre Nogueira da Silva e Ana Maria da Conceição, falecidos, e ela de São
José de Angicos, e filha de José Teixeira Branquinho e Generosa Maria da
Conceição. Essas testemunhas estavam ligadas ao meu trisavô Vicente Ferreira
Xavier da Cruz: o tenente-cirurgião Francisco Martins Ferreira, meu bisavô, era
genro dele, e Cosme Teixeira Xavier de Carvalho, meu tio bisavô, era filho.
Quando José da Penha falou: “Tabuleiros,
onde minha infância perseguiu borboletas. O meu coração tem a dureza daquelas
pedras, e com este rochedo de carne, hei de esmagar a oligarquia dominante”,
talvez estivesse falando daquelas pedras que circundam São Romão, terra de sua
mãe, Dona Maria Ignácia Alves de Souza.