Por João Felipe da Trindade
Notícias da velha Cacimbas do Viana, no ano de 1896
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
Tempos de criança
Augusto
Leal, engenheiro
Eu daria tudo que tivesse /Pra voltar aos tempos de criança/ Eu não sei por que
a gente cresce/ E não sai da mente esta lembrança.
A
minha infância foi vivida nos bairros de Petrópolis e Tirol. Nasci e vivi na
Rua Seridó, até os seis anos de idade, depois fomos morar na Rua Mossoró de
onde sai casado.
Na Rua Seridó meu pai fez uma casa
quase que exclusiva para crianças. O nosso quarto tinha no teto, pintado as
figuras do Mickey, Pato Donald, Pateta e outros personagens das histórias de
Walt Disney. No jardim casinhas feites com pés de fícus, que dava para a gente
entrar e ficar fazendo traquinices, jogando caroço de pitombas e carrapateiras
com baladeiras nas pessoas e nos carros que passavam. Tinha uma charrete puxada
por um carneiro, chamado Belém, a gente andava dentro do quintal ou na Praça
Pedro Velho. Belém morreu e o carneiro passou a ser meu irmão José Maria, que
na época era mais gordo que Jô Soares e tinha longos cachos nos cabelos. Por
isso foi promovido a carneiro por mim e minha irmã Liege. As tardes mamãe
reunia os três no jardim da frente da casa para contar histórias infantis.
Lembro-me de uma triste que a madrasta de uma menina enterrou ela no jardim da
casa, os cabelos cresceram com as ramas e quando o jardineiro ia cortar as
ramas ela cantava uma música que tinha uma parte que dizia assim “Jardineiro de
meu pai/ não me cortes o meu cabelo/Minha mãe me penteou, minha madrasta me
enterrou/Pelos figos da figueira/Que o passarinho bicou.”
As tardes uma senhora que morou muito
tempo na casa de meus pais, nos levava brincar na Praça Pedro Velho, lá tinha
um parque infantil muito grande, com vários equipamentos, como gangorra,
balanços, escorregos. Na praça havia bancos para sentar, pés de fícus cortados
em formas de animais, de cassinhas, fotógrafos para tirar fotografia naquele
momento, tanques com água onde tinham peixes, tartarugas, um coreto com um
pequeno bar e lanchonete e uma quadra para a prática de esportes.
Da Rua Seridò fomos morar na Rua
Mossoró no ano de 1950, mas continuei frequentando o bairro de Petrópolis, pois
fui estudar depois no Colégio Sete de Setembro e jogar basquete e futebol de
salão no Santa Cruz Futebol Clube. Tive como treinador de basquete os irmãos
Oscar e Cristalino Fernandes. Oscar era professor de desenho no Sete de
Setembro e Cristalino me parece que já era funcionário do Banco do Brasil.
Na Rua Moçoró, já um meninote, tinha a
liberdade de andar só. Fui estudar no Atheneu, ainda continuei ligado a Rua
Seridó, pois deixei por lá muitos amigos e continuei jogando pelo Santa Cruz.
A Rua Moçoró a partir da Rua Prudente
de Morais era quase que deserta, principalmente os quarteirões ente a Prudente
e a Afonso Pena, sem pavimentação o leito da Rua era de terra batida, servia
para os nossos campos de futebol mirim. Havia poucos veículos, é tanto que
quando aparecia um, alguém gritava – Parábola- Era um aviso para parar a bola,
parar o jogo, quando o veículo passava a “pelada” continuava.
O quarteirão onde estava localizada a
casa de meu, (foi a terceira a ser construída), era de vizinhança escolhida,
por serem pessoas boníssimas. Na esquina com a Prudente Djalma Marinho e Eider
Furtado, José Barbosa de Farias, por ser muito magrinho e de pouca estatura,
era conhecido como Seu Pigmeu, em frente Aderson Eloi de Almeira. adiante
Olimpio Procópio de Moura. Iderval Medeiros, Paulo Sobral, Antônio Justino
Bezerra, José Idelfonso Emerenciano, José Lopes, Tenente Clotário Tavares, e
por último João Rodrigues Barbosa, não sei por que também chamado de João
Mamão.
A Rua Mossoró ainda hoje é ligada com
a Ulisses Caldas, onde ficava o comércio de meu pai (Farmácia Natal), e quando
eu fazia minhas traquinices, era sentenciado a ir de castigo passar as tardes
na Farmácia, aprendendo o oficio ou estudando, ia a pé e voltava a pé. Da Rua
Ulisses Caldas já se tinha uma visão ampla da Rua Mossoró, pois não tinha
arvores plantada, daí a visão direta do Parque das Dunas. No domingo este
morro, na parte por trás do Estádio Juvenal Lamartine, ficava lotados de
torcedores que iam assistir aos jogos e sentado no batente do portão da minha
casa eu tinha a visão daquela torcida, que às vezes soltava alguns foguetões
geralmente anunciando um gol do ABC Futebol Clube.
Na época do inverno, como o leito da
rua era de terra batida, formava grandes poças de água, onde se ouviam o cantar
das rãs ou dos sapos que passavam a noite cantarolando. Tinha os vaga-lumes que
ficavam desfilando pela noite com sua luzinha apagando e acendendo, e a
meninada a procurar pega-los para colocá-los em um vidro para fazer lanterna.
Fazíamos coleções de besouros e borboletas caçados nos terrenos baldios,
colocados em pequenas caixa de madeira e conservados no formol.
Na rua
além das “peladas” jogávamos bola de gude, biloca, triângulos e tila eram as
modalidades preferidas. Brincávamos de bandeirinha ou pega bandeira, de tica,
de esconde esconde, cobra sega, guerra de baladeiras, tô quente tô frio, bom
barquinho e outras.
Nos
colégios as quermesses, nas igrejas as festas, íamos às festas do Colégio Sete
de Setembro, Colégio Marista, Ginásio São Luiz, quermesse na Lagoa Manoel
Felipe, hoje Cidade da Criança, a da Igreja Santa Terezinha, do Colégio Nossa
Senhora de Fátima, Festa da Padroeira na Praça André de Albuquerque, Festa da
Mocidade, na Praça Pio X. Aos domingos, banho de mar nas praias do Meio, Forte
e Areia Preta, ou a travessia do Rio Potengi, nas lanchas de Luiz Romão, ou nos
botes a vela, capitaneados por Janjão, Ferrinho ou Gonzaga.]
Cresci,
envelheci, ficou a saudade. Boas lembranças de um tempo bem vivido.
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