João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor de Matemática da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
Durante as pesquisas sobre o capitão-mor do Rio Grande, Manoel de Abreu Soares, surgiram muitas outras informações que eu desconhecia. Algumas delas necessitam dos documentos comprobatórios para atestar sua validade, mas como elas vão se repetindo em diversos autores e na internet, trago para esse espaço para conhecimento de todos e uma discussão maior.
Vicente Lemos escreveu no seu livro sobre os capitães-mores do Rio Grande: tinha D. João IV doado nesse mesmo ano (1654) uma parte do território do Rio Grande a Manoel Jordão, do qual não chegou a tomar posse, por ter naufragado na ocasião do desembarque (Coreografia Brasílica de Ayres do Casal, tom. 2º, pag. 185. Thomaz Pompeu, Geografia Geral, 4ª edição.
Câmara Cascudo, no livro História do Rio Grande do Norte, estranhando, disse de Manoel Jordão: de quem desconheço vida e feitos justificativos da mercê de D. João IV, autor de tão curiosa forma de agradecimento aos seus vassalos norte-rio-grandenses.
Júlio Gomes de Senna, no livro Ceará-mirim, exemplo nacional, acrescenta que Aires do Casal quando registrou esse fato, chamou Natal de Natalópolis.
Gottfried Heinrich Handelmann, no livro História do Brasil, traduzido pelo IHGB, e publicado pelo MEC, escreveu: Nos anos 1654-1656 fez o Rei D. João IV doação da capital, Natal, com suas dependências, a Manoel Jordão; porém, quando esse donatário aqui chegou para tomar posse, naufragou a sua embarcação à entrada, no Rio Potengi, ele próprio pereceu, e os seu feudo reverteu à Coroa. Mais tarde elevou o Rei D. Pedro II esta mesma terra à categoria de condado, em favor de Lopo Furtado de Mendonça (1689), resta saber, contudo se com esse título, conde do Rio Grande, acaso estava ligado algum direito de posse, pois não se falou mais nisso.
Júlio Gomes de Senna, no livro citado acima, comenta que o titulo de Conde foi inicialmente para Francisco Barreto de Menezes que passou para sua filha Antonia, e esta por intermédio do casamento, para o seu esposo Almirante Lopo Furtado de Mendonça.
Na internet encontro que Felipe Alberto Folque de Mendonça, um dos pretendentes ao Reino de Portugal, se intitula 3º Conde do Rio Grande.
Encontro através da internet pessoas com o nome de Manoel Jordão. Desconfio que Aires do Casal juntou pedaços de histórias para construir essa sobre a doação de D. João IV. Quanto ao condado, resta saber se esse Rio Grande era o nosso.
Em um de seus artigos em Velhas Figuras, Cascudo diz: Vicente Lemos acreditava que a primeira nomeação de Vaz Gondim para o Rio Grande do Norte tinha sido em janeiro de 1656. Parece ter sido muito antes. Em 8 de abril de 1657, o Governador Geral do Brasil, Francisco Barreto de Menezes, o vencedor de Guararapes, informa a Vaz Gondim: com esta remeto a V. M, patente para continuar no exercício desse posto. Se a nomeação fosse de 1656 não era possível aparecer essa patente, no ano seguinte, mandando continuar no exercício. O prazo mínimo de governo era de três anos. Expirado o prazo legal e o Governador mandava o Capitão-mor continuar. Em 7 de abril de 1659, o mesmo Governador Geral oficiava ao Senado da Câmara do Natal, comunicando que Vaz Gondim continuava na administração. O Senado da Câmara havia solicitado a permanência do capitão mor pelos excelentes trabalhos que havia empreendido.
Continua Cascudo. Governara de 1654 a 1656, de 1657 a 1659 e fora a pedido do Senado da Câmara, reconduzido para 1660-61-62. Ficou até 5 de Dezembro de 1663.
Hélio Galvão, entretanto, diz que para o Rio Grande o primeiro capitão-mor despachado foi Antonio Fernandes Furna (nomeado por carta de 6 de junho de 1654, parente de Calabar, mas pelo visto de fidelidade provada à causa brasileira. Diz mais adiante, que substituiu-o em princípios de 1656, Antonio Vaz Gondim.
Com relação a esses capitães-mores é possível que todos estejam parcialmente certos e, talvez, as datas de governo sejam diferentes, como também o tempo dos mandatos. Era um período de reconstrução, após a saída dos holandeses. Pode ter acontecido o seguinte: Veio Antonio Fernandes Furna por conta da nomeação em 1654; depois, na sequencia, assumiu Manoel de Abreu Soares, por conta da nomeação de 1656, tendo governado por pouco tempo; Em seguida veio Antonio Vaz Gondim, tendo começado no fim de 1656 ou no começo de 1657, e durado mais de seis anos, nessa sua investidura.
Com relação a esse Antonio Fernandes Furnas, encontramos nos documentos sobre pagamento de tropas, aqui no Rio Grande do Norte, anotações sobre um filho dele de nome Luiz de Sousa Furna. Ele foi socorrido com pagamento em dois períodos: de 12/10/1729 até 27/8/1731 e de 27/8/1731 até 26/8/1733.