Professor da UFRN e
membro do IHGRN e do INRG
Nos Anais da Biblioteca Nacional, encontramos algumas
informações sobre Angicos, escritas pela Câmara Municipal, em sessão de 2 de
maio de 1881, após ouvir pessoas idôneas daquela localidade. Essas informações
tinham sido requeridas pela Biblioteca Nacional, mediante formulário próprio.
Assinaram o documento os seguintes vereadores: Manoel Fernandes da Rocha
Bezerra, presidente, José Avelino Martins Bezerra, José Mathias Xavier da
Costa, Trajano Xavier da Costa e Manoel Paulino da Costa Pinheiro. Segue a
descrição feita pela Câmara. Havia uma forma própria de escrever que às vezes
não é fácil de ler.
Esta Vila de São José dos Angicos foi primeiramente uma
Fazenda de criar gados pertencente ao abastado tenente Antonio Lopes Viégas,
cujo nome Angicos tirou de uma porção de árvores do mesmo nome, que naquele
tempo existia na circunferência do Olho d’Água, que se acha encravado no riacho
denominado Olho d’Água, poucos metros abaixo da mesma Vila.
Observa-se que o referido tenente Antonio Lopes Viégas
casou-se em uma família denominada Costa Xavier, sendo ele de outra família, cuja
ramificação era Dias Machado. Pelo correr dos tempos, isto é, em 1813, lembrando-se
um filho do sobredito tenente Lopes, com a mais família, de edificar uma
capela, que a consumaram em breves tempos, a fim de celebrarem, quando
necessário, os ofícios divinos.
Em 1816, achando-se no Rio de Janeiro, o tenente-coronel
José Correia de Araújo Furtado requereu, em nome dos Angicanos ao Ministro do
Reino, naquela época, ser a mesma capela elevada a Freguesia Paroquial, como
ponto central; cuja súplica mandou o Ministro não só informar ao Vigário da
Freguesia do Assú, a que pertencia, como a respectiva Câmara, hoje Municipal,
informando esta a favor de Angicos, e aquele, por despeito a favor de Santa Ana
do Upanema, atualmente Vila do Triunfo. Com semelhantes informações, seguiu
para Corte o fundador da capela, tenente Antonio Lopes Viégas Filho, que
chegando ali ficou infelizmente maníaco, encontrando o Reverendo Padre João
Theotonio de Sousa e Silva, que lhe disse procurar a Freguesia para Angicos, e
vir nela colado, recebendo por isso os mesmos papéis.
O Ministro, deferindo favoravelmente a súplica, colou ao
referido Padre João Theotonio, trazendo a sua Provisão e Comissão de declarar a
sede da Matriz, em um dos dois lugares qual deles fosse o mais central, Angicos,
ou Santa Ana, sem trazer a cláusula, do Upanema.
Em 1824, chegando o mencionado Vigário João Theotonio a
Santa Ana do Matos (que não fez parte das informações) aí, a empenhos, declarou
a sede da Freguesia, ficando a capela desta Vila, filial àquela, assim como a
de Guamaré.
Pelo correr do ano de 1834, o Conselho de Província propôs
ao Governo Geral a criação de cinco Vilas, e este aprovando ordenou ao
Presidente, que então era o finado Manoel Lobo de Miranda Henriques, de saudosa
memória, a criação das mesmas em Conselho do Governo, foi nesta ocasião elevada
esta Povoação à Vila, ainda assim com o voto de qualidade daquele distinto
Presidente; por que três conselheiros votaram para Santa Ana do Matos, e dois
para Angicos, sendo nesta ocasião o sobredito Presidente Lôbo orientado de todo
o ocorrido pelo conselheiro José Fernandes Carrilho, que unido ao conselheiro
finado, capitão-mor André de Albuquerque Maranhão, votaram para Angicos.
Semelhante ato de justiça desafiou as iras do finado Vigário
João Theotonio de Sousa e Silva, que, em virtude do Ato adicional de 12 de
agosto de 1834, foi ele eleito membro à Assembleia Provincial, e em sua reunião
em 1835, pôde suprimir a mesma Vila, por Lei Provincial nº 26, de 28 de março
de 1835. Nesta época correram os negócios tão agitados, que por pouco, esteve a
ponto de tremular o Estandarte Sangrento da guerra civil; e tomando conta da Presidência
o conselheiro João José Ferreira de Aguiar e reunindo-se a mesma Assembleia, em
sua fala de abertura, nada deixou a desejar, mostrando a inconveniência de
semelhante Lei, toda caprichosa e até odiosa.
Com efeito, a referida Assembleia meditando a revogou,
instaurando esta Vila, como fez pela Resolução Provincial nº 9, de 13 de
Outubro de 1836.
Ainda no ano de 1847, sofreu esta vila, uma supressão, toda
caprichosa, que teve lugar sob a influência do finado coronel Jerônimo Cabral
Pereira de Macedo, sendo a mesma instaurada pela segunda vez em 1850, em cuja
categoria ainda permanece.
Antes de continuar com as informações da Câmara Municipal de
Angicos, o que faremos no próximo artigo, complemento com alguns dados.
O tenente Antonio Lopes Viégas era casado com Anna Barbosa
da Conceição, que, segundo vários autores, era filha do português João Barbosa
da Costa. Ele, tenente Antonio Lopes Viégas, foi testemunha do casamento, na
Matriz de Nossa Senhora dos Prazeres e São Miguel da Vila de Extremoz, no ano
de 1774, de Francisco Xavier da Cruz e Lourença Dias da Rosa, ele filho do
referido João Barbosa da Costa e Damásia Soares, e ela de Antonio Dias Machado
e Francisca Lopes Xavier, primos.
A mais antiga referência, de um Antonio Lopes Viégas, data
do ano de 1706. Lourença Lopes, filha dele, foi madrinha de Luiz, filho de
Sebastiana, escrava do coronel Bento Correa da Costa. É interessante obsevar
que Francisca Lopes Xavier, esposa de Antonio Dias Machado, era filha de Luiz
Duarte de Azevedo e de Lourença Lopes Xavier, esta, talvez a madrinha de Luiz, em
1706. É possível que o tenente fundador de Angicos seja filho de Luiz Duarte de
Azevedo e Lourença Lopes. Alguns descendentes de Antonio Lopes Viégas e Anna
Barbosa da Conceição têm sobrenomes Duarte e Azevedo.
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Igreja de São José de Angicos |
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Cadete José Avelino Martins Bezerra |
Pós-escrito
No Dicionário dos Municípios Brasileiros - IBGE, encontramos a seguinte informação complementar:
Abaixo do Rio Pataxó, havia ainda uma parte de terra, assim distribuída: seis quilômetros do capitão-mor Balthazar da Rocha Bezerra; seis quilômetros do coronel Miguel Barbalho Bezerra; dezoito quilômetros do coronel Antonio da Rocha Bezerra. Essas posses estão registradas nos "Autos de medição de Terras" de 1756. Não é conhecido se todos esses proprietários ocuparam e dirigiram seus domínios no território do município, cuja denominação, segundos alguns autores, vem de angico, árvore de grande aspecto, muito comum no Norte.
Quando Aluízio Alves escreveu Angicos transcreveu o documento de venda e compra da Fazenda Angicos de Miguel Barbalho Bezerra para o tenente Antonio Lopes Viégas.