João Felipe da
Trindade
jfhipotenusa@gmail.com
Os seres humanos exploram seus
semelhantes das mais diversas formas: física, mental e espiritual. As
ideologias, as religiões, as tiranias e os partidos políticos mantém, debaixo
de escravidão, milhões de pessoas em todo o mundo. E isso, parece que nunca vai
acabar.
Nas nossas pesquisas
genealógicas, encontramos os rastros da escravidão praticados pelos nossos
ancestrais. Algumas pessoas, consideradas libertadoras, eram na verdade
vendedores de liberdade. Trazemos exemplos através dos registros da Igreja.
Em 1864, no mesmo dia e ano,
foram batizadas duas Marias, filhas das escravas Izabel e Ignácia, ambas
pertencentes ao mesmo casal. Vejamos um desses registros: Aos trinta e um de
junho de mil oitocentos e sessenta e quatro, batizei solenemente, nesta Matriz,
da Gloriosa Senhora Santa Ana do Matos, a párvula Maria, parda, filha natural
de Izabel, escrava de Vicente Ferreira de Lima, e sua mulher Joana Quitéria
Veloso da Silveira, nascida a vinte e cinco de novembro de mil oitocentos e sessenta
e três, cuja escravinha Maria os ditos senhores forraram na Pia, pelo preço e
quantia de cem mil réis, cujo dinheiro receberam da mãe da dita criança, e, por
isso, lhe deram plena, e geral liberdade, para que a goze para si, e seus
descendentes, como se de ventre livre nascesse; foram padrinhos Miguel
Francisco de Paula, e Izabel Emiliana da Silva, ambos solteiros, e desta
Freguesia, e de como assim o disseram em minha presença, e das testemunhas
abaixo assinadas, fiz este termo em que por verdade assinei, com eles
libertadores, e as referidas testemunhas.
Antonio Germano Barbalho Bezerra, Coadjutor Pró Pároco, Vicente Ferreira
de Lima, e por Joana Quitéria Veloso da Silveira, Absalão Fernandes da Silva, e
como testemunha Manoel Lopes Idalino.
Mas antes da data acima, no ano
de 1851, houve outra libertação, onde os pagadores foram os padrinhos:
Francisca, parda, filha legítima de Francisco e Joaquina, escravos ambos de
Antonio Dantas Cavalcante, casado, morador desta Freguesia de Santa Ana do Matos,
nasceu aos nove de junho de mil
oitocentos e cinquenta e um, e foi batizado com os Santos Óleos, no
Sítio Itu Velho, desta Freguesia, perante muitas pessoas, que se achavam
presentes em Desobriga, como se nascesse de Vente Livre, por preço, e quantia
de cinquenta mil réis, que receberam, seus senhores, dos padrinhos, na ação de
batismo que foi aos dezesseis de julho do mesmo ano, pelo Coadjutor desta
Freguesia Ignácio Damazo Correa Lobo, de minha licença, o que pediram os ditos
senhores fizesse essa mesma declaração em Livro, para o todo tempo constar;
foram padrinhos Manoel de Melo Montenegro Pessoa, casado, e Bertholeza Dantas
Cavalcante, viúva, do que para constar mandei fazer este assento, e por verdade
assinei. Vigário João Theotonio de Sousa e Silva.