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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

O preço da liberdade


João Felipe da Trindade
jfhipotenusa@gmail.com

Os seres humanos exploram seus semelhantes das mais diversas formas: física, mental e espiritual. As ideologias, as religiões, as tiranias e os partidos políticos mantém, debaixo de escravidão, milhões de pessoas em todo o mundo. E isso, parece que nunca vai acabar.

Nas nossas pesquisas genealógicas, encontramos os rastros da escravidão praticados pelos nossos ancestrais. Algumas pessoas, consideradas libertadoras, eram na verdade vendedores de liberdade. Trazemos exemplos através dos registros da Igreja.

Em 1864, no mesmo dia e ano, foram batizadas duas Marias, filhas das escravas Izabel e Ignácia, ambas pertencentes ao mesmo casal. Vejamos um desses registros: Aos trinta e um de junho de mil oitocentos e sessenta e quatro, batizei solenemente, nesta Matriz, da Gloriosa Senhora Santa Ana do Matos, a párvula Maria, parda, filha natural de Izabel, escrava de Vicente Ferreira de Lima, e sua mulher Joana Quitéria Veloso da Silveira, nascida a vinte e cinco de novembro de mil oitocentos e sessenta e três, cuja escravinha Maria os ditos senhores forraram na Pia, pelo preço e quantia de cem mil réis, cujo dinheiro receberam da mãe da dita criança, e, por isso, lhe deram plena, e geral liberdade, para que a goze para si, e seus descendentes, como se de ventre livre nascesse; foram padrinhos Miguel Francisco de Paula, e Izabel Emiliana da Silva, ambos solteiros, e desta Freguesia, e de como assim o disseram em minha presença, e das testemunhas abaixo assinadas, fiz este termo em que por verdade assinei, com eles libertadores, e as referidas testemunhas.  Antonio Germano Barbalho Bezerra, Coadjutor Pró Pároco, Vicente Ferreira de Lima, e por Joana Quitéria Veloso da Silveira, Absalão Fernandes da Silva, e como testemunha Manoel Lopes Idalino.


Mas antes da data acima, no ano de 1851, houve outra libertação, onde os pagadores foram os padrinhos: Francisca, parda, filha legítima de Francisco e Joaquina, escravos ambos de Antonio Dantas Cavalcante, casado, morador desta Freguesia de Santa Ana do Matos, nasceu aos nove de junho de mil  oitocentos e cinquenta e um, e foi batizado com os Santos Óleos, no Sítio Itu Velho, desta Freguesia, perante muitas pessoas, que se achavam presentes em Desobriga, como se nascesse de Vente Livre, por preço, e quantia de cinquenta mil réis, que receberam, seus senhores, dos padrinhos, na ação de batismo que foi aos dezesseis de julho do mesmo ano, pelo Coadjutor desta Freguesia Ignácio Damazo Correa Lobo, de minha licença, o que pediram os ditos senhores fizesse essa mesma declaração em Livro, para o todo tempo constar; foram padrinhos Manoel de Melo Montenegro Pessoa, casado, e Bertholeza Dantas Cavalcante, viúva, do que para constar mandei fazer este assento, e por verdade assinei. Vigário João Theotonio de Sousa e Silva.