João Felipe da
Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Matemático, sócio do
IHGRN e do INRG.
Escreveu Câmara Cascudo, em uma
nota inédita, no trabalho do Comandante Eugênio de Castro sobre a Ilha de
Manoel Gonçalves: Quando estive em Macau
(dezembro de 1935) conheci João Teixeira de Souza, nascido em 1847, decorador
de tradições e gostando de evocá-las. Seu sogro, Manoel da Rocha Bezerra,
nascera na ilha de Manuel Gonçalves. O velho João Teixeira reviveu as
existências passadas na ilha que o mar devorou.
F.F Araújo, no livro
comemorativo dos 100 anos de Ordenação Sacerdotal do Monsenhor Joaquim Honório,
escreveu sobre João Teixeira de Souza e, desse trabalho extraímos, alguns
trechos: apraz-me ocupar de uma figura
respeitável, humanitária e digna que foi João Teixeira de Souza. Quem não o
conheceu em Macau? Eis uma regra sem exceção: - todos o conheciam porque seus
ótimos predicados de homem de bem davam lugar a isto. Tive a felicidade de
conhecê-lo também pessoalmente, logo que em 1900 cheguei àquela cidade.
Era o doutor e homeopata da terra, sem médico naquele tempo. Seus
serviços nunca os negou a quem quer que o solicitasse, - ainda que fosse ir a
pé ao porto do Rosado, para atender ao pobre que precisava medicar o filhinho
doente.
Nasceu aos 12 de fevereiro de 1849, em Cacimba do Vianna, do município
do Assú. Foram seus pais Manoel José de Souza e Dona Cosma Maria de Souza.
Desse casal acima temos o
casamento: Aos vinte e quatro de fevereiro de mil oitocentos e quarenta e oito,
as (ilegível) horas do dia na Fazenda Cacimbas do Vianna uni em matrimônio e
abençoei aos contraentes Manoel José de Souza e Cosma Maria
do Espírito Santo, meus fregueses servatis servandis:
Assistiram como testemunhas o major José Martins Ferreira e João Teixeira de
Souza: do que para constar fiz este termo em que assino. Manoel Januário
Beserra Cavalcante, Pároco Colado do Assu.
Vários membros da família Teixeira
de Souza viviam nas Cacimbas do Vianna. Não deu para descobrir se Manoel José
Teixeira era dessa família, mesmo vendo que uma das testemunhas tinha o nome do
seu futuro filho João Teixeira de Souza.
Não encontrei o batismo de João,
mas os de duas irmãs dele: Maria, parda, filha legítima de Manoel José de
Souza, e de Cosma Maria da Conceição, do Assú, nasceu à 6 de março de 1851, e
foi solenemente batizada pelo Reverendo Silvério Beserra de Menezes na Capela
de Macau aos 19 de julho do dito ano, sendo padrinhos João Gomes Carneiro e
Anna Maria da Conceição,
do que para constar faço este assento, em que me assino. Félis Alves de Sousa,
Vigário Colado d’Angicos.
Esse João Gomes Carneiro era
daqui de São Gonçalo do Potengi, sendo sua esposa uma legítima Teixeira de
Souza: era Anna Joaquina Teixeira de Souza, lá dos Angicos.
Vejamos o batismo da
outra irmão de João Teixeira de Souza: Anna, filha legítima de Manoel José de
Souza, e Cosma Maria da Conceição, nasceu aos quatro de maio de 1852, e foi
batizada aos 15 de novembro do dito ano, no sítio das Cacimbas, pelo padre Ignácio
Damazo Correa Lobo, com os santos óleos, de minha licença; foram padrinhos
Francisco Lins Wanderley e Ana Maria Wanderley, casados. Do que para constar
fiz este termo em que assino. O vigário Manoel Januário Bezerra Cavalcante,
Vigário Colado do Assú.
Manoel José faleceu
cedo, pelo que escreveu F.F Araújo:
Transportando-se, em 1859, para Macau, ano em que faleceu seu pai, aí passou a
residir, casando-se, pela primeira vez, em 1869, com dona Veneranda Bezerra da
Rocha. Ficou viúvo em 1879 (equívoco), e casou-se segunda vez com Dona Ana
Bezerra da Rocha.
Grande, numerosa mesmo, foi a prole dos dois casamentos: 31 filhos,
sendo 10 do primeiro e 21 do segundo.
Entre os filhos de João Teixeira
de Souza com Veneranda, encontramos os seguintes registros: Francisca, nascido
aos 10 de março de 1874 e batizada aos 5 de maio do mesmo ano, tendo como
padrinhos Francisco Frazão de Barros e sua mulher Josefa Francisca de Barros; Januário
que nasceu aos 19 de setembro de 1875, e foi batizado aos 24 do mesmo mês e
ano, tendo como padrinhos Joaquim José de Souza e sua mulher Maria Joaquina da
Conceição; Maria, que nasceu aos 25 de março de 1877 e foi batizada aso 18 de
maio do mesmo ano, tendo como padrinhos Julião Barbosa Leça e Joana Francisca
de Souza Vianna; Celina nasceu aos 9 de julho de 1880 e foi batizada aos 27 do
mesmo mês e ano, sendo padrinhos José Vieira de Mello e Maria Gertrudes de
Mello; Francelina que nasceu aos 7 de junho de 1881, e foi batizado aos 11 de (ilegível)
do mesmo ano, tendo como padrinhos Malaquias Pereira e Francisca Cordulina; outra
Francisca, que nasceu aos 28 de dezembro de 1883 e foi batizada aos 2 de abril
do ano seguinte, tendo como padrinhos Padre
José Joaquim Fernandes e D. Olímpia Olívia Rodrigues de Souza;
Descreveu mais F. F. Araújo: Suas atividades em Macau foram na
indústria do sal e no comércio, dedicando-se também a criação.
Foi político, e por merecimento e confiança ocupou vários cargos
públicos, desempenhando-os sempre com habilidade e máxima honestidade.
Faleceu em 8 de novembro de 1942, deixando vários filhos, dentro os
quais cito com prazer, o farmacêutico Alfredo Teixeira de Souza, residente na
terra do sal. Aí ficam macauenses, em ligeiros traços, quem foi João Teixeira
de Souza bem merecedor de que seu nome ao menos posto numa das ruas de Macau,
como lembrança e gratidão de um povo reconhecido.
Entre os documentos encontrados
no Museu José Elviro, está um que noticia a morte de Manoel da Rocha Bezerra
Junior: João Teixeira se apresentou aos 12 de dezembro de 1907 em Macau para
informar que seu sogro tinha falecido, naquela madrugada, aos 77 anos de idade,
deixando viúva Dona Francelina Francisca de Medeiros. Fazendo as contas ele
dever ter nascido, lá na Ilha, como comentou João Teixeira, com Cascudo, por
volta de 1830. Acredito que fosse filho de Manoel da Rocha Bezerra e Josefa
Jacinta que casaram na Ilha de Manoel Gonçalves em 1828.