Públio José – jornalista
Uma das maiores e mais constantes reclamações que ouvimos, no contato diário com as pessoas das mais diversas classes sociais, é o desrespeito e a desconsideração que recebem daquelas outras ditas importantes, ocupantes de altos cargos na administração pública e também na iniciativa privada. A queixa envolve a constatação de como é difícil a um integrante do primeiro, segundo, e até mesmo do terceiro escalão da administração pública, seguir as mais elementares noções de educação e etiqueta profissional para com os demais mortais, retornando as ligações e recados a eles dirigidos. Na iniciativa privada o índice de frieza e insensibilidade é bem menor. Porém, mesmo assim, atinge taxas igualmente altas de má educação e má vontade. É impressionante como atualmente por aqui e alhures, sem exceção, alastrou-se essa verdadeira praga de arrogância, soberba e descortesia.
E olhe que estamos falando de pessoas comuns. Gente assalariada, que tem problemas e dificuldades na sua rotina diária como qualquer outra. Porque se falarmos das elites, aí enquadrados empresários, autoridades, personalidades do mundo artístico e políticos em geral, o quadro fica pior, muito pior. No caso específico dos políticos, é interessante se notar que, para lograrem êxito, fazem todo tipo de paparico ao eleitor, principalmente aos mais necessitados. Aí, depois de alcançar seus objetivos, montam uma razoável estrutura para se livrar daqueles que os procuram, normalmente constituída de pessoas insensíveis, agressivas, escolhidas a dedo. O que se vê, então, é um quadro humilhante, degradante, de difícil narração. Pessoas, normalmente de condições humildes, perambulando de gabinete em gabinete, de sala em sala, solicitando atenção para suas dores, dissabores, aflições.
Recebendo, em troca, de assessores e secretárias, já devidamente instruídos, todo tipo de manifestação de descortesia, indiferença e arrogância. É interessante se observar, por outro lado, que tais profissionais são trazidos para funções importantes, estratégicas no tocante ao atendimento público, sem passar por nenhum preparo da parte daqueles que os nomeiam, que os constituem seus prepostos. Aí é de fazer dó as cenas presenciadas. Umas pessoas se dirigindo a outras – no sentido de terem seus pedidos atendidos; e estas se negando a atendê-las ou praticando um atendimento de péssima qualidade – gerando, com isso, tristezas e decepções de toda ordem. São, em resumo, as pessoas erradas, colocadas nos lugares errados por pessoas erradas, para atender gente que escolhe hora e lugares errados, com gente errada para recebê-las e erradas para encaminhar seus problemas, demandas e aflições.
O caos, enfim. Tais pessoas agem como se fossem habitantes de um mundo à parte, como componentes de um extrato social diferente, majestático, desconectadas de responsabilidades e atenções para com o próximo. Retornar recados e ligações para elas é totalmente dispensável. Tanto faz como tanto fez. Insensíveis, não calculam o prejuízo que causam aos outros e aos órgãos que servem em razão da descontinuidade ocasionada pelo seu mau comportamento. Enganam-se, se pensam que estão “abafando”. Na verdade, agindo assim, estão mal diante de si e dos homens – e mais ainda perante Deus. Pois foi Jesus mesmo que disse “Aquele que recebe os que Eu envio, a mim me recebe”. Deu pra entender? É muito séria – e edificante para quem a faz com amor e zelo – a atividade de atender, receber e encaminhar pessoas. Digno e fidalgo é aquele que a cumpre com dedicação, carinho e boa vontade.
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