João Felipe da
Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN,
membro do IHGRN e do INRG
Borges da Fonseca, o genealogista da Nobiliarquia
Pernambucana, escreveu: D. Felícitas Uchoa
de Gusmão, a quem meu pai, que Deus haja, prendeu no ano de 1730, pouco mais ou
menos, por ordem do Santo Ofício, foi casada na Paraíba com Luis da Fonseca. E
deste matrimônio parece que nasceu um José da Fonseca, que me dizem vive pelos
sertões da capitania do Ceará.
Sabemos pelo depoimento, no processo em que foi condenada à
cárcere e hábito perpétuo, que D. Felícitas tinha somente um filho, Dionísio, que na época tinha 11 anos. Segundo o
mesmo Borges, Bartholomeu Peres de Gusmão, pai de Felícitas, faleceu em 7 de
abril de 1700.
Disse, também, D. Felícitas, que seu padrinho de batismo, Dionísio Peres de Gusmão, filho bastardo do seu pai, era falecido e não teve filhos. Na verdade, Dionísio Peres de Gusmão, que foi advogado como seu pai, faleceu em 1709, tendo deixado cinco filhos órfãos, do seu casamento com Leonarda Peres de Gusmão, prima legítima de Luis da Fonseca, marido de D. Felícitas. É tanto, que vamos encontrar, no livro de João de Lyra Tavares, uma sesmaria, datada de 30 de dezembro de 1709, onde está escrito: D. Leonarda Peres de Gusmão, viúva do Dr. Dionísio Peres de Gusmão, diz que por morte do seu marido, ficara pobre e falta de bens, que escassamente tinha com que se alimentar e aos seus filhos órfãos, que ficaram e de nenhum modo com que pudesse dar estado a uma filha (Ana) que entre eles havia de idade de doze anos, e porquanto na rua nova desta cidade se achavam devolutos uns chãos, que correm das casas térreas de Mathias Soares Taveira, até o quintal de Gonçalves Reis, junto à casa de pólvora, com fronteira para oeste e a traseira para leste, com fundo até entestar com os quintais das casas de Luiz de Sousa Furna e outros na rua direita, pelo que pedia lhe fizesse mercê, para que em qualquer tempo pudesse dispor dele como seu.
Segundo Bruno Feitler, em uma de suas obras sobre
cristãos-novos, Ana de Sá, a filha de Dionísio e Leonarda, em 1731 já era viúva
do soldado Antonio Luis, e tinha um filho. Escreveu, também, que Cosme Peres de
Gusmão, outro filho, também era casado em 1731, tendo seguido a carreira de
advogado como o pai e o avô.
O primeiro registro da família Peres de Gusmão, que encontro
aqui no Rio Grande do Norte, é de um sobrinho de D. Felícitas. No ano de 1734,
no dia 18 de agosto, na capela de Nossa Senhora de Santa Anna do Ferreiro
Torto, Francisco de Sousa Gusmão, filho do Doutor Dionísio Peres de Gusmão,
falecido, e Leonarda Peres de Gusmão, desposou Dona Apolônia Dornelles de
Jesus, filha do capitão João Barbosa Pimentel e Mariana de Azevedo, sendo
testemunhas o sargento-mor João Dias Ferreira, o sargento-mor Caetano de Mello
de Albuquerque, Dona Adriana de Abreu, viúva, e D. Antonia Dias dos Anjos,
casada com João Fernandes de Sousa.
Não encontrei registro algum de filhos do capitão Francisco
de Sousa Gusmão. O capitão João Barbosa Pimentel, seu sogro, está presente nos
antigos registros de batismos da Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação.
Era filho de Francisco Lopes e Joanna Dornelles, neto materno de Manoel
Rodrigues Pimentel e bisneto de João Lostau de Navarro.
Quatro anos depois, no dia 18 de junho de 1738, na capela de
Nossa Senhora de Santa Anna do Ferreiro Torto, Bartholomeu Peres de Gusmão,
natural da Paraíba, desposou Nataria de Jesus da Silva, natural desta
Freguesia. Ele, filho do Doutor Dionísio Peres de Gusmão, já defunto, e
Leonarda Peres de Gusmão. Ela, filha do capitão João Fernandes de Sousa e
Antonia Dias dos Anjos. Foram testemunhas Francisco de Sousa Gusmão, Manoel
Peres de Gusmão, Maria Magdalena, esposa de Hilário de Castro da Rocha e
Ignácia de Abreu, esposa de Francisco Barreto.
Esse Manoel Peres de Gusmão devia ser outro filho de
Dionísio. O capitão João Fernandes de Sousa, já tinha aparecido nos nossos
artigos sobre os Rodrigues de Sá, que estão aqui desde 1697. Era de Olinda, assim
como Doutor Dionísio.
Diferentemente de seu irmão, encontramos vários filhos e
netos de Bartholomeu e Nataria. Entre os filhos, registro: José, que foi
batizado na capela de Nossa Senhora da Conceição de Jundiaí, no dia 13 de
dezembro de 1762, tendo como padrinhos Antonio dos Anjos, solteiro e Anna
Antonia, mulher de Nicácio de Sousa; Francisco, batizado aos 31 de março de
1765; Antonia, batizada aos 13 de junho de 1753, na capela de Nossa Senhora do
O’ de Mipibú, tendo como padrinhos Antonio de Almeida Granco e Maria Ferreira
dos Anjos, filha de João Fernandes da Rosa.
Antonia, que se tornou Antonia Dias dos Anjos, mesmo nome da
avó, casou em 18 de fevereiro de 1776, na Matriz, com Constantino de Lima
Rocha, filho de Constantino de Lima Rocha e Francisca Florinda, sendo
testemunhas Francisco Álvares de Mello e Domingos Martins.
Francisco, acredito, tinha o mesmo nome do tio, citado acima,
Francisco de Sousa Gusmão. Encontramos para ele vários descendentes, que
trataremos em outro artigo.
Outros filhos que não encontramos os batismos, mas aparecem
como padrinhos ou testemunhas, foram: João Peres de Gusmão, Sofia de Jesus,
Maria e Dionísio Peres de Gusmão, que teve um filho natural, de nome Alexandre,
com Jerônima Gomes da Silveira (prima), filha de Jerônimo Gomes da Silveira e
Izabel Dias dos Anjos, batizado aos 3 de fevereiro de 1774, tendo como
padrinhos Domingos Martins da Rocha e Nataria de Jesus da Silva. No próximo
artigo continuaremos com a descendência de Bartholomeu Peres.
Batismo de Antonia Dias dos Anjos (2ª) |
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