De Ir. Vilma, responsável pelo Arquivo da Cúria Metropolitana de Natal, recebi este artigo que publico no nosso blog.
Ir. Vilma Lúcia
de Oliveira, FDC
Hermas (séc II), em O Pastor, em sua terceira visão descreve
a Igreja como a Velha Dama que lhe aparece, “perfeitamente jovem e bela”(cfr 2, 2;
8,1;18, 3-4;20; 21).
O gesto, inédito, do
nosso Pastor, BENTO XVI, tão tímido e ao mesmo tempo corajoso, movido pelo sua
profunda atenção e obediência à verdade, rejuvenesce a Igreja, neste ainda
início do século XXI. Sem precedentes
porque [...]Depois de
ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à
certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idóneas
para exercer adequadamente o ministério petrino. [...]. Por isso, bem
consciente da gravidade deste acto, com plena liberdade, declaro que renuncio
ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela
mão dos Cardeais em 19 de Abril de 2005[...].
Na minha despretensiosa
consideração, do ponto de vista da história, a única renúncia que se aproxima da de BENTO
XVI é a do Papa S. CELESTINO V (1222
– 1294 /6). Confrontando os fatos históricos,
através das renúncias dos predecessores, não se pode desconhecer o novo que se
inaugura.
O primeiro a renunciar
foi o Papa CLEMENTE I (c.92-c.101), depois
de ser detido e condenado ao exílio, nas perseguições no reinado de Trajano.
O segundo Papa, PONCIANO ( c.230 – c.235), marcado pelas pressões
do seu irredutível opositor Hipólito
(217-235), sacerdote romano, teólogo do clero de Roma, conhecido
pelas suas atitudes rigoristas a ponto de que recusar a reconciliação e o
perdão, concedidos pelo papa. A renúncia de S. Ponciano foi para não criar
dificuldades à Igreja de Roma e para a reconciliação com os seguidores de Hipólito.
O
terceiro, SILVÉRIO (c.536 – c.537),
o seu pontificado foi marcado pela
interferência da Imperatriz Teodora. Como não se submeteu às exigências da
Imperatriz foi preso e deportado para Ásia. Das tentativas de mediação para
solucionar os impasses surgiu a famosa frase: “Existem muitos reis neste mundo,
mas apenas um papa em todo o universo”. Havia a iminência de um cisma e para
evita-lo, terminou abdicando em 11. XI. 537.
O quarto, BENTO IX, que na relação da
sucessão apostólica aparece como 143 °; 145° e 148° papa. Pelos números já
indicam complicações de diversas categorias. É deposto, consegue retornar, renuncia,
tenta retornar, mas sempre por causa da manutenção de privilégios das familias
reinantes.
O quinto, CELESTINO
V (1222- 1296). Após 27 meses sucessivos de vacância papal e as
profecias que ameaçavam com castigos divinos se a Igreja permanecesse sem
Pastor por mais tempo, o próprio profeta foi escolhido papa. Asceta convicto, o
velho monge, foi trazido de seu retiro, acompanhado pelo Rei de Nápoles Carlos
II D’Anju. Depois de
menos de quatro meses abdicou, “consciente
de não estar à altura da tarefa a ele confiada”, porém, num contexto de ingerências, da Casa Reinante. Celestino V
colocou o cargo nas mãos de seus eleitores e retirou-se humildemente.
E por último, GREGÓRIO XII (1406 – 1415).
Estava imerso na problemática dos antipapas, as discussões quanto a
legitimidade do Concílio de Constança e todo o contexto político gerado pela Corte
do Papado que estava retornando de Avinhão para Roma. Sua renúncia, portanto,
foi para terminar com o Cisma do Ocidente.
Assim, considerando as exigências
atuais em confronto com a realidade presente do ministério petrino, a renúncia
de BENTO XVI, do ponto de visto histórico, tem novas aspectos e fundamentos que,
em síntese, coloca a Igreja na mira da modernidade. É uma significativa
contribuição histórica para que ela continue a aparecer, perfeitamente jovem e bela, como A
VELHA DAMA QUE REJUVENESCE.
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