Macau, relatos de uma viagem
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor de Matemática da UFRN e membro do INRG
Um dia desses, sugeri a vice-reitora da UFRN, Ângela Paiva, uma reportagem ou documentário da TVU sobre a Ilha de Manoel Gonçalves. Mesmo sabendo das dificuldades para se fazer esse tipo de trabalho pelo interior do Rio Grande do Norte, após escutar as minhas considerações, prometeu encaminhar a dita sugestão para exame da TVU. Assim, diante dessa possibilidade conversei com algumas pessoas desse órgão.
Em seguida, enviei via e-mail, algumas informações e artigos que fiz sobre a Ilha de Manoel Gonçalves. Conhecedor de muitos anos da burocracia pública (a privada não é menor), tive que esperar pacientemente os resultados dos estudos. Dentro das repartições públicas, muitas solicitações vão perdendo fôlego a medida que passam de uma mão para outra. Além disso, a rotina própria da TVU, as atividades já programadas e as dificuldades para se fazer imagens no interior poderiam adiar aquele sonho.
Outro dia, aproveitei um momento de audiência com a vice-reitora para informar do andamento da solicitação. Atenta, ao que expus, sugeriu de imediato que fosse aproveitado o dia de inauguração de uma obra em Macau para fazer a dita reportagem. E, assim, aproveitei aquele mesmo dia para ir a TVU. Fui recebido por Washington que se interessou pelo assunto, fez algumas perguntas e disparou uma série de providências para aproveitar a data do dia 21 de Maio. Conversei, também, com Regina Barros que se dispôs a ir até sua terra Macau para providenciar alguns contatos para a realização da reportagem.
No dia 21 de maio, peguei carona com Sergio Henrique, escalado para cobrir o evento, e o grupo de reportagem da TVU e fomos para Macau, logo cedo da manhã.
Em Macau, após a inauguração comandado pelo Reitor José Ivonildo, fomos para as ruas de Macau, pois, além da matéria sobre o evento da UFRN, duas outras matérias seriam feitas: um sobre turismo em Macau e outra sobre a Ilha de Manoel Gonçalves.
Uma das filmagens foi sobre a ponte para ilha de Santana. Enquanto eles filmavam perguntei a uma senhora, de umas das casas da rua que dá acesso a ponte, o nome daquele local. Ela disse que aquela rua se chamava Manoel Gonçalves e era conhecida por rua da Maré. Avistei uma placa e a fotografei, embora o nome da rua já estivesse pouco legível.
No começo da tarde fomos ao Museu José Elviro, onde foram entrevistados Gilson Barbosa, que coordena o Museu, e Regina Barros. Lá foram colhidas imagens de três objetos que vieram da Ilha de Manoel Gonçalves: o sino da Capela de Nossa Senhora da Conceição, a base do cruzeiro, e uma pequena campainha da mesma Capela. Eu aproveitei para fotografar outros objetos, como uma mala de pregaria que foi de Vicente Maria da Costa Avelino, pai do jornalista Pedro Avelino. Fotografei novamente uma placa do jazigo do Barão de Ipojuca, que foi enterrado em Macau, objeto de um artigo de Câmara Cascudo.
Aqui, cabe um comentário sobre o Museu. Após várias visitas que já fiz ao mesmo, sinto que um cartão de visita de Macau, como é o Museu José Elviro, merece uma atenção maior do poder público e também das empresas privadas da região. Infelizmente, ele não está sendo bem cuidado.
Depois seguimos para Igreja Matriz. Lá deveríamos fotografar o Cruzeiro e a imagem de Nossa Senhora da Conceição que vieram da Ilha. Embora, estivesse marcado para o horário entre 14 e 15 horas, o padre nem a secretária estavam lá. Segundo um rapaz que nos atendeu, pelo que ele sabia, nós só chegaríamos lá pelas 17 horas. O cruzeiro foi filmado, mas para surpresa nossa a imagem de Nossa Senhora, com mais de 150 anos, não estava mais na Matriz. O mesmo rapaz que nos atendeu informou que ela foi para o CEIMH – Centro de Educação Integrada Monsenhor Honório. Anteriormente, essa imagem ficava na parte superior da Matriz, e era visível pelo lado de fora. Mas, segundo o rapaz ela foi movida porque estava se estragando por conta do sol. Não havia necessidade dela sai da Matriz, lá tem muito espaço para muitas Nossas Senhoras, e principalmente, uma relíquia como é a da Ilha de Manoel Gonçalves.
Antes de ir para o CEIMH, fomos para a praia de Camapum, para fazer imagens da possível localização da Ilha e para novas entrevistas sobre turismo em Macau.
Sobre a localização da Ilha, a partir da praia de Camapum, há controvérsias. Em uma de minhas idas anteriores, Benito Barros, tinha me levado até a praia e dava a entender que ela se situava do lado esquerdo. Ailton Marques, com quem conversamos durante a solenidade da UFRN, dizia que era do lado direito. De qualquer forma foram feitas imagens dos dois lados. Entretanto, com as informações do inventário de Domingos Affonso Ferreira é possível, hoje, com a ajuda de um cartógrafo encontrar a verdadeira localização da Ilha. Getulio Moura, lá do Assu, nos mandou um e-mail com algumas informações sobre a localização, que não deu tempo de examinarmos com mais cuidado, mas foi entregue ao repórter Sérgio Henrique. No Museu João Elviro, Regina Barros fez algumas considerações sobre a Ilha, e lá em Camapum dei algumas informações do meu conhecimento, colhidas nos livros de registros da Igreja e em outros documentos e livros.
Aqui, mais um comentário. Ali naquela praia de Camapum já devia ter uma seta indicando o local onde foi a Ilha. Mais ainda, no local onde foi a Ilha deveria ter umas bóias. Deveria também, a partir da praia, haver uns barcos que levassem os turistas até o local onde foi a Ilha. Simples assim.
Da praia fomos para o CEIMH em busca da imagem de Nossa Senhora da Conceição. O vigia nos levou até a capela. Lá estava a imagem em cima de um pedestal, sujeito a um tombo a qualquer momento. Alguma coisa naquela imagem me chamou a atenção, mas não consegui me lembrar o que era. Já de volta ao carro, abri o livro que escrevi e procurei a imagem que tinha fotografado em 2007. A imagem que está no CEIMH estava sem a coroa. Onde está a coroa de Nossa Senhora?
É estranho o descuido com as nossas relíquias. O Cruzeiro está na Matriz, a base do Cruzeiro, o sino e a campainha no Museu, e a imagem de Nossa Senhora da Conceição, perdida e vulnerável na Capela do Centro de Educação Integrada Monsenhor Honório.
A Ilha de Manoel Gonçalves pode não ressurgir fisicamente, mas tem que ressurgir na memória dos muitos habitantes daquela região do antigo Assu. Saímos de Macau, no final da tarde.
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