João Felipe da
Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, sócio efetivo do IHGRN e do
INRG
No dia 5 de outubro de 2015, o
advogado Kennedy Diógenes lançou o romance Matryoshka. É a saga de seu
ascendente, Domingos Paes Botão, patriarca da família Diógenes, que se inicia
no século XVII e retorna, neste século, com um jornalista Gian Micetti,
encarnação de Diógenes, filho do dito Paes Botão.
Como Domingos Paes Botão esteve
um tempo no Rio Grande do Norte, tendo aqui nascido um dos seus filhos, resolvemos fazer este artigo para contribuir
com dados encontrados em arquivos antigos da nossa capitania. É importante
informar que com o extravio de muitos documentos do passado, a história e genealogia do nosso povo está
repleta de vazios, que são preenchidos por lendas e informações orais. Ao longo
do tempo, muitas dessas informações ou lendas foram se transformando e algumas
vezes se afastando da verdade. Por isso, todo documento que possa ajudar a
corrigir equívocos deve ser disponibilizados para todos. Juntos, podemos
refazer a História deste país com mais fidedignidade.
Com a saída dos holandeses do
Brasil, quem veio tomar conta do nosso Rio Grande foi Antonio Fernandes Furna.
Posteriormente, Antonio Vaz Gondim, ocupou por três vezes o cargo de
capitão-mor desta Capitania. Já em 1659 recomeçou a concessão de sesmarias.
Aqui, Vaz Gondim deixou vasta descendência, além de trazer para cá parentes e
amigos. Um deles foi Theodósio da Rocha, natural do Rio São Francisco, Vila do
Penedo, possivelmente, seu genro.
Segundo a tradição oral,
Domingos Paes Botão veio para o Nordeste com outros companheiros, na missão
conhecida por “Homens de São Francisco”, comandada pelo capitão Bartholomeu
Correa Nabo, entre 1683 e 1686. Segundo consta no romance Matryoshka, lá em
Penedo, o comandante fez uma chamada para outorgas das datas de sesmarias
destinadas a cada oficial: João Alves Feitosa e Francisco Alves Feitosa: região
dos Icós; Estevão Velho de Moura: região de Aquiraz; João da Fonseca Ferreira e
Antonio da Fonseca Ferreira: região de Piancó e Sítio Cascavel; Domingos Paes
Botão: região de Santa Rosa e Sítio Cascavel. Vejamos informações de alguns
desses personagens.
Nos livros das Sesmarias do
Ceará, encontramos que Domingos Paes Botão e João da Fonseca Ferreira,
moradores no Ceará Grande, receberam terras em Cascavel, em 1694; o capitão
João da Fonseca Ferreira e Antonio da Fonseca Ferreira receberam no Rio
Salgado, terras no ano de 1704; o capitão João da Fonseca Ferreira recebeu
terras em 1706, no Rio Salgado que deságua no Rio Jaguaribe, que há anos vinha
povoando com casas e currais, havendo a informação de que na sua petição constava
que o suplicante disse ser ereo nas datas dos Homens do Rio São Francisco, no
Rio Jaguaribe;
Estevão Velho de Moura, que
aparece na relação acima, recebeu, junto com Manoel da Costa Barros,
confirmação de data em maio de 1683, no Rio Pacoty, por ele acima. Foi concedida
no Rio Grande, no ano de 1681, e confirmada no Ceará. Isto é Estevão já era
sesmeiro, pelo menos, desde 1681. Ele e sua mulher Anna da Costa forma
padrinhos, em 1705 de Custódia, filha de Manoel Tavares Guerreiro, e de Rosa
Maria, filha de Roque da Costa Gomes. Em 1711, foi padrinho de Maria, filha de
João Malheiros.
Salientamos que, já em 1680, o
capitão-mor Geraldo de Suny concedeu ao capitão Domingos Martins Pereira, ao
capitão Bartholomeu Nabo Correia, ao alferes Gonçalo Peres de Gusmão, ao
ajudante Manoel Nogueira Ferreira, ao capitão Luiz Braz Bezerra, ao capitão
Luiz Antunes de Faria, ao alferes João Ferreira Nogueira, Balthazar Nogueira,
Antonia de Freitas e Manoel Rodrigues Rocha, cinquenta léguas de terras no Rio
das Piranhas e cinquenta léguas no Rio Guaxinim. No texto da concessão o
Provedor informa que, no Rio Guaxinim, há quatro anos, tinha o capitão-mor
Antonio Vaz Gondim dado duas datas, uma a Manoel Afonso Fragoso e a sete
companheiros e outra ao capitão Theodósio da Rocha e seis companheiros, mas que
não foram povoadas e nem cultivadas. Detalhe importante é que em 1682, esses sesmeiros
receberam terras nos Rios Panema e Jaguaribe, e Ituhum, registradas na Bahia, mas
tiveram que renunciar as terras anteriores dadas no ano 1680.
Sobre Bartholomeu Correa Nabo, há
quem acredite na existência de dois com o mesmo nome. Entretanto, não vi
justificativa para essa crença. Sei que um dos seus filhos era homem, mas não
descobri seu nome.
Bartholomeu Nabo Correa que foi
nomeado capitão de infantaria da Bahia, em 1668, e sua mulher D. Luisa
(Bixarxe) e filhas D. Vitória da Encarnação e Dona Maria da Conceição e, mais
outros, no total de 36, receberam alvará de confirmação em novembro de 1691, no
Rio Jaguaribe, capitania do Ceará. Tinha sido concedida em janeiro desse mesmo
ano. Vitória da Encarnação e Maria da Conceição eram irmãs Clarissas, tendo a
primeira falecido em 1715. Já Bartholomeu Nabo era falecido no ano de 1698.
Algumas informações que se repetem sobre Nabo, vem de escritos sobre sua filha
famosa, Madre Vitória da Encarnação.
Pelos documentos que estudamos,
nos parece que por algum motivo não identificado, até agora, a família Paes
Botão e Fonseca Ferreira, se estabeleceu aqui, na nossa capitania, entre o
final do século XVII e começo do século XVIII.
Vejamos algumas informações
sobre Domingos Paes Botão, começando com o batismo de um filho dele, aqui no
nosso Rio Grande: Em 20 de abril de 1698, na Capela de São Gonçalo do Potengi,
batizou o padre Francisco Bezerra de Góis a Diógenes, filho de Domingos Paes
Botão e de sua mulher Maria da Fonseca. Foram padrinhos o capitão João da
Fonseca (talvez João da Fonseca Ferreira) e Bernarda da Fonseca filha da viúva
Izabel Ferreira. Assinado pelo vigário Simão Rodrigues de Sá. Por este
registro, Domingos vivia por aqui nesse final do século XVII.
Um registro do começo do século
XVIII dá notícia da presença de uma enteada de Domingos Paes Botão, o que
leva-nos a acreditar que ele foi casado, primeiramente, com uma viúva, que já tinha essa filha: Em 4
de julho de 1703, na Capela do Senhor Santo Antonio do Potengi, com licença
minha, o Padre Francisco Bezerra de Góis, batizou a João, filho de Antonio de
Amorim e sua mulher Perpétua de Barros. Foram padrinhos o mesmo padre Francisco
Bezerra de Góis e Isabel de Heça, enteada de Domingos Paes Botão.
Mais adiante vamos encontrar
Genoveva, filha de Domingos Paes Botão, presente ainda neste Rio Grande: Em 16
de julho de 1705 anos, nesta Paroquial de Nossa Senhora da Apresentação,
batizei a Damiana, filha de Isadora, crioula, escrava da viúva Mariana da
Costa. Foram padrinhos Manoel Ferreira e sua sobrinha Genoveva, filha de Domingos
Paes Botão. Tem os santos óleos, Simão Rodrigues de Sá.
O tio de Genoveva devia ser
irmão da esposa de Domingos. Talvez, seu nome completo fosse Manoel Ferreira
Fonseca ou da Fonseca Ferreira. Ele deve ser o filho de Augustinho da Fonseca,
que aparece no assentamento, mais adiante. No ano seguinte os dois tio e
sobrinha aparecem, novamente, sendo padrinhos de outra filha de Isidória,
escrava de Marianna da Costa: Em 21 de julho do ano de 1706, na Capela do
Senhor Santo Antonio do Potengi, batizou o Padre Francisco de Bezerra Góis, a
Luisa, filha de Isidória, crioula, escrava da viúva Marianna da Costa. Foram
padrinhos Manoel Ferreira e sua sobrinha Genoveva Ferreira Fonseca. Simão Rodrigues
de Sá.
Nas informações encontradas, em
alguns autores, sobre Domingos, consta que sua esposa, Maria Fonseca Ferreira,
era irmã de Antonio da Fonseca Ferreira e João da Fonseca Ferreira.
Encontramos registros de praça,
aqui do Rio Grande, de dois filhos de Agostinho Fonseca, onde os assentados
parecem ser parentes desses acima. Observamos que os sobrenomes aparecem
invertidos, fato comum em algumas famílias da antiguidade.
Antonio da Fonseca Ferreira,
filho de Augostinho da Fonseca, natural do Rio São Francisco, de idade de vinte
e três anos, de boa estatura, cheio de corpo, cabelo e olhos negros, pouca
barba, cor trigueira, é soldado desta companhia desde 5 de janeiro de 1699;
Manoel Ferreira da Fonseca, filho de Augostinho da Fonseca, natural do Rio de
São Francisco, de idade de vinte e cinco anos, cabelo e olhos negros, alto de
estatura e seco de corpo, pouca barba, cor pálido, é soldado desta companhia
desde 5 de janeiro de 1699. Ambos os documentos assinados por Manoel Gonçalves
Branco, tendo sido dado baixa em 1703.
Antonio e Manoel, desconfio que
eram os irmãos do capitão João da Fonseca Ferreira, cunhado de Domingos Paes
Botão.
As informações acima podem
ajudar o jornalista Gian Micetti, na sua tarefa de reconstituir a história da
família Diógenes.
Antonio da Fonseca Ferreira |
Professor, estou escrevendo dois livros, A Invasão dos Cariris Novos e a Guerra Civil Sertaneja de 1724,sendo que em ambos constam vários documentos inéditos sobre o capitão ou coronel João da Fonseca Ferreira ou Ferreira da Fonseca. Sobre a importante rede de parentesco em que ele estava imitido, é cero que era tio do capitão Francisco de Montes Silva e do capitão Antonio Mendes Lobato. A mãe deste último era Maria Ferreira da Silva, casada com Antonio Mendes Lobato Lira. Essa gente desentendeu-se por divisões de terra (tios e sobrinhos). Desta maneira, gostaria de saber se vc pode me fornecer algum subsídio neste aspecto, para que possamos preencher esses histos históricos. Ademais, gostaria, humildemente, acrescentar que, no Icó, somente constam como sesmeiros, a partir de 1707, Francisco Alves Feitosa e Lourenço Alves Feitosa, diante do que pergunto se esta informação é de fonte exclusivamente oral, no mais, onde e quando ela foi colhida? Parabéns pela pesquisa escafandrista de alta qualidade! Um abraço!
ResponderExcluirHeitor, muitas das nossas questões não serão respondidas de imediato, e algumas, nunca. Muitos livros desapareceram, outros ainda não chegaram até nós. Alguns livros deveriam ser reproduzidos em massa e deveriam ir para as bibliotecas de todos os municípios. Infelizmente, nosso política cultura e educacional está distante do caminho certo. O que consegui, foi através da internet. Acho que as revista do Instituto do Ceará tem muita coisa. Deveríamos ter mais coisa da Bahia, disponível.
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