João Felipe da
Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN,
membro do IHGRN e do INRG
Em
fevereiro de 1912, o major Pedro Avelino foi procurado pelo jornal “A
Imprensa”, onde, anteriormente, fez parte da redação. Ele tinha acabado de
regressar do Acre, onde exerceu o cargo de Prefeito do Departamento do Alto
Juruá. Nessa entrevista, ele descreve como era o Acre, o departamento do Alto
Juruá, e, também, os acontecimentos que antecederam a sua saída do cargo.
Seu
ex-colega de redação, do renomado jornal, foi recebido, em sua residência à Rua
Imperial, nº 151, no Meyer. O major Pedro Avelino começou sua entrevista descrevendo
o Território, onde viveu com sua família, como segue.
O Acre, desejando autonomia, é todo um campo
de grosseiras explorações de toda ordem.
A
sua população heterogênea e absolutamente cosmopolita não oferece nenhum traço
étnico e – o que é fantástico – toda ela se forma de elementos aventureiros,
que permanecem na região com o intuito único, exclusivo, de ganhar dinheiro, de
fazer fortuna; este intuito é uma verdadeira e perigosa alucinação, que empolga
a muitos, quase todos, sem distinção, e arrasta à prática arriscadíssima dos
atos mais audaciosos em alguns, mais cínicos, mais miseráveis em outros.
Esta
população, sem amor à terra, entrega-se, como é fácil compreender, ao fito que
ali a reuniu, completamente despida dos mais comezinhos escrúpulos peculiares à
luta pela vida entre cidadãos de uma sociedade organizada. A sociedade do Acre,
não é, pois, uma sociedade: é sim um estranho amálgama de aventureiros, repito,
sempre em movimento, sempre a fluir e a refluir na sua configuração física,
como as próprias águas do Amazonas: e o que a move é a ambição, a ambição
desmarcada, vesânica, perfeitamente doentia, para não dizermos criminosa.
Essa
massa inquieta de homens a viver na vertigem da exploração, podemos dividi-la:
uma parte que é mínima, feita dos que conseguiram fortuna e tem propriedades e
passa o maior número de meses do ano passeando e gastando o que ganhou e ganha
na Europa; e outra parte feita dos que se viciaram ao ambiente, às sensações da
caça ao dinheiro, ao sonho do “El-dourado”, que nasce do próprio solo; esta
parte constitui a legião dos que infundem receio e desconfiança, porque é toda
ela a vasa moral das demais: dizendo, assim, creio tê-la classificada,
precisamente: são indivíduos de variadíssimas cataduras, vindos do Peru, do
Chile, da Bolívia, da Argentina, de todos os nossos Estados e mais italianos,
turcos, norte-americanos, alemães, enfim tipos de toda parte do mundo,
superabundando os sul-americanos; estes indivíduos, tarados pelo destino, são
amantes da desordem, profissionais do desrespeito, avesso a tudo que lhes
pareça autoridade, rebeldes ao cumprimento de qualquer lei: e vivem assim,
exagerando com ostensiva animosidade os erros conscientes que viram os seus
maiores, na região praticar.
Esta,
em traços rápidos, é a população do Acre, disse o Sr. major Pedro Avelino,
fazendo pausa.
Questionado
pelo entrevistador, continuou descrevendo sobre o departamento do Alto Juruá.
É
o maior dos três Departamentos do Acre, o maior e o mais populoso, com grandes
encargos financeiros. É o único servido por dois vapores e por duas lanchas que
são “Tavares de Lyra”, “Acreano”, “Juruá” e Leopoldo de Bulhões”.
A
cidade do Cruzeiro do Sul, sede do Alto Juruá, está localizada num planalto, e
é muito salubre: como paisagem é um belo trecho da natureza: a cidade Cruzeiro
do Sul conta com dois mil habitantes, é iluminada à luz elétrica, tem um
pequeno teatro e um cinematografo, uma fábrica de gelo, certa vida comercial,
algumas casas de comercio de primeira ordem; escolas primárias e uma Escola
Modelo, fundada por mim a quem dei o nome de Escola Modelo Hermes da Fonseca.
Em todo departamento do Alto Juruá existem quarentas escolas primárias,
mantidas pela Prefeitura.
Em
Cruzeiro do Sul existe, também, o semanário “Cruzeiro do Sul”, havendo também
outro semanário “ O Município”, na Vila Seabra, vila que é sede da região de
Taranacá; devo-lhe informar que em Cruzeiro do Sul há ainda uma Olaria, montada
pela Prefeitura.
No
próximo artigo daremos continuidade à entrevista, destacando os motivos que
levaram o jornalista Pedro Avelino a abandonar o cargo de Prefeito.
Isolina Waldvogel, filha de Pedro Avelino |
Meu nome é ALdo. Acabava de postar meu cometário, bem positivo sobre a entrevista, o artigo, seu coneúdo e estilo. Infelizmente, essa minha primeira tentativa faliu porque nada do que escrevera apareceu... nao há problema, reitero a satisfaçao por ter lido esse texto e me congratulo consigo por tê-lo postado.
ResponderExcluirObrigado, aldo
Obrigado pelo incentivo.
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