João Felipe da
Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN,
membro do IHGRN e do INRG
No dia 6 de março de 1817, teve
início, em Recife, uma revolução, também conhecida como Revolução dos Padres.
Teve curta duração, e dela resultou o assassinato de André de Albuquerque
Maranhão, que chefiou, por curto espaço de tempo, os rebeldes do Rio Grande do
Norte. Quem também pagou com a vida, por dela participar, foi nosso Frei
Miguelinho, arcabuzado em Salvador, em 12 de junho de 1817. Nessa mesma data e
lugar, também foi arcabuzado, outro líder desse movimento de independência, o
capixaba Domingos José Martins.
Domingos, que vinha namorando
escondido por cinco anos, Maria Theodora da Costa, casou, logo após a tomada do
poder, no dia 14 de março, na Capela da Jaqueira. A noiva da Revolução, como
ficou conhecida, era filha de Bento José da Costa e Anna Maria Theodora Moreira
de Carvalho. Bento e o sogro, Domingos
Affonso Ferreira, além de participarem de várias arrematações de dízimos, aqui
no Rio Grande do Norte, eram donos de muitas terras na Região das Salinas,
incluindo aí, a Ilha de Manoel Gonçalves, Ilha de Macau, e Cacimbas do Vianna,
fazenda de muitos gados. Com a morte de Domingos Affonso Ferreira, no começo do
século XIX, Bento ficou com praticamente todas as terras, mas em 1834 faleceu,
e as terras herdadas pelos filhos, principalmente as da região salineira, foram
vendidas somente em 1868, por Bento José da Costa Junior e a esposa Emília
Júlia Pires Ferreira para José Gomes de Amorim.
Esse casal foi padrinho em um
batismo, aqui no Rio Grande do Norte, em 1845, como podemos ver do registro a
seguir: Maria, filha do major José Martins Ferreira e sua mulher Dona Josefina
Martins Ferreira, nasceu a dois de junho de 1845, e foi batizada a dezoito de
agosto de 1846, no dito Comissário, por mim solenemente. Foram padrinhos Bento
José da Costa (Jr.) e Dona Emília Júlia Pires Ferreira, por procuração ao capitão
Pedro Alves Ferreira, e Dona Josefa Christiniana Ferreira, do que para constar
fiz este assento, em que me assino. Manoel Januário Bezerra Cavalcanti, pároco
colado do Assú.
O Comissário acima era em
Cacimbas do Vianna, hoje pertencente ao município de Porto do Mangue, onde
residiam nessa época meus trisavós, o major José Martins e sua esposa Josefina
Maria. Os padrinhos de Maria moravam em Recife, onde casaram conforme o
registro abaixo.
Aos vinte e cinco dias do mês de
abril de mil oitocentos e vinte e cinco, com despacho do Ilustríssimo Senhor
Vigário Capitular, Jerônimo Gonçalves dos Santos, pelas cinco horas da tarde
nesta Freguesia, no Oratório da casa de residência de Gervásio Pires Ferreira,
feitas as denunciações na forma do Sagrado Concílio Tridentino, nesta Matriz do
Santíssimo Sacramento da Boa Vista, em três dias sucessivos, por despacho do
mesmo Ilustríssimo Senhor Vigário Capitular donde a nubente é moradora, e nas
suas Igrejas Paroquiais da cidade do Recife, donde o nubente é natural e morador,
tendo a nubente justificada sua menor idade e sua naturalidade, e dispensados
do grau de parentesco em que se acham ligados, sem se descobrir impedimento
algum, de minha licença, em presença do Reverendo Vigário Virgínio Rodrigues Campello,
e das testemunhas Gervásio Pires Ferreira, casado, morador nesta Freguesia, e o
coronel Bento José da Costa, casado, morador no Recife, se receberam por
palavras de presente Bento José da Costa Junior e Dona Emília Júlia Pires
Ferreira, brancos; ele, nubente, filho legítimo do coronel Bento José da Costa
e Dona Anna Maria Theodora Moreira de Carvalho, e a nubente filha legítima de
Gervásio Pires Ferreira, e de Dona Genoveva Perpétua de Jesus Caldas; e logo receberam as bênçãos
nupciais conforme o Rito Romano, como consta da certidão, banhos, despacho,
mandado de casamento e dispensa que ficam no arquivo desta Matriz; do que
mandei fazer este assento que por verdade assinei. Vigário José de Sousa
Serrano.
O português Domingos Affonso
Ferreira era primo legítimo de Gervásio Pires Ferreira, pois sua mãe, Isabel
Pires, era irmã de Domingos Pires Ferreira, pai de Gervásio. Daí o parentesco
de Bento Junior com Emília Júlia, via Anna Maria Theodora, filha de Domingos
Affonso.
Quando as capitanias foram
transformadas em províncias, estas foram inicialmente governadas por uma junta
governativa. Em Pernambuco, ela tinha sete membros e governou de setembro de
1821 a setembro de 1823, tendo entre seus membros, Gervásio Pires Ferreira,
como seu presidente; Felippe Nery Ferreira, filho de Domingos Affonso Ferreira;
e Bento José da Costa, genro de Domingos Affonso Ferreira.
Para finalizar, transcrevemos o
batismo de uma filha do tenente-coronel Bento, irmã de Bento Junior: aos
dezessete dias do mês de fevereiro do ano de mil oitocentos e cinco, na Capela
de Nossa Senhora da Conceição das Barreiras (conhecida posteriormente com
Capela da Jaqueira), de minha licença, batizou e pôs os Santos Óleos o Padre
Antonio Gomes, da Congregação do Oratório, a Francisca, branca, nascida aos
nove do dito mês e ano, filha de Bento José da Costa e sua mulher Anna Maria
Theodora, esta natural da Freguesia de São Pedro Gonçalves do Recife, e neta
paterna de Antonio José da Costa, e de Maria da Costa, e materna de Domingos
Affonso Ferreira e de Maria Theodora Moreira de Carvalho. Foram padrinhos
Bernardo José da Costa por procuração sua que apresentou Alexandre Affonso
Ferreira e Maria Theodora Moreira de Carvalho, solteira. O vigário Gabriel
Bezerra Bittencourt. A batizada devia ser Francisca Escolástica Josefa da
Costa, que casou com Antonio da Silva Junior.
Tive o oportunidade de conhecer a cidade capixaba que leva o nome de Domingos Martins, em homenagem ao líder da Revolução de 1817. Uma das regiões mais belas deste País, que tive o oportunidade de conhecer.
ResponderExcluirEstive lá, também. Comprei um livro sobre Domingos e consegui uma cópia de outro.
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