João Felipe da
Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN,
membro do IHGRN e do INRG
No verão, para fugir da rotina e ver novas
paisagens, renovando nossas energias, saímos de Natal para Pirangi do Norte, 22
quilômetros de um lugar para outro. Fugimos do trânsito fatigante da capital,
onde os sinais estão constantemente sem sincronia, e não funcionam a onda verde
e as vias livres, para os engarrafamentos das praias da costa sul do Rio Grande
do Norte.
Na chegada, notícia de um assalto, no dia
anterior, praticado por cinco indivíduos contra a casa de um agente da Polícia
Rodoviária Federal. As autoridades policiais continuam repetindo a mesma
ladainha de sempre e tudo continua como antes. Falta inteligência no setor de
segurança deste país.
Os sinais de comunicação já não funcionam bem
na capital, e nas praias, mesmo as mais próximas, a coisa desanda. Telefones e
internet se tornam um martírio para quem quer se comunicar. Mais ainda, os
paredões fazem a festa das novas tribos e o inferno dos veranistas e moradores.
Músicas da pior qualidade drogam as mentes jovens e atanazam o sono dos mais
velhos. As únicas coisas que se
interiorizam, neste país, são o crime organizado, as aulas online de maldades (novelas),
as drogas, com predomínio do crack, e as aulas online de mediocridade (os big
brother da vida). É a coisa ruim chegando a todos os lugares.
Pirangi, e as praias vizinhas, mesmo com seus
moradores habituais, os veranistas e milhares de turistas transitando por ela,
não tem todos os serviços necessários para atender as demandas dos usuários. Nenhuma
agência bancária, nem as oficiais estão por aqui. É o retrato do atraso, da
falta de visão dos governantes.
O Rio Grande do Norte possui uma grande costa
em relação ao seu tamanho. Praias de riquezas naturais e históricas não são
aproveitadas pelos seus prefeitos e governador. O discurso do turismo continua
pobre e sem ação concreta. As praias beneficiadas pelos royalties de petróleo
só atraem políticos aventureiros que não levam benefícios para as mesmas.
Carnavais são suas grandes realizações. As roubalheiras são as maiores. Mas os
ladrões continuam flanando por aí. O que restou dos PRODETUR I e do PRODETUR
II?
Na natureza, temos a noite para descansar
nosso corpo físico e reiniciar novos programas instalados na nossa mente. As
semanas, os meses e as estações do ano quebram as rotinas do dia a dia e são
necessárias para que estejamos sempre recomeçando nossas vidas e nossas visões
do mundo. Mas não é isso que acontece. Os condicionamentos são mais fortes que
a nossa vontade de mudar. Estamos sempre usando a memória psicológica e as
imagens do passado para começar o dia, a semana ou o mês. E por isso, nada muda
de verdade.
E assim não avançamos como seres humanos.
Tudo se repete, monotonamente. As pessoas contam seu tempo a partir dos
eventos. Em 2014, por exemplo, vai ser assim: Veraneio, carnaval, semana santa,
copa e eleições. Quando terminar o sonho da copa no Brasil, voltamos para
realidade do dia a dia. Vamos ter os infames programas eleitorais, onde tudo
vai ser prometido com a maior cara de pau. Os candidatos, que serão os de
sempre, vão falar, inicialmente, em saúde, educação, segurança, planejamento
estratégico, sustentabilidade, governança solidária, choque de gestão e outros
termos novos que seus marqueteiros vão inventar. Depois, vão infernizar a vida
dos adversários, dando início a sessão escândalos. Vai ser o sujo falando do
mal lavado.
Quando tomarem posse, no início de 2015, os
novos mandatários vão reclamar dos seus antecessores, se não foram os
reeleitos. Segue o papo furado da governabilidade para justificar as
composições partidárias e o preenchimento dos cargos comissionados. Contratam
consultorias desnecessárias, pois, tudo que elas propõe, já foi proposto
anteriormente, pela prata da casa. E, aí, já começa a próxima eleição. Os que saíram
do governo, mas não fizeram o prometido, querem retornar. E o gigante pela
própria natureza vai continuar deitado eternamente em berço esplêndido.
A natureza quebra a monotonia da terra com
suas catástrofes. Sensibilizamos-nos temporariamente. Os governos prometem
tudo, mas em 6 meses tudo é esquecido. E no ano seguinte as mesmas catástrofes se
repetem nos mesmos lugares, causando dores, principalmente, para os menos
favorecidos, as principais vítimas.
A genealogia nos mostra que somos frutos de
centenas de milhares de pessoas. Os indivíduos não se repetem, mas os
condicionamentos de milhares de anos não nos deixam seguir um caminho
diferente. Nem as religiões, nem os educadores, nem os filósofos e nem os psicólogos
têm ajudado muito a humanidade.
Vez por outra aparece um messias na terra.
Mas quando ele se vai, os seguidores esquecem os ensinamentos e o transformam num
ídolo, deturpando tudo que foi proclamado. Buda disse que não precisávamos
percorrer o mesmo caminho que ele. Seus ensinamentos iluminavam o caminho que
tínhamos que seguir; Jesus ensinou que quando quiséssemos conversar com Deus,
entrássemos em um quatro, fechássemos a porta e orássemos, dando como o exemplo
o pai nosso, mas fazemos o contrário; Krishnamurti ensinou que prestássemos atenção
na nossa mente, pois é ela quem tem o comando de tudo, mesmo dos que se dizem
livres. Mas, infelizmente não compreendemos
o que eles disseram e a humanidade caminha sem muita evolução, comandada pelos
expertos e enganadores.
Assim, 2014 vai ser, em essência, a repetição
do que tem acontecido até agora. A única novidade é o próprio ano.
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