João Felipe da
Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN e
membro do IHGRN e do INRG
Vista a parte histórica, no artigo anterior, vejamos agora
como foi descrita a Vila de Angicos nas suas outras partes, pela Câmara
Municipal. Antes disso, um pequeno comentário sobre essa parte histórica.
Alguns desses vereadores descendiam dos primeiros habitantes daquela Região de
Angicos. Entretanto, não mencionam outros personagens que contribuíram para o
nascimento de Angicos. O presidente da Câmara Manoel Fernandes da Rocha Bezerra
que casou com minha tia-bisavó, Maria Xavier da Costa Torres, era neto de
Balthazar da Rocha Bezerra, mas não fez menção que a Fazenda Angicos, antes de
ser vendida ao tenente Antonio Lopes Viégas, pertenceu ao Coronel Miguel
Barbalho Bezerra, como provou Aluízio Alves. O vereador, cadete José Avelino
Martins Bezerra, tetraneto de João Barbosa da Costa, não contribuiu com nenhuma
informação sobre seu tetravô, ascendente da maioria dos angicanos daquela
época. Aliás, a História de cada município do Rio Grande do Norte precisa ser
revista, pois ela é contada por pessoas que não se dedicaram ao exame mais
detalhado dos documentos mais antigos. Para exemplificar, boa parte dos
documentos do Assú, tanto dos cartórios como da Igreja, estão perdidos. Mais ainda,
os que restaram continuam esquecidos e descuidados pelos seus responsáveis, que
não se preocupam nem em digitalizá-los.
Topografia: Esta Vila está situada à margem esquerda do Rio
Pata-chó (em vários documentos mais antigos da Província, tenho encontrado o
nome do rio com sendo Pata-choca). Nome de antiga tribo de índios, que pararam
por estes Sertões (vários autores contestam a passagem dos Pataxós, por aqui).
A Vila ocupa a maior parte de um terreno plano e arenoso de 800 metros em
quadro.
Conta-se duas pequenas ruas, largas e bem arejadas, e mais
três alinhamentos de boas casas que formam o Adro da Matriz, bonito e decente
edifício. Ao Nordeste confronte a mesma acha-se a cadeia pública ainda em obra,
tendo boa sala livre, onde funciona a Câmara Municipal. Ao Sueste (Sudeste), no
mesmo quadro está a Casa do Comércio, edificada ultimamente as expensas dos
socorros públicos, que embora não concluída, de muito tem servido, não só para
cômodo dos viajantes, como aos negociantes do lugar e seus subúrbios. Ao
Levante, vê-se o alto e majestoso Pico do Cabugi, que semelhante ao antigo
telégrafo nos anuncia as chuvas pelos cúmulos de nuvens em sua mais elevada
extremidade, onde por singularidade, com dificuldade, foi colocado um poste com
o respectivo para raio. Ao Leste Setentrião e Ocidente, observam-se diversos
serrotes de granito que concorrem ao longe para formar-se da pequena Vila mais
avultada ideia. Do centro da situação observam-se diversas casas de telhas, dos
maiores Altos Monte Alegre, Favela, Espírito Santo, Coração de Jesus, e Fazenda
Nova, propriedades e benfeitorias dos mais abastados do lugar. Finalmente ao
Oeste, 100 metros das últimas casas, encontra-se o açude do Glorioso Senhor São
José Padroeiro da Freguesia, edificado pelo Reverendo Ibiapina, nas Missões de
1862, obra atualmente em ruínas, que serve apenas para conservar a frescura do
terreno, útil aos plantadores de vazantes.
População – Segundo o último recenseamento, consta a
população livre de 5. 500 almas, e a escrava de 180. Desta população, apenas
habitam a Vila, 300 almas, compreendidas 13 escravos.
Agricultura – Lavoura – Consiste na cultura de mandioca, algodão,
milho, arroz, feijão melão e melancia, além de diversos legumes. Criação – A
grande criação consiste de gado vacum, cavalar, lanígero, e cabrum. A pequena
criação limita-se às aves domésticas.
Indústria Fabril – A indústria fabril é de pouca importância
atualmente, consistindo apenas em pouca farinha de mandioca, obras de olaria,
como sejam louças de barro, telhas e tijolo de alvenaria; há também tecidos
grossos de algodão.
Comércio – A exportação é pouco e limita-se ao algodão e
gado vacum; devida esta escassez aos efeitos da calamitosa seca de 1877 e 1879.
A importação também é de nenhuma importância, limitando-se a pequena negociação
de molhados e fazendas.
Instrução – Para a instrução primária há duas escolas, sendo
uma do sexo masculino criada por Resolução Provincial no ano de 1833, e uma do
sexo feminino criada por Lei Provincial nº 497, de 4 de maio de 1860.
Divisão eclesiástica – Pertence este Município à Diocese de
Olinda, e contem uma só Paróquia denominada São José dos Angicos, a qual
desmembrada da de Santana do Matos, foi criada por Resolução Provincial no ano
de 1836; e tem sido administrada por três Vigários, sendo dois encomendados e
um colado, os Reverendos Manoel Antonio dos Santos Morais Pereira Leitão,
Manoel Januário Bezerra Cavalcanti, e Felis Alves de Sousa, pelo primeiro de
1836-1839, pelo segundo de 1839-1844; e pelo terceiro de 1844 até o presente.
Obras públicas – Paço da Câmara Municipal, a Casa do
Comércio e o Cemitério.
Distâncias – Dista esta Vila da capital da Província de 42
léguas; as distâncias às Vilas e Cidades dos Municípios confinantes são as
seguintes: à Vila de Santana do Matos, 8 léguas ao Sudeste; à cidade do Assú, 8
léguas ao Noroeste; à cidade de Macau, 14 léguas poucos graus abaixo do Norte.
Sou totalmente a favor da digitalização de todos os documentos históricos e por que não, também, dos que ainda não fazem parte da história. Faço isso regularmente com os meus, desde receitas e exames médicos à fotografias.
ResponderExcluirEm 2011 fiz uma postagem no site "Café História" e obtive alguns comentários de uma certa pessoa, que informou-me ter a guarda de alguns livros de batismo. Em um dos seus comentários, escreveu: "estou com livros de batismos, de 168;;; 1711 ainda em primeira mão, não foram publicados.... envie-me nomes que vejo se te, algum dos seus, porque ainda não tenho autorização para repassar o arquivo...".
Não estou emitindo juízo sobre a pessoa que citei acima, pois não conheço os seus motivos, mas às vezes tenho a impressão que há muita reserva de mercado, principalmente quando se trata de genealogia.
Um fato interessante na foto, a igreja tinha duas torres.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirConcordo plenamente. As vezes tenho a impressão que o que é realmente importante para a consolidação de uma cultura forte é que se tenha consciência da importância de se conservar a verdadeira história, e fazer com que isso chegue as pessoas e não fique restrito a um academicismo ou a um medo de algumas pessoas que detêm uma posse ou um cargo temporário de guarda de um patrimônio que deveria pertencer a todos.
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