João Felipe da
Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN,
membro do IHGRN e do INRG
Uma dúvida, que persiste nas minhas pesquisas, é saber se
Francisco Xavier Torres, que fez doação de terras para a construção da capela
de Nossa Senhora da Conceição de Guamaré, tem algum parentesco com Francisco
Xavier Torres, meu tetravô, casado com Úrsula Córdula do Sacramento, que morava
em Touros. Vamos falar sobre os vários Francisco Xavier Torres, mas em especial
sobre um Francisco Xavier Torres que aparece no manuscrito, “Viaggio di Africa
e America Portoghesa”, deixado por Frei Aníbal de Gênova, citado por frei
Fidelis de Primério no seu livro “Capuchinhos em Terras de Santa Cruz”.
Frei Aníbal nasceu em 1723, e entrou para ordem em 1740.
Faleceu em Gênova a 17 de maio de 1785.
Foi frei Aníbal de Gênova, religioso capuchinho, missionário
apostólico em Missão, que fez as dispensas para o casamento do sargento-mor
Antonio da Rocha Bezerra, filho do coronel Antonio da Rocha Bezerra e Josefa
Leite de Oliveira, com Maria Gomes Freire, filha de Bonifácio da Rocha Vieira e
Ignácia Gomes Freire, falecidos, em 1 de dezembro de 1759. Os nubentes eram
parentes em 4º grau de consanguinidade.
Em 5 de outubro de 1762, Frei Aníbal de Gênova começou a sua
missão volante. Quando saiu de Goiana, passou pelo Engenho Grande e tomou a
direção de Goianinha no Rio Grande do Norte, devendo fazer trinta e cinco
léguas. Foi parando pelo caminho em quantos lugarejos havia. Assim se deteve em
Cruz das Almas, Passo D’Água, indo depois a Cururu (Nísia Floresta), a fim de
se encontrar com o síndico de seu convento do Recife, Francisco Xavier Torres,
por ocasião das festas do Natal. Em caminho fez comungar 643 fiéis. Recebeu-o
Torres com as demonstrações de vivo afeto e acompanhou-o com toda a família a Goianinha.
Ali, receberam a comunhão 2 322 moradores, assim como 1 744 na paróquia de
Nossa Senhora do O’.
Depois, Frei Aníbal passou por Natal, cidade que contava
pouco mais de sete mil almas, fregueses de uma paróquia única. Achou o porto
espaçoso, seguro e bem defendido pelo Forte dos Santos Reis Magos. De Natal
seguiu a convite para São Gonçalo, do outro lado do Potengi, onde se hospedou
no engenho de Pedro de Nova (talvez Pedro Gonçalves da Nóvoa). Daí se dirigiu a
Coité, e seguiu para o engenho da rica fazendeira, a viúva D. Joana Gomes, em
um lugar chamado Coral da Junta.
Daí em diante era o alto sertão. Para isso, precisava tomar
algumas precauções. Ofereceu-se o filho primogênito de Francisco Xavier Torres
(não cita o nome, uma pena do ponto de vista genealógico) para lhe servir de
guia e companheiro. Conhecia muito bem a região sertaneja. Além dos dois
escravos que com ele viera de Benin, levou o padre dois grandes mastins para se
defender das pintadas, abundantes naqueles desertos onde encontravam os
possantes jaguaretês farta carniça.
Resolveu Frei Aníbal ir até o Assú, a 80 léguas de Natal. Com esse destino, passaram por Caiçara, quase
a beira mar, onde havia a fazenda de um Antonio Machado, genro de Torres.
De Caiçara seguiu para Mangue Seco (era neste distrito que
residiam, antigamente, Francisco Xavier Torres e sua esposa Maria Gomes da
Silva, doadores das terras para a Construção da Capela de Nossa Senhora da
Conceição de Guamaré), terra deserta e arenosa do litoral atlântico, onde
viviam algumas famílias de criadores, onde a água era de mau paladar e
semi-salgada. Passou quatorze dias lá, onde confessou 834 comungantes, ficando
edificado com a piedade desses pobres moradores.
Depois esteve em
Pedra Branca, onde foi hóspede de um genro do Coronel Antonio da Rocha Bezerra.
Daí seguiu para Cacimbas (devia ser Cacimbas do Vianna, onde quem também tinha
terras era Dona Mariana da Rocha), fazenda do Coronel Antonio Bezerra, onde
moravam mais de duas mil pessoas. Grande criador e lavrador era o Coronel
Antonio Bezerra, senhor de terras e gados, escreveu Frei Aníbal. Seguiu em
direção a Olho d’ Água (devia ser a Fazenda Olho d’Água dos Pitta).
Chegou no Assú, onde confessou mais de 8 763 fiéis, e daí
foi para Apodi a dez léguas daquela Vila. Não me estenderei mais nessa viagem
que seguiu para Piancó e outros lugares.
Pelo que vimos acima, o síndico, Francisco Xavier Torres,
tinha um genro morando em Caiçara, além disso, Frei Anibal e o filho de Torres
demoraram 14 dias em Mangue Seco, antiga moradia do doador de terras para a
capela, que tinha o mesmo nome do dito síndico. No próximo artigo, vamos ver
mais informações sobre esses Torres, em busca de um elo entre eles.
Muito interessante ver que Francisco Xavier Torres pode ser dois diferentes, ou ter casado duas vezes? estou curiosa para ver os proximos artigos.
ResponderExcluirOs livros de Papari, São José ou Nísia Floresta tem dados posteriores ao ano de 1830, assim como os de Touros, o que torna difícil encontrar elos. Somente nos da Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação que cobria essas áreas podemos encontrar alguma coisa,mas nem tudo. Talvez um inventário resolveria.
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