Professor da UFRN e membro do IHGRN e do INRG.
No Inventário de Dona Mariana Lopes Viégas, inicialmente, o Juiz interino, Manoel Felippe Raposo da Câmara, intimou Francisco Antonio Teixeira de Souza para declarar debaixo de juramento os bens do casal. Depois nomeou João de Deus Gonçalves para tutor dos órfãos menores. Foram ainda designados Alexandre Pereira Pinto e Francisco de Paula Rodrigues de Paiva para avaliadores dos bens e José Teixeira de Souza e José Alexandre Solino da Costa para serem os partidores dos bens.
Alexandre Francisco Pereira Pinto, e Francisco de Paula Rodrigues de Paiva, os quais foi por dito Juiz deferido o juramento dos Santos Evangelhos, encarregando-lhes que por bem deste fizessem as avaliações dos bens que dados fossem a escrita do presente inventário, sem ódio, malícia, e nem afeição a parte alguma, tudo conforme as circunstancias do tempo, qualidade dos bens, e costumes da terra que eles, ambos recebendo o juramento, assim o prometeram cumprir como lhes foram encarregados.
O valor total dos bens era de 2.986$720 (dois contos e novecentos e oitenta e seis mil setecentos e vinte réis). A dívida passiva era de 200$00 (duzentos mil réis). O monte partível ficou em 2.786$720 (dois contos e setecentos e oitenta e seis mil réis). Metade para Francisco Antonio Teixeira de Sousa e a outra metade para dividir igualmente com os filhos herdeiros.
Aqui não dá para relacionar todos os bens, mas vamos colocar alguns para que sirvam de parâmetros para comparar o que valia cada coisa naquela época. Comecemos com as dívidas ativas e passivas. Essas dívidas eram altas quando comparamos com os valores de cada bem. Pena que no inventário não haja explicação mais explicita para o motivo das ditas dívidas.
Declarou o Inventariante dever o seu casal a José dos Santos Neves negociante da Praça de Pernambuco a quantia de duzentos mil réis.
Declarou o inventariante dever ao seu casal Alexandre José da Trindade, morador em Santana do Matos, por obrigação corrente, a quantia de duzentos e trinta e um mil réis. Assim mais deve Francisco Lopes Viégas, morador em Santa Cruz, deste Distrito, a quantia de trezentos e um mil réis.
A seguir alguns bens que foram relacionados pelo inventariante.
Uma parte de terra que houve por herança no sitio São José, deste Distrito, avaliada no mesmo valor que a houve de dezesseis mil réis.
Outra parte de terra que também houve por herança no Sítio Santa Cruz, deste mesmo Distrito, avaliada no mesmo valor, que já tinha, de doze mil réis.
Uma morada de casa, nesta Vila, vizinha a morada do Vigário levantada de taipa, coberta de telha, tendo duas salas em frente uma da outra, com três camarinhas, um corredor e uma cozinha, com cinco portas e uma janela, sendo parte dela atijolada, avaliada na quantia de duzentos mil réis. Nessa época era vigário, o português Manoel Antonio dos Santos Moraes Pereira Leitão, que deu trabalho a Dom Frei João da Purificação Perdigão, 18º bispo de Olinda, em sua visita a Angicos, pois vivia embriagado.
Uma morada de casa principiada, dentro desta Vila, vizinha ao oitão da casa do Tenente Coronel Antonio Francisco Bezerra da Costa da parte Norte, tendo somente as duas frentes levantadas de tijolo dobrado, avaliada na quantia de cinqüenta mil réis. Antonio Francisco era meu tetravô, sogro do meu trisavô Alexandre Avelino da Costa Martins, e ao mesmo tempo genro do pai de Alexandre, Vicente Ferreira da Costa e Mello do O'. Coisas daquela época.
Uma morada de casa levantada de taipa, coberta de telha, com cinco quartos, quatro portas e uma janela, firmada na sua Fazenda São José, avaliada na quantia de setenta mil réis.
Quarenta e cinco vacas avaliada, cada uma delas, na quantia de dez mil réis por quatrocentos e cinqüenta mil réis.
Vinte e duas éguas avaliada, cada uma delas, na quantia de vinte mil réis por quatrocentos e quarenta mil réis.
Sete cavalos inteiros novos avaliado, cada um, deles na quantia de trinta mil réis por duzentos e dez mil réis.
Um carro em bom uso avaliado na quantia de quinze mil reis.
Um Oratório de boa formatura com três imagens, sendo uma de Nossa Senhora da Conceição, e outra de Cristo, e outro de São Urbano, avaliado por vinte mil réis.
Uma mesa grande de madeira de Caraúba, já precisando de conserto, avaliada na quantia de oito mil réis.
Uma Dita pequena, velha, sem gavetas que os avaliadores avaliaram na quantia de mil duzentos e oitenta réis.
Um São Braz de ouro com o peso de uma oitava e dezoito grãos avaliada cada oitava a mesma razão de dois mil réis por mil trezentos e sessenta réis.
Um copo de prata com o peso de noventa e seis oitava, avaliada cada oitava na quantia de cento e vinte réis por dois mil e oitocentos réis.
Um par de estribeiras de prata com o peso de duas libras avaliada, a mesma razão, de cento e vinte réis a oitava por trinta mil setecentos e vinte réis.
Não havia nada de latão, estanho, chumbo e ferro. De cobre – uma cafeteira que os avaliadores avaliaram na quantia de mil e cento e vinte réis. De flandre – uma bandeja pequena avaliada na quantia de um mil réis.
Um escravo Alexandre, mulato, de idade de quarenta e cinco anos, sem achaques, que os avaliadores avaliaram por duzentos e cinqüenta mil reis.
O casal tinha somente esse escravo, e seu valor era um dos maiores dentre os bens avaliados.
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