segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

As Cartas do Capitão José da Penha (I)

As Cartas do Capitão J. da Penha (I)
“Tabuleiros, onde minha infância perseguiu borboletas. O meu coração tem a dureza daquelas pedras. E com este rochedo de carne, hei de esmagar a oligarquia dominante.” José da Penha. Do livro de Aluizio Alves, A Primeira Campanha Popular no Rio Grande do Norte.
As cartas aqui apresentadas são do acervo de Heitor Pinheiro, neto de José da Penha Alves de Sousa. A transcrição delas, neste espaço, tem o objetivo de nos fazer compreender melhor o nosso capitão. Elas foram escritas há 94 anos atrás e, por isso, não estão em perfeito estado de conservação, o que dificulta sua leitura. A primeira não tem data e é uma carta mais simples. Está escrito mais ou menos o seguinte:
“Minhas queridas filhas. Tudo em paz. Festas e gente de mais. Nem para cuspir há tempo. Em Natal e Macaíba a multidão de mulheres e crianças me comoveu e intimidou os oligarcas. Digam a Comadre e Compadre que não deixem vocês fazer malcriações. Mandem-me sem falta a minha caderneta e peçam a compadre para mandar também por Dr. Moreira da Rocha uma fotografia que está com o artista Paulo Barra (incompleto). Mando uns jornais e quanto a dinheiro peçam ao Vieira o que precisar. Peço que me perdoe não ter me despedido dele e do compadre. Recebi a encomenda de Moreira da Rocha. As meninas do Cyrineu e de Dona Anna são uns anjos. Escrevam-me. Diga a Vieira que escreva. Até breve e fiquem sabendo o que eu já disse às famílias de Macaíba que vocês é que me tinham apressado a partida para essa jornada de liberdade e de justiça. Não me desmoralizei. Abracem as meninas e dêem um bele(incompleto) na Rita e lembranças ao Raul. Do pai J. da Penha.”
A segunda carta foi escrita em papel timbrado dos Correios do Rio Grande do Norte, no dia 12 de maio de 1913, e diz o seguinte: “Minhas queridas filhas e Comadre Zefinha. Abracem todos. Estou muito bem. Amanhã passarei meu natalício no mar. Vou para Mossoró. Aqui tudo na paz. Cessaram as ameaças. Ando só a qualquer hora da noite, mais seguro que o Alberto (deve ser Alberto Maranhão). O nosso Leônidas (Leônidas Hermes, filho do Presidente Hermes da Fonseca), filhinho de peixe, nada muito bem. À imprensa uma coisa e para mim outra pelos telegramas. O povo está correto, com entusiasmo e sem medo. Não retirarei mais o nome de Leônidas nem que chova tapioca (é o que consegui ler) ou qualquer outra coisa. Há de subir ou cair comigo, a Nação, vendo que tínhamos um pacto. Minha boca não se abre para dizer que ele não quer porque juraria falso. Quanto ao monstro Pinheiro Machado, Senhora Dona Annita, seu pai ainda viu agora melhor do que os politiqueiros e os cobardes. Não é nem será nunca o presidente da República. Quando acabarem o dinheiro previnam-me. Achei linda a seda. Enfeitem com (ilegível) grelat, ou vidrilho. Estou muito satisfeito com o progresso da nossa boa estudiosa Zaíra. A venda da casa é preciso filha. Devo um pouco mais do que pensas, mas já dei ordens a teu tio para pagar o seguro de 30 contos, que fiz e suspendi. Casas, minha filha, obtém-se a qualquer momento. Se não tens fé, tenho eu. Sofra o que sofrer, levantar-me-ei mais adiante. A última batalha da vida será nossa e, a da que falaste é quase certa já ganhei a mais importante: a derrota do sonhos do Pinheiro maldito. Comadre, diga a Compadre que o tempo aqui ainda é mais escasso. Recebi o que trouxe Manuel Ignácio, peço ao compadre que apertes o Moreira de Sousa. O prático Manuel da Costa, do Victoria e o comandante do Natal são de confiança. Fiz o pedido do Vieira, não me esqueci de Rita, a qual responderei depois. Vou renovar o pedido a Maria. Abraços de J. da Penha.”

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