Afonso Ligório Bezerra – Cem anos de nascimento
2007 é o ano do centenário de nascimento de Afonso Bezerra. Se não fosse meu interesse, neste momento, pela genealogia de minha família, não saberia que ele tinha sido um escritor, mas apenas o nome de um município. Ao atravessar muitos anos de escolas e faculdades nunca o tinha encontrado. Aos 60 anos descubro o grande escritor norteriograndense quando pesquisava dados de minha família no livro Angicos de Aluízio Alves. Foi lá que descobri que parte da minha família vinha do distrito de Carapebas, hoje município de Afonso Bezerra. Fui à Biblioteca Zila Mamede a procura do livro Memórias do Cárcere de Graciliano Ramos e por acaso encontrei o livro Ensaios, Crônicas e Contos de Afonso Bezerra. Aluízio Alves tinha escrito no livro de sua autoria: “tenho esperança de, quando possível, reunir a sua extensa e valiosa produção literária num volume que possa livrá-lo do esquecimento”. Coube, entretanto, ao escritor Manoel Rodrigues de Melo a tarefa de reunir a extensa produção literária de Afonso Bezerra.
Encontrei como procurava referências a familiares no livro de Afonso Bezerra. Lá estavam o cadete José Avelino e o médico e ex-deputado estadual Téodulo Avelino, respectivamente, irmão da avó e primo do pai de Afonso. Mais do que isso, descobri o grande escritor. Logo nos primeiros contos, Rasga-Mortalha, A Cruz da Estrada, O Viajante, e A Visagem fui transportado para o passado e levado de volta as minhas férias em Fernando Pedroza, Angicos, Florania e Cruzeta. Mesmo tendo vivido somente 23 anos, Afonso tinha um vocabulário muito maior do que eu aos 60 anos e uma forma de descrever a realidade sertaneja que nos encanta.
O livro tinha sido adquirido pela biblioteca ao também escritor Edgar Barbosa, em 1977. O primeiro registro de empréstimo datava de 1982 e depois, agora em novembro, mais um registro. Depois de tanto tempo, o livro tinha sido pouco emprestado. Fui à biblioteca porque não encontrei o livro nem em livraria e nem em sebo, apesar da procura.
A dedicação de Afonso ao catolicismo me fez ir ao encontro do seu homônimo, o Santo Afonso de Ligório. E aí descubro traços comuns de genialidade. Já aos dezesseis, o futuro santo recebeu o título de doutorado em direito civil e canônico ( o nosso tentou cursar direito, mas foi impedido pela morte prematura), formando-se um dos advogados mais célebres e requisitados de Nápoles. Poeta, músico, arquiteto, pintor, mudou radicalmente sua vida, após uma carreira brilhante, que se encerrou ao perder uma causa por conta de corrupção da Corte Judicial em um processo envolvendo grande soma de dinheiro. Por isso, Afonso de Ligório resolveu ser padre e ordenou-se em 1726.
Espero que nesse aniversário de cem anos, haja um esforço maior de divulgação desse escritor, honra do nosso estado. As homenagens e a publicação de sua obra não têm sido suficientes para um maior conhecimento do autor pela população. A educação vai mal por muitos motivos, mas principalmente, por que os prédios escolares e algumas estatísticas são mais importantes que a educação propriamente. Toda biblioteca escolar deveria ter um mínimo de livros comuns e escolhidos através de pesquisas junto aos mais diversos segmentos. O livro Ensaios, Crônicas e Contos de Afonso Bezerra deveria ser um desses livros presente em qualquer biblioteca de nossas escolas.
Nascido em 9 de junho de 1907, morreu aos 23 anos, no dia 8 de março de 1931. Afonso Bezerra é o Patrono da cadeira de número 40 da Academia Norteriograndense de Letras.
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