sábado, 26 de fevereiro de 2011

O Capitão Jacinto João da Ora

Mais uma vez recorremos ao Mestre Manoel Rodrigues de Melo, que na sua introdução sobre Macau, na Revista da Academia Norteriograndense de Letras, escreveu: "Ninguém procurou ainda sondar, pesquisar, medir, esquematizar, diria melhor, sentir através da documentação existente, o quanto de labor, sacrifício, desgosto, decepção, vitória, alegria, entusiasmo, ficou no bojo silencioso da história, sem a compreensão devida pelos contemporâneos e pela posteridade.
Comerciantes, agricultores, fazendeiros, pescadores, canoeiros, salineiros, políticos, administradores, carreiros, comboeiros, trabalhadores de salinas ou de carnaubal, motoristas de automóvel ou caminhão, todos participaram e participam dessa batalha nem sempre compreendida pela grandeza e prosperidade das cidades ou dos municípios."
Quem escreve sobre os primórdios de Macau repete, sempre, as mesmas pessoas, citadas por Câmara Cascudo, que deixaram a Ilha de Manoel Gonçalves, que o oceano foi tragando ano a ano. Essa relação de pessoas precisa ser revista, pois, até Cascudo tinha dúvidas sobre os genros do Capitão João Martins Ferreira. Além disso, nesses anos todos que se passaram, desde o desaparecimento completo da Ilha, quase nada se escreveu sobre a vida e os descendentes daqueles que viveram por lá. É como se o mar tivesse tragado, também, a memória deles. Como um dos descendentes direto do Capitão João Martins Ferreira, tento nestes artigos, aqui no "O Jornal de Hoje", escrever sobre essas pessoas que de alguma forma tinham alguma relação com a Ilha ou a povoação inicial de Macau. Um deles foi o Capitão Jacinto João da Ora. Ele fazia da parte da relação acima e era o único brasileiro do grupo. Vejamos, inicialmente o registro de seu óbito, pois teremos uma idéia da provável data de seu nascimento.
"Aos vinte e cinco dias do mês de Junho de mil oitocentos e cinqüenta e três foi sepultado na Capela de Nossa Senhora da Conceição da Vila de Macáo, acima das grades, filial da Matriz desta Freguesia, o Cadáver de Jacinto João da Ora, branco, viúvo, morador n'esta Freguesia, falecido de moléstia interior, com os Sacramentos, na idade de Setenta anos, foi amortalhado em preto e encomendado de minha licença pelo Reverendo Ignácio Damaso Correa Lobo; de que fiz este assento, e pelo qual, para constar, fiz este termo que assino. O Vigário Felis Alves de Sousa"
Portanto, salvo erro na idade dele, deve ter nascido por volta de 1783. Em 1825 já se encontrava na Ilha de Manoel Gonçalves, como podemos ver pelo batismo de uma de suas filhas.
 "Anna, filha legitima de Jacinto João da Ora, natural do Assu, e Adriana (Pereira) dos Anjos de Extremoz nasceu aos cinco de Fevereiro de mil oitocentos e vinte e cinco, e foi batizada aos nove de Dezembro do dito ano no Oratório de Nossa Senhora da Conceição (da Ilha) de Manoel Gonçalves e lhe conferi os Sagrados Óleos. Foram Padrinhos André de Sousa Miranda (e Silva) e Francisca das Chagas Miranda, solteiros, todos deste Assu. E para constar fiz este assento em que me assinei. Joaquim José de Santa Anna, Parocho do Assu."
Através de registros de casamentos, encontramos outros filhos de Jacinto e Adriana:
Em 6 de Julho de 1853, em Oratório Privado, em Touros, Francisco Ignácio de Miranda contraiu núpcias com Úrsula Maria das Virgens, filha legitima de João Francisco dos Santos e Maria Tavares de Mattos, com dispensa de parentesco de consanguinidade e afinidade ilícita.
Em 25 de Fevereiro de 1854, em Macau, Thereza de Jesus Miranda, contraiu núpcias, com Paulo Francisco Cardoso de Miranda, filho natural de Anna Joaquina de Miranda, tendo como testemunhas André de Sousa Miranda e Silva e Francisco José de Mello Guerra, casados. Esse último, também, da relação dos povoadores de Macau que veio da Ilha.
Em 28 de Maio de 1855, em Macau, Manoel Pedro de Miranda contraiu núpcias com Clara Francisca de Santa Anna, filha legitima do Barnabé José de Santa Anna e Anna Maria da Conceição, tendo como testemunhas José de Borja Raposo da Câmara, solteiro a vida toda, e João Alves Fernandes.
Em 28 de Julho de 1856, lá nas Oficinas, Ignácio Zacharias de Miranda contraiu núpcias com Francisca Idalina de Carvalho, filha de Gorgonio Ferreira de Carvalho e Anna Joaquina Cordeira, sendo testemunhas André de Sousa Miranda e Silva, e Manoel Roque Rodrigues Correa. No dia 26 de Maio de 1858, Ignácio Zacharias faleceu, com 39 anos de idade, de hidropisia.
Nessa mesma data, lugar e testemunhas supra, Anna Bernada de Miranda, essa filha natural do Capitão Jacinto João da Ora e de Bernarda Maria da Conceição, contraiu núpcias com José Fragoso de Medeiros, filho de Antonio Fragoso de Medeiros e Maria Fragosa.

O capitão Francisco Trajano Xavier da Cunha

Na Revista da Academia Norteriograndense de Letras, n°11, Manoel Rodrigues de Melo escreveu um artigo sobre Macau, onde na  Introdução diz o seguinte:
"As cidades são construídas à imagem e semelhança dos seus habitantes. Nascem, desenvolvem-se, agarradas ao plasma da sua gente, do seu comércio, da sua indústria, da sua agricultura, da sua pesca, da sua pecuária, das suas minas, dos seus ciclos econômicos, da sua cultura, dos seus elementos ecológicos. A terra, o céu, o mar, a chuva, a flora, os rios, os lagos e lagoas, o clima tudo isso tem grande e decisiva influência no desenvolvimento e no progresso das cidades, sem esquecer é claro, o capital, a mão e a cabeça do homem, adicionados aos instrumentos de trabalho, que são por assim dizer as forças responsáveis pela sua expansão. As cidades como os homens têm o seu destino  e a sua vocação."
Assim, para compreender melhor uma cidade, é preciso conhecer melhor a sua história, através das pessoas que por lá passaram ou viveram. Por isso, vamos conhecer, hoje, o Capitão Francisco Trajano Xavier da Cunha. Ele foi o primeiro Juiz de Paz de Macau.
A primeira notícia que tive dele, foi através de um registro de batismo de um filho seu, José, cujos padrinhos foram meus tetravós, João Martins Ferreira e Josefa Clara Lessa. Interessei-me por ele, pois, através daquele documento, me era apresentado a esposa do Capitão que deixou a Ilha de Manoel Gonçalves e foi povoar Macau. O Capitão Francisco Trajano não fazia parte daquelas pessoas que acompanharam João Martins, mas, como vimos em outros registros, morava na Fazenda do Amargoso, que integrava as terras compradas pelos portugueses, residentes em Recife, Domingos Affonso Ferreira e seu genro Bento José da Costa.
A partir daí, anotei todos os registros sobre o Capitão Francisco Trajano. Anteriormente, ele morava na Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação, e, em 1818, batizava seu filho Joaquim, como podemos ver a seguir.
 "Joaquim, com 15 dias de idade, filho legitimo de Francisco Trajano Xavier da Cunha e de Marianna Ignacia Fernandes Pimenta, neto paterno de Francisco Xavier da Cunha e de Josefa Joaquina de Paiva, por parte materna de Joaquim José Ferreira e de Anna Joaquina de Jesus, todos moradores nesta Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação do Rio Grande, foi batizado com os Santos Óleos nesta Capela de São Gonçalo pelo Padre Simão Judas Thadeo a dois de Março de mil oitocentos e dezoito. Padrinhos o Tenente Lourenso J da Silva, cazado e Anna Rosa da Apresentação, solteira, da mesma Freguesia, e para constar mandei fazer este termo em que me assino por omissão do outro vigário que (ilgível). Vigário Francisco Antonio Lumachi de Mello."
Aos 14 de Junho de 1819, foi sepultada na Capela de São Gonçalo Isabel, branca, filho do casal Francisco Trajano e Mariana. Aos 3 de Julho de 1826, Dona Mariana faleceu, e foi sepultada, também, na Capela de São Gonçalo, de grades para baixo.
Três anos depois, em 24 de Novembro de 1829, no Oratório das Oficinas, da Freguesia de São João Batista do Assu, depois de dispensados do terceiro grau de consanguinidade, o Reverendo Frei Thomaz de Aquino, ajuntou em Matrimonio e deu as bênçãos ao viúvo Francisco Trajano Xavier da Cunha e a D. Senhorinha Clara dos Anjos, da Freguesia de Santana do Matos, filha de Carlos José de Sousa e Manoela Archangela, sendo testemunhas Raimundo José da Silva e Manoel da Rocha Bezerra.
D. Senhorinha era irmã de Josefa Jacinta de Vasconcelos que casou com Manoel da Rocha Bezerra, e de Antonia Bernarda Achiolis que casou com Paulino Álvares Pessoa, todos esses casamentos na Ilha de Manoel Gonçalves, sendo testemunhas dos dois casamentos o Capitão João Martins Ferreira. Manoel da Rocha Bezerra era filho de Balthasar da Rocha Bezerra e Josefa Maria da Silva. Esse Paulino era filho de Alexandre José Pereira, possivelmente, aquele Chefe do Degredo da Ilha de Manoel Gonçalves, de que falava Manoel Rodrigues de Melo quando tratou do Saque da Ilha pelos Ingleses, em 1818.
Do casamento com Dona Senhorinha Clara dos Anjos, encontramos, os seguintes filhos:Targino, José, Josefa, Ignácio, Thereza, Joanna, Manoel, João,  e   Francisca.
Do primeiro casamento, além de Joaquim, encontramos Francisco,  que foi batizado em 28 de abril de 1821 com um mês de idade.
João Mauricio Xavier da Cunha casou com a viúva Epifania Maria da Conceição Vejamos o casamento de Francisca.
"Aos vinte de Agosto de 1870, na Capela do Rozario de licença do Reverendo Joaquim Alves da Nóbrega, Coadjutor, encarregado da Cura desta Freguesia, assistiu o Reverendo Elias Barbalho Beserra receber-se em Matrimonio os meus Paroquiano = Martinho Egydio Ferreira Nobre, filho legitimo de Pedro José Ferreira, e de Thereza da Trindade Nobre, e Francisca Xavier da Cunha Vasconcellos, filha legitima de Francisco Trajano Xavier da Cunha, e Senhorinha Clara dos Anjos, depois de confessados, e examinados, em Doutrina Cristã, lhe deu as Bênçãos Nupciais, sendo testemunhas = Felis Rodrigues Ferreira, e Luis Ferreira Nobre. Para constar fiz este assento e assino. O Vigário Joaquim Manoel d'Oliveira Costa.

Mossoró, Assu, Política e Genealogia

Lá estamos de novo, Graça e eu, nas estradas do Rio Grande do Norte. Ela trabalhando com linha Mary Kay e eu cuidando de minhas pesquisas genealógicas. Nosso destino é Mossoró e Açu. Com o inverno as plantas crescem e se debruçam sobre os acostamentos, quando tem, ou sobre a própria estrada. As placas de sinalização estão quase todas encobertas. Acho que vão aguardar o término do período de chuvas para tomarem alguma providência. Os buracos nas estradas vão fazendo seus estragos. Aqui e acolá encontramos pessoas agachadas, na beira das estradas, mudando  pneus  rasgados pelos buracos. Os tapas buracos são feitos, mas em velocidade menor dos que os estragos que vão surgindo. Em alguns municípios as entradas das cidades são mal cuidadas. São aqueles trechos que estão na área das várias competências, e  que, por isso mesmo,  servem de desculpas para não se fazer nada para corrigir. Por que as manutenções são preteridas pelas  obras novas? A expressão "Servatis ex more servandis" parece não ter significado algum para os gestores públicos.
Quem entra em uma cidade tem mais chance de perceber os engodos de alguns prefeitos, do que os que moram nela. As belas praças ou outras obras são ilhas no meio de grandes problemas que nunca são resolvidos. Calçadas são verdadeiros obstáculos aos passeios. Não há regras para a construção delas. Observando algumas leis de posturas do passado, vejo que existiam regras bem definidas que se tivessem sido cumpridas, estaríamos com as cidades com melhores aspectos. 
É muito difícil compreender porque as disputas pelas prefeituras em todos os municípios são tão acirradas, se a maioria dos prefeitos não cuidam verdadeiramente das cidades. As cidades como as mulheres e, recentemente, os homens, precisam, também,  de maquiagens e de perfumes. Mas nem isso, os gestores sabem fazer. Vejam os meios fios.  Deveriam primeiro ajeitá-los e depois, somente depois, pintá-los. Mas não é isso que acontece. Vemos pedras perdidas dentro dos canteiros que são pintadas, mesmo assim. Uma desordem inconcebível. Ninguém consegue resolver, também, o problema das metralhas e dos lixos, que os civilizados, através dos carroceiros, mandam para os terrenos vazios. Alguns terrenos desocupados são usados para a colocação de outdoor, mas não há nenhuma obrigação para serem mantidos limpos. Aqui em Nata, ali, na Dr. José Gonçalves, esquina com a Antonio Basílio, uma obra inacabada da Secretaria de Tributação do Estado, é um exemplo de descaso com a cidade. O mato toma conta do local. Daqui a um século, as pessoas vão querer saber que ruínas são aquelas, muitas hipóteses vão surgir e, talvez, aquilo, seja tombado.
Essa mesma esquina serve como exemplo, para a questão do trânsito. Uma placa nessa esquina proíbe o retorno dos carros. Mas, diariamente, os motoristas fazem questão de desobedecer, criando problemas para quem quer  atravessar a Antonio Basílio. Outra questão é que as chamadas vias livres levam os carros para estacionarem nas vias perpendiculares. Em algumas ruas os carros estacionam de um lado e de outro, impossibilitando  a passagem de mais de um carro. No interior a desordem no trânsito é muito grande. Quem não tiver acostumado pode ter problemas. Quem vai dirigir dentro de uma cidade do interior deve ter muito cuidado.
Em Mossoró fui até a livraria Independência para procurar um prendedor de papel.  Aproveitei para olhar uns livros da coleção Mossoroense. Encontro, de saída, um livro que nosso escritor Bartolomeu Melo (Bartola) andava atrás: Ferros de Ribeira do Rio Grande do Norte, de Oswaldo Lamartine. Além dele, comprei, também,  "Estudos de História do Oeste Potiguar" de Raimundo Soares  e "Seccas contra a a Secca "do irmãos Phelipe Guerra e Theophilo Guerra. Só com essas compras saí satisfeito de Mossoró.
Em Açu, passei uma manhã fotografando dois livros antigos de casamentos e batizados, sob o olhar de Padre Canindé. Mais de 3Gb de fotos. Nas nossas pesquisas encontramos muitas pessoas que estavam relacionadas, ao mesmo tempo,  às freguesias de Nossa Senhora da Apresentação e  São João Batista do Assú. Além disso, fregueses da região de Angicos, Macau, Carapebas, Gaspar Lopes, Guamaré e da Ilha de Manoel Gonçalves estão presentes nos livros de Assú. Com certezas as informações contidas nessas imagens vão completar elos das cadeias genealógicas que pesquiso. Enquanto fotografava percebia a presença de sobrenomes conhecidos como Varela Barca, Ferreira Souto, Lopes Viégas, Martins Ferreira. Dantas Correa, Rocha Bezerra e outros mais.
Antes de partir para Natal fui fazer uma visita ao parente José Nazareno Avelino (conhecido pelos amigos como Papaxinha) e sua irmã Salete. Ele vem enfrentado um câncer há mais de trinta anos, sem perder a lucidez e a vontade de viver. Um herói! Nazareno e  Salete descendem de Emygdia Avelino que era irmã de Emygdio Avelino e do Jornalista Pedro Avelino. Nazareno passou um período se tratando no Rio de Janeiro, onde conviveu com a família do Senador Georgino Avelino.

Meus ascendentes de nome João

Os Editores de "Nobiliário de Famílias de Portugal" escreveram sobre o autor: "Felgueiras Gayo, porventura, o mais consciencioso e probo linhagista português do seu tempo, cultivou, apaixonadamente, a genealogia; e dela tomou, numa época em que esta palavra apenas significava;catalogo de vaidades, a noção exacta de que ela, essencialmente, é: Ciência Auxiliar da História."
Não pensei em atravessar o Atlântico em busca dos meus ancestrais. Quero primeiro conhecer os que viveram aqui e o que faziam. O desaparecimento de livros importantes de registros da Igreja e  outros documentos  impedem, pelo menos temporariamente, o prosseguimento de certas ascendências. Tenho empacado sempre em um João.
Primeiro foi João Felippe da Trindade. Passei muito tempo sem saber quem eram seus pais. Um dia, achei encartado em um livro de Atas da Câmara de Angicos  um alistamento eleitoral que entre outras coisas nominava os  pais dos eleitores. Foi aí que descobriu o nome do pai de João Felippe. Era João Miguel da Trindade. Quis ir mais além, mas até agora não houve progresso. Fui atrás dos livros da Freguesia de Papary onde sabia da existência de várias pessoas da família Trindade ligada a Virgilio Trindade, mas lá também faltam alguns livros e não houve progresso.
Quando descobri meus ascendentes da família Avelino fui até João Barbosa da Costa, português residente no Assú. Sabia pouco dele e nem o nome da esposa aparecia em canto algum. Por fim, encontrei um casamento aqui em Natal do seu filho Francisco Xavier da Cruz, onde aparecia o nome da esposa Damasia Soares. Mas nada consegui a respeito desse João Barbosa da Costa, pai de meus ascendentes Francisco Xavier da Cruz, Anna Barbosa da Conceição, Antonio Barbosa da Costa e João Manoel da Costa.
Na Ilha de Manoel Gonçalves fui encontrar mais um João, o Capitão João Martins Ferreira. Descobri o nome de sua esposa Josefa Clara Lessa, vários descendentes e locais por onde ele andou. Saiu para povoar Macau e deixou descendentes em Cacimbas do Viana, Angicos, Santana do Matos, Açu e outras localidades. Tomava contas das terras de Bento José da Costa e seu filho José Martins Ferreira desposou Josefina Maria Ferreira, sobrinha de Bento. Fui a busca dos Ferreiras de Recife, mas nada encontrei até hoje sobre os pais de João Martins Ferreira. Procurei alguma coisa em Minas Gerais onde há uma família Martins Ferreira, sem progresso. Em 1823, ele aparece arrematando o dízimo de sal de Mossoró. Nesse mesmo ano, segundo pesquisas de Marcos Pinto, em Açu, ele aparece como procurador do Coronel Joaquim Pereira Viana, morador em Pernambuco, em um processo de demarcação do sitio Panom.
Mais um João está em banho-maria, pois, não consigo informações sobre seus ascendentes. Nesse mesmo casamento acima  de Francisco Xavier da Cruz, encontrei o rastro dele. A esposa de Francisco, Lourença Dias da Rosa era filha de Antonio Dias Machado que por sua vez era filho de João Machado de Miranda. Com esse sobrenome pensava encontrar alguma informação através da família do mártir Estevão Machado de Miranda. Tive em mãos documentos antigos de batismo que se iniciavam em 1688, onde apareciam dois filhos dele, Felizarda e João Machado de Azevedo. Entretanto, nada naqueles registros dava pistas dos ascendentes dele, pois não constavam os avós dos batizados, como era comum em outros registros posteriores. Era casado com Leonor Duarte de Azevedo. Uma filha de Estevão Machado de Miranda, de nome Margarida Machado de Miranda era casada com o Capitão Manoel Duarte de Azevedo. Mais uma coincidência que não levou a nada. Nos livros de Sesmarias do Rio Grande do Norte encontrei a Carta de Data e Sesmarias de número 383 para João Machado de Miranda, datada de 15 de Outubro de  1750, concedida por Francisco Xavier de Miranda Henriques. Infelizmente, o documento só tem o início, mas falta o corpo do documento. Ainda tentei localizar alguma cópia ou original no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, mas, lá também, faltam os documentos correspondentes a essa Sesmaria. No livro citado acima de Felgueiras Gayo procurei a família Machado de Miranda. Os nomes de Estevão Machado de Miranda e João Machado de Miranda aparecem lá, mas não encontro o elo com os nossos.
Apesar das dificuldades próprias da Genealogia continuo minhas pesquisas com a ajuda de vários colegas pesquisadores. Quem quiser conhecer um processo de arrematação de impostos visite o meu blog http://trindade.blog.digi.com.br/. Lá encontrarão o auto de arrematação citado acima, para o Capitão João Martins Ferreira.

Manoel Rodrigues Ferreira

Na lista dos primeiros povoadores de Macau, oriundos da Ilha de Manoel Gonçalves, consta o nome do português Manoel Rodrigues Ferreira. O registro que prova sua nacionalidade é o batismo do filho Luiz. Vamos a ele, portanto:
"Luiz, branco, filho legitimo de Manoel Rodrigues Ferreira, e Izabel Martins Ferreira, natural, ele de Portugal, ela de Assú, moradores nesta Freguezia, nasceu à treze de Novembro de mil oitocentos e trinta e um, e foi batizado com os Santos Óleos nas Officinas do Assu, aos quatorze do mesmo mês e ano, pelo Reverendo Vigário da mesma Joaquim José de Santa Anna, de minha licença; foram Padrinhos Nossa Senhora da Conceição, e Vicente Ferreira, solteiro: do que para constar mandei fazer este assento e por verdade assinei. O Vigário João Theotonio de Sousa e Silva."
Com esse sobrenome, imaginei que pudesse haver algum parentesco de Izabel com o Capitão João Martins Ferreira, pois, meu pai, Miguel Trindade Filho, afirmava, em carta a um sobrinho, que os Rodrigues do Baixo Açu e Macau eram do Clã do velho José Martins Ferreira. Não consegui nenhuma prova disso, até agora. Aliás, papai desconhecia a existência do Capitão João Martins Ferreira, seu trisavô, e, por isso, deslocava informações relativas a ele para o filho, o Major José Martins Ferreira. Esses equívocos são muito comuns em quase todas as famílias.
Há um registro de  outro filho, de nome João, que nasceu aos treze de Janeiro de 1836, e foi batizado, em dois de Junho do dito ano, na Fazenda Boa Vista, tendo sido padrinhos Manoel Rodrigues Ferreira Junior e Maria Martins, solteiros, ambos filhos de Manoel Rodrigues Ferreira e Izabel Martins Ferreira. Esse batizado era João Rodrigues Ferreira, avô do escritor Manoel Rodrigues de Melo.
Esse Manoel Rodrigues Ferreira Junior casou, em 25 de Maio de 1849, com Belmira Amorosa da Silveira Borges, filha legitima do Capitão João da Silveira Borges e de Anna Maria de Araujo. Belmira faleceu em 1865 com a idade de 38 anos.
Os dois filhos mais conhecidos de Manoel Rodrigues Ferreira e Izabel Martins Ferreira eram Joaquim Rodrigues Ferreira e Felix Rodrigues Ferreira, que são considerados como fundadores de Alto do Rodrigues e Pendências, respectivamente.
O Capitão Joaquim Rodrigues Ferreira casou, em 21 de Outubro de mil oitocentos e setenta e três, com Ricardina Hermelinda Cavalcante, após ficar viúvo de Dona Generosa da Silveira Borges. Foram testemunhas o Capitão João Avelino Pereira de Vasconcelos (primo de Pedro Velho e um dos fundadores do Partido Republicano) e o Capitão Eufrásio Alves d'Oliveira.
Felix Rodrigues Ferreira casou, em 7 de Agosto de mil oitocentos e sessenta, com Maria Romana de Melo, após ficar viúvo de Joanna Baptista do Sacramento. Eram pais de Maria Romana, Antonio Joaquim de Mello e Joaquina Francisca de Mello. Foram testemunhas Francisco Lins Wanderley e Pedro Virgulino de Sousa.
Em 31 de Dezembro de 1839, nasceu Josefa que foi batizada em 19 de Março de 1840, tendo como padrinho Vicente Ferreira de Mello e Maria Rodrigues Ferreira.
Outro registro interessante é o casamento de uma filha de Manoel Rodrigues e Izabel que transcrevo para cá.
"Aos 11 de Setembro de 1851, antecipadamente dispensados no impedimento de consanguinidade com que estavam ligados, em 2º grau atingente aos 1º, simples, pelo Núncio Apostólico, Delegado de Sua Santidade no Rio de Janeiro, e proclamados a estação das Missas, em desobriga em três dias consecutivos, e não existindo outro impedimento além do acima anotado já dispensado, por mandado da Sua Excelentíssima e Reverendíssima, o Senhor Bispo Diocesano Dom João da Purificação Marques Perdigão, como consta do Documento existente em meu poder, na Fazenda Boa Vista d'esta Freguesia interroguei aos Contraentes, meus Fregueses, José Raimundo de Mello, filho legítimo de José Carlos de Mello, e de Francisca Ferreira Porciúncula, e Luisa Maria Ferreira, filha legitima de Manoel Rodrigues Ferreira, falecido, e de Izabel Martins Ferreira, e obtido de ambos, recíproco e livre consentimento, por palavras de presente, uni os em Matrimonio, e logo abençoei os na presença das testemunhas de mim conhecidas Pedro Virgulino de Souza, e Vicente Ferreira  de Mello, casados, e moradores nesta Freguesia,. Do que para constar, faço este assento, em que assino. Felis Alves de Sousa, Vigário Collado de Angicos.
Uma filha de Manoel Rodrigues Ferreira e Izabel Martins Ferreira, Anna Rodrigues Ferreira, faleceu com apenas 22 anos de idade.
Outra filha, Josefa Rodrigues Ferreira (que em alguns registros aparece como Josefa Martins Ferreira), nasceu em 31 de dezembro de 1839, e casou, em 28 de Abril, de 1855, com o cearense, Raimundo Candido d'Oliveira Rebouças, filho de Salvador d'Oliveira Rebouças e Maria Francisca de Jesus, tendo como testemunhas Joaquim Ignácio da Silveira Borges e João Martins Fernandes. Joaquim Ignácio era tio do Barão de Serra Branca, pois era irmão de Maria da Silva Velosa, mãe do dito. Era irmão, também, do Capitão João da Silveira Borges, citado mais acima.
Manoel Rodrigues Ferreira e Izabel Martins Ferreira deixaram uma grande descendência. O escritor Manoel Rodrigues de Melo, bisneto do casal, estava fazendo um trabalho sobre os Rodrigues Ferreira. Segundo ele, em carta a Ricardo Rodrigues Ferreira, neto de Manoel Rodrigues Ferreira, já tinha uma farta documentação.
Aqui, nestes artigos semanais, apresento alguns descendentes dos personagens que passaram pela Ilha de Manoel Gonçalves. É preciso que cada descendente procure mais informações,  para que possamos, no futuro, reescrever a história da nossa Ilha misteriosa. 

João Garcia Valladão

Até o presente momento, encontrei poucos registros de João Garcia Valadão. Encontrei o nome de sua esposa, através do registro de óbito da mesma que transcrevo a seguir.
"Aos dezoito de Fevereiro de mil oitocentos, e trinta na Capela de Nossa Senhora da Conceição de Guamaré, filial a esta Matriz, se deu a sepultura de grades acima ao Cadáver de Izabel Rodrigues de São José, mulher de João Garcia Valadão, faleceu sem sacramentos, por ser de repente, em volta em habito preto, e ecomendada pelo Reverendo José Berardo de Carvalho, de minha licença: do que para constar mandei fazer este assento e por verdade assinei. O Vigário João Theotonio de Sousa e Silva."
Nesse registro não há informação da idade de Izabel. Não encontrei nenhum novo casamento para João Garcia Valadão. Há alguns registros de batismos de filhos de escravos do mesmo. Vejamos um desses registros que ocorreu na Ilha de Manoel Gonçalves.
"Nicolau, filho natural de Noberta, cabra, escrava de João Garcia Valadão, morador nesta Freguesia, nasceu aos dezenove de Agosto de mil oitocentos e trinta e seis, e foi batizado na Ilha de Manoel Gonçalves, da Freguesia de São João Baptista do Assu, pelo Reverendo Frei Jozé de Santo Alberto, aos vinte e oito de Outubro do dito ano, de minha licença; foi Padrinho Antonio Carneiro da Costa: do que para constar mandei fazer este assento e por verdade assinei. O Vigário João Theotonio de Sousa e Silva."
O registro a seguir pode ser de um neto de João Garcia Valladão. Não encontrei até agora, nada que relacione José Garcia Valladão com João. Encontrei o registro de casamento de José Garcia Valladão com Anna Rosa da Costa, em 1864. Não constam os nomes dos pais dos nubentes. Por cima, há uma pequena diferença no nome da noiva.
"Jozina, filha legitima de Jozé Garcia Valladão e Anna Amélia da Costa, nasceu a nove de Fevereiro deste ano de mil oitocentos e oitenta, e foi solenemente batizada por mim, a doze de Outubro do dito ano, sendo Padrinhos Padre Frederico Augusto Raposo da Câmara e Donna Carlota Elydia Raposo da Câmara, por seus procuradores Manoel Caetano da Costa e sua mulher Joaquina Maria da Costa, do que para constar mandei fazer este assento em que me assinei. Eu com autorização diocesana assino este assento. Estevão José Dantas."
Há um registro de casamento onde João Garcia Valladão aparece como testemunha e, por isso, transcrevo para cá.
"Aos sete dias do mês de Janeiro de mil oitocentos e vinte e quatro pelas oito horas da manhã na Capela de Nossa Senhora da Conceição de Guamaré, filial desta Matriz de Santa Anna do Mattos, tendo precedido as canônicas denunciações sem impedimento, o Reverendo Padre José Berardo de Carvalho, de minha licença, ajuntou em Matrimonio, e deu as Bênçãos Nupciais a os meus Paroquianos Francisco Alves da Costa, e Maria Barbosa da Natividade, ele natural desta Freguesia; ela natural da Freguesia de São Bernardo das Russas, e nesta moradores; ele filho legitimo de Joaquim Alves da Costa e Catharina Maria do Espírito Santo, já falecida; ela filha legitima de Manoel Gomes de Freitas, e Maria Barbosa da Natividade, já falecida; sendo testemunhas Antonio Ferreira de Brito, João Garcia Valladão, e João Vicente do Carmo, que com o dito Padre assinaram o assento que foi remetido, pelo que fiz o presente, que assino. O Vigário João Theotonio de Sousa e Silva."
Encontramos outro registro onde está presente um Garcia Valladão.
Marina, branca, filha legitima de Francisco da Rocha Bezerra e de Rosa Maria da Conceição naturais e moradores nesta Freguesia nasceu no primeiro de Maio de mil oito centos e cinquenta e cinco, e foi batizada aos oito de Julho do dita ano solenemente por mim na Matriz: foram Padrinhos, o Tenente Antonio Garcia Valadão, solteiro e Francisco Maria de Jesus, casada: do que para constar fiz este assento em que me assino. Manoel Jerônimo Cabral, Coadjutor Pro Paróco.
Há um documento encontrado na internet, no endereço http://digitarq.dgarq.gov.pt?ID=4215485, cuja data referenciada é 1816, onde está escrito:
Autos de procuração de João Garcia Valadão, aguadeiro do Chafariz das Necessidades, filho de João Garcia Valadão e de Arcângela de Jesus.
 Na parte que diz respeito ao âmbito e conteúdo diz: Procuração passada a seu padrasto António Garcia Valladão, a sua mãe e a seu irmão José Garcia Valladão, para a cobrança e arrecadação da herança de seu pai, falecido no Brasil. Lisboa. Escrivão Bento Geraldino da Silva Valadares.
Embora não tenha conseguido ir além do resumo acima, constante do referido arquivo português, suponho que esse João Garcia Valladão que morreu no Brasil, possa ser o pai desse que foi um dos fundadores de Macau. Acredito que os dois outros Garcia Valladão que aparecem no referido processo não são os mesmos que suponho serem os filhos do nosso pesquisado. Continuando com as suposições, creio que o Padrasto fosse tio de João Garcia, que casou com sua mãe, quando ela enviuvou, como era costume naquela época. O José Garcia que aparece no documento, pode ser tio ou pai do que consta no registro de batismo acima apresentado.
Natal sediará, de 25 a 30 de Julho de 2010, a 62ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.

Inquisição no Rio Grande do Norte - o caso do Padre Tarado

I
É Fábio Arruda, lá das Alagoas, quem me manda um e-mail dando conta da existência de um processo, na Internet, no endereço http://digitarq.dgarq.gov.pt.
É um processo de Inquisição localizado, fisicamente, no Tribunal do Santo Ofício, inquisição de Lisboa, e de número 3953, contra o Padre Pedro Homem da Costa.
Logo no início do processo, encontramos a informação: Manoel Ferreira, escrivão da Comarca deste Bispado de Pernambuco, pelo Ilustríssimo Senhor Dom Mathias de Figueiredo Melo, bispo de Pernambuco e do Conselho de Sua Majestade que Deus Guarde V. Excia., certifico e faço fé, que em meu poder e Secretaria da Câmara estão uns autos de denunciação que deu o Promotor Fiscal deste Bispado, do Padre Pedro Homem da Costa, nele assistente na freguesia do Rio Grande, natural que diz ser da Ilha Terceira e, ora preso na cadeia desta cidade de Olinda por ordem de sua Ilustríssima  e merecimento dos ditos autos que o dito Senhor me mandou trasladar por certidão autêntica, para com ele serem remetidas ao Tribunal da Santa Inquisição da cidade de Lisboa.
Essa denunciação, com a respectiva devassa, foi apresentada no dia 30 de Junho de 1692, na cidade de Olinda e Casa da Câmara, pelo Reverendo Licenciado Basílio de Abreu e Andrade, vigário do Rio Grande.
O escrivão eleito para acompanhar o depoimento das testemunhas foi o padre Manoel Dias Santiago que diz, no início do seu relatório, que o Padre denunciado era assistente no Bispado, no lugar de Cunhaú, Freguesia da Matriz do Rio Grande.  Diz mais nos itens da dita denunciação:
Provara que estando o denunciado atualmente aprovado para confessar, sendo Coadjutor na Cidade do Rio Grande, havia três anos ou o tempo que na verdade se achar, estando o denunciado no confessionário na Igreja Matriz e Capelas da Freguesia, se foram algumas mulheres se confessar com o denunciado, as quais o licenciado solicitou e procurou, no mesmo ato  de confissão, para atos torpes com palavras desonestas, sinais amatórios e ações provocativas de atos venéreos, metendo-lhes as mãos pelos peitos e aberturas das saias na parte pudendas e não clamara, logo, as ditas confessadas contra o denunciado, com temor e pejo.
Provara que as mulheres que o denunciado solicitou para os ditos atos torpes, estando confessando com o denunciado são: Joana, escrava de Antonio Gonçalves Ferreira, morador na Utinga, Freguesia do Rio Grande, a qual assim o declarou a Vossa Ilustríssima por desencargo de consciência e disse que do mesmo ouvira queixar a Estilania Vilela, a Catherina Duarte e a Margarida Ferreira, escravas do mesmo Senhor, e, também, Antonia do Rego, escrava de Estevão do Rego do Putegi, e Maria, escrava do Sargento mor Antonio Gonçalves Ferreira e Joana escrava do mesmo senhor, e também Damázia Borges, solteira, e filha de Diogo Rodrigues e Vitoria Borges, moradores em Mipibu, e diz que o mesmo sucedera a uma irmã por nome Bárbara Rodrigues e outras mulheres.
Provara que deste crime está o denunciado informado naquela Paróquia, e de outros por ser o denunciado de má vida e costumes pouco temente a Deus e com muitas faltas na obrigação de sacerdote o que tudo declaram as testemunhas e por Vossa Ilustríssima ter estas notícias ordenou que se denunciasse contra ele.
Pede recebimento e que se passe Comissão com todo o segredo para o Revendo Vigário do Rio Grande tirar as testemunhas nomeadas e as que elas referirem e a vista do que depuserem se proceda contra o denunciado na forma do direito com custas.
Jure jurando que não dou esta denunciação com ódio ou afeição senão por ordem de sua Ilustríssima o Promotor Manoel Lopes Araújo.
Esse processo acima tem 290 imagens que são baixadas uma por uma para sua leitura. Por se tratar de uma inquisição, são lidos e declarados para cada testemunha ouvida os itens da denunciação, os quais elas confirmam ou não o conteúdo dos mesmos. Além disso, são ouvidas outras pessoas não listadas acima. Em alguns casos há equívocos com relação aos dados citados acima, como é o caso de Damázia que não é solteira, mas casada com Thomé Pereira. São ouvidas várias escravas do Capitão mor Manoel de Abreu Soares. Aliás, no lugar de citar, novamente, o Sargento mor Antonio Gonçalves Ferreira, deveria ser citado o Sargento mor Manoel de Abreu Soares. Lembramos que o primeiro foi Presidente interino da nossa Província e o segundo participou da Guerra dos Bárbaros.
O processo acima é um documento valioso, com riquíssimos detalhes, para diversos estudiosos da História do Rio Grande do Norte e merece uma transcrição mais completa. Quem puder que se habilite.

Genealogia de Afonso de Ligório Alves Bezerra

Nesta terça-feira, dia 9 de junho, completa 102 anos do nascimento de Afonso Bezerra. Infelizmente, até o presente momento, não foi reeditado o livro que Manoel Rodrigues de Mello organizou, com toda a produção do escritor. É uma obra esgotada. Só consegui ler o mesmo através de um exemplar existente na Biblioteca Zila Mamede. Depois, por uma obra do acaso, encontrei um volume em um sebo que comprei por R$ 5,00. A obra não tinha sido aberta, pois, precisei de uma espátula para separar as folhas. Hoje, vamos fazer uma genealogia desse grande escritor que nasceu na povoação de Carapebas, do Município de Angicos. De 9 a 13 de Junho, o Município de Afonso Bezerra estará comemorando o nascimento do seu ilustre filho. No sábado, dentro das comemorações, irei fazer o lançamento do livro "Servatis ex more Servandis".
João Barbosa da Costa, português que vivia no Açu, e sua esposa Damásia Soares eram ascendentes diretos de Afonso Bezerra de forma múltipla, pois, pelo menos quatro filhos deles eram ascendentes do escritor: Anna Barbosa da Conceição casada com Antonio Lopes Viégas, Francisco Xavier da Cruz casado com Lourença Dias da Rosa, Antonio Barbosa da Costa casado com Claudiana Francisca Bezerra e João Manoel da Costa casado com Angélica Maria da Conceição. Os casamentos entre familiares criaram essa multiplicidade de ascendências para João Barbosa da Costa e Damásia Soares. É por conta desse casal ilustre que todo mundo daquela região é parente de Pedro Avelino, Georgino Avelino, Afonso Bezerra e Capitão José da Penha, todos nomes de municípios do Rio Grande do Norte.
De Anna Barbosa da Conceição e Antonio Lopes Viégas saíram os ascendentes de Afonso Bezerra, Michaela Archangela casada com João Pereira Pinto e Felipa Maria Duarte casada com Antonio Martins dos Santos. O primeiro casal gerou João Ignácio Pereira Pinto. Este casou com Anna Xavier, filha de Vicente Ferreira Barbosa, também da família. João Ignácio e Anna Xavier geraram Antonio Pedro Alves Bezerra. Este casou com Anna Jovina e juntos  geraram João Batista Alves Bezerra, pai de Afonso Bezerra. O segundo casal gerou Joaquina Maria do Rosário. Esta casou com Vicente Ferreira da Costa e Mello do O'. Este último casal  gerou Alexandre Avelino da Costa Martins. Este casou com Anna Francisca Bezerra e juntos geraram Anna Jovina da Costa Bezerra, mãe de João Batista Alves Bezerra, pai de Afonso.
De Antonio Barbosa da Costa e Claudiana Francisca Bezerra saiu o ascendente Tenente Coronel Antonio Francisco Bezerra da Costa. Este casou com Agostinha Monteiro de Souza e juntos geraram Anna Francisca Bezerra, já citada.
De João Manoel da Costa e Angélica Maria da Conceição saíram dois ascendentes, Agostinha Monteiro de Sousa casada com o Tenente Coronel Antonio Francisco Bezerra da Costa e Vicente Ferreira da Costa e Mello do O' casado com Joaquina Maria do Rosário. Pelas informações acima se verifica as descendências até Afonso Bezerra.
O casal João Manoel e Angélica Maria gerou, ainda, João Manoel da Costa e Mello casado com Anna Martins dos Santos, filha de Antonio Martins dos Santos e Felipa Maria Duarte. João Manoel e Ana Martins geraram Sabina Martins dos Santos. Esta casou com Agostinho Barbosa da Silva. O casal gerou Maria da Silva  que casou com Francisco de Sousa Monteiro. Este último casal eram pais de Maria Monteiro, mãe Afonso Bezerra. Agostinho Barbosa da Silva era filho de Balthasar da Rocha Bezerra e Josefa Maria da Silva.
Francisco Xavier da Cruz e Lourença Dias da Rosa geraram dois ascendentes, Joaquina Maria de  Santana casada com Pedro Francisco da Costa e Mathildes Quitéria da Cruz casada com José Antonio de Mello. O primeiro casal gerou Maria Severina de Jesus que casou com Antonio de Sousa Monteiro, filho do segundo casal. Maria Severina e Antonio Monteiro geraram Francisco Monteiro de Sousa, citado acima.
A ascendência de Afonso cresce mais com Lourença Dias da Rosa, pois, ela era filha de Antonio Dias Machado e Francisca Lopes Xavier. Antonio Dias Machado era filho de João Machado de Miranda e Leonor Duarte de Azevedo. Francisca Lopes Xavier era filha de Luiz Duarte e Lourença Lopes Xavier. Todos  viviam em Utinga, São Gonçalo do Potengi.
Vamos transcrever agora o casamento de Anna Jovina e Antonio Pedro Alves Bezerra, avós de Afonso.
"Aos 14 de Outubro de 1879, pelas cinco horas da tarde no Sítio Carapebas, nesta Freguesia precedendo dispensas de sangüinidade e as Canonicas Denunciações, sem impedimentos, confissões, exames de Doutrina Cristã, em minha presença, e das testemunhas José Avelino Martins Biserra e Vicente Simplicio Xavier da Costa, se uniram  em matrimonio, e  logo tiveram as bênçãos nupciais os nubentes Antonio Pedro Alves Biserra, e Anna Jovina da Costa Biserra, naturais e moradores nesta mesma Freguesia, e filho legítimos; ele de João Ignácio Pereira Pinto, e Anna Francisca Xavier, falecida; e ela, de Alexandre Avelino da Costa Martins, e Anna Francisca Bizerra. Do que faço este termo em que assino. O Vigário Felis Alves de Sousa."
As dispensas de sanguinidade denunciam parentesco entre os nubentes.
São filhos do casal Antonio Pedro e Anna Jovina: Matheus nascido em 28/7/1888, e padrinho João Ignácio Pereira Pinto; Maria nascida em 18/11/1886, e padrinhos Alexandre Avelino Martins de Maria e Anna Maria Xavier da Costa; Danúbio nascido em 4/4/1882, e padrinhos Alexandre Avelino da Costa Martins e MarcelinaVarella Borges e Anna Maria Alexandrina Bezerra; Jacob Avelino Bezerra foi vice-prefeito de Angicos. Júlio nascido em 12/4/1885, e padrinhos Joaquim Avelino da Costa Bezerra e Joaquina Francisca da Costa Bezerra. Júlio Alves Bezerra, vigário do Assú, tornou-se monsenhor. João Baptista Alves Bezerra que casou com Maria Monteiro Bezerra e Antonio Pedro Alves Filho.
Afonso Bezerra morreu no dia 8 de março de 1830, com 22 anos de idade. Completaria os 23 anos em 9 de junho de 1930.

Francisco José de Mello Guerra

O português Francisco José de Mello Guerra, também, fazia parte da lista dos fundadores de Macau. Até o presente, não encontrei qualquer registro que documente sua naturalidade. Entretanto, encontramos alguns registros de seus familiares. Mais um passo para a reconstituição da História de Macau e da Ilha de Manoel Gonçalves. Comecemos com o registro de um dos seus filhos.
"Floracio, filho legitimo de Francisco Joze de Mello Guerra, e Maria Francisca de Miranda, naturais, e moradores nesta Freguesia, nasceu aos dois de Novembro de mil oito centos e trinta e seis, e foi batizado com os Santos Óleos na Povoação de Maçáo aos quinze de Maio de mil oitocentos e trinta e sete pelo Reverendo Frei Joze de Santo Alberto, de minha licença: foram Padrinhos Eliziario Antonio Cordeiro, e Antonia Silvéria d'Oliveira, casados: do que para constar mandei fazer este assento, e por verdade assinei. O Vigário João Theotonio de Sousa e Silva"
O registro acima informa que os pais do batizado era natural da Freguesia de Santana do Matos. Pode ser um erro. Encontrei vários registros com equívocos semelhantes. O padrinho, como registramos no artigo anterior, era português de Lisboa e a madrinha da Serra de Martins. No registro a seguir, nenhuma menção a naturalidade dos pais.
"Elmira filha legitima de Francisco José de Mello, e de sua mulher Maria Francisca de Miranda foi baptizada solenemente na Capela de Nossa Senhora da Conceição de Macau pelo Reverendo Frei Antonio de Jesus Maria a 7 de Maio de 1845, tendo nascido a 26 de Janeiro do mesmo ano. Foram Padrinhos Jacinto João da Ora, e sua mulher Adrianna Pereira dos Anjos. E para constar fiz este assento em que me assino. O Padre Felis Alves de Sousa. Vigário Encomendado de Angicos."
O casal de padrinhos fazia parte, como já vimos em outro artigo, dos habitantes da Ilha de Manoel Gonçalves que fundaram Macau.
Elmira Perpétua de Mello Guerra casou, em três de Outubro de 1877, no Sítio Taboleiro Alto, com Manoel Correia de Mello Filho, viúvo de Ericina (parece ser este o nome) Francisca Guerra, tendo como testemunhas Prasilde Correa de Mello e José Correa de Mello Sobrinho. Houve dispensa de 1º grau de afinidade lícita e de sanguinidade. Acredito, que por isso, a segunda esposa deveria ser irmã da primeira. Nem encontrei o registro do primeiro casamento, nem o batismo de Ericina. Esse Prasilde era irmão do noivo e, ambos filhos de Manoel Correa de Mello e Marcelina Luisa da Silva.
Em onze de outubro de 1881, Elmira e Manoel Correia tiveram uma filha que foi batizada com o nome de Herocina, em Poço Verde, tendo como padrinhos Vicente Correa de Mello e Vicência Maria da Silveira, representando como procuradores dos mesmos os irmãos Prasilde Correa de Mello e Anna Joaquina Correa de Mello.
"Anna, filha legitima de Francisco José de Mello Guerra, e Maria Francisca de Miranda, nascêo as vinte e seis de Julho de mil oitocentos e quarenta e foi batizada aos vinte e nove de Setembro do mesmo ano no lugar supra (Macau) de minha licença com os Santos Óleos. Foram Padrinhos André de Sousa Miranda e Silva, e Florência Maria de Miranda solteiros, de que para constar fiz este assento, em que me assino. O Reverendo Manoel Januario Bezerra Cavalcante, Vigário Encomendado de Angicos."
Anna Joaquina de Mello Guerra casou, em vinte e três de Agosto de 1867, em Macau, com José Correa de Mello, filho legitimo de José Correa de Mello, na época falecido, e de Josefa Maria da Conceição, sendo testemunhas Prediliano Bernardino de Freitas Lobo e Joaquim Ferreira da Silva.
Esse Prediliano, testemunha, casou, em doze de Janeiro de 1855, em Macau, com Serafina Francisca de Mello Guerra, outra filha de Francisco José de Mello Guerra e Maria Francisca de Miranda, tendo como testemunhas Francisco Lins Wanderley e Gorgonio Ferreira de Carvalho, ambos casados. Maria Francisca era falecida nessa data como podemos ver do registro a seguir. Morreu jovem e de parto como era freqüente naquela época.
"Aos 26 de 7bro de 1850 foi sepultado na Capela de Nossa Senhora da Conceição de Macau, de grades acima, a adulta Maria Francisca de Miranda, branca, casada com Francisco José de Mello Guerra, com 33 annos de idade; faleceu de parto, e foi amortalhada em preto, encomendada pelo Reverendo Silvério Bezerra de Menezes;do que para constar, faço este assento em que me assino. Felis Alves de Sousa, Vigário Colado de Angicos."
Francisco José de Mello Guerra voltou a casar, possivelmente, com uma cunhada. Mas, sua esposa faleceu com pouco tempo de casada e, também, de parto como registramos a seguir. Veja acima, que Florência foi madrinha de Anna Joaquina de Mello Guerra.
Florência Maria de Miranda, mulher de Francisco José de Mello Guerra, foi sepultada em 1 de Junho de 1855, na Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Macau, com a idade de 34 anos, tendo falecido de parto. Com dois dias de nascido, na mesma data acima, foi sepultado, em Macau, Manoel filho de Francisco e Florência, falecido de espasmo.
Por fim o registro de óbito de Francisco José de Mello Guerra, infelizmente, sem a idade.
"Aos três de Abril de mil oitocentos e sessenta e cinco foi sepultado no Cemitério desta Villa o adulto Francisco José de Mellofiz este assento em que me assino. O Vigário Manoel Jerônimo Cabral"

Francisco José da Costa Coentro

Em primeiro lugar, vamos corrigir uma informação dada no artigo sobre Francisco José de Mello Guerra. Nesse artigo foi afirmado que o mesmo fazia parte da lista, comumente citada, dos habitantes da Ilha de Manoel Gonçalves que fundaram Macau. Embora, estivesse presente em Macau, como vimos pelos registros, de 1836 até a morte em 1865, na verdade, quem fazia parte desta lista não era ele, mas Francisco José da Costa Coentro. Em um documento que faz parte das "Falas dos Presidentes de Província", Francisco José de Melo Guerra é relacionado como Professor em Macau, em 1844. No mais está tudo correto. Vejamos os registros que foram encontrados para Francisco José da Costa Coentro.
 "Francisco filho legitimo de Francisco José da Costa Coentro e Anna Joaquina das Neves, nasceu a 4 de 8bro de 1844 e foi batizado solenemente pelo Reverendo David Martins Gomes na Capela de Nossa Senhora da Conceição de Macau aos 9 de Janeiro de 1845, sendo Padrinhos Silvério Martins de Oliveira e Joanna Nepomucena Oliveira; e para constar fiz este assento em que me assino, o Padre Felis Alves de Sousa, Vigário Encomendado de Angicos."
"Cândida, filha legitima de Francisco José da Costa Coentro, e Anna Joaquina das Neves, nasceu aos vinte e oito de Setembro de mil, e oitocentos, e quarenta, e foi batizada aos vinte de Agosto do mesmo ano em Macáo pelo Padre Antonio Francisco da Silva, que lhe impôs os Santos Óleos de minha licença. Foram Padrinhos Silvério Martins de Oliveira, e  Joanna Nepomucena de Oliveira, casados, do que para constar fiz este assento, em que me assino, Padre Manoel Ignácio Bezerra Cavalcante. Vigário Encomendado de Angicos."
Nesses registros acima, assentados em Angicos, o casal de padrinhos, Capitão Silvério Martins de Oliveira e sua esposa Joanna Nepomucena de Oliveira, teve uma presença muito forte na Ilha de Manoel Gonçalves. Em outro artigo, falaremos mais sobre Silvério e Joanna.
"Aos oito de abril de 1846 na Capela de Nossa Senhora da Conceição de Macao foi sepultado o párvulo Emygdio, branco, de idade de hum mês filho legitimo de Francisco José da Costa Coentro, envolto em branco e encomendado pelo Reverendo Frei Antonio de Jesus Maria; de que para constar faço este assento em que me assino. Felis Alves de Sousa. Vigário de Angicos."
O registro a seguir acredito que seja de um neto de Francisco José da Costa Coentro, possivelmente, filho do Francisco, cujo batismo registramos acima.
"Aos três de Outubro de mil oitocentos e noventa e dois foi sepultado no Cemitério Publico d'esta Cidade o párvulo Manoel, filho legitimo de Francisco José da Costa Coentro, e foi por mim encomendado. E para constar mandei fazer este assento em que me assino. O Paróco Francisco d'Assis Albuquerque."
O registro a seguir foi feito na Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação e os nubentes podem ser filhos, ele, de Francisco José da Costa Coentro e ela de Eliziário Antonio Cordeiro. Infelizmente não consta o nome dos pais dos nubentes.
"Aos nove de Julho de mil oitocentos e sessenta, feitas as denunciações, não constando impedimento, na presença das testemunhas Antonio Joaquim Cordeiro, e Francisco José da Cunha Sampaio, de minha licença, o Padre Antonio Francisco Areas, no Oratório Privado de Ilisiário Antonio Cordeiro, casou Juxt Tridentinum, a Joaquim José da Costa Coentro, moradores na Freguesia de Macau, com Joaquina Idalina  Cordeiro, moradora nesta Freguesia e deu as bênçãos nupciais na forma do Ritual Romano. E para constar fiz este assento, em que assino. Batholomeu da Rocha Fagundes, Vigário Collado."
Pela hipótese acima levantada, o registro a seguir pode ser de um neto de Francisco Coentro. Pela falhas de registros e pelas perdas de documentos, em alguns casos não podemos comprovar, mas, somente, especular.
"Aos cinco de Abril de mil oitocentos e sessenta e cinco sepultou-se no Cemitério desta Vila de Macau o párvulo Joaquim filho legitimo de Joaquim José da Costa Coentro com idade de vinte e oito dias, faleceu de espasmo, foi envolto em hábito preto e encomendado por mim. Do que para constar fiz este assento em que me assino. O Vigário Manoel Jerônimo Cabral."
Transcrevo outro batismo, pelo fato de aparecer dois membros da família Coentro, possivelmente, filhos de Francisco José e Anna Joaquina.
'Elisia, branca, filha legitima de Francisco Ferreira, e Ludgera Francisca das Neves Coentro, nasceu aos três de Outubro de mil oitocentos e  cinquenta, e sete, e foi batizada aos dezoito do mesmo mês e ano por mim com os sagrados óleos nesta Matriz: foram Padrinhos o alferes Joaquim José da Costa Coentro, e Rosa Cândida de Alexandria Coentro, solteiros, Do que para constar fiz este assento em que me assino. O Vigário Manoel Jerônimo Cabral."
No registro a seguir teremos idéia do ano que Francisco José nasceu. Vejamos, pois, seu óbito.
"Aos quartoze de Setembro de mil oitocentos e cinquenta e oito foi sepultado no Cemitério desta Vila o adulto Francisco José da Costa Coentro casado, com idade de cinquenta e oito anos envolto em hábito preto, encomendado por mim, do que para constar fis este assento que assino. O vigário Encomendado Manoel Januário Cabral."
Esses foram os registros encontrados até agora relativos a Francisco José da Costa Coentro.

Francisco de Borja Soares Raposo da Câmara

No artigo anterior, comprovamos, documentalmente, que Francisco de Borja Soares Raposo da Câmara era o pai do Advogado José de Borja Caminha Raposo da Câmara. Agora, neste artigo, vamos dar mais informações sobre Francisco de Borja.
No mês de março de 1824, ele e sua esposa Anna Francisca dos Milagres perderam três filhos, João, com dez meses; José, com cinco anos; e Francisca com dois anos de idade, todos sepultados na Capela de São José dos Angicos. Não consta do registro de óbito a causa da morte.
Mas a vida, no meio de tantas perdas, comuns naquela época, sem o mínimo de condições médicas, continuava. Francisco e Anna tiveram outros filhos, tendo, inclusive, repetido o nome de dois dos falecidos: João e José, como veremos adiante.
Anna, filha de Francisco e Anna, foi batizada em 15 de Novembro de 1832, na Capela dos Angicos, tendo como padrinhos Antonio Pereira Pinto, casado e Isabel Duarte Xavier, por procuração que apresentou Damásia Francisca Pereira. Esta última era filha de João Pereira Pinto e Michaela Archangela Lopes.
João, filho do casal Francisco e Anna, nasceu aos vinte e seis de Fevereiro de mil oitocentos e trinta e cinco, e foi batizado, na Capela dos Angicos, em quinze de Março do dito ano, sendo padrinhos João Ignácio Pereira Pinto, casado e Maria Angélica da Conceição.
Em vinte nove de abril de mil oitocentos e sessenta e sete, Joaquim Varella Venâncio Borges, viúvo de Emilia Jacinta Torres, casou com Maria Florência Raposo da Câmara, filha de Francisco e Anna, tendo como testemunhas José Gomes de Amorim e Manoel Jerônimo Maria Raposo da Câmara. Manoel Jerônimo era irmão da noiva. Esse "Maria", que aparece no meio do nome de Jerônimo, é um mistério que ainda não consegui desvendar. Por volta de 1862, muitos indivíduos acrescentaram esse "Maria" ao sobrenome.
Em 21 de Fevereiro de mil oitocentos e sessenta, na Vila de Macau, João de Borja Caminha Raposo da Câmara, filho do casal Francisco e Anna, casou com Maria Emília Dantas Cavalcante, filha de Manoel Dantas Cavalcante e Michaela Cândida Raposo da Câmara, sendo testemunhas José de Borja Caminha Raposo da Câmara e Arsênio Alves da Silva. Embora, não conste no registro, os contraentes eram parentes, pois Michaela era irmã de João de Borja e José de Borja. Portanto, João casou com uma sobrinha.
Um outro filho de Michaela Cândida e Manoel Dantas, Manoel Olímpio Dantas Cavalcante, portanto, neto de Francisco e Anna, casou a primeira vez com Anna Maria da Conceição, filha de Miguel Francisco da Costa Machado e Anna Barbosa da Conceição e a segunda vez com Emygdia Bezerra da Costa Avelino, irmã do Jornalista Pedro Avelino e do Advogado Emygdio Avelino. Aliás, foram testemunhas desse segundo casamento, Pedro Avelino, o Jornalista, e André Avelino da Trindade, filho de meu bisavô João Felippe da Trindade, e sobrinho de Anna Maria da Conceição.
Duas irmãs de Anna Maria da Conceição casaram com dois filhos de Francisco e Anna. Francisca Ritta Professora casou com Manoel Jerônimo e, Umbelina Maria do Espírito Santo com Manoel de Borja. Nos registros desses casamentos houve dispensa de consangüinidade, denunciando, portanto, parentesco entre os nubentes que ainda não consegui decifrar, mas acredito que ele se dava através de Anna Francisca dos Milagres, mãe dos noivos. Anna, talvez fosse filha de João Pereira Pinto e Michaela Archangela Lopes. Michaela era prima legítima de Miguel Francisco da Costa Machado. Francisco de Borja foi testemunha nos casamentos de João Ignácio Pereira Pinto e Damásia Francisca Pereira, filhos de João e Michaela.
Manoel Jerônimo, já citado acima, aparece no artigo de Luis da Câmara Cascudo sobre o Advogado José de Borja. Segundo o mestre Cascudo, Manoel Jerônimo Caminha Raposo da Câmara e Francisca Rita Professora "eram os avós da Professora Herondina Raposo da Câmara Caldas, de inesquecível dedicação educacional, casada com Perceval de Faria Caldas".
Um registro interessante que sugere uma pista é o batismo de Antonia filha de João de Deus, escravo de Gabriel Soares Raposo da Câmara, em 1835, na Matriz de São João Batista do Açu. Foram padrinhos Francisco de Borja Soares Raposo da Câmara e sua mulher Anna Francisca dos Milagres, por procuração que apresentaram Octaviano Soares Raposo da Câmara e Florinda Saraiva Monteiro. É possível que Francisco de Borja seja irmão de Gabriel Arcanjo, pais dos Cabrais. Estes últimos, pelos registros, nasceram por volta de 1820 e Francisco de Borja por volta de 1793, como podemos deduzir pela informação abaixo. Assim, o Advogado José de Borja, seria sobrinho de José Barbosa Caminha Raposo da Câmara.
No dia 30 de Julho de 1857, foi sepultado na Matriz de Macau, Francisco de Borja Raposo da Câmara, branco, com a idade de 64 anos, esposo de Anna Francisca dos Milagres, de grades acima.

Eliziário Antonio Cordeiro

Outro português que vivia na Ilha de Manoel Gonçalves e está na lista dos fundadores de Macau era Elisiário Antonio Cordeiro. Ele era casado com Antonia Silvéria de Oliveira. Desconfio, por uma série de registros, que Antonia tinha algum parentesco, talvez filha, com o Capitão Silvério Martins de Oliveira, primeiro administrador da Mesa de Rendas Estaduais de Macau, criada em 1836. Na eleição de 3 de Dezembro de 1821, para Junta Constitucional do Rio Grande do Norte, o Capitão Silvério foi um dos três representantes de Apodi, no colégio eleitoral de 43 eleitores de paróquia. No registro a seguir poderemos conferir a naturalidade do casal.
"Manoel, branco, filho legitimo de Elisiário Antonio Cordeiro, e Antonia Silveria de Oliveira, naturais, ele da cidade de Lisboa, ela da Serra de Martins, e moradores nesta Freguesia, nasceu aos trinta de Outubro de mil oitocentos e trinta, e foi batizado com os Santos Óleos na Ilha de Manoel Gonçalves, da Freguesia de São João Baptista do Assu, pelo Reverendo Vigário da mesma Joaquim José de Santa Anna, de minha licença, aos cinco de Dezembro do dito ano: foram Padrinhos Francisco José da Costa e Anna Joaquina das Neves: do que para constar mandei fazer este assento que por verdade assinei. O Vigário João Theotonio de Sousa e Silva."
O padrinho é, na verdade, Francisco José da Costa Coentro, outro português que veio da ilha para povoar Macau, segundo Câmara Cascudo. A madrinha era a esposa dele. Outro filho que nasceu na Ilha foi Joaquim. Vejamos seu registro.
"Joaquim, filho legitimo de Elisiário Antonio Cordeiro, e de sua mulher Antonia Silveria de Oliveira, moradores nesta Freguesia, nasceu a dois de Setembro de mil oitocentos, e trinta e dois, e foi batizado solenemente com os Santos Óleos na Capela da Ilha de Manoel Gonçalves, aos vinte quatro do mesmo mês e ano pelo Reverendo Frei Antonio de Jesus Maria Lobo, de licença; foram Padrinhos Silvério Martins de Oliveira, e sua mulher Joanna Nepomucena: do que para constar fiz este assento, e por verdade assinei. Ignácio Damaso Correa Lobo, Coadjutor Pro Parocho."
O batismo de João,filho de Eliziário foi em Guamaré. Vejamos:
 "Aos vinte de Maio de mil oitocentos e trinta e cinco na Capela de Guamaré, filial a esta Matriz de Santa Anna do Mattos de Assu, de licença do Reverendo Senhor Vigário da mesma João Theotonio de Sousa e Silva, o Reverendo Senhor David Martins Gomes Delgado Freires batizou solenemente e pôs os Santos Óleos a João nascido aos sete deste filho legitimo de Elisiário Antonio Cordeiro e sua mulher Antonia Silveria de Oliveira moradores nesta Freguesia: foram Padrinhos Silvério Martins de Oliveira, e Joanna Nepomucena de Jesus solteira, do que para constar fiz este assento, e por verdade assinei. O coadjutor Pro Parocho Ignácio Damaso Correa Lobo."
Silvério foi padrinho, novamente, desse outro filho de Eliziário. Acredito que a Joana, madrinha, era filha do casal Silvério e Joana Nepomucena. Em um batismo, na Ilha, de um filho de Francisco Vieira de Mello, aparecem como padrinhos Eliziário e Joana Nepomucena, revelando, mais uma vez, uma relação entre eles. Outra observação é que, naquela época, os batismos das pessoas que tinham algum vínculo com a Ilha, ocorriam em locais variados como Guamaré, Oficinas, e Macau.
Outro fato interessante foi o falecimento de uma filha de Eliziário em Natal, no período em que ele vivia na Ilha. Na seqüência, o óbito de um filho com 9 anos.
"Aos treze de Maio de 1833, faleceu da vida presente a menor Maria filha de Eliziario Antonio Cordeiro, branca, foi sepultada na Capela da Ribeira. Para constar fis este assento. Bartholomeu da Rocha Fagundes. Vigário Collado."
"Aos 9 de Abril de 1846 foi sepultado na Capela de Nossa Senhora da Conceição, o adultero (adulto) Guilherme filho de Elisiário Antonio Cordeiro, branco, de idade de 9 annos envolto em hábito de São Francisco e encomendado pelo Reverendo Frei Antonio de Jesus Maria. Do que para constar mandei fazer este assento em que me assino. Felis Alves de Sousa, Vigário Collado de Angicos."
No livro, "Questão de Limites", de Vicente Lemos e Tavares de Lira, encontramos dois itens referentes à Eliziário Antonio Cordeiro. Vejamos, primeiro, o casamento de um filho dele de mesmo nome. Havia um parentesco com a noiva.
"Aos doze de novembro de mil oitocentos e sessenta e nove, na Barra de Mossoró, pelas quatro horas da tarde, tendo precedido dispensa de sanguinidade e canônicas denunciações sem impedimento, exame de doutrina,confissão e comunhão ,de licença minha, em presença do Reverendo João Urbano de Oliveira, e das testemunhas Alexandre Soares do Couto e Alexandre Manoel de Souza, casados e moradores desta freguesia se receberam em matrimonio por palavras de presentes e tiveram as Bênçãos Nupciais os contraentes Elisiario Antonio Cordeiro e Antonia Cordeiro de Carvalho naturais da freguesia de Macáo e nesta moradores, filho legítimos, ele de Elisiário Antonio Cordeiro e Antonia Joaquina Cordeiro, falecida, e ela de Gorgonio Ferreira de Carvalho e Anna Joaquina Cordeiro, do que fez o dito Padre assento e assinou com as testemunhas, o qual reduzi ao presente termo e as assino. Antonio Joaquim Rodrigues, paróco colado de Mossoró."
Alguns registros alteram o nome dos personagens. No caso presente, Antonia Silvéria de Oliveira teve seu nome escrito como Antonia Cordeiro de Carvalho.
velame e mastreação do Lugre Norueguense "Solcha" os mestres calaphates e carpinteiros  Manoel Joaquim do Valle e Elisiário Antonio Cordeiro". Acredito que se trata, pela data, de Eliziário, o filho.

De onde surgiu João Alves Martins

A Genealogia exige muita paciência e cautela. Nem sempre é fácil conseguir encontrar boa parte de nossos ascendentes. Registros perdidos ou mal elaborados, dificuldades em cartórios e órgãos que deveriam preservar os documentos, tudo isso concorre para alguns insucessos. A tradição oral vai, a cada geração, distorcendo as informações do passado. São necessárias muitas informações para se chegar a uma conclusão.
Em carta a Max Planck, Einstein escreveu: "Você acredita num Deus que joga dados, e eu em lei e ordem absolutas." Acho que Einstein se precipitou. A Ordem contém o Caos e vice-versa. Entre as leis, há as das probabilidades e das incertezas. O mundo é probabilístico. Não é verdade que nada é por acaso. Antes de qualquer coisa acontecer houve escolhas. E são as escolhas que fazem do nosso mundo, um mundo de incertezas. Caso contrario, seria um tédio só. E a vida é mais interessante por conta das imprevisibilidades.
Cada um de nós tem dois pais, quatro avós, oito bisavós, 16 tetravós, e assim por diante. Se nossos ascendentes não casassem dentro da própria família, na décima geração, para cima, contando a partir dos nossos pais, teríamos 1024 ascendentes. Cada um deles contribuindo com uma parte da sua genética para que nós existíssemos hoje. Quando cada um fez a escolha do seu par, estava criando a possibilidade de nossa existência. Uma outra escolha diferente e, com certeza, um de nós não existiria hoje. Mais ainda, eles trilharam caminhos difíceis para que nós tivéssemos certo conforto. Buscar conhecer a história de nossos ancestrais é uma forma de tributo a eles. A genealogia não é um "Catálogo de Vaidades" como queriam alguns.
Escolhemos João Alves Martins como um exemplo das dificuldades que podemos encontrar na Genealogia, para reconstituir uma história. Tudo começou quando encontrei o seguinte registro na Freguesia de Touros.
Aos vinte e oito de Maio de mil oitocentos e cinqüenta e quatro nesta Matriz, em minha presença, e das testemunhas João Severiano Moraes e Victoriano Rodrigues dos Santos, se receberam por palavras de presente, e mútuo consenso, João Martins Ferreira ,filho natural de Delfina Maria dos Prazeres, e Anna Maria de Jesus, filha legitima de Bernardino Moraes de Sena e Maria do Nascimento; depois de corridos os proclamas sem impedimento e, precedidos das mais formalidades do estilo, lhes dei as bênçãos nupciais do Ritual Romano, do que fiz este assento. O vigário Amaro José de Carvalho.
O registro acima é um daqueles onde faltam algumas informações importantes como, por exemplo, a naturalidade dos nubentes e onde moram. Esse registro me chamou a atenção, por conta de dois nomes: João Martins Ferreira e Delfina Maria dos Prazeres.  Nas minhas pesquisas anteriores, João Martins Ferreira, Capitão, era o nome do pai de José Martins Ferreira; Delfina Maria dos Prazeres era o nome da mãe dos filhos naturais do José Martins Ferreira. 
Primeiramente, em registros isolados, encontrei três filhos naturais de Delfina e José Martins Ferreira. Eram eles José, Josefa e Joaquim. Depois, em uma página só, encontrei repetido esses nomes mais o de Manoel. Esses segundos registros, na verdade, tinham a finalidade do pai reconhecer "para a todo tempo constar" que aquelas crianças eram seus filhos, o que não constava nos registros anteriores, embora citasse o nome do pai. Em nenhum desses documentos apareceu o batismo de um João.
Além de não encontrar, nos registros anteriores, o de Manoel, havia algumas divergências entre os primeiros documentos e os segundos. Enquanto nos segundos os batismos foram todos em Macau, nos primeiros as localidades eram diferentes. José, na Capela de Nossa Senhora da Conceição de Guamaré; Josefa, na Capela de Nossa Senhora da Conceição da Ilha de Manoel Gonçalves, e somente Joaquim na Capela de Nossa Senhora da Conceição de Macau. Houve, também, divergências nas datas de batismo e nascimento de Joaquim. Para o nascimento, diferença de dois dias, para o batismo, de quatro dias. Quanto a José Martins Ferreira, no batismo de José, ele aparece como Alferes.
Outro detalhe, nessas repetições de documentos, é com relação a Delfina Maria. Nos primeiros documentos, seu nome era Delfina Maria dos Prazeres, enquanto nos segundos, em alguns registros aparece Delfina Maria da Conceição. O detalhe mais interessante sobre Delfina está no registro de Joaquim, onde consta que José Martins Ferreira era solteiro, e ela casada.
Esse João que casou com Anna Maria de Jesus, em Touros, tinha toda chance de ser mais um filho de José Martins e Delfina Maria. Para se pesquisar sobre os Martins Ferreira, buscamos as freguesias de Macau, Angicos, Açú e Santana do Matos. Não encontrei o registro de batismo de João, e nem o reconhecimento por parte do pai. Entretanto, para confirmar nossa hipótese de ser um filho natural de José e Delfina, ele reaparece com o nome João Alves Martins, que explico mais adiante porque. Vejamos alguns registros dos filhos dele.
O primeiro registro que encontrei foi de Manoel, batizado em 6 de Janeiro de 1857, filho de João Alves Martins e Anna Maria de Jesus, moradores nas Cacimbas, e batizado na Capela de Nossa Senhora do Rosário, tendo como padrinhos Manoel José Martins e Josefa Clara Martins, casados; depois encontrei o batismo de Francisca, em 13 de fevereiro de 1859, filha de João Alves Martins e Maria de Jesus (acredito que escapuliu o primeiro nome, Anna), tendo como padrinhos Joaquim José Martins e Prudência Teixeira Martins; por fim, apareceu o batismo de Antonio, (nascido em 14 de Março de 1860), e batizado em 17 de Agosto do mesmo ano, filho de João Alves Martins e Anna Maria de Jesus, tendo como padrinhos Manoel José Martins e Isabel Cândida Martins Ferreira, por procuração de Anna Theodora Martins Ferreira;
Os padrinhos ManoelManoel e Joaquim, de José Martins Ferreira e Delfina Maria dos Prazeres.
Quando o Major José Martins Ferreira casou com Josefina Maria Ferreira, possivelmente, em 1835, colocou o nome de dois filhos desse casamento, José e João. Assim para diferençar dos naturais, eles tinham alterações nos sobrenomes; os naturais eram José Alves Martins e João Alves Martins e os 'legítimos" José Martins Ferreira e João Martins Ferreira. Por isso, que o nubente trocou o sobrenome.