sábado, 11 de abril de 2020

O depoimento de João Machado de Miranda, meu hexavô

Por João Felipe da Trindade
jfhipotenusa@gmail.com



Durante muito tempo venho buscando informações sobre as origens do meu hexavô, João Machado de Miranda, que vivia aqui na Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação. Além de ser meu ascendente, ele é também de muitas pessoas de Angicos e redondezas. Sua neta Lourença Dias da Rosa se casou, na Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres e São Miguel da Vila de Extremoz, em 1774,  com Francisco Xavier da Cruz, morador na Freguesia de São João Batista do Assú,  gerando meus trisavós Vicente Ferreira Xavier da Cruz e Miguel Francisco da Costa Machado, figuras proeminentes na Vila de Angicos.  O primeiro registro que tinha dele era do ano de 1706, quando batizou a filha Felizarda na Capela de  São Gonçalo do Potengi, e o segundo, de 1709, quando batizou o filho João, na Capela de Nossa Senhora do Socorro de Utinga. Minha hexavó, sua mulher se chamava Leonor Duarte de Azevedo. De ambos não tinha qualquer informação de suas origens, nem de suas ascendências. Mas agora, neste ano de 2020, descobri alguns detalhes da vida desse meu ascendente, através de um processo de habilitação ao Santo Ofício, a que se submeteu Damião Pires. João Machado de Miranda foi um das testemunhas, em 1741,  para dar informações sobre os parentes do habilitando e de sua mulher. Desse processo extrai alguns detalhes de  sua vida, começando por sua apresentação.
João Machado de Miranda, casado, pardo, tido e havido como cristão velho, vive de suas lavouras, seus gados, natural da Freguesia de Santo Amaro de Jaboatão, da Capitania de Pernambuco, morador nesta Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação da cidade do Rio Grande do Norte, há 60 anos, e de presente no Capim Assú, sítio próprio, desta dita Freguesia, de idade que disse ser de 70 anos, mais ou menos alguma coisa.
Por esse dados numéricos, podemos supor que ele deve ter nascido por volta de 1671, e ter vindo para nosso Rio Grande no ano de 1681.
No seu testemunho disse não conhecer Damião Pires, nem sua mulher Ana Felícia de Mendonça, e que não conhecia de sua geração, porém o conhecia de vista na praça de Pernambuco, branco, e que dele tinha boa informação, mas que conhecia muito bem os pais da mulher do dito habilitando Damião Pires, o capitão-mor Manoel João da Silveira e Dona Maria de Brito Maciel, a esta não pelo nome, mas de vista, e sabia ser filha de Belchior de Brito, e Ana de Mendonça,e esta era afilhada da senhora da casa, onde ele, informante, se criou.
Aqui a informação de que foi criado na casa da madrinha de Ana de Mendonça , embora não tinha citado o nome da dona da casa.
 Disse mais, meu hexavô, que  conhece, também,  os pais de Ana de Mendonça, os quais eram Tomé Rodrigues e Maria Candelária, cujo casal veio das partes das Ilhas, e que conheceu as ditas pessoas, por ir muitas vezes, continuamente, a sua casa enquanto ele, informante, esteve naquela praça de Pernambuco. 
Disse mais que Ana de Mendonça, fora casada com Belchior de Brito, homem do Reino, o qual ele conheceu muito bem, e ser pai da mulher do capitão-mor Manoel João da Silveira, mãe do habilitando Damião Pires, e de todas as mais pessoas, que ele, informante, tinha manifestado e conheceu eram brancos, e procederam sempre limpa e honradamente, naquela praça de Pernambuco, tanto no tempo em que ele, informante, morou naquela capitania, como depois que veio para esta terra, ou muitas vezes que foi ao dito Pernambuco.
Aqui revela que mesmo já aqui, foi muitas vezes a Capitania de Pernambuco.
Também disse o dito informante, que depois que veio para este Rio Grande, conheceu o capitão-mor Manoel João da Silveira, natural desta Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação, da cidade do Rio Grande do Norte, desde menino até ser moço, e então se foi para as Minas do Rio de Janeiro, e de lá veio a praça de Pernambuco, onde se casou com a filha de Belchior de Brito, que se diz ser Dona Maria de Brito Maciel.
Continuando, disse João Machado de Miranda, que conheceu muito bem Antônio Lopes Lisboa, o qual ensinou a ler a ele informante, e a sua mulher Ana da Silveira, de cujo nome se não lembrava ele, tristemente, já por serem passados os tantos anos, os quais eram pais do capitão-mor Manoel João da Silveira, mas que o conhece e tratou até seu falecimento, todos os seus filhos, e disse que o dito Antônio Lopes Lisboa, a quem ele, informante, veio a tratar por capitão, era  homem do Reino, branco, e que ele nestas terras o conheço por tratar de suas lavoura, ter gado no sertão, e senhor de um barco, que andava nesta Costa, e por último foi morar no seu Sítio de Pirangi, desta Freguesia, e só ouvira dizer, ele informante, que quando o dito Antônio Lopes Lisboa veio para este Rio Grande, vendeu fazenda.
Vi várias assinatura de meu hexavô em registros de casamento, e aqui ele revela que aprendeu a ler com o capitão Antônio Lopes Lisboa.
Disse mais o informante que não só conhecera a mulher de Antônio Lopes Lisboa, mas que lhe conhecera mais duas irmãs neste Rio Grande, casadas, porém que não conhecera os seus pais, nem ouviu falar neles, estes todos gente branca, sem nódoa alguma, e não só a mulher do dito  Antônio Lopes Lisboa, como as mais irmãs eram naturais deste Rio Grande, conforme parecia a ele informante, por ouvir dizer eram órfãs neste lugar e quando ele veio para esta terra já as achou casadas.
Na verdade, através de outros testemunhas, vi que os pais de Ana da Silveira tinham morrido afogados quando atravessavam uma lagoa em um barco. Ele se chamava Manoel Machado, e tinha o apelido de Machadinho.
 E disse o dito informante que de todas as pessoas que tem informado nunca viu ou ouviu dizer que nem elas nem seus ascendentes, nem pessoas de sua geração fossem presas nem penitenciadas pelo Santo Ofício, nem ocorreram em alguma pena vil e só conhecera uma dessas irmãs da mulher de Antônio Lopes Lisboa, ser casada com o alferes Francisco Pires, o qual tinha casta de pardo cor branca se dizia e a ele informante parecia. Também disso o dito informante que ambas as gerações conforme viu e ouviu sempre foram tidos e conhecidos por cristãos velhos... e não só com o capitão-mor Manoel João da Silveira, mas com todos seus irmãos tratou e comunicou que foram muitos e entre eles um sacerdote que neste Rio Grande disse a sua primeira missa aos naturais desta dita Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação da cidade do Rio Grande do Norte Bispado de Pernambuco, filhos todos legítimos do dito Antônio Lopes Lisboa e da dita sua mulher Ana da Silveira, e não disse mais.
Esse padre que de que fala meu hexavô, se chamava Félix da Silveira, que foi morar no Rio de Janeiro, onde já morava um seu irmão de nome Manoel Lopes.

Através da documentação do Padre Félix da Silveira, quando se quis habilitar para se ordenar,  irmão de Manoel da Silveira, que se conseguiu descobrir os pais de Antônio Lopes Lisboa e de sua mulher Ana da Silveira, que foram, dele, Antônio Gomes e Ângela Lopes, da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Lisboa, e dela, Manoel Machado e Maria Ribeira, ambos da cidade do Rio Grande. Só que esta última informação não é de toda verdadeira. Manoel Machado por uma das outras testemunhas era português.