segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A carta de João Ferreira Domingues Carneiro

Complementando o artigo anterior, vejamos na íntegra, a carta do Juiz João Ferreira Domingues Carneiro

João Ferreira Domingues Carneiro, o Juiz

João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
A Genealogia já interessa muitas pessoas neste país. Sempre recebo pedido de informações de algumas em busca de seus antepassados.
Mario Bittemilher manda um e-mail com as seguintes informações: minha bisavó, por parte de pai, era filha de escravos em Macau e foi entregue a um padre. O nome dela era Francisca Antônia da Conceição (1894-1991), sendo seus pais biológicos Jerônimo Antônio de Souza e Antonia Maria da Conceição, e teve como pais adotivos João Ferreira Domingues Carneiro e Antonia Joana da Conceição. Com esses dados pedia orientação para pesquisar sobre essas pessoas. Depois, ele mandou mais informações, dizendo que ela foi criada pelo padre Carneiro, filho de João Ferreira Domingues Carneiro e Antonia Joana da Conceição, e que seu pai adotivo era Juiz, e que o padre foi para o Rio de Janeiro.
 Com as informações acima, procurei o livro de Monsenhor Severino, Levitas do Senhor, que trata da biografia de diversos padres, e entre eles encontrei o Padre Francisco Otaviano da Nóbrega Domingues Carneiro. Nesse livro há a transcrição do batismo do padre Francisco, constante do arquivo paroquial de Macau: aos vinte e cinco de outubro de mil oitocentos e noventa e seis, na Igreja Matriz, o Reverendo José Calazans Pinheiro, batizou solenemente a Francisco, nascido a trinta de setembro do dito ano, filho legítimo do Dr. João Ferreira Domingues Carneiro e Josefina da Nóbrega Domingues Carneiro, sendo seus padrinhos Joaquim Álvares da Nóbrega e Francisca Herculana da Nóbrega, representados por Francisco Tertuliano de Albuquerque e Raimunda Adelaide de Saboia Albuquerque, do que para constar fiz este termo que assino. Cônego Vigário Estevão Jose Dantas, encarregado da Freguesia.
O batismo acima corrige a informação sobre a mãe do padre e fica a dúvida se o Juiz Domingues Carneiro teve uma segunda esposa. Pegando carona nas informações de Mário Bittemilher, resolvi descobrir mais sobre o Juiz.
Sem muitas informações nos meus arquivos fui à busca da Hemeroteca da Biblioteca Nacional. O Caixeiro, do jornalista Pedro Avelino, datado de junho de 1893, trata de uma tentativa de assassinato contra o ilustre Juiz de Direito da Comarca do Seridó Dr. Domingues Carneiro. Está registrado: Parece que o bandidismo disfarçado e hipócrita não podia tolerar ali a presença de um magistrado superiormente inteligente e enérgico, como o honrado Dr. Carneiro, que não se quis prestar, nem se prestará jamais a manivela de quem quer que seja. E, como a impunidade do crime e os arranjos judiciários não encontrassem molde no reto espírito do digno moço, tornou-se preciso eliminá-lo.
 Pelas 9/2 horas da noite achava-se a vítima na residência do honrado capitalista e fazendeiro capitão Joaquim Álvares da Nóbrega, e tomara assento á mesa do chá, com a família do seu ilustre hóspede e vários amigos. Corriam cordiais e animadas palestras e refeição, quando, de repente, por uma janela fronteira, sicários mascarados apontam a cabeça do juiz de direito e desfecham as garruchas.
Por um casual e feliz movimento, que então fizera Dr. Carneiro, as balas não o atingem, ficando, porém, ferido por vários bagos de chumbo na cabeça e nos ombros. O Dr. Belarmino Pinagé, que se achava ao lado do juiz de direito, escapou igualmente de ser morto, e bem assim o jovem Josué da Nóbrega, filho do dono da casa.
Mas, essa história não cessou com o atentado, em 24 de junho de 1893. O Juiz escreveu uma longa carta no jornal "O Caixeiro", em 3 de outubro de 1893, respondendo acusações feitas, em outro jornal, por conta de acontecimento ocorridos, em 18 de agosto de 1893, na Vila de Santa Luzia,   por Januncio, Diógenes e Abdon Nóbrega, "parentes ingratos e desprezíveis, que, sem coragem de atacar a descoberto, procuraram aquele meio para incomodar, ridicularizar e caluniar ao seu honrado e respeitável tio o capitão Joaquim Álvares da Nóbrega, que tem o grande crime de ser meu dedicado amigo, e haver por duas vezes estado próximo de ser meu sogro". Nessa carta conta que os inimigos "vendo providencialmente nulificada a ação de bacamarte e de bala posta em ação contra mim na noite de 24 de junho, não hesitaram nem tiveram a mão trêmula, ao propinarem o veneno que devia fatalmente vitimar, como vitimou, as duas inocentes moças, condenadas porque foram sucessivamente minhas noivas".
No mesmo jornal acima, outra edição, encontramos que Dr. João Ferreira Domingues Carneiro casou, em Caicó, em 14 de outubro de 1893. Na notícia não fala quem era a noiva. Pelo batismo de Francisco, acredito que era Josefina Nóbrega, possivelmente, parente, do amigo Joaquim Álvares da Nóbrega, que, aliás, foi padrinho do futuro padre.
Em 25 de junho de 1892, houve uma permuta de Comarcas. Felipe Nery de Brito Guerra saiu de Macau para a Comarca do Seridó e Dr. Domingues Carneiro o caminho contrário. No Diário do Natal, de 3 de dezembro de 1909, Dr. Carneiro Domingues comunica que assumiu, no dia anterior, o Cargo de Chefe de Polícia.
A família parecia ser de Pernambuco, pois, Dr. Domingues foi promotor público da Comarca de Caruaru, pelo menos até 1891. Além disso, através do jornal, A Província, encontramos nota de missa de sétimo dia, de sua mãe Dona Emília Francisca de Lemos Ramos, a ser celebrada em 25 de abril de 1900, na Matriz do Corpo Santo, Recife.



Selos do Capitão José da Penha

De vez em quando aparece uma novidade sobre o capitão J. da Penha. De Recife, João Batista, que trabalhou nos Correios, me envia selos com a efigie do famoso capitão. Vejam