sexta-feira, 24 de julho de 2015

João Teixeira de Souza, das Cacimbas do Viana para Macau




João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)

Matemático, sócio do IHGRN e do INRG.


Escreveu Câmara Cascudo, em uma nota inédita, no trabalho do Comandante Eugênio de Castro sobre a Ilha de Manoel Gonçalves: Quando estive em Macau (dezembro de 1935) conheci João Teixeira de Souza, nascido em 1847, decorador de tradições e gostando de evocá-las. Seu sogro, Manoel da Rocha Bezerra, nascera na ilha de Manuel Gonçalves. O velho João Teixeira reviveu as existências passadas na ilha que o mar devorou.


F.F Araújo, no livro comemorativo dos 100 anos de Ordenação Sacerdotal do Monsenhor Joaquim Honório, escreveu sobre João Teixeira de Souza e, desse trabalho extraímos, alguns trechos: apraz-me ocupar de uma figura respeitável, humanitária e digna que foi João Teixeira de Souza. Quem não o conheceu em Macau? Eis uma regra sem exceção: - todos o conheciam porque seus ótimos predicados de homem de bem davam lugar a isto. Tive a felicidade de conhecê-lo também pessoalmente, logo que em 1900 cheguei àquela cidade. 


Era o doutor e homeopata da terra, sem médico naquele tempo. Seus serviços nunca os negou a quem quer que o solicitasse, - ainda que fosse ir a pé ao porto do Rosado, para atender ao pobre que precisava medicar o filhinho doente.


Nasceu aos 12 de fevereiro de 1849, em Cacimba do Vianna, do município do Assú. Foram seus pais Manoel José de Souza e Dona Cosma  Maria de Souza.


Desse casal acima temos o casamento: Aos vinte e quatro de fevereiro de mil oitocentos e quarenta e oito, as (ilegível) horas do dia na Fazenda Cacimbas do Vianna uni em matrimônio e abençoei aos contraentes Manoel José de Souza e Cosma Maria do Espírito Santo, meus fregueses servatis servandis: Assistiram como testemunhas o major José Martins Ferreira e João Teixeira de Souza: do que para constar fiz este termo em que assino. Manoel Januário Beserra Cavalcante, Pároco Colado do Assu.


Vários membros da família Teixeira de Souza viviam nas Cacimbas do Vianna. Não deu para descobrir se Manoel José Teixeira era dessa família, mesmo vendo que uma das testemunhas tinha o nome do seu futuro filho João Teixeira de Souza.


Não encontrei o batismo de João, mas os de duas irmãs dele: Maria, parda, filha legítima de Manoel José de Souza, e de Cosma Maria da Conceição, do Assú, nasceu à 6 de março de 1851, e foi solenemente batizada pelo Reverendo Silvério Beserra de Menezes na Capela de Macau aos 19 de julho do dito ano, sendo padrinhos João Gomes Carneiro e Anna Maria da Conceição, do que para constar faço este assento, em que me assino. Félis Alves de Sousa, Vigário  Colado d’Angicos.


Esse João Gomes Carneiro era daqui de São Gonçalo do Potengi, sendo sua esposa uma legítima Teixeira de Souza: era Anna Joaquina Teixeira de Souza, lá dos Angicos.


Vejamos o batismo da outra irmão de João Teixeira de Souza: Anna, filha legítima de Manoel José de Souza, e Cosma Maria da Conceição, nasceu aos quatro de maio de 1852, e foi batizada aos 15 de novembro do dito ano, no sítio das Cacimbas, pelo padre Ignácio Damazo Correa Lobo, com os santos óleos, de minha licença; foram padrinhos Francisco Lins Wanderley e Ana Maria Wanderley, casados. Do que para constar fiz este termo em que assino. O vigário Manoel Januário Bezerra Cavalcante, Vigário Colado do Assú.


Manoel José faleceu cedo, pelo que escreveu F.F Araújo: Transportando-se, em 1859, para Macau, ano em que faleceu seu pai, aí passou a residir, casando-se, pela primeira vez, em 1869, com dona Veneranda Bezerra da Rocha. Ficou viúvo em 1879 (equívoco), e casou-se segunda vez com Dona Ana Bezerra da Rocha.


Grande, numerosa mesmo, foi a prole dos dois casamentos: 31 filhos, sendo 10 do primeiro e 21 do segundo.


Entre os filhos de João Teixeira de Souza com Veneranda, encontramos os seguintes registros: Francisca, nascido aos 10 de março de 1874 e batizada aos 5 de maio do mesmo ano, tendo como padrinhos Francisco Frazão de Barros e sua mulher Josefa Francisca de Barros; Januário que nasceu aos 19 de setembro de 1875, e foi batizado aos 24 do mesmo mês e ano, tendo como padrinhos Joaquim José de Souza e sua mulher Maria Joaquina da Conceição; Maria, que nasceu aos 25 de março de 1877 e foi batizada aso 18 de maio do mesmo ano, tendo como padrinhos Julião Barbosa Leça e Joana Francisca de Souza Vianna; Celina nasceu aos 9 de julho de 1880 e foi batizada aos 27 do mesmo mês e ano, sendo padrinhos José Vieira de Mello e Maria Gertrudes de Mello; Francelina que nasceu aos 7 de junho de 1881, e foi batizado aos 11 de (ilegível) do mesmo ano, tendo como padrinhos Malaquias Pereira e Francisca Cordulina; outra Francisca, que nasceu aos 28 de dezembro de 1883 e foi batizada aos 2 de abril do ano seguinte,  tendo como padrinhos Padre José Joaquim Fernandes e D. Olímpia Olívia Rodrigues de Souza; 


Descreveu mais F. F. Araújo: Suas atividades em Macau foram na indústria do sal e no comércio, dedicando-se também a criação.


Foi político, e por merecimento e confiança ocupou vários cargos públicos, desempenhando-os sempre com habilidade e máxima honestidade.


Faleceu em 8 de novembro de 1942, deixando vários filhos, dentro os quais cito com prazer, o farmacêutico Alfredo Teixeira de Souza, residente na terra do sal. Aí ficam macauenses, em ligeiros traços, quem foi João Teixeira de Souza bem merecedor de que seu nome ao menos posto numa das ruas de Macau, como lembrança e gratidão de um povo reconhecido.


Entre os documentos encontrados no Museu José Elviro, está um que noticia a morte de Manoel da Rocha Bezerra Junior: João Teixeira se apresentou aos 12 de dezembro de 1907 em Macau para informar que seu sogro tinha falecido, naquela madrugada, aos 77 anos de idade, deixando viúva Dona Francelina Francisca de Medeiros. Fazendo as contas ele dever ter nascido, lá na Ilha, como comentou João Teixeira, com Cascudo, por volta de 1830. Acredito que fosse filho de Manoel da Rocha Bezerra e Josefa Jacinta que casaram na Ilha de Manoel Gonçalves em 1828.