segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O inventário de José Alves Martins, 1871

O inventário de José Alves Martins, 1871
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN e membro do INRG
No dia 16 de novembro parti para Assú com o intuito de fazer pesquisas sobre alguns documentos antigos, como inventários, no Fórum João Celso da Silveira Filho. Pensava encontrar muitas informações, mas tive uma grande decepção, pois são poucos os documentos mais antigos que estão naquele Fórum. Entretanto, tive uma sorte muito grande, por achar no meio de vários documentos, ainda não classificados corretamente, o inventário de José Alves Martins.
Anteriormente, fiz um artigo neste jornal sobre a morte trágica de José Alves Martins, com base em documentos extraídos do livro Falas e relatórios dos presidentes da Província do Rio Grande do Norte, 1860/1873 e de uma carta de Manoel Rodrigues de Melo para seu parente Ricardo Rodrigues Ferreira, morador no Recife.
Agora, com as informações contidas nesse inventário esclarecemos algumas dúvidas e coletamos mais informações sobre esse descendente do Capitão João Martins Ferreira, um dos fundadores de Macau. No depoimento prestado por seu irmão inventariante e tutor de seus filhos, está escrito: Diz Manoel José Martins morador nesse termo, que tendo sido assassinado seu infeliz irmão José Alves Martins na noite do dia 18 corrente, em casa de negócio na povoação de Rosário, por seu sócio João Rodrigues Ferreira, ficaram os seus bens, negócios e transações em completo desarranjo, porquanto seu finado irmão era viúvo, onerado de 10 filhos órfãos, seus tutelados, e vaqueiro na Fazenda = Cacimbas de Vianna = e posto que nesta circunstância não possam seus bens ser fiscalizados pelo Juízo dos Ausentes, por lhe terem ficado herdeiros necessários, necessita contudo de uma providência pelo Juízo de Órfãos, a fim de prevenir o abandono em que se acham em sua administração, não podendo bastar o simples acautelamento da polícia local, que consta se ter feito; vem pois o suplicante requerer a Vossa Senhoria para que seja nomeado inventariante, que promova a realização do respectivo inventário.  Manoel José Martins.
No dia 29 de setembro de 1871, Manoel José Martins, já nomeado inventariante dos bens do mano José Alves Martins, na residência do finado, na povoação do Rosário, termo do Assú, recebeu as chaves da casa, abrindo-a e tomando conta dos objetos nela existentes e que foram pela polícia local acautelados. Aí, fez o juramento deferido pelo Juiz, onde declarou que seu irmão, assassinado no dia 18 de setembro de 1871, na povoação do Rosário, sem testamento, deixou por seus herdeiros seus filhos José Alves Martins, de dezoito anos; João, de treze anos de idade; Francisco, de 12 anos de idade; Joaquim, de onze anos de idade; Militão, de dez anos de idade; Josefina, de oito anos de idade; Delfino, de sete anos de idade; Maria de cinco anos de idade; e Manoel, de quatro anos de idade, pouco mais, moradores todos na Fazenda Cacimbas do termo de Assú, e que viviam em sua companhia.
Embora, no documento inicial, Manoel José Martins tenha falado em 10 filhos, depois, na sequência, ficou confirmado que eram 9 filhos.
Mais adiante, no ano de 1879, Manoel José Martins, tutor dos seus sobrinhos órfãos Francisco, Militão, Maria, Delfino e Manoel, filhos do falecido José Alves Martins, disse que tendo tocado em herança aos mesmos órfãos a escrava Rita, mulata de 31 anos de idade, e a seus irmãos José Alves Martins, João Alves Martins, Joaquim Alves Martins, e Josefina Emília Alves Martins, que se achavam emancipados, e querendo vender estes as partes que tem do valor da dita escrava, era conveniente que se vendessem, também, as partes dos órfãos, não só pela precisão que estes tinham de algum vestuário, e de alimentos, como porque dita escrava nenhum rendimento dava, e seu valor estava decrescendo.
Nessa informação acima, vemos que os nomes completos só aparecem quando os filhos já estavam emancipados.
Os filhos de Jose Alves Martins e Francisca Martins de Oliveira, quando se casavam ou completavam a maioridade requeriam a entrega dos seus bens.
Nesse inventário não aparece nenhuma informação a mais sobre Maria, uma das filhas. Todos os outros filhos tem como sobrenome Alves Martins. Um dos últimos a solicitar seus bens é Manoel Alves Martins. Esse era o pai de seu Nezinho. No documento, quem recebeu os bens de Josefina Emília foi seu marido, Absalão Fernandes da Silva Bacilon. Ela casou com 16 anos de idade. Absalão e Josefina eram os pais de Dona Liquinha.
Assim a trajetória dos Alves começa na Ilha de Manoel Gonçalves. Depois o Capitão João Martins Ferreira, o filho José Martins Ferreira, e mais quatro genros vão para Macau, quando a ilha começou a ser coberta pelo mar. Posteriormente, o Major José Martins Ferreira segue com seus filhos para Cacimbas de Vianna, antes em Assú, e hoje em Porto do Mangue. Com as enchentes constantes em Cacimbas de Viana e Rosário, alguns seguiram para Santana do Matos. Foi lá onde nasceram Seu Nezinho e Dona Liquinha, primos legítimos, pais do Ministro Aluízio Alves. Também, em Santana do Matos, nasceu a mãe de Aristófanes Fernandes, irmã de Dona Liquinha. Assim, fica confirmado o que deixou escrito meu pai Miguel Trindade Filho, por informação de sua mãe, nascida em Cacimbas de Vianna, Maria Josefina Martins Ferreira, sobrinha de José Alves Martins.
Sobre a origem do sobrenome Alves, desconfio que tenha vindo da esposa do Capitão João Martins Ferreira, Dona Josefa Clara Lessa. Quando Bento José da Costa foi o inventariante dos bens dos sogros, quem administrava a Ilha de Manoel Gonçalves era José Álvares Lessa. Suspeito que esse fosse o pai de Josefa Clara Lessa. Um colega pesquisador descobriu a Genealogia de um português José Álvares Lessa que veio, posteriormente, para Pernambuco. Vamos, agora, buscar esse elo.

Filhos de José Alves Martins