terça-feira, 12 de julho de 2011

Nova Amsterdam e o Forte Keulen

Nova Amsterdam e o Forte Keulen
Natal e Nova Amsterdam eram duas localidades diferentes na Capitania do Rio Grande, como se pode ver abaixo e conforme alguns de nossos historiadores.
Quando Joan Nieuhof, que viveu aqui de 1640 até 1649, servindo os holandeses,  descreveu sobre a Capitania do Rio Grande, no seu livro Memorável viagem marítima e terrestre ao Brasil: acima do Rio (Potengi), há uma cidade de pequena importância, denominada Amsterdam. Seus habitantes vivem da pesca, da produção de farinha e do plantio de fumo. Mais ao norte vivem alguns camponeses que se ocupam em cultivar a terra; entretanto, a região que se estende ao norte do Rio Grande é apenas escassamente habitada.
Sobre o Rio Potengi, escreveu:
O Rio Grande, assim chamado pelos portugueses devido ao seu considerável volume, é conhecido entre os naturais pelo nome de Potengi e tem a sua foz a 5º e 42' de latitude sul, ou sejam três milhas de Ponta Negra, para quem vem da parte ocidental do continente. Desemboca quatro milhas acima do Forte Keulen, conhecido pelos portugueses de Três Reis, e seu estuário pode abrigar navios de grande calado. Já o rio Cunhaú só é navegável por barcas e pequenos navios. As baías que se encontram nesta Capitania são: Baía Formosa, Ponta Negra, Ponta de Pipas e a Baía de Tijssens. A Baía de Ginepabu fica ao norte, além de um rio denominado Guasiavi, junto à qual se ergue a vila Atape Wappa. Ainda um pouco mais ao norte encontra-se o rio Ceará-Mirim, e perto da Aldeia de Natal e do forte dos Reis, passa um rio conhecido por Rio da Cruz que nasce de um pequeno lago no Rio Grande. Em frente ao mesmo forte um riacho aflue para o Rio Grande, entre dois bancos de terra, e não muito distante dalí, encontra-se ainda outro rio de água salgada.
Sobre o Forte dos Três Reis escreveu:
O Forte Keulen era um quadrilátero construído sobre rocha, ou melhor, sobre a ponta de um recife, a alguma distância da praia, de fronte à foz do rio Recife. Inteiramente cercado de água, na preamar, não se podia atingí-lo senão embarcado. Há, no centro desse forte, uma capelinha, onde, em 1645 ou 1646,  os holandeses descobriram um poço de cerca de meio pé de diâmetro na boca e três no fundo, aberto na rocha viva, por onde afluía água doce  e fresca todas as marés altas. Nas marés comuns dava cerca de 255 potes de água potável mas, nas de plenilúnio, chegava a dar 350, suprimento esse mais que suficiente para consumo da guarnição em caso de sítio. O forte é construído de blocos de pedra e defendido, do lado da praia, por dois meios baluartes em forma de corna. Em 1646 sua artilharia constava de 29 peças de bronze e de ferro. Dispunha também de bom paiol e confortáveis alojamentos para a soldadesca.
Continuando sua descrição, escreveu: Este forte foi capturado pelos holandeses sob o comando de Mathias van Keulen um dos governadores da Companhia, o qual foi auxiliado por vários capitães de valor, tais como  Byma, Kloppenburgh, Lichthart, Garstman e Masnfelt. Van Keulen para lá se dirigiu à frente de 808 homens embarcados em 4 navios e 7 iates. Keulen apoderou-se, não apenas do forte, mas, ainda de toda a Capitania. Foi então que a velha fortaleza de Três Reis passou a chamar-se forte Keulen, em homenagem aos chefe da expedição.
O livro de Nieuhof está disponível em submarino. USP.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Joris Garstman e o assassinato de Jacob Rabbi (I)

Sítio de João Lostau de Navarro, Margrave
Joris Garstman e o assassinato de Jacob Rabbi (I)
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor de Matemática da UFRN e membro do INRG
Jacob Rabbi era uma dessas pessoas que muitos governantes gostam, bajulador e ideal para serviços sujos. Fazia esse papel tanto para os líderes indígenas como para o alto poder dos holandeses no Brasil. Sua vida está irremediavelmente ligada à história do Rio Grande do Norte, principalmente, pelos massacres de Uruaçu e Cunhaú. O motivo do seu assassinato, não está ainda de todo esclarecido.
Neste artigo e nos próximos que tratam do assassinato de Jacob e do inquérito instalado contra Garstman, vamos apresentar trechos extraídos dos livros de Joan Nieuof, Pierre Moreau, Roulox Baro e de Alfredo Carvalho
Joan Nieuhof, que viveu mais de 8 anos no Brasil prestando serviços a Companhia das Índias Ocidentais,  em seu Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil, escreveu: À meia noite de 5 de Abril de 1646, Jacob Rabbi foi traiçoeiramente assassinado com dois tiros, perto de Potengi, a cerca de três horas do Castelo Potengi por instigação do tenente-coronel Garstman, quando regressava da casa de uma tal Jan Muller (Dirck Muller), onde fora recebido essa noite em companhia daquele oficial. Conforme revelara a amigos seus, havia já tempo que Rabbi suspeitava da traição de Garstman e, justamente por esse motivo, estava de partida para o Rio Grande a fim de se refugiar entre os tapuias. O Conselho chocou-se profundamente com essa vilania, porque Jacob Rabbi era casado com uma brasileira (índia) e gozava de grande estima entre os tapuias, sendo, pois, de se recear que o crime fizesse com que tanto os tapuias como os brasileiros se revoltassem contra nós. Por causa disso, Garstman foi preso sob custódia, por ordem dos Altos Comissários da Justiça e Finanças aos 24 de abril e foi conduzido ao navio Hollanddia.
Mais adiante diz Nieuhof: Jacob Rabbi, outrora, fora encarregado de estar no meio dos tapuias, comissionado pela Companhia, para manter os tapuias em amizade e boas disposições para com este governo; assim como ele já os tinha, por várias vezes, conduzido das montanhas (onde eles habitavam), em nosso auxílio. Ele morava no Rio Grande, no forte Keulen, e era casado com uma brasileira (índia), embora fosse de ascendência alemã. Garstman voltou ao Recife no dia 19 e relatou aos Altos Comissários os seus feitos.
Em outro trecho escreveu Nieuhof: enquanto isso, os tapuias, exasperados pelo assassínio de seu comandante, Jacob Rabbi, abandonaram-nos. O Conselho fez o que pôde para os acalmar aprisionando e desterrando Garstman, o autor do delito e confiscando seus haveres. Contudo não se conseguiu persuadir os tapuias que se reunissem a nós como antes.
Embora, no seu livro, Nieuhof cite João Lostau, seu sítio, sua prisão e a casa, do dito Lostau, que foi quartel general dos holandeses, nesse relato acima não fez nenhuma referência a qualquer parentesco do mesmo com Garstman. Em nenhum momento do seu relato diz alguma coisa sobre a esposa de Garstman.
Pierre Moreau, que viveu por aqui, apenas dois anos, como secretário de um dos Senhores do Conselho de Estado, escolhido para vir governar o Brasil Holandês, escreveu em História das últimas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses: A primeira notícia que lhes foi trazida foi a de que maior parte dos tapuias e brasilianos, que sempre tinham sido aliados dos holandeses e combatido a seu serviço, os haviam abandonado e adotado o partido de seus inimigos, por ódio àquilo que Joris Garstman, general da milícia, fizera seis meses antes, mandando matar o alemão Jacob Rabbi; este homem intrépido de tal forma se adaptara a estes selvagens em seus costumes e modo de viver, que se tornara como se fosse um deles,  e estes de tal modo a ele se afeiçoaram, que o fizeram um dos seus principais capitães. Segundo os amigos de Garstman, o motivo pelo qual este mandara matar Jacob Rabbi devia ser atribuído ao ressentimento pela morte e assassinato do pai de sua mulher, cometido por Jacob Rabbi. Este escolhia os piores tapuias e com eles efetuava diversas pilhagens no país: sua morte, pois, diziam só apresentava vantagens para o público, e Garstman fizera muito bem em vingar a morte de seu sogro, tirando do mundo um ladrão que cem vezes merecia o suplício; em todo caso, tratava-se apenas de uma formalidade para puni-lo, porque ele devia mesmo ser condenado. Os que conheciam particularmente Garstman e podiam julgar as suas ações sustentavam que outros tinham sido os seus motivos: sabendo que Jacob Rabbi reunira, com o fruto de seus roubos, uma rica presa e a escondera em lugar que ele bem conhecia, mandara matá-lo para disso tirar proveito; e, com efeito, encontraram-se em seu poder algumas jóias, reconhecidas por aqueles que Jacob Rabbi tinha roubado.
No registro de Pierre Moreau, embora haja referência ao sogro de Garstman, não há menção ao nome do velho João Lostau. Essa informação que João Lostau era sogro de Garstman, tanto é defendida por Hélio Galvão, em seu livro História da Fortaleza da Barra do Rio Grande, como por Olavo Medeiros Filho no livro No Rastro dos Flamengos.
Nos próximos artigos daremos sequencia a este assunto.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Coronel Gonçalo Frere de Amorim

Coronel Gonçalo Freyre de Amorim
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN e membro do IHGRN e do INRG
Os Freire de Amorim começam a aparecer nos registros da Igreja, aqui do Rio Grande do Norte, no começo do século XVIII. O capitão Teodósio Freire de Amorim foi padrinho de dois filhos do capitão Antonio Dias Pereira e Maria Gomes, como também de Catarina, em 1704, filha de Domingos da  Silveira e Catarina de Amorim. Pelo que se observa nesses registros, ele deveria ser solteiro na época e, talvez, irmão de Maria Gomes e Catarina Amorim. Em 1727, encontramos um registro onde aparece como esposa do já Coronel Teodósio Freire de Amorim, Dona Damásia Gomes da Câmara.
Uma filha de Teodósio e Damásia, de nome Antonia Freire de Amorim, casou, em 1741, com Manoel de Araújo Correa, filho de Salvador de Araújo Correa e Izabel Rodrigues Santiago, povo lá de Utinga.
Entre os registros do início do século XVIII, encontramos os seguintes batismos, de filhos de Domingos da Silveira e Catarina Amorim, além do já citado de Catarina: Estevão, em 1702, tendo como padrinhos o capitão Gaspar Freire de Carvalho (filho do sargento-mor Manoel da Silva Queiroz) e Maria Gomes, mulher do capitão Antonio Dias Pereira; José, em 1708, tendo como padrinhos o sargento-mor Manoel da Silva Queiroz e Capitão Antonio Dias Pereira
Anna da Silveira, outra filha de Domingos da Silveira e Catarina Amorim, casou, em 1735, com Sebastião Dantas Correa, filho dos portugueses de Ponta de Lima, José Dantas Correa e Izabel Pimenta da Costa. Esse Sebastião deve ser um dos irmãos de Caetano Dantas Correa, lá do Seridó.
 Mas, um dos personagens que aparece, posteriormente, em diversos registros da Igreja, é o Coronel Gonçalo Freire de Amorim, também, filho de Domingos e Catarina, citados acima. Um dos padrinhos de Inácia, filha de Antonio Dias Pereira e Maria Gomes, em 14/08/1711, chamava-se Gonçalo Freire. Entretanto, ele só aparece uma vez nesse livro de registro. Talvez fosse irmão de Teodósio. Não deve ser o filho de Domingos.
 Em um registro de assentamento de praça, encontramos: Gonçalo Freire da Silveira, filho do capitão Domingos da Silveira, natural desta Capitania do Rio Grande, de idade de dezesseis anos, pouco mais ou menos, mediana estatura, cor trigueira, cabelo acastanhado, e corredio, cara comprida, olhos pequenos e pretos, senta praça nesta companhia do capitão Matheus Mendes Pereira, por sua vontade e mandado do Governador e Capitão General de Pernambuco, Duarte Sodré Pereira Tibao e Vedor Geral, o capitão Domingos da Silveira, em treze de novembro de 1732.
Em sete de maio de mil setecentos e quarenta e oito ano, pela novas ou dez horas, pouco mais ou menos, na presença do capitão Francisco Diniz da Penha e do capitão Angelo Ferreira da Rocha, o Reverendo João Gomes Freire (devia ser da família de Gonçalo) casou o tenente Gonçalo Freire, filho de Domingos da Silveira e Catarina de Amorim, na época defunta, com Izabel Francisca Rodrigues, exposta na casa do padre Domingos Rodrigues Tilloens.
Dona Izabel Francisca Rodrigues faleceu em cinco de dezembro de 1761, com a idade de 34 anos, pouco mais ou menos. Na época, Gonçalo era Coronel.
Um assentamento de praça dá notícia de um filho do Coronel Gonçalo com mesmo nome do pai: Gonçalo Freire de Amorim, filho do Coronel Gonçalo Freire de Amorim, da cidade do Natal, branco, casado e morador nesta Ribeira do Assu, estatura ordinária, seco de corpo, olhos encovados, cabelo corredio, de idade de trinta e um anos, assentou praça em revista de 27 de julho de mil setecentos e oitenta e nove. Ele deve ter nascido por volta de 1758.
Catherina Freire de Amorim, filha de Gonçalo e Izabel, casou com Pascoal Gomes de Lima, filho de Hipólito de Sá Bezerra, português de Vianna, e Joanna Bezerra de Albuquerque e, em 21/7/1875, batizou o filho Hipólito, sendo padrinhos José de Araújo Pereira e Izabel Gomes. Em 1/6/1780, batizou Gonçalo Freire de Amorim, mesmo nome do avô. Este Gonçalo casou em 7/02/1802, com Maria Freire de Amorim, filho de José Correa de Sousa e Izabel Francisca Rodrigues
 Manoella Freire de Amorim, outra filha de Gonçalo e Izabel,  casou com João Pedro de Sá Bezerra, filho de Hipólito de Sá Bezerra e Joanna Bezerra de Albuquerque e, em 2/6/1875, batizou Domingos.
Outro filho de Izabel e Gonçalo que aparece com frequência nos registros é Domingos Rodrigues da Silveira. Ele foi casado com Joanna Maria Bezerra, filha de Antonio José de Lemos (Porto Calvo) e Anna Maria Bezerra.  Domingos e Joana tiveram duas filhas com nome de Catarina, uma nascida em 1779 e outra em 1783. Uma delas, de nome Catarina Francisca Amorim, casou, em 24/04/1805, com Antonio Fernandes da Costa, filha de Manoel Fernandes da Costa e Anna Gomes.  Em 1776, nasceu Claudia, batizada no mesmo ano e tendo com padrinhos os avós, de cada lado, Gonçalo Freire de Amorim e D. Anna Maria Bezerra. Uma filha de Domingos Rodrigues  e Joana, que teve o nome da avó Izabel Francisca Rodrigues, casou, em 2/10/1802, com José da Silva, filho de José Rabelo Leão e Bernarda de Santa Rosa.
Em 23 de novembro de mil oitocentos e trinta e quatro, lá na Fazenda Saco, da Freguesia de Santa Ana do Matos, João Freire de Amorim casou com dona Damásia Lopes Viegas. Ele filho de Gonçalo Freire de Amorim e Josefa Francisca da Costa, falecidos; ela filha de Guilherme Lopes Viegas e Izabel Maria da Conceição, falecida. Esse Gonçalo não consegui identificar dentro da cadeia genealógica dos Freire de Amorim, por conta das repetições constantes que aparecem nas descendências. Talvez seja o que sentou praça no Assú,  em 1789, filho do coronel Gonçalo Freire de Amorim e neto de Domingos da Silveira. Essa Damásia era neta do fundador de Angicos, tenente Antonio Lopes Viegas, e tinha o mesmo nome de uma tia que morreu solteira.

domingo, 19 de junho de 2011

A partida de Bartola

A partida de Bartola
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN e membro do IHGRN e do INRG
Na caixa de entrada de e-mail, verifiquei que as mensagens enviadas para Bartola estavam voltando. Nos detalhes a mensagem de quota excedida. Quando isso aconteceu em ano anterior era pelo fato dele está internado. Fiquei preocupado. Na quinta-feira, quando da palestra de Genealogia de Clotilde Tavares, Ormuz me informava que recebeu notícia de Verônica dando conta que nosso amigo estava na UTI.
Na sexta-feira, fomos Graça e eu fazer uma visita. A situação dele era irreversível.
Conheci José Bartolomeu Correia de Melo no Colégio Marista. Depois soube dos meus familiares que ele ainda era nosso parente através da mãe, Dona Gracilde. Fui para o Atheneu, o tempo foi passando e voltamos a nos encontrar na Universidade, ele no Departamento de Química e eu no Departamento de Matemática. Convivemos sem conversar sobre o nosso parentesco até a data em que comecei a fazer minhas pesquisas genealógicas, depois que saí da Universidade.
Sentamos várias vezes para descobrir como se dava esse parentesco.  Começamos pelos parentes comuns. E, como em muitos casos, lá estavam o Capitão J. da Penha, Dr. Téodulo Avelino e o Senador Georgino. Embora esse trio se repetisse, entre muitos com quem conversei, ninguém sabia como se dava esse parentesco. Duas pistas Bartola me deu: sua avó se chamava Claudiana e a bisavó Conceição. Claudiana era um nome que se repetia na família dos Avelino: era o nome da esposa do cadete José Avelino, e também da avó dessa última, a esposa de Antonio Barbosa, ambas Claudiana Francisca Bezerra. Desconfio que esse Bezerra que apareceu na nossa família venha dos Rocha Bezerra.
Depois que descobri os nomes dos irmãos do meu bisavô Francisco Avelino da Costa Bezerra, comecei a descer, a partir deles, em busca dos elos com os parentes contemporâneos.
Pois bem, Maria da Conceição da Costa Bezerra, irmã de meu bisavô, mãe de Claudiana e bisavó de Bartola, nasceu em 17/01/1862, filha de Alexandre Avelino da Costa Martins e sua esposa Anna Francisca Bezerra, neta paterna de Vicente Ferreira da Costa e Mello do O’ e Joaquina Maria do Rosário, e materna do tenente-coronel Antonio Francisco Bezerra da Costa e Dona Agostinha Monteiro de Sousa.
Maria da Conceição casou, em 17/01/1882, lá no Sítio Carapebas, com dispensa de consanguinidade, com Antonio Machado Alves Bezerra, filho de Vicente Machado de Aquilar Bezerra e Ignácia Francisca Bezerra.
Claudiana, avó de Bartola, nasceu em 25/02/1884, e foi batizada no Sítio Curral dos Padres, em 13/04/1884, tendo como padrinhos os avós, de cada lado, Vicente Machado de Aquilar Bezerra e Anna Francisca Bezerra. Francisco Alves Machado, pai de Monsenhor Lucilo Machado, era irmão de Claudiana.
Bartola faleceu sábado, 18 de Junho de 2011. Estive no seu velório. Lá conversei um tempo com o irmão de Bartola, Paulo de Tarso Correa de Mello, sobre nossos parentes. Disse Paulo que quando nasceu a família queria acrescentar, ao seu nome, os sobrenomes Aquilar e Viégas, o que não prevaleceu.
Dona Claudiana, avó de Bartola, era casada com João Evangelista de Oliveira Correia, filho do português Lourenço José de Oliveira Correa e Dona Maria José Pinto. João e Claudiana geraram Gracilde Correa de Melo que era casada com João José de Melo. Desse último casal nasceram José Bartolomeu, Paulo de Tarso e Geraldo José Correia de Melo. Bartola era casada com Verônica Marques Correa de Melo, sua colega do Departamento de Química da UFRN. São filhos deles Anna Cláudia Marques Correia de Melo Mendes de Sousa, Brenno Luiz Marques Correia de Melo e Ruthe Helenna Marques de Melo Nunes Gurgel. Desses filhos já tinham 5 netos.
Ainda, segundo José Bartolomeu, comentando artigo sobre Utinga, Dona Idalina Jacinta Emerenciano, irmã de José Ildefonso Emerenciano, era sua bisavó. Esse parentesco deveria ser através do seu pai João José de Melo. Nesse mesmo comentário, escreveu:
“Uma reforma ortográfica ocorrida nos anos trinta (34 ou 37?) fez com que alguns tabeliães, por excesso de zelo reformista, modificassem até nomes e sobrenomes, passando a grafar CORREIA ao invés de CORRÊA, o mesmo acontecendo com MELO em vez de MELLO. (Essa mudança, aqui-acolá, já ocorria, por via contrária dos tabeliães analfabetos). Assim, segundo as certidões de nascimento (de antes da dita reforma), meu pai era Mello e minha mãe Corrêa. Eu, nascido depois, já neto-pobre, me chamei Bartolomeu e não Bartholomeu; por isso, sempre brinco, dizendo que Corrêa de Mello é nome nobre e Correia de Melo nome de pobre. Bartola.”
Quando escrevi meu livro, Servatis ex more servandis,  Bartola fez a primeira ordenação em capítulos, e me encaminhou para a Editora da UFRN, onde não foi possível editar o livro por questão de tempo.

Bartola partiu em pleno auge de sua produção literária. Um grande escritor!

quarta-feira, 15 de junho de 2011

As recomendações do Cônego Fernandes

As recomendações do Cônego Fernandes
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor de Matemática da UFRN e membro do INRG
São muitas as dificuldades que se apresentam para os pesquisadores genealógicos. Entre elas podemos citar a forma como os registros da Igreja Católica eram feitos. Em muitos desses registros faltavam informações importantes como, por exemplo, nos casamentos, onde algumas vezes ocultavam os nomes dos pais dos nubentes, a relação de parentesco entre as testemunhas, o grau explícito de consanguinidade, e até o nome completo dos personagens que estavam no documento. Tais situações eram corrigidas pelo padre visitador,  que fazia algumas recomendações, após fazer uma vistoria no livro de registros.
Há uma pasta de registros relativos à Freguesia de Angicos, na Cúria, onde dentro se acham misturados, desordenadamente, óbitos, casamentos e batismos. Acredito que foram folhas que se soltaram dos livros respectivos e juntaram em uma pasta para não se perder. Foi nessa pasta que encontrei o registro de casamento de João Felippe da Trindade, um exemplo daquilo do que estou falando acima. Vejamos com foi feito o dito registro.
Aos 8 de janeiro de 1851 as trez óras da tarde, n'esta Matriz, uni e abençoei em Matr.o os C.es meus Freg.es João Felippe da Trindade, e Fran.ca Ritta da C.ta, br.cos, servatis ex more servandis: e presentes as testem.as  Alexandre Fran.co d'Az.o Costa, e Gonçalo J.e Barbosa: do que faço este ass.o emq' ass.o Felis Alves de Sousa Vig.o Collado de Angicos.
No documento acima, além do excesso de abreviaturas, não constava o nome dos pais dos nubentes. Somente através de outros documentos se descobre o nome completo dos personagens desse registro e outras informações. O nome completo da nubente era Francisca Ritta Xavier da Costa. Ela era filha de Miguel Francisco da Costa Machado e Anna Barbosa da Conceição. Gonçalo José Barbosa, que aparece como testemunha, era tio da noiva por ser irmão de Miguel Francisco da Costa Machado. Alexandre Francisco de Azevedo Costa era cunhado do noivo, pois era casado com Michaela Francisca da Trindade, irmã do noivo. Eram os pais de João Felippe e Michaela, o casal João Miguel da Trindade e Rosa Maria da Conceição.
Outro documento de 1850 é mais um exemplo contendo muitas abreviaturas.
Aos 28 de 9br.o de 1850, pelas 4 óras da tarde, na Fazenda das Cassimbas de Vianna, na Freg.a do Assú, forão unidos e abençoados em Matr.o de m.a l.ça, pelo R.do Silvr.o Bizrr.a de Men.es os C.es meus Freg.es Manoel Miz (tinha um til em cima do z) Ferr.a e Prudencia M.a Teixr.a br.cos servatis ex more servandis: Forão test.as José Miz Ferr.a e João Gomes Carnr.o: do que faço este acento emq' ass.o Felis Alz de Sz.a Vigario Collado de Ang.cos.
Até hoje, não foi possível descobrir o nome dos pais de Prudencia Maria Teixeira. Nos registros posteriores seu nome passa a ser escrito Prudencia Teixeira Martins. Quanto ao nubente Manoel Martins Ferreira, a partir de outros registros, deduzimos que era filho do Major José Martins Ferreira e Delfina Maria dos Prazeres (ou da Conceição). Outro detalhe que poderia confundir qualquer pesquisador é que em registros posteriores, onde aparece como pai ou padrinho, o nome dele era escrito Manoel José Martins. O mesmo aconteceu com um irmão dele de nome João Martins Ferreira, pois nos registros posteriores ao casamento, aparece como João Alves Martins. Ambos eram irmãos de José Alves Martins, ascendente dos Alves, de Angicos e dos Fernandes de Santana do Matos. Uma irmã deles de nome Josefa Martins Ferreira foi batizada na Ilha de Manoel Gonçalves.
Em uma das páginas da pasta encontramos um registro de casamento com letra legível e sem abreviaturas, exceto na assinatura de uma das testemunhas:
Aos trinta e hum, digo, aos sete dias do mez de janeiro de mil oitocentos e cincoenta e trez, pelas oito horas da manhã, nesta Matriz do Glorioso São José da Villa de Angicos, tendo precedido Dispensa de affinidade ilícita, as Canonicas Denunicações, sem impedimento, Confissão, Comunhão, e exame de Doutrina Christã, em minha presença, e das Testimunhas João Lins Teixeira de Souza, e Manoel José Martins Ferreira, cazados, moradores na Freguezia da Cidade do Assú, se receberão em Matrimonio por palavras de presente, e tiverão as Benções Nupciaes os meos Paroquianos Timotheo e Rita, crioula, escravos; elle de João Gomes Carneiro; ella, de João Teixeira de Sousa, cazados , e moradores nesta Freguezia, do que para constar mandei lavrar este Termo, que com as ditas Testimunhas assigno. O Vigário Felis Alves de Souza. João Lins Teixeira de Sousa = Manoel José Miz Ferrª.
Na sequencia desse registro, há o visto do visitador (ele mesmos usando de abreviaturas nas suas instruções), nos seguintes termos: Visto em Visita da Freg.ª: Não use de abreviaturas nas escripturação dos Assentos; fica pª. exemplificar este ultimo Assento, pelo qual em tudo se deva regular. Vª de Angicos, 12 de 7bro. De 1853, Conego Fernandes, Viz.or.
Na sequencia outro registro obedecendo ao modelo deixado pelo Cônego Fernandes, no dia seguinte a sua observação.
Aos treze dias do mez de Setembro de mil oitocentos e cincoenta e trez, e pelas cinco horas da tarde, nesta Matriz de São Jozé de Angicos, tendo precedido Dispensa de sanguinidade, as Canonicas Denunciações, sem impedimento, Confissão, e exame de Doutrina Christã, em presença do Reverendo Francisco Justino Pereira de Brito, de minha licença, e das Testimunhas Francisco das Chagas e Azevêdo, e Souza, e José Theodoro de Souza Pinheiro, casados, moradores nesta mesma Freguezia, se unirão em Matrimonio por palavras de presente, e receberão as Benções Nupciaes, os meos Paroquianos Manoel Virgulino  Silvano de Azevêdo, e Anna Martins dos Santos, naturaes, e moradores nesta Freguezia, filhos legítimos: elle, de Francisco Lopes Viégas, e de Maria Josefa; e ella, de Antonio Pereira Pinto, já fellecido, e de Antonia Martins dos Santos; do que para constar mandei fazer este Termo que com as ditas Testimunhas assigno. O Vigário Felis Alves de Souza. Francisco das Chagas e Azevedo = Joze Theodoro de Souza Pinheiro.
Esses documentos que a cada escrituração modifica a grafia das palavras e subtrai sobrenomes ou os nomes dos pais dos nubentes se transformam em árduos obstáculos para o genealogista.

Fazenda das Cacimbas do Vianna

Vista em frente a entrada para Cacimbas do Vianna, em Porto  do Mangue
Fazenda das Cacimbas do Vianna, 1810
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor de Matemática da UFRN e membro do INRG
Hoje, vamos tratar, aqui, de uma outra fazenda que fazia parte do inventário de Domingos Affonso Ferreira e de sua esposa Dona Maria Theodora, cuja descrição foi feita, em 1810,  pelo procurador inventariante José Álvares Lessa. Em vários artigos já tratamos dessa fazenda, da qual tenho interesse, pois foi lá que nasceu minha avó Maria Josefina Martins Ferreira (mãe Sinhá). Cacimbas do Vianna que fazia parte do Assu, hoje, com as sucessivas divisões dos municípios do Rio Grande do Norte, faz parte de Porto do Mangue. Nos registros que encontramos, seu nome aparece de várias formas; Fazenda Cacimbas do Vianna, Sítio das Cacimbas, praia das Cacimbas e além do Sitio das Mercês na Fazenda Cacimbas do Vianna.
 Eram seis léguas de terras da Propriedade da dita Fazenda de gados, denominada Cacimbas do Vianna, as quais parte ao norte com terras das Fazendas Entradas, e Morro Branco; ao sul com a Barra do Rio dos Cavalos, ao nascente com o mar oceano e ao poente com terras do Arraial: as quais seis léguas de ditas terras houve por compra a Francisca Rosa da Fonseca, o falecido Domingos Affonso Ferreira e seu genro e sócio e, constituinte dele, procurador inventariante, o Coronel Bento José da Costa, por escritura pública das Notas de Francisco Gomes da Fonseca, Tabelião da Vila de Santo Antonio do Recife de Pernambuco; as quais seis léguas de terras da dita Fazenda de Cacimbas do Vianna foram vistas e avaliadas pelos avaliadores com casa, e currais da mesma fazenda por preço e quantia de dois contos de réis com suas pesqueiras na costa do mar.
Havia na dita Fazenda, entre outras criações: 200 cabras, 360 cabeças de ovelhas, 31 éguas novas, 14 cavalos de fábrica, 100 bezerras, 80 bezerros, 150 garrotas, 750 vacas e 4 bois de carro. Havia, ainda, na Fazenda um oratório com três imagens pequenas, no valor total de 10 mil réis.
Enquanto o ferro da Fazenda Amargoso era um F seguido de um c, a de Cacimbas do Vianna era uma Cruz.
O registro de casamento mais antigo que encontrei, datado de 25 de julho de 1824, foi de Antonio Gomes da Motta e Aldonsa Maria de Jesus; ele com 24 anos e filho de João Gomes da Motta e Izabel Maria de Sousa, e ela, com 16 anos, filha de Francisco Bernardo de Sousa e Joanna Lopes de Mendonça. Foram testemunhas João Martins Ferreira e João Baptista de Oliveira. João Martins Ferreira, antigo morador da Ilha de Manoel Gonçalves, foi administrador das terras do Coronel Bento José da Costa.
Em dezesseis de novembro de mil oitocentos e trinta e um, o pároco do Assu, Joaquim José de Santa Anna, batizou na Fazenda das Cacimbas de Vianna Jeronima, filha de João José Nepomuceno e Antonia Joanna, naturais do Assu, nascida aos trinta e um de outubro de mil oitocentos e trinta e um, tendo como padrinhos Ricardo Cardoso e Maria Esperança, ambos solteiros e do Assu.
Outro registro de casamento, na Fazenda Cacimbas do Vianna, foi o de Joaquim Teixeira de Sousa e Josefa Lopes Viégas, em 19/11/1855. O nubente era da freguesia de Angicos e a nubente da freguesia do Assu. Foram testemunhas Antonio Lopes Viégas Junior e João Lins Teixeira de Sousa, casados. João Lins Teixeira de Sousa casou com Izabel Felippina Lopes Viégas, no Sítio Saco, eram pais de Antonio, nascido em 31/03/1852, e batizado no Sitio das Cacimbas, em 15/11/1852, tendo como padrinhos Francisco Antonio Teixeira e Anna Joaquina Teixeira de Sousa (esposa de João Gomes Carneiro de Mello). Nesse mesmo dia e lugar, foi batizado Anna, filha de Manoel José de Sousa e Cosma Maria da Conceição, nascida em 4/05/1852, tendo como padrinhos Francisco Lins Wanderley e Anna Maria Wanderley, casados. Manoel José de Sousa e Cosma Maria da Conceição eram os pais de João Teixeira de Sousa, que nasceu em Cacimbas do Viana, e depois foi viver em Macau, conforme consta no livro 1º Centenário da Ordenação Sacerdotal do Monsenhor Joaquim Honório da Silveira. Manoel e Cosma contraíram núpcias em 24/02/1848, na Fazenda das Cacimbas do Vianna.
Em outros artigos já tivemos oportunidade de transcrever outros registros ocorridos na Fazenda Cacimbas do Vianna, principalmente da Família Martins Ferreira, que inicialmente vivia na Ilha de Manoel Gonçalves, deslocou-se, posteriormente, para Macau, por conta da submersão da dita ilha, e por último para aquela localidade, principalmente os descendentes do Major José Martins Ferreira. Uma parte da família depois foi para Santana do Mattos e Angicos, e outra parte não sei que destino tomou, pois não encontramos outros registros da dita família. Minha avó Maria Josefina Martins Ferreira, filha de Francisco Martins Ferreira, casou com Miguel Francisco da Trindade de Angicos; Josefina Emilia Alves Martins, filha de José Alves Martins, casou com Absalão Fernandes da Silva Bacilon, avós de Aristófanes Fernandes e Aluizio Alves; Encontramos os descendentes de Militão Alves Martins, irmão de Josefina Emília, em Lages, Acari, Cruzeta e Natal. Um outro irmão de Josefina Emilia era Delfino Alves Martins que agora estamos recuperando informações sobre sua descendência através de sua bisneta Noélia Agripino de Castro. Não localizamos até agora, os descendentes contemporâneos, de Manoel José Martins, Joaquim José Martins Ferreira e Josefa Martins Ferreira, os dois primeiros casaram na Fazenda das Cacimbas do Vianna. Josefa foi casada com o português Manoel Alves da Silva.

Fazenda do Amargoso, 1810

Fazenda do Amargoso, 1810
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor de Matemática da UFRN e membro do INRG
A capitania do Rio Grande sempre teve vocação para a pecuária. Desde há muito tempo que abastecia o Nordeste com animais para os engenhos e para o abate. Tivemos, lá no Assu, a povoação de Oficinas onde se produzia charque. Fazendeiros de todo o Nordeste requeriam terras na nossa província para suas criações. Domingos Affonso Ferreira e seu genro Bento José da Costa, dois ricos portugueses, moradores no Recife, tinham várias fazendas no Rio Grande do Norte. Já descrevemos, em outro artigo, as ilhas que pertenciam aos dois e foram inventariadas, após a morte do primeiro, em 1804. Hoje falaremos de uma dessas fazendas.
José Álvares Lessa, morador na Ilha de Manoel Gonçalves, procurador inventariante do Coronel Bento José da Costa, em 1810, disse haver mais pertencente ao casal Domingos Affonso Ferreira e Anna Maria Theodora, lá no Sertão do Assu, além das Ilhas já descritas em outros artigos. No título de terras da Fazenda do Amargoso fez a seguinte descrição.
A Fazenda do Amargoso tem três léguas de terras que partem ao nascente com as sobras de terras do Mangue Seco; ao poente com Aroeiras; ao norte com terras da Fazenda Conceição; e ao sul com terras de Águas Novas: e mais três léguas de data das sobras das terras entre Amargoso, e Curralinho; as quais hoje servem de logradouro a dita Fazenda do Amargoso: e também mais toda a terra, que se achar da dita Fazenda da Conceição anexa a da Fazenda Amargoso, a qual parte ao nascente com o Mangue Seco, ao sul com terras do Amargoso; ao norte com a Cambôa dos Barcos; ao poente com o Rio da Barra do Amargoso, a qual terra da Fazenda da Conceição, hoje em dia, serve de logradouro pelo inverno à sobredita Fazenda do Amargoso; as quais todas ditas terras, disse o dito procurador inventariante, houve por compra feita a Francisca Rosa da Fonseca, Domingos Affonso Ferreira, e seu genro e sócio o Coronel Bento José da Costa por escritura pública nas Notas de Francisco Gomes da Fonseca, Tabelião das Vilas de Santo Antonio do Recife, as quais três  léguas de terras da Fazenda do Amargoso;  outras três léguas de sobras; e todas as da Fazenda Conceição, adjacentes e anexas as do Amargoso foram vistas e avaliadas pelos avaliadores, por junto,  por preço e quantia de um conto de réis.
Entre outras criações, havia nessa fazenda, no ano de 1810, 4 bois de carros, 25 bois de lotes, 30 novilhos, 100 garrotes, 50 bezerros novos, 500 vacas, 30 novilhas, 100 garrotas, 60 bezerras, 24 cavalos de fábrica, 1 cavalo pai de éguas, 25 éguas novas e 100 cabras.
 Um dos registros de casamento que encontrei foi de Manuel Luis, filho legítimo de Luiz, escravo da casa do finado Bento José da Costa, que morava na Fazenda Amargoso, testemunhado por Theodoro de Sousa Pinheiro e Matheus da Rocha Bezerra (avô do jornalista Pedro Avelino).
Um dos moradores dessa Fazenda foi o Capitão Francisco Trajano Xavier da Cunha, primeiro Juiz de Paz de Macau. Francisco Trajano era da Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação da cidade do Natal, e foi primeiramente casado com Dona Marianna Ignácia Teixeira (em outro documento Maria Ignácia Fernandes Pimenta), que veio a falecer em 3 de julho de 1826, em São Gonçalo. Em 24 de novembro de 1829, no Oratório das Oficinas, ele, viúvo, casou com sua prima (3º grau de consanguinidade) Senhorinha Clara dos Anjos, filha de Carlos José de Sousa e Manoella Archangela dos Anjos. Uma das testemunhas foi Manoel da Rocha Bezerra que era casado com Josefa Jacinta, uma irmã de Dona Senhorinha. Manoel era irmão do Professor Matheus da Rocha Bezerra, citado acima, ambos filhos de Balthazar da Rocha Bezerra e Josefa Maria da Silva (ou Josefa Barbosa da Silva).
Na área compreendida no entorno da Fazenda Amargoso, em 1839, houve uma audiência de conciliação, na casa do Juiz de Paz substituto, André de Sousa Miranda, por conta de uma disputa das sobras denominadas Canafístula, da data de Curralinho e Águas Novas, tendo como autores os Capitães Francisco Trajano Xavier da Cunha, Jacintho João da Ora, José Pedro da Silveira, e o tenente-coronel João Marques de Carvalho, e como réus o capitão João Martins Ferreira e sua mulher dona Josefa Clara Lessa. João Martins e Josefa Clara tinham sido padrinhos, em 16 de setembro de 1834, de José, filho de Francisco Trajano e Senhorinha, sendo que a madrinha foi representada por Antonia Bernarda Achyoles, uma irmã de Senhorinha. Antonia foi casada com um filho de Alexandre José Pereira, que em 1818 era comandante do degredo da Ilha de Manoel Gonçalves.
Em 1843, André de Sousa Miranda foi padrinho de Thereza, filha de Francisco Trajano, junto com Maria Ludovina de Sousa, esta por procuração de Joaquina Maria da Transfiguração.
Joanna, filha de Francisco Trajano e Senhorinha, foi batizada em 1845, no sitio Amargoso, tendo como padrinhos Leandro Gomes de Miranda e Leonor Ferreira Barbosa por procuração que apresentaram Francisco Xavier da Cunha (mesmo nome do pai de Francisco Trajano) e Maria Ludovina de Miranda. Nessa mesma data, e no mesmo sitio Amargoso, foi batizada Cândida, filha de Francisco Xavier da Cunha e Maria Ludovina de Miranda, tendo como padrinhos Francisco Trajano e Senhorinha.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Macau, relatos de uma viagem

Macau, relatos de uma viagem
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor de Matemática da UFRN e membro do INRG
Um dia desses, sugeri a vice-reitora da UFRN, Ângela Paiva, uma reportagem ou documentário da TVU sobre a Ilha de Manoel Gonçalves. Mesmo sabendo das dificuldades para se fazer esse tipo de trabalho pelo interior do Rio Grande do Norte, após escutar as minhas considerações, prometeu encaminhar a dita sugestão para exame da TVU. Assim, diante dessa possibilidade conversei com algumas pessoas desse órgão.
Em seguida, enviei via e-mail, algumas informações e artigos que fiz sobre a Ilha de Manoel Gonçalves. Conhecedor de muitos anos da burocracia pública (a privada não é menor), tive que esperar pacientemente os resultados dos estudos. Dentro das repartições públicas, muitas solicitações vão perdendo fôlego a medida que passam de uma mão para outra. Além disso, a rotina própria da TVU, as atividades já programadas e as dificuldades para se fazer imagens no interior poderiam adiar aquele sonho.
Outro dia, aproveitei um momento de audiência com a vice-reitora para informar do andamento da solicitação. Atenta, ao que expus, sugeriu de imediato que fosse aproveitado o dia de inauguração de uma obra em Macau para fazer a dita reportagem. E, assim, aproveitei aquele mesmo dia para ir a TVU. Fui recebido por Washington que se interessou pelo assunto, fez algumas perguntas e disparou uma série de providências para aproveitar a data do dia 21 de Maio. Conversei, também, com Regina Barros que se dispôs a ir até sua terra Macau para providenciar alguns contatos para a realização da reportagem.
No dia 21 de maio, peguei carona com Sergio Henrique, escalado para cobrir o evento, e o grupo de reportagem da TVU e fomos para Macau, logo cedo da manhã.
Em Macau, após a inauguração comandado pelo Reitor José Ivonildo, fomos para as ruas de Macau, pois, além da matéria sobre o evento da UFRN, duas outras matérias seriam feitas: um sobre turismo em Macau e outra sobre a Ilha de Manoel Gonçalves.
Uma das filmagens foi sobre a ponte para ilha de Santana. Enquanto eles filmavam perguntei a uma senhora, de umas das casas da rua que dá acesso a ponte, o nome daquele local. Ela disse que aquela rua se chamava Manoel Gonçalves e era conhecida por rua da Maré. Avistei uma placa e a fotografei, embora o nome da rua já estivesse pouco legível.
No começo da tarde fomos ao Museu José Elviro, onde foram entrevistados Gilson Barbosa, que coordena o Museu, e Regina Barros. Lá foram colhidas imagens de três objetos que vieram da Ilha de Manoel Gonçalves: o sino da Capela de Nossa Senhora da Conceição, a base do cruzeiro, e uma pequena campainha da mesma Capela. Eu aproveitei para fotografar outros objetos, como uma mala de pregaria que foi de Vicente Maria da Costa Avelino, pai do jornalista Pedro Avelino. Fotografei novamente uma placa do jazigo do Barão de Ipojuca, que foi enterrado em Macau, objeto de um artigo de Câmara Cascudo.
Aqui, cabe um comentário sobre o Museu. Após várias visitas que já fiz ao mesmo, sinto que um cartão de visita de Macau, como é o Museu José Elviro, merece uma atenção maior do poder público e também das empresas privadas da região. Infelizmente, ele não está sendo bem cuidado.
Depois seguimos para Igreja Matriz. Lá deveríamos fotografar o Cruzeiro e a imagem de Nossa Senhora da Conceição que vieram da Ilha. Embora, estivesse marcado para o horário entre 14 e 15 horas, o padre nem a secretária estavam lá. Segundo um rapaz que nos atendeu, pelo que ele sabia, nós só chegaríamos lá pelas 17 horas. O cruzeiro foi filmado, mas para surpresa nossa a imagem de Nossa Senhora, com mais de 150 anos, não estava mais na Matriz. O mesmo rapaz que nos atendeu informou que ela foi para o CEIMH – Centro de Educação Integrada Monsenhor Honório. Anteriormente, essa imagem ficava na parte superior da Matriz, e era visível pelo lado de fora. Mas, segundo o rapaz ela foi movida porque estava se estragando por conta do sol. Não havia necessidade dela sai da Matriz, lá tem muito espaço para muitas Nossas Senhoras, e principalmente, uma relíquia como é a da Ilha de Manoel Gonçalves.
Antes de ir para o CEIMH, fomos para a praia de Camapum, para fazer imagens da possível localização da Ilha e para novas entrevistas sobre turismo em Macau.
Sobre a localização da Ilha, a partir da praia de Camapum, há controvérsias. Em uma de minhas idas anteriores, Benito Barros, tinha me levado até a praia e dava a entender que ela se situava do lado esquerdo. Ailton Marques, com quem conversamos durante a solenidade da UFRN, dizia que era do lado direito. De qualquer forma foram feitas imagens dos dois lados. Entretanto, com as informações do inventário de Domingos Affonso Ferreira é possível, hoje, com a ajuda de um cartógrafo encontrar a verdadeira localização da Ilha. Getulio Moura, lá do Assu, nos mandou um e-mail com algumas informações sobre a localização, que não deu tempo de examinarmos com mais cuidado, mas foi entregue ao repórter  Sérgio Henrique. No Museu João Elviro, Regina Barros fez algumas considerações sobre a Ilha, e lá em Camapum dei algumas informações do meu conhecimento, colhidas nos livros de registros da Igreja e em outros documentos e livros.
Aqui, mais um comentário. Ali naquela praia de Camapum já devia ter uma seta indicando o local onde foi a Ilha. Mais ainda, no local onde foi a Ilha deveria ter umas bóias. Deveria também, a partir da praia, haver uns barcos que levassem os turistas até o local onde foi a Ilha. Simples assim.
Da praia fomos para o CEIMH em busca da imagem de Nossa Senhora da Conceição.  O vigia nos levou até a capela. Lá estava a imagem em cima de um pedestal, sujeito a um tombo a qualquer momento. Alguma coisa naquela imagem me chamou a atenção, mas não consegui me lembrar o que era. Já de volta ao carro, abri o livro que escrevi e procurei a imagem que tinha fotografado em 2007. A imagem que está no CEIMH estava sem a coroa. Onde está a coroa de Nossa Senhora?
É estranho o descuido com as nossas relíquias. O Cruzeiro está na Matriz, a base do Cruzeiro, o sino e a campainha no Museu, e a imagem de Nossa Senhora da Conceição, perdida e vulnerável na Capela do Centro de Educação Integrada Monsenhor Honório.
A Ilha de Manoel Gonçalves pode não ressurgir fisicamente, mas tem que ressurgir na memória dos muitos habitantes daquela região do antigo Assu. Saímos de Macau, no final da tarde.

João Lostau Navarro e a petição de Francisco Lopes

Ruínas de Pium - casa forte de João Lostau
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor de Matemática da UFRN e membro do INRG
Entre os ascendentes de famílias do Rio Grande do Norte, talvez, o mais antigo que se conhece e, que morava nesta Capitania, é João Lostau  Navarro. Recebeu várias sesmarias na nossa Capitania, sendo a primeira em 1 de março  de 1601, onde tinha um Porto de pescaria. Há quem diga que chegou aqui com Duarte Coelho, em 1534. Segundo nossos historiadores ele foi sogro de Joris Garstman, holandês que comandava o Forte dos Santos Reis Magos, na época da presença holandesa no Rio Grande do Norte, e de Manoel Rodrigues Pimentel, Escabino dessa mesma época.
Até o presente momento, não estou convencido que Joris Garstman casou com uma filha de João Lostau. Não vi nenhum documento que garantisse a veracidade dessa afirmação. Pela importância desse holandês, aqui no Rio Grande do Norte, algum registro na Holanda, no Brasil ou em Portugal deveria trazer informações desse casamento. Alguns historiadores dizem que ele mandou matar Jacob Rabe, por este ter assassinado seu sogro João Lostau. Segundo Hélio Galvão, Joris Garstman casou com Beatriz Lostau Casa Maior e são os pais de Teodósio de Grasciman e Isabel de Grasciman. Também não sei como Hélio Galvão obteve essa informação. Nos documentos relativos a Teodósio, que ele apresenta no seu livro História da Fortaleza da Barra do Rio Grande, não há nenhuma indicação dessa filiação, embora ele, Teodósio, afirmasse, em 10 de dezembro de 1708, que era morador nesta capitania com mulher e filhos há mais de quarenta anos. Afirmou, também, noutro documento ser casado com Paula Barbosa, filha do sargento-mor Francisco Lopes, neta de Manoel Rodrigues Pimentel e bisneta de João Lostau.
 
Com relação a outra filha de João Lostau, Maria Lostau Casa Maior, a documentação apresentada por Hélio é convincente, principalmente a escritura de dote, datada de 13 de abril de 1626,  para ela, que estava noiva de Manoel Rodrigues Pimentel.
 
Outro documento interessante, de conhecimento de muitos, está no livro das Sesmarias do Rio Grande do Norte. É nesse documento que encontramos uma petição do Sargento-mor Francisco Lopes, solicitando alvará de confirmação de terras que foram de João Lostau. José Augusto publicou na Revista do Instituto do Ceará um artigo intitulado Norte-rio-grandense de mais de trezentos anos, onde fala sobre dita petição. 
 
O documento que se encontra no livro das Sesmarias do Rio Grande do Norte é uma cópia, onde faltam partes e há trechos ilegíveis. De qualquer forma pudemos extrair alguns trechos com informações significativas.
 
O sargento-mor Francisco Lopes, na petição citada acima, morador na Capitania do Rio Grande, afirma que é casado com uma filha legítima de Manoel Rodrigues Pimentel, e neta de João Lostau Navarro, o qual deixou a sua dita mulher, por ser única herdeira, todos os bens. Informa, também, na petição que o  dito João Lostau Navarro foi preso pelos flamengos e morto pelos tapuias. Disso resultaram perdas dos documentos de datas e sesmarias e de compras de terras, também, de seu sogro Manoel Rodrigues Pimentel. Por isso, ele estava solicitando esse alvará de confirmação para tomar posse das terras que pertenceram ao avô de sua mulher e ao seu sogro.  Pelo documento, se vê que ele era casado com Joanna Dornelles, em face da Igreja, filha de Manoel Rodrigues Pimentel e neta de João Lostau, morto pelos tapuias depois de sair da prisão.
 
 Um dos trechos que gera confusão é a afirmação que aparece na dita petição: Por ser herdeiro de João Lostau e Luiz da Moita (é o que parece escrito) e ser casado com uma neta do mesmo João Lostau Navarro. Para alguns seria Luiza da Mota esposa de João Lostau, para outros poderia ser a esposa de Manoel Rodrigues Pimentel. Entretanto, essa última versão não prospera, pois, como vimos antes, a filha de João Lostau que casou com Manoel Rodrigues Pimentel era Maria Lostau Casa Maior. Como era uma cópia há a possibilidade de ter sido feita uma transcrição errada e no lugar de Luiz da Moita ser outro nome.
Outro documento importante apresentado por Hélio Galvão é um testamento de Cipriano Lopes Pimentel, datado de 19 de dezembro de 1729. Nele Cipriano Lopes declara que é filho do sargento-mor Francisco Lopes e de sua mulher Joanna Dornelles. Apresenta sua esposa Dona Tereza da Silva, filha de Filipe da Silva e Joana Salema. Na sequência nomeia como seus filhos, da sua dita mulher: Lázaro Lopes Galvão, Cipriano Lopes Galvão, Jorge Lopes da Silva, Arcângelo Lopes, Estevão Lopes, Manoel Lopes e Dona Luiza da Silva, casada com o sargento-mor Manoel Álvares Maciel. Esses Lopes Galvão encontramos, através dos registros da Igreja, espalhados por várias cidades do Rio Grande do Norte.
João Lostau, por sua importância, merece uma biografia mais extensa.
João Lostau . Luiz da Moita

Crime de lesa-patrimônio

João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor de Matemática da UFRN e membro do INRG
No começo aqui viviam somente os índios com suas crenças e seus deuses, guerreando entre si e comendo uns aos outros. Aí vieram os portugueses: alguns aventureiros, outros fugindo da intolerância da Igreja ou degredados pela inquisição. Em seguida os portugueses arrastaram à força, para cá, os índios das mais diversas nações africanas. As nossas riquezas trouxeram, ainda para cá, outros estrangeiros. A ocupação era traumática e difícil, por conta da dimensão do país e da disputa com os habitantes naturais. Muitos morreram. Os que foram sobrevivendo iam construindo a nossa nação da forma que podiam, sem muita ajuda da coroa portuguesa, mas muito pelo contrário, sendo espoliados de forma vil.
Durante todo esse tempo, muitas contendas e revoltas: a guerra contra os holandeses, a guerra dos palmares, a guerra dos bárbaros, a inconfidência mineira, a revolução de 1817, a confederação do equador e tantas outras pelo Brasil afora. Não foi fácil!
Mas que país temos hoje? Depois de tantos anos e tantas lutas que qualidade de vida temos? Como é a vida deste Brasil de hoje?
Os avanços tecnológicos e da ciência estão presente na vida dos brasileiros. Ande pelos mais distantes rincões deste país e avistarás no topo da casa mais miserável uma antena parabólica e na mão dos mais desprovidos dos seres um celular. E daí, isto é cidadania? Isto é qualidade de vida?
Nossos parlamentos ou nossos governos são ocupados, não por eleitos que se corromperam, mas por corruptos que se elegeram. A corrupção antecede a eleição. A chegada ao poder é precedida de enganações, compra de votos com dinheiro, com imagem, com propaganda enganosa e com apelos religiosos.
Para exemplificar, vi, no ano que passou, um candidato que na eleição anterior foi campeão de votos, e que na de 2010 dizia, despudoradamente, que antes os eleitores não o conheciam tão bem. Realmente, era um novato por aqui, que foi votado em quase todas as cidades, mas que muitos nunca tinham ouvido falar dele. Outro fato lamentável, e que não sensibiliza o cidadão é a eleição de suplentes de Senador e vice - qualquer coisa. Tem que mudar!
Há uma passividade que incomoda. Estamos inertes. As revoltas do passado não nos alcançam mais. O consumismo material, religioso e midiático, nos anestesia. Enquanto no exterior assistimos a revolta de muitas nações contra os seus mandatários que não querem largar o osso do poder, aqui vemos se perpetuarem na política, direta ou indiretamente, muitas famílias. É o poder que gera poder. Quem quer arriscar no novo? Que chance tem o novo de chegar ao poder, sem corromper?
Os poderes constituídos neste país agem sem prioridades magnas. Eles atuam sem nenhuma filosofia que vise o bem comum. São ações isoladas que se baseiam em forças não perceptíveis. Muita mídia e poucos resultados.
Nossa educação e nossa saúde são compostas de números que retratam coisas materiais. A dor e a ignorância nos maltratam diariamente, sem dó nem piedade. A lei de responsabilidade fiscal não tem impedido a construção de novas obras, mesmo existindo uma quantidade de outras inacabadas.
Enquanto amargamos situações deploráveis na segurança, na educação e na saúde, assistimos mais uma irresponsabilidade dos nossos governantes com o beneplácito dos brasileiros: A copa de 2014. Não estávamos preparados para sediá-la. Mas fomos disputar a chance de ser sede por pura vaidade ou incompetência administrativa. Vamos gastar rios de dinheiro, em detrimento do essencial para as nossas vidas. Muitas balelas são colocadas na defesa dessa realização. O Brasil, o Rio Grande do Norte ou Natal serão vistos e conhecidos pelo mundo todo. E daí? Se já não nos conhece é pura incompetência nossa ou deles.
Assim como muitos ficam ricos nas eleições, outros tantos vão ficar mais ricos com a realização da copa. A própria FIFA vem vender suas bugigangas por aqui.
O Centro Administrativo, o Machadinho e o Machadão foram construídos com muito sacrifício. Ao longo do tempo, muitas dívidas foram contraídas e algumas nem terminaram de pagar para construir e manter aqueles próprios. Quantas reformas foram feitas naquela região com recursos de empréstimos?
A destruição daqueles locais é um crime de lesa-patrimônio e deveria ser o centro de revolta da população. Mas o futebol é outro componente que nos anestesia. Vejam a loucura das torcidas nos estádios de futebol. Qual é o político ou fiscal da lei que vai enfrentar aquela turba enfurecida?
Sempre gostei de futebol. Quando menino jogava quase todos os dias. Além disso, assistia jogos levado por meu tio afim, Evilásio Rocha (no seu velório tinha uma bandeira do ABC sobre seu caixão, enquanto tocava o hino do clube). Algumas vezes subia em uma caixa d'água que tinha em um abrigo vizinho ao Estádio Juvenal Lamartine para ver os jogos. Mas, sou contra a realização da copa em 2014, aqui no nosso Estado, por que ela está sendo feita de forma incorreta e abusiva. Qualquer coisa que ela poderia nos trazer de benefícios, pode ser conseguida de uma forma mais criteriosa e decente.
Não precisamos de um novo Estádio. Precisamos, sim, de mais Hospitais, maternidades, escolas, aeroportos decentes, mais segurança, mais cuidados com todas as cidades de nosso Estado. Os números nas áreas mais importantes para a qualidade de vida são preocupantes. A Copa está nos desviando das questões fundamentais deste país. Os municípios brasileiros terão menos recursos com a realização da Copa. Se faltam recursos para as coisas básicas, com certeza faltarão mais ainda por conta da Copa. As contrapartidas, os empréstimos comprometerão mais ainda a qualidade dos serviços prestados pelos governos. As obras, como sabemos, demandarão muitos aditivos, e por conseqüência mais recursos.
Já estão articulando a reforma do Juvenal Lamartine. Novos recursos serão destinados para isso. Mais problemas no trânsito, mais contratos, mais aditivos e mais espertezas. A nossa cidade está com o futuro comprometido. As dívidas, que já são muitas, ficarão ainda maiores. Os políticos vão reclamar na época da eleição e depois quando se elegeram, mas não fazem nada agora.
Contra a Copa, a favor de Natal e do Rio Grande do Norte!

O repovoamento, após a saída dos holandeses


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor de Matemática da UFRN e membro do INRG

Após a saída dos holandeses, teve inicio o repovoamento do Rio Grande do Norte. Com a morte ou a fuga de muitos para outras regiões, durante o período de dominação batava, as terras foram abandonadas. Para repovoar nossa província, a primeira providência foi convocar os antigos donos ou seus herdeiros para se apresentarem, como fica claro nos pedidos de sesmarias depois de 1654.

Para começar, vejamos um pequeno trecho da Sesmaria de nº 1 que consta do primeiro volume de Sesmarias do Rio Grande do Norte, editada pela Fundação Vingt-un. Advertimos que muitos desses documentos eram cópias e, como tal, alguns enganos podem ter ocorrido. Alguns desses documentos têm partes ilegíveis ou incompletas. Assim, alerto que posso também ter cometido alguns equívocos. Coloco aqui o que for possível e necessário para entender os ditos documentos.

Carta de data que faz o Capitão Antonio Vaz, em nome de sua Majestade que Deus Guarde, ao Capitão Francisco de Mendonça Elesdesma das terras do finado Capitão Simão Nunes Correia, uma em Potigi e outra no Mipibu. Diz o Capitão Francisco de Mendonça Eledesma que ele mora nesta Capitania com sua mulher e filhos onde está vivendo e porque ora é vindo a sua notícia, que se mandou publicar pelas Capitanias da Paraíba e Pernambuco que as pessoas que tivessem terras nesta dita Capitania do Rio Grande, onde são moradoras, as viessem povoar dentro de seis meses, e não o fazendo as daria por devolutas e desaproveitadas e, por que o tempo é passado, que Vossa Mercê por a ele para tratar de povoar algumas e como, por falecimento do Capitão Simão Nunes Correa, lhe ficou uma sorte de terra no Potigi e outra em Mipibu, e até o presente lhe não tem acudido herdeiros nem procurador a povoá-las pede a Vossa Mercê seja servido dar-lhe as ditas terras em nome de Sua Majestade por devolutas e desaproveitada para nelas viver e trazer seus gados e para ter suas roças.

A carta foi passada, em 12 de Agosto de 1659, por Antonio Vaz Gondim, Capitão mor da Fortaleza dos Santos Reis Magos, Capitania do Rio Grande, escrita por Domingos Cardozo de Moura. Foi registrada por Domingos Vaz Velho, escrivão da Câmara da Cidade.
Do documento de nº 2, do referido livro, extraio o seguinte trecho: Provisão do Governador Capitão Geral deste Estado do Brasil, Francisco Barreto, por que dá ao Capitão Dionizio Vieira de Mello por devolutas as terras de Domingos Martins, Vilão das Botas, por alcunha, sitas na Ribeira do Cunhaú, as quais lhe dou em nome de Sua Majestade.

Francisco Barreto, do Conselho de Guerra de Sua Majestade, Governador e Capitão Geral do Estado do Brasil, etc. Faço saber às que esta Carta de Doação e Sesmaria virem que o Capitão Dionísio Vieira de Mello me enviou a representação cujo teor é o seguinte: Diz o Capitão Dionísio Vieira de Mello, que na Capitania do Rio Grande estão umas terras desaproveitadas que foram de Domingos Martins, o Vilão das Botas, por alcunha, as quais terras estão sitas na Ribeira do Cunhaú, e pertencem a Coroa Real por que foram possuídas pelo dito Domingos Martins que sendo morto no tempo dos flamengos, por não deixar herdeiros e estarem vagas, sem dono certo, as ditas terras ficam pertencentes a Coroa Real, e porque o suplicante as quer aproveitar e fazer nelas canaviais e meter currais de gados e, pelo tempo adiante, engenho dando o tempo para isso lugar de se aproveitarem por qualquer (ilegível) que seja, é em aumento das Rendas Reais e em bem público da Capitania do Rio Grande pelo qual pede a Vossa Senhoria lhe faça mercê de lhe dar em nome de Sua Majestade todas as terras do dito defunto assim e da maneira que ele as possuiu em sua vida e assim dar-lhe as cabeceiras das terras do Engenho Cunhaú uma légua de terra em quadra correndo pela várzea abaixo na mesma conformidade pela banda de (ilegível) e Ribeira do Cururimatahy, ficando a várzea em meio...

O terceiro registro é um pedido de terra, ao Capitão Mor Antonio Vaz, do Padre Leonardo Tavares de Mello, vigário de Nossa Senhora da Apresentação, Matriz desta Capitania, que alegou que não houve pedido de herdeiros de um sítio de terras onde morou Jorge Gosman (Joris Garstman), flamengo, que ficou por morte de Diogo Dias, que está pegado a Ribeira do Potigy e ele, suplicante, necessita dela para a povoar com seu gado e criações,e mantimentos. Essa data é de 1660. Pelo título era em Cunhaú, data de Bom Sucesso.

No livro de registros foi inserida uma carta com a numeração 3(a). É uma data para o norte-rio-grandense Manoel de Abreu Soares que participou, posteriormente, da Guerra dos Bárbaros, com idade bem avançada. Ele é ascendente de muitas famílias, aqui no Rio Grande do Norte, principalmente, através do seu filho Pascoal Gomes de Lima. Em um dos trechos da data encontramos o seguinte: O Capitão Manoel de Abreu Soares, morador nesta Capitania do Rio Grande, ele tem seu gado, e família para ajudar a povoar a dita Capitania e lhe faltam terras para o poder fazer, e porque tem servido a Majestade, há vinte seis anos contínuos, nestas guerras de que ele até agora não tem recebido mercê alguma, e porque na Ribeira de Goiana estão umas terras que ficaram por falecimento de Francisco Teixeira, morador que foi nesta Capitania, de que não ficaram herdeiros, as quais terras partem pelo rio Jacu acima ficando da banda do norte o rio .....e com os mais...que ali tem terras a bem lhe faça mercê em nome de sua Majestade dar-lhe as ditas terras de sesmaria assim e da maneira que as possuiu  o dito defunto Francisco Teixeira. Essa data é de 1660, e foi registrada pelo Escrivão da Fazenda Real, Francisco de Oliveira Banhos, em 1664.

A quarta data, do ano de 1660, é, também, para o Padre Leonardo Tavares de Mello. Essas terras, na várzea de Mipibu, pertenceram a Luiz da Moita, morto pelos tapuias.

É importante salientar que a ocupação dessas terras não foi de forma tranquila, pois houve resistência dos índios que perdurou por muitos anos, culminando na chamada Guerra dos Bárbaros, já citada acima.

Luiz da Moita, morto pelo tapuia

sábado, 23 de abril de 2011

Corsários ingleses na Ilha de Manoel Gonçalves, 1818


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor de Matemática da UFRN e membro do INRG
Manoel Rodrigues de Melo escreveu na Revista Bando um artigo, intitulado O Saque da Ilha de Manoel Gonçalves, baseado no livro Documentos do Arquivo – Presidentes de Províncias (1818) - editado pela Secretaria de Interior e Justiça de Pernambuco no ano de 1943. Quando estive em Recife, recentemente, fiz imagens de tais documentos, entre eles as duas correspondências emitidas da Ilha de Manoel Gonçalves que transcrevo aqui.
A primeira é uma carta do Comandante do Degredo da Ilha de Manoel Gonçalves, Alexandre José Pereira, para o Capitão Manoel Varella Barca, carta esta copiada pelo Padre Manoel Pinto de Castro que servia de Secretário do Governo da Província do Rio Grande.
Ilustríssimo Senhor Capitão Manoel Varella Barca//Ilha de Manoel Gonçalves, 13 de Dezembro de 1818//.
Dou parte a Vossa Mercê que ontem, treze de Dezembro do corrente, às onze horas do dia, deu fundo fora da Barra do Amargozo um Corsário de ladrões estrangeiros armado em guerra, com muito armamento, e entraram nos seus lanchões de tarde dentro do Rio, e roubaram cinco Sumacas, e conduziram tudo para seu bordo, e ainda se acha ancorado no mesmo lugar, e penso ser com intenção de virem saquear, e roubar a terra; aqui se acham alguns homens, mas sem armas, e creio que tudo se acabará, aqui já se acham pelo que diz seis feridos com tiros que fizeram para terra, e a mais da gente desta praia vejo esmorecidos, e eu pior que nenhum, pois me acho doente para morrer, Vossa Mercê mandará o que for servido// Deus Guarde a Vossa Mercê por muitos anos// De Vossa Mercê atento súdito// Alexandre José Pereira// Comandante deste Degredo Ilha de Manoel Gonçalves.
Entre as cartas do nosso Governador para o da Província de Pernambuco, Luis do Rego Barreto, há uma, datada de 31 de Dezembro de 1818, onde ele escreve: Entre as diferentes partes que tive sobre este objeto, a que me parece mais correta, e circunstanciada, foi a de um morador da Ilha de Manoel Gonçalves correspondente de Bento Joze da Costa, que por isso a ofereço na Cópia N1 para com ela informar a Vossa Excelência do que se passou no Assu.
N1. Ilustríssimo Senhor Governador Joze Ignacio Borges.
Participo a Vossa Senhoria, que no dia 12 do corrente, pelas onze horas da manhã, apareceu, três léguas a Leste desta Ilha à popa, uma Escuna com um sinal, ou bandeira estranha no mastro de proa e veio fundiar defronte da Barra do Amargozo a barlavento da Sumaca Santa Rita Galatéa de Pernambuco, que se achava fora acabando de carregar de peixe de vários negociantes destas praias, e logo que fundiou, mandou o Comandante desta a bordo uma jangada com três homens saber o que queriam, disseram, que refresco de aguada, e mantimento, que aquela embarcação era Inglesa, e de guerra.
 Os ditos jangadeiros viram muito armamento, gente de toda a nação; imediatamente que largou de bordo a dita jangada, largaram eles três escaleres, ficando um a bordo da dita Sumaca Santa Ritta, e dois entraram na Barra do Amargozo, e achando-se ancoradas naquele Rio, com distancia uma das outras, quatro embarcações, a saber, o Penha, e Victoria de Pernambuco, Conceição, e Almas da Paraíba, e Flor do Mar de Goiana, e atracando o primeiro escaler a bordo do Penha, armados tomaram conta da embarcação, e o segundo seguiu de rio acima, e atracando no último vazo também  armados, principiaram a roubar dinheiro, roupa, maçame, e escravos, e da mesma forma continuaram nas mais embarcações até chegarem de regresso na Penha, e incorporando-se  com os que estavam já de posse da Sumaca, meteram os oficiais, e a Campanha no Castelo, e continuaram o saque, estando em terras no Pontal do Amargozo os passageiros que tinham vindo no Penha, e moradores; entraram-lhe a fazer fogo de bordo, ferindo de bala quatro dos moradores, a fim de melhor conduzirem o saque nos escaleres, e na lancha do Victoria, que levaram com seis escravos do Penha e Victoria, três homens forros, tudo feito na tarde  que ancorou.
Imediatamente que soube nesta Ilha fui com dez homens daqui por terra mais de uma légua, tomando em caminho seis do Lagamar, e chegando já de noite, tinham saído.
No dia 14 vimos por um óculo de terra estarem saqueando o Santa Ritta, e no dia 15 indo eu, e os mestres das Sumacas Penha e Victoria, e os passageiros a bordo do Penha, ver o estrago que teriam feito, e chegando, tendo deixado os moradores desta Ilha prontos de pólvora, e bala com as poucas armas de fogo que há de guarda a Ilha, viu largar de bordo da dita Escuna, os três Escaleres, e providenciando-se esperá-los na Barra do Amargozo, aqui não vieram, e foram a boca do Rio, distante desta duas léguas saquear seis casas de palha que tem, porém pouco ou nada acharam.
No dia 16 pelas quatro horas da tarde, estando parte dos habitantes desta, e de Guamaré juntos de guarnição à Ilha, viram entrar na Barra do Amargozo o escaler grande carregado de gente, e tornando a abordar as Embarcações á conduzir o resto do que ainda lhe faltava, e pegando a lancha da Sumaca Conceição e Alma saíram.
No dia 17 pelas duas horas da tarde mandaram para terra a dita lancha pelos marinheiros forros que lá tinha das Sumacas, e um passageiro carregador de peixe no Santa Ritta, e o Contramestre da mesma, e mandaram dizer ao Comandante que lhes mandasse um Prático para os botar fora da Ponta Gorda, que queria ir pelo canal, e se o não fizesse até as quatro horas da manhã, que havia mandar atacar esta Ilha, e tocar fogo nas casas, e nas Sumacas, porém destas ameaças caso nenhum se fez.
No dia 18 de manhã se viu velejar a Escuna para barlavento. Contam os marinheiros que lhes ouviram dizer que iam para America Espanhola, e que ainda haverão de andar três meses fora, e que iam esperar os navios que haviam saído de Lisboa para o Brasil, e Índia, e que a gente que traz são noventas e oito pessoas, e que já tinham feito três presas, que as tinham mandado para America Inglesa de onde tinham saído cento e tantas velas. A fortificação que traz são seis peças por banda de 12, e uma na proa de rodízio de 18; este malvados vão de Costa acima esperar as embarcações que navegam na costa do Sertão até o Maranhão, e Pará.
Eu tenho aviso de Pernambuco do coronel Bento Joze da Costa, que nas águas próximas da lua nova despedia para esta a Sumaca Xica, e em Janeiro o Brigue São Manoel
Deus Guarde a Vossa Senhoria, Ilha de Manoel Gonçalves, 18 de Dezembro de 1818. João Martins Ferreira.

A Ilha de Macau e as outras Ilhas, há duzentos anos


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor de Matemática da UFRN e membro do INRG
Depois de descrever a Ilha de Manoel Gonçalves, o procurador inventariante, José Álvares Lessa, discorreu mais sobre outras Ilhas que faziam parte das terras de Domingos Affonso Ferreira e do seu genro e sócio Bento José da Costa, no Sertão do Assú. Transcrevo essas informações para maior conhecimento da geografia daquela região. Elas foram tiradas do inventário de Domingos Affonso Ferreira, existente no Instituto Histórico Pernambucano, e já digitalizado.
Terras das duas Ilhas anexas denominadas = de Lagamar, e Coroa Grande = com meia légua de largura de Norte a Sul, e ambas com uma légua de comprimento de Leste a Oeste; ou do nascente e Pontal de Boa Vista ou Cambôa dos Barcos ao Poente até o da Barra do Rio Amargoso; ao longo, e paralelo da Costa do Mar de que são lavadas pelo lado do Norte; com sítios de currais de peixes na Costa do Mar; água doce dentro, pasto para gados; dá madeira de Mangue; e rende dezesseis mil reis; vistas e avaliadas pelos avaliadores por preço e quantia de seiscentos mil réis.
Terra da Ilha denominada = de Balthazar = com um quarto de légua de largura de Noroeste ao Sueste do Rio Chamado de Manoel Gonçalves até o Rio do Arrombado com pasto para gado, e madeira de mangue, sem água doce, vista e avaliada pelos avaliadores por preço e quantia de dez mil réis.
Terra da Ilha denominada = de Janduhin = entre o Rio Arrombado, e o Rio da Conceição; de figura circular com meia légua de diâmetro; só tem pasto para gado e madeira de mangue; vista e avaliada pelos avaliadores por preço e quantia de dez mil réis.
Terras de toda a Ilha denominada = da Madeira = ao nascente da Ilha de Manoel Gonçalves com uma légua de testada e cumprimento de Leste a Oeste, ou do nascente e donde os Marcos do Morro do Presídio ao Poente até o Pontal da Barra Velha ao longo e paralelo da Costa do Mar, de que é lavada pelo lado do Norte, e daí para o Sul com duas de fundo até testadas da terra do Sítio Conceição, com pesqueiras de currais de peixe na Costa, água doce, pasto para o gado e madeiras de mangue; visto e avaliado pelos avaliadores por quatrocentos mil réis.
 Terras das Ilhas anexas denominadas = de Tubarão e Tubarãozinho = ambas ao nascente da do Madeira, com légua e meia de testada, ou comprimento de Leste a Oeste; ou do Nascente e do lugar do Minhôto ou Mangue Seco, ao Rio Diogo Lopes ao Oeste ou Poente: ao longo e paralelo da Costa do Mar de que são lavadas pelo lado do Norte; e daí para o Sul com muita pouca largura ou fundo; cuja sobredita extensão é variável pelas entradas e saídas do mar, e movimentos das areias impelidas dos ventos, por isto com terreno montanhoso e escavado; tem dois sítios de currais de peixe na Costa do Mar; vende anualmente seis mil réis (ilegível); sem água doce; vista e avaliada por cinqüenta mil réis;
Terra da Ilha denominada = de Fernando = dentro ou no meio da Barra do Rio de Guamaré = de figura circular com cinqüenta braças de diâmetro, escavada, e sem água doce; vista e avaliada por dez mil réis.
Terra denominada Pontal de Guamaré = ao nascente do rio do mesmo nome de Guamaré: com três léguas de comprimento ou testada ao longo, e paralela da Costa do Mar de que é lavada pelo lado do Norte desde a barra do dito Rio de Guamaré, e Poente para o Leste, ou Nascente até os Buracos: e com um quarto de légua de fundo do Norte e Costa do Mar para o Sul até o Rio chamado Cabello: e com pesqueiras, água doce e pasto do gado; vista e avaliada por trezentos mil réis.
Terras de toda Ilha denominada= de Pisa Sal = dentro do Rio Guamaré; e de figura circular com meia légua de diâmetro: com pesqueiras de currais de peixe, e rede; pasto para gado; e madeira de mangue; sem água doce; vista e avaliada por trinta mil réis.
Terra de toda Ilha denominada = de Santa Anna = que compreende o lugar da mesma ilha, chamado Boca do Rio dos Cavalos, com três léguas de comprimento do Norte, e Costa do mar do dito lugar de Boca do Rio para o Sul até a união dos dois Rios = Assu e Rio dos Cavalos que chamam Cambôa dos Barcos das quatro bocas: ficando até o Rio Assu ao Nascente, e outro ao Poente: com uma légua de fundo, ou largura; tem pesqueiras em um, e outro Rio dos Lados; bons pastos para gado, e madeira de mangue; sem água doce, vista e avaliada por cento e cinqüenta mil reis.
Terra da ilha denominada = de Quatro Bocas= ao Sul da sobredita de Santa Anna pelo Rio do Assu acima com meia légua de comprimento e testada ao longo e paralelo do dito Rio de Norte, e lugar das Quatro Bocas para o Sul até divisa da Ilha do Queimado; e com uma légua de fundo, ou largura de um a outro Rio dos Lados de Nascente a Poente: com pesqueira em ambos os Rios, madeiras de mangue, sem água doce, e pastos; vista e avaliada por trinta mil réis.
Ilha denominada = do Macáo = com uma légua de comprimento de Norte e Cambôa dos Barcos a Leste e Nascente até a Cambôa do Amargozinho, e com largura de três quartos de légua; tem ruins salinas, bons pastos para gado, porém não tem água doce; vista e avaliado por cinqüenta mil réis
Terra dos Sítios chamados Barreiras, Armazéns, Cambôa do Sal, Trapixe, os quais nomes são de diferentes lugares, e salinas na mesma dita propriedade com três léguas de comprimento pelo rio Assu acima pela parte do Nascente desde o dito lugar do Trapixe, de Norte ao Sul até o lugar das Barreiras com largura de uma légua do Poente e Borda do dito Rio Assu ao Nascente, ou Leste até Aroeiras, e Amargozinho; tem duas salinas no lugar denominado Arenoso; e outra na Cambôa do Sal. Pesqueira no Rio Assu; pastos para gados, madeira de mangue, sem água doce; vista e avaliada por cento e cinqüenta mil réis.
Depois dessas informações, José Álvares Lessa passou a descrever as Fazendas Amargoso, das Entradas (Morro Banco e Redonda) e Cacimbas do Vianna.
Atenção: Hoje farei palestra sobre Genealogia no Solar Bela Vista, às 19:30