segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Os sobrinhos de D. Felícitas no RN (I)



João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
Borges da Fonseca, o genealogista da Nobiliarquia Pernambucana, escreveu: D. Felícitas Uchoa de Gusmão, a quem meu pai, que Deus haja, prendeu no ano de 1730, pouco mais ou menos, por ordem do Santo Ofício, foi casada na Paraíba com Luis da Fonseca. E deste matrimônio parece que nasceu um José da Fonseca, que me dizem vive pelos sertões da capitania do Ceará.
Sabemos pelo depoimento, no processo em que foi condenada à cárcere e hábito perpétuo, que D. Felícitas tinha somente um filho,  Dionísio, que na época tinha 11 anos. Segundo o mesmo Borges, Bartholomeu Peres de Gusmão, pai de Felícitas, faleceu em 7 de abril de 1700.

Disse, também, D. Felícitas, que seu padrinho de batismo, Dionísio Peres de Gusmão, filho bastardo do seu pai, era falecido e não teve filhos. Na verdade, Dionísio Peres de Gusmão, que foi advogado como seu pai, faleceu em 1709, tendo deixado cinco filhos órfãos, do seu casamento com Leonarda Peres de Gusmão, prima legítima de Luis da Fonseca, marido de D. Felícitas. É tanto, que vamos encontrar, no livro de João de Lyra Tavares, uma sesmaria, datada de 30 de dezembro de 1709, onde está escrito: D. Leonarda Peres de Gusmão, viúva do Dr. Dionísio Peres de Gusmão, diz que por morte do seu marido, ficara pobre e falta de bens, que escassamente tinha com que se alimentar e aos seus filhos órfãos, que ficaram e de nenhum modo com que pudesse dar estado a uma filha (Ana) que entre eles havia de idade de doze anos, e porquanto na rua nova desta cidade se achavam devolutos uns chãos, que correm das casas térreas de Mathias Soares Taveira, até o quintal de Gonçalves Reis, junto à casa de pólvora, com fronteira para oeste e a traseira para leste, com fundo até entestar com os quintais das casas de Luiz de Sousa Furna e outros na rua direita, pelo que pedia lhe fizesse mercê, para que em qualquer tempo pudesse dispor dele como seu.
Segundo Bruno Feitler, em uma de suas obras sobre cristãos-novos, Ana de Sá, a filha de Dionísio e Leonarda, em 1731 já era viúva do soldado Antonio Luis, e tinha um filho. Escreveu, também, que Cosme Peres de Gusmão, outro filho, também era casado em 1731, tendo seguido a carreira de advogado como o pai e o avô.
O primeiro registro da família Peres de Gusmão, que encontro aqui no Rio Grande do Norte, é de um sobrinho de D. Felícitas. No ano de 1734, no dia 18 de agosto, na capela de Nossa Senhora de Santa Anna do Ferreiro Torto, Francisco de Sousa Gusmão, filho do Doutor Dionísio Peres de Gusmão, falecido, e Leonarda Peres de Gusmão, desposou Dona Apolônia Dornelles de Jesus, filha do capitão João Barbosa Pimentel e Mariana de Azevedo, sendo testemunhas o sargento-mor João Dias Ferreira, o sargento-mor Caetano de Mello de Albuquerque, Dona Adriana de Abreu, viúva, e D. Antonia Dias dos Anjos, casada com João Fernandes de Sousa.
Não encontrei registro algum de filhos do capitão Francisco de Sousa Gusmão. O capitão João Barbosa Pimentel, seu sogro, está presente nos antigos registros de batismos da Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação. Era filho de Francisco Lopes e Joanna Dornelles, neto materno de Manoel Rodrigues Pimentel e bisneto de João Lostau de Navarro.
Quatro anos depois, no dia 18 de junho de 1738, na capela de Nossa Senhora de Santa Anna do Ferreiro Torto, Bartholomeu Peres de Gusmão, natural da Paraíba, desposou Nataria de Jesus da Silva, natural desta Freguesia. Ele, filho do Doutor Dionísio Peres de Gusmão, já defunto, e Leonarda Peres de Gusmão. Ela, filha do capitão João Fernandes de Sousa e Antonia Dias dos Anjos. Foram testemunhas Francisco de Sousa Gusmão, Manoel Peres de Gusmão, Maria Magdalena, esposa de Hilário de Castro da Rocha e Ignácia de Abreu, esposa de Francisco Barreto.
Esse Manoel Peres de Gusmão devia ser outro filho de Dionísio. O capitão João Fernandes de Sousa, já tinha aparecido nos nossos artigos sobre os Rodrigues de Sá, que estão aqui desde 1697. Era de Olinda, assim como Doutor Dionísio.
Diferentemente de seu irmão, encontramos vários filhos e netos de Bartholomeu e Nataria. Entre os filhos, registro: José, que foi batizado na capela de Nossa Senhora da Conceição de Jundiaí, no dia 13 de dezembro de 1762, tendo como padrinhos Antonio dos Anjos, solteiro e Anna Antonia, mulher de Nicácio de Sousa; Francisco, batizado aos 31 de março de 1765; Antonia, batizada aos 13 de junho de 1753, na capela de Nossa Senhora do O’ de Mipibú, tendo como padrinhos Antonio de Almeida Granco e Maria Ferreira dos Anjos, filha de João Fernandes da Rosa.
Antonia, que se tornou Antonia Dias dos Anjos, mesmo nome da avó, casou em 18 de fevereiro de 1776, na Matriz, com Constantino de Lima Rocha, filho de Constantino de Lima Rocha e Francisca Florinda, sendo testemunhas Francisco Álvares de Mello e Domingos Martins.
Francisco, acredito, tinha o mesmo nome do tio, citado acima, Francisco de Sousa Gusmão. Encontramos para ele vários descendentes, que trataremos em outro artigo.
Outros filhos que não encontramos os batismos, mas aparecem como padrinhos ou testemunhas, foram: João Peres de Gusmão, Sofia de Jesus, Maria e Dionísio Peres de Gusmão, que teve um filho natural, de nome Alexandre, com Jerônima Gomes da Silveira (prima), filha de Jerônimo Gomes da Silveira e Izabel Dias dos Anjos, batizado aos 3 de fevereiro de 1774, tendo como padrinhos Domingos Martins da Rocha e Nataria de Jesus da Silva. No próximo artigo continuaremos com a descendência de Bartholomeu Peres.

Batismo de Antonia Dias dos Anjos (2ª)



Original
Le demi-frère et parrain de Dona Felícitas, Dionísio Peres de Gusmão était aussi entre dans la famille, em épousant une cousine de Luis da Fonseca.


segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A Inquisição de D. Felícitas Uchoa de Gusmão, 1730


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
Nos registros antigos da Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação, encontramos membros da família Peres de Gusmão. Antes de fazer um artigo sobre essa família, resolvi escrever sobre D. Felícitas, de 48 anos, que morava na Paraíba e foi presa pela Inquisição, acusada de judaísmo, e enviada, a partir de Pernambuco, no navio Triunfo da Fé e Almas, para Lisboa. Era aparentada dos Peres de Gusmão, que viviam por aqui, descendentes do Doutor Dionísio Peres de Gusmão e D. Leonarda Peres de Gusmão. Após o documento inicial, escreveremos sobre a genealogia dela, descrita no processo.
Os Inquisidores Apostólicos contra a herética pravidade e apostasia nesta cidade de Lisboa, e seu distrito, &. c.
Mandam a qualquer familiar, ou oficial do Santo Ofício, que no Forte Velho ou onde quer que for achada Dona Felícitas Peres, cuja qualidade de sangue se não sabe, casada com Luis da Fonseca, natural do Recife de Pernambuco e moradora no Forte Velho a prendais com sequestro de bens, por culpas que contra ela há neste Santo Ofício, obrigatórias a prisão, e presa a bom recado, com cama, e mais fato necessário a seu uso, e a trateis e entregareis, debaixo de chave ao Alcaide dos cárceres secretos desta Inquisição. E mandamos em virtude de Santa Obediência, e sob pena de excomunhão maior, e de quinhentos cruzados para as despesas do Santo Ofício, e de procedermos como mais nos parecer, a todas as pessoas, assim Eclesiásticos ou Seculares, de qualquer grau, dignidade, condição, e preeminência que sejam, vos não impeçam fazer o sobredito, antes sendo por vós requeridos, vos deem todo o favor e ajuda, mantimentos, pousadas, camas, ferros, cadeias, cavalgaduras, barcos, e tudo o mais que for necessário, pelo preço, e estado da terra. Cumpriu assim com muita cautela e segredo, e ao mais não façais.
Dado em Lisboa no Santo Ofício da Inquisição sob nossos sinais, e selo dela, aos cinco dias do mês de julho de mil setecentos e trinta anos. Manoel Rodrigues Ramos os subscreveu.
Das informações genealógicas, constava que ela se chamava Dona Felícitas Uchoa de Gusmão, que era cristã-nova por parte de sua mãe, mas por parte de pai não tinha esta certeza por haver alguma murmuração de ser parte de cristão-novo, casada com Luis da Fonseca Rego, que vivia de suas roças, natural da Freguesia de São Gonçalo de Tapecima (Itapissuma), moradora no Forte Velho, termo da cidade da Paraíba, Bispado de Pernambuco, de quarenta e oito anos de idade.
Eram seus pais Bartolomeu Peres de Gusmão e Dona Antonia de Mendonça Uchoa, não sabia de onde ele era natural, mas foi morador no Recife, e sua mãe junto ao Recife, e moradores na cidade de Olinda.
Seus avós, assim paternos como maternos, eram já defuntos; e os paternos se chamavam João Peres Correa de Gusmão e Leonarda da Costa, também, não sabia a naturalidade, e foram moradores na cidade de Olinda.
Os avós maternos se chamavam Francisco de Faria Uchoa, que foi Senhor de Engenho, e Dona Anna de Lira (esta filha de Antonio Fernandes Pessoa e Maria de Aguiar, tendo se casado antes com Luis da Silva), moradores na freguesia de Egitiá (Jiquiá), junto ao Recife, também não sabia a naturalidade deles.
Da parte de seu pai teve três tios e uma tia, a saber: Gonçalo Peres de Gusmão, Leonardo Peres, e Domingos Peres, e Joanna de Oliveira, todos defuntos e sem filhos.
Da parte de mãe teve um tio e duas tias, a saber, Luiz de Sousa Uchoa, Dona Nazaria de Lira, e Dona Joanna de Lira; Seu tio Luis de Sousa foi casado e não teve filhos; sua tia, Dona Nazaria de Lira, foi casada, em Santo Estevão, com Pedro da Cunha, lavrador de cana, teve filhos, não sabe quantos, nem como se chamavam; sua tia Dona Joanna de Lira foi casada junto ao Recife, nos Afogados, com Mathias Moreira Queiroz, e não teve filhos.
Contou, ainda, que tinha duas meias irmãs por parte de sua mãe, que casou, a segunda vez, com Francisco Vaz Carrasco, escrivão dos presídios, e se chamavam Dona Ignez de Vasconcelos e Dona Francisca; sua irmã Dona Ignez de Vasconcelos era casada, em Goiana, com Francisco Rodrigues Xares (Francisco Xerez Furna), não sabia se tinha filhos (teve, e casou uma segunda vez).
E que ela, como disse, se chamava Dona Felícitas Uchoa, casada com Luis da Fonseca Rego, e tinha um filho chamado Dionísio de onze anos.
Disse mais que era cristã batizada, e foi na Igreja de São Gonçalo de Itapissuma pelo pároco que então era, a quem não sabia o nome; e foi seu padrinho Dionísio Peres de Gusmão que estava reputado por filho bastardo de seu pai, e era já defunto sem filho, e não teve madrinha; era crismada, e o foi, na Igreja de Santo Estevão, pelo bispo de Pernambuco que então era chamado Dom Mathias, não sabia de que, e foi sua madrinha sua tia Dona Nazaria.
E que ela quando chegou aos anos de juízo, e discrição ia às igrejas ouvir missa, e pregação, se confessava, e comungava, e fazia as mais obras de cristão: e mandada por de joelhos se persignou e benzeu e disse as orações do Padre Nosso, Ave Maria, Credo, Salve Rainha, os mandamentos da Lei de Deus, e os da Santa Madre Igreja, que tudo soube bem.
E que ela só sabe ler, escrever; e que só saiu de Pernambuco para a Paraíba, onde conversava com toda casta de gente, que se lhe ofereceu, ou fossem cristãos novos ou cristãos velhos; e que ela nunca foi apresentada ao Santo Ofício, nem presa sem ser agora, nem parente seu algum o foi.
Perguntada se sabia a causa de sua prisão, disse que seria pelas culpas que tem confessado; foi lhe dito que ela estava presa por culpas, cujo conhecimento pertence ao Santo Ofício.
Quer saber mais sobre o processo de D. Felícitas? Visite http://digitarq.dgarq.gov.pt/viewer?id=2299877.

Assinatura de Dona Felícitas no processo

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Os Lusíadas e a Inquisição

Na Internet vamos encontrar, nos Arquivos portugueses, velhos documentos. E vemos que nem os Lusíadas, de Luis de Camões, escaparam da loucura do Santo Ofício. Os inquisidores pintaram e bordaram, esquecendo completamente dos ensinamentos do grande Mestre.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Os Velhos Barretos de Martins




João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor de Matemática da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
Casarão, Olho d'Agua, de João Chrisóstomo

Em 1975, eu estava em Fortaleza cursando o mestrado de Matemática da Universidade Federal do Ceará. Morávamos eu, Graça e nossa filha, Alessandra, em um apartamento, na Rua Francisco Pinto, na Gentilândia. Na mesma rua, em frente ao meu prédio morava o casal José Praxedes Barreto e Mirtes Dodt, ele natural do Rio Grande do Norte, ela do Ceará, mas com ascendentes no Seridó,  e seus filhos: Ana, Fátima e Zezinho. Fizemos amizade que se consolidou com o nascimento de Miguel Felipe. Depois, eles se tornaram nossos compadres, pois são os padrinhos de Thiago, nosso filho. Mirtil, minha comadre, descende do engenheiro alemão Gustavo Luiz Guilherme Dodt, que mereceu um artigo de Câmara Cascudo, em Velhas Figuras.
Com os artigos sobre o professor de latim, Francisco Emiliano Pereira, acabei encontrando o personagem Domingos Velho Barreto Junior. Daí, pensei que pudesse haver algum parentesco entre ele e meu compadre Zé Barreto, pois o pai deste último, que se chamava Domingos Barreto,  tinha sido prefeito de Alexandria. Então, pedi informações ao próprio Zé Barreto e as suas irmãs Hilda e Tetê, sobre seus avós. Mas, eles não tinham os nomes completos dos mesmos.  Saíram os nomes Manoel Barreto, Abigail e Otília, os dois primeiros avós paternos e a última, avó materna. George Veras me indicou o livro “Martins” do Prof. Dubas (Manoel Jácome de Lima).
Manoel Jácome de Lima, que foi casado com Marcina Barreto, tia de Zé Barreto, no livro acima escreveu, que Manoel (de Melo Montenegro) Barreto, como Alexandrina Chaves, casada com Dr. Joaquim Ferreira Chaves, e Dona Inácia Barreto de Paiva, casada com o coronel João Bernardino de Paiva, eram filhos de Domingos Velho Barreto Junior.
Disse mais, que entre netos, bisnetos e trinetos de Domingos Velho Barreto Junior estão Leôncio Barreto, Dr. João Ferreira Barreto, Dr. Manoel Barreto Neto, Dr. Leôncio Barreto Filho, Dr. João Barreto de Medeiros, Manoel Barreto de Medeiros, Ivo Barreto de Medeiros, José Barreto de Medeiros, Hilda Barreto, Professora Raimunda Barreto e Professora Maria de Lourdes Barreto. Com essas informações, as minhas suspeitas se confirmaram. Hilda é irmã de Zé Barreto, e este tinha um irmão chamado Leôncio Barreto Sobrinho.
Junior Marcelino, lá de Martins, mais uma vez me socorreu e me mandou mais três documentos, para me situar no tempo, quanto aos vários Domingos Velho Barreto. O primeiro é o casamento de um Domingos Velho Barreto.
Aos vinte e nove de junho de mil oitocentos e noventa e três, no Sítio Poldros Mortos, em minha presença e das testemunhas: Cândido de Albuquerque Barreto e Juvêncio d’Albuquerque Barreto, depois de dispensados do parentesco de consanguinidade em terceiro grau atingente ao segundo lateral simples, receberam-se em matrimônio os contraentes naturais desta Freguesia: Domingos Velho Barreto e Otília d’Albuquerque Bezerra Cavalcante, ele com vinte e seis anos de idade, filho legítimo de Domingos Velho Barreto e Vicência Praxedes Barreto, falecidos, ela com vinte e três anos de idade, filha legítima de Felipe de Albuquerque Bezerra Cavalcante e Ana Bezerra Cavalcante d’Albuquerque. Do que, para constar, mandei fazer este termo que assino.
Nessa informação acima, ficava clara a origem de Praxedes, no sobrenome do meu compadre, primo legítimo do poeta vaqueiro, Zé Praxedes. Segundo José Barreto, primo de meu compadre, Zé Barreto, Otília ficou viúva e casou, uma segunda vez, com Antero, tio do primeiro marido, Domingos.
Os documentos seguintes enviados por Junior eram de óbitos.
Vicência Praxedes Barreto, casada com Domingos Velho Barreto Junior, morreu de apoplexia a vinte e um de outubro de mil oitocentos e sessenta e sete, com a idade de vinte e oito anos, foi por mim encomendada solenemente, foi sepultada no cemitério público no mesmo dia. Padre Anizio de Torres Bandeira.
Domingos Velho Barreto, viúvo, idade cinquenta e dois anos, morreu tísico, aos cinco de dezembro de mil oitocentos e oitenta e dois, foi sepultado no cemitério de Barriguda, aos seis do mesmo mês, amortalhado em branco, sem encomendação, do que fiz este assento que assino. Pro Pároco Izidro Álvares da Silva.
Por esse segundo óbito, o Domingos que faleceu teria nascido por volta de 1830, e, portanto, salvo erro no registro, não poderia ter sido prefeito de Martins em 1845, com 15 anos de idade.
As informações sobre Dona Alexandrina dão conta que ela era filha de Domingos Velho Barreto Junior e Ignácia Francisca Xavier, e nascida em 1852. Portanto, o Domingos Velho Barreto Junior deve ter se casado, primeiro com Ignácia e depois com Vicência. Ignácia, que casou com João Bernardino de Paiva Cavalcante, também era filha de Domingos e Ignácia Francisca.
Encontro na Biblioteca Nacional, no jornal Brado Conservador, um assunto de justiça nos seguintes termos: Imperatriz- Apelante João Chrisóstomo Bezerra Cavalcante de Albuquerque, apelada, a viúva D. Ignácia Francisca de Albuquerque e mais herdeiros do tenente Domingos Velho Barreto – julgou-se por sentença a habilitação dos herdeiros. 23/10/1877.
O pai de Felipe de Albuquerque era João Chrisóstomo Bezerra Cavalcante de Albuquerque, mas não sei se era o mesmo da notícia.
Encontro informações sobre Artur Albuquerque Bezerra Cavalcante, nascido aos 9 de janeiro de 1859, filho de João Chrisóstomo Bezerra Cavalcante e Maria Barreto Cavalcante.
A família Velho Barreto, de Martins, precisa de um estudo maior, por conta dos vários nomes que se repetem. Este artigo é só um começo, e tem a intenção de estimular o debate genealógico sobre essa família.
Domingos Barreto, pai de Zé Barreto. Prefeito de Alexandria, na época João Pessoa.


terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Velhas notícias




João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
Uma das minhas diversões é ler velhas notícias de antigos jornais, já extintos, que estão no site da Biblioteca Nacional. Através desse site pode se fazer muitas pesquisas sobre diversos assuntos. Muitas informações históricas, a partir dos meados do século XIX, são encontradas nesses velhos jornais. Podemos obter, também, muitas informações genealógicas através desse site, que complementam os registros da Igreja. Hoje, transcrevo para cá algumas dessas notícias. Por elas se observa quantas informações sobre os nossos antepassados podemos recuperar.
No Diário do Natal, de 9 de fevereiro de 1908, encontramos: No dia 1º do corrente, proximidades da Vila de Santana do Matos, Joaquim Geminiano encontrando-se com o honrado cidadão Militão Alves Martins, vibrou-lhe diversas facadas, que lhe produziram a morte imediatamente. O covarde e perverso assassino, cometido o crime, evadiu-se. Militão Alves era um homem bom, geralmente estimado em Santana do Matos, e pai de numerosa família. Casado em 4ª núpcias deixou viúva a dias de dar a luz e 14 filhos dos quatro matrimônios.
José Alves Martins, pai de Militão, também, foi assassinado com facadas no ano de 1871. João Militão, filho de Militão, foi prefeito de Lages. Militão Alves Martins era irmão de Manoel Alves Martins, cujo neto Expedito Alves foi, também, assassinado, em Angicos.
O Diário do Natal, de 22 de dezembro de 1907, noticia: O Sr. Idalino Teixeira de Carvalho e sua exma. esposa, residentes na Penha, tiveram a gentileza de comunicar-nos o nascimento do seu filho Waldenir.
Esse Idalino parece ser parente de meus amigos de infância Idalino e Eimar que moravam em frente do Colégio Auxiliadora.
Outra notícia que encontro em antigos jornais é sobre o falecimento do meu tio bisavô cadete José Avelino. Está lá, na Gazeta de Natal: Vítima de antigos e dolorosos sofrimentos faleceu no dia 20 de mês passado em sua fazenda Carapebas, do município de Angicos, o nosso prestimoso amigo José Avelino Martins Bezerra. O ilustre finado era um homem de bem. Ao seu digno e respeitável pai, a todos seus irmãos e a desolada esposa, D. Claudiana Francisca Bezerra Avelino, nossos sentimentos e pêsames.
O Diário do Natal de 1905 comunica: Em Angicos, realizou-se o consórcio do nosso correligionário José Anselmo Alves e a gentil senhorita Marfisa Pinheiro Alves, filha do finado coronel José Rufino da Costa Pinheiro.
José Anselmo foi Diretor dos Correios e Telégrafos. Morreu envenenado com arsênico, misturado na papa, que costumava comer. Era irmão do capitão José da Penha, assassinado no Ceará.
Alguns documentos da Igreja se perderam no tempo, e por isso, é difícil se comprovar certas suspeitas. Faltam registros de batismos de Angicos, de alguns anos. Alguns registros de casamento não contém o nome dos pais dos nubentes. Acredito que o Professor Vicente Ferreira da Costa Torres era descendente de Francisco Xavier Torres Junior e Maria Joaquina Lúcia da Costa. A seguir uma notícia sobre a remoção dele.
O jornal Rio Grande do Norte, de 14 de junho de 1891, noticia que: Em 29 de maio de 1891, foi removido o professor público de instrução primária da povoação de São Bento de Touros, Vicente Ferreira da Costa Torres, para a de Areia Branca que se acha vago.
Aos que procuram recuperar informações genealógicas, sugiro visitar o site da Biblioteca Nacional, em particular sua hemeroteca.


quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Os Moraes Navarro na Serra de Martins

 Por Marcos Pinto

                             Impressionou-me  a  constatação  da  existência  da  estirpe  MORAIS  NAVARRO  na  lendária  e  uberosa  SERRA  DO  MARTINS, tendo  decorridos  longos  314 anos  que  aportou  na  então  cidade  do  Rio  Grande  o  célebre  bandeirante  "CALÇÃO  DE  COURO"  -  como  era  conhecido  o  Mestre-de-Campo  MANOEL  ÁLVARES  DE  MORAIS  NAVARRO, comandando o  não menos famoso  "TERÇO DOS PAULISTAS".  O  epíteto atrela-se ao fato de  que a  sua  indumentária  compunha-se de  um  calção  de couro  que descia até  um  pouco abaixo  dos  joelhos, onde  era  amarrado  a  uma  espécie  de  bota, também de couro.   Pisou  o  solo  potiguar  no dia  18 de  Novembro  de  1698.  Era natural  da  então  próspera  Vila  de  São  Paulo, de onde veio   incumbido  pelo  Governador-Geral  do  Brasil  Matias  da  Cunha, que  dirigiu um  ofício  à  Câmara  de  São  Paulo, "pedindo  que  ela  fizesse  todo  o  esforço  para  conseguir  que  os  Bandeirantes  de  Piratininga  viessem  em socorro  dos seus  patrícios  setentrionais", que estavam sendo  assolados por  um  LEVANTE  DO GENTIO  INDÍGENA.  Tal correspondência foi datada  de  10 de  Março de  1688.  Concedidas  as primeiras  "Datas de  Sesmarias"  no  interior  das  Capitanias  da  Paraíba, Ceará  e  Rio  Grande  do Norte, os índios  tapuias, aparentados  dos Janduís, começaram a sentir  os efeitos  negativos, representados  pela desapropriação de  suas  terras, para  eles  indispensáveis  à  obtenção de sua  alimentação  voltada  para  a  caça,a  pesca  e a  coleta  de  mel. Foi  assim  em Apodi, na região do  Seridó, em  Assu  e  na  região  do  Jaguaribe, no  Ceará.  O  combate  à  indiada  hostil  foi denominado de  "A  GUERRA DOS  BÁRBAROS", cujo  início  deu-se no  ano de  1683, sendo  o  epicentro do levante  a  Capitania do  Rio  Grande.

                         Da cidade  do  Rio  Grande, ou Natal, o  TERÇO DOS PAULISTAS  seguiu  para  o  Arraial do Açu, feudo dos  índios  Janduins ou Janduís,  onde seria  a  sua  atuação  bélica.  Na  Ribeira  do  Açu  novos  indígenas  foram  alistados  no  Terço, provenientes  da  Missão Jesuíta  do  Reverendo  Padre  Philippe  Bourel,  Jesuíta  alemão  responsável  pela  Aldeia  do  então  Lago  Podi (Apodi), formada por   tapuias paiacus.  Os  componentes  do  Terço  tinham  o  espírito de  independência  exagerado, ao ponto de  Morais  Navarro  ter  saído  do  Açu  e se dirigido  até  a  região do Jaguaribe, onde  hoje  se  localiza  a cidade  de  Limoeiro do Norte, a   pretexto de  firmar  a  paz  com  os  Tapuias, comandando  130 infantes  e mais de cem  índios  Janduís.  Antes, enviara  um  índio  com  fácil  acesso  àqueles, convidando-os  para  confraternização, prometendo-lhes  presentes  para  as  mulheres e crianças índias.  Era uma cilada. Após  beberem, comerem e  dançarem, o  próprio  Morais  Navarro  deu  início  à  matança, eliminando o cacique  Jenipapoaassú  e seu  irmão, sinalizando para  que os  seus  soldados e  índios  da  sua tropa  continuassem  o   cruel  trucidamento, que  culminou  no  extermínio de  450  índios, não tendo sido  poupados  sequer as  mulheres  e  crianças, cujos corpos  ficaram  expostos, juncando  aquelas plagas  cearenses  com  tristeza  e  dor.  Os que  caíram ainda vivos  pelas balas dos  bacamartes  e  dos  arcabuzes, eram passados  ao  fio das  espadas, ou seja, degolados.  Esse  trucidamento  ocorreu  a  04 de  Agosto de  1699.
 
                        No que  diz  respeito  à presença  da  família  MORAIS  NAVARRO  na  "Serra  do  Martins",  encontrei  no arquivo  morto  do  1º  Cartório Judicial  daquela  cidade, um inventário do  ano  de  1924, no qual  consta  como   inventariado  o  Sr. ANTONIO  CIPRIANO  DE  MORAIS  NAVARRO, que  havia  falecido  a  24  de  Janeiro  de  1917, deixando a  viúva  Sra.  Lívia  Augusta  Soares  de  Morais, e os  filhos:
                        F.01- ALEXANDRINA  DE MORAIS  SOARES  -   Casada  com  Mecenas  Messias  Soares.
                        F.02- ANTONIO CIPRIANO  DE  MORAIS  NAVARRO. (Repete o nome do pai). -  Casado com  Clarice  de  Lavor  Navarro.
                        F.03- PHILOMENA  DE  MORAIS  NAVARRO.
                        F.04- THEREZA DE  JESUS  LISBOA -  Casada  com  José  Rosendo de  Lisboa.
                        F.05- IDALINA  DE  MORAIS  NAVARRO.

                         O  patrimônio do  falecido  representava  uma  considerável  abastança, posto que  constava  uma  formidável  fazenda, denominada  de  "Sítio Oriente, antigo  sítio  
Pé-de-Serra,  com  dois engenhos: Um   para  a  fabricação  de  farinha  de  mandioca  e  o outro para  a  fabricação  de  rapaduras.   Consta, ainda, uma casa  senhorial  situada  na praça  da  Conceição (Ao lado da  Igreja-Matriz  de  Martins)  fazendo esquina  com  a  Rua  Senador  Pedro  Velho, contando duas  portas  e  duas  janelas  na  frente, e  uma porta e três  janelas  no  oitão  que  deita  para  o  poente, devidamente  murada.  Essa  majestosa  casa  ainda  encontra-se  edificada  e bem conservada, onde  reside  atualmente  a  abnegada  professora  aposentada  AZELMA  ROSENDO.   Sugiro aos estudiosos da genealogia  martinense, que  envidem  esforços no sentido de  procurarem  o  liame  genealógico que  liga  o  descendente  martinense  ao  famigerado  Mestre-de-Campo  Manoel  Álvares  de  Morais  Navarro.
                         Lendo  uma  edição  fac-similar  do  jornal  "MOSSOROENSE", Edição de  11  de  Fevereiro de  1874, encontrei  cópia de sentença condenatória do  Capitão  João  Félix  de  Morais  Navarro, que residia  na então  Vila de  Portalegre, sentenciado  como um dos autores  intelectuais (mandante)  dos  crimes  de  mortes  perpetrados  nas pessoas  de José  Marcolino de  Bessa  e  de  Ricarte  José  da  Silva.  Surge  a  necessidade  de  acurada  pesquisa  de  campo, para  averiguar se  este  militar  deixou  descendência  naquele  belo  rincão sertanejo.

Fotos aéreas da Arena das Dunas, Natal e Grande Natal

Fotos aéreas da Arena das Dunas, Natal e Grande Natal

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

A chegada dos Rodrigues de Sá e a viúva Maria


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, sócio do IHGRN e do INRG
Quando Dom Domingos Lorêto escreveu sobre Dona Eugênia Rodrigues de Sá, mãe de Caetano de Mello de Albuquerque, disse que ela era filha natural do Doutor Simão Rodrigues de Sá, que depois se tornou presbítero, mas não comentou se ele tivera outros filhos. 

Os Rodrigues de Sá chegaram aqui no Rio Grande com o Reverendo Vigário confirmado da Paroquial de Nossa Senhora da Apresentação, Simão Rodrigues de Sá, pois eles só começam a aparecer depois do primeiro batismo assinado pelo dito vigário. Quem eram esses primeiros Rodrigues de Sá?

Genovesa Rodrigues de Sá e seu marido Diogo Mello batizaram Maria em 1702, tendo como padrinhos o padre Miguel de Carvalho e Maria Phelipa Nery, filha da viúva Maria Fernandes de Araújo.

Flávia Rodrigues de Sá e seu marido Sebastião Cardoso Batalha batizaram Augustinho, em 1705, tendo como padrinhos o padre Simão Rodrigues de Sá e Dona Eugênia Rodrigues de Sá. 

Felipa Rodrigues de Sá e seu marido Urbano Leitão Martins batizaram Lourença, em 1706, tendo como padrinhos D. Eugênia Rodrigues de Sá e padre Simão Rodrigues de Sá.

Luiza Rodrigues de Sá e seu marido Joseph Barbosa de Sousa batizaram Joseph, em 1707, tendo como padrinhos o padre Simão Rodrigues de Sá e Maria Phelipa Nery, mulher de Joseph Monteiro.

Matheus Rodrigues de Sá e sua mulher Violante Dias, batizaram Clara, em 1708, tendo como padrinhos José Nolasco Pereira e a viúva Maria Fernandes de Araújo.

A presença da viúva Maria Fernandes de Araújo e de sua filha Maria Phelipa Nery, nos batismos dos Rodrigues de Sá, chama a atenção e por isso merece destaque. Quem eram elas e que relações tinham com os Rodrigues de Sá?

Maria Phelipa e seu marido Joseph Monteiro batizaram, em 1706 Phelipa, tendo como padrinhos o padre Simão Rodrigues de Sá e a viúva Maria Fernandes de Araújo, avó materna de Phelipa; José Fernandes de Sousa era filho da viúva Maria Fernandes de Araújo, e portanto irmão de Maria Phelipa. Ele foi padrinho de Perpétua, filha de Domingos Lopes e Dória Fernandes de Souza, em 1708. Dória parece ser outra irmã de Maria Phelipa. Outro filho de Domingos e Dória, Asenço, teve como padrinhos João Fernandes de Sousa, também, filho da viúva. Mais ainda, o padre Antonio de Araújo e Sousa, foi padrinho de Angélica, filho de Domingos e Dória.

Façamos agora uma viagem pelas sesmarias para descobrir mais relações entre os personagens acima. Em 1706, eles receberam datas de terras, quase sempre próximas uma das outras. Vejamos.

Em 8 de abril de 1706, o padre confirmado da Paroquial Nossa Senhora da Apresentação, Simão Rodrigues de Sá e Joseph Monteiro, genro da viúva Maria Fernandes de Araújo, receberam terras entre a pedra da Arara e a serra do Sabugi e Sabauhu, com um riacho a que chama o gentio Caurahu que vem do rio "Patachoca"  e vai correndo para a parte do Rio Potengi; em 3 de maio de 1706, foi feito o registro de uma data de terras para Caetano de Mello de Albuquerque e a viúva Maria Fernandes de Araújo, nas testadas das terras do riacho Carauhu, do Vigário Simão e de Joseph Monteiro; nessa mesma data foi feito um registro de datas de terras para o Vigário Simão e Antonio de Araújo de Sousa, pelo Rio Salgado abaixo, que parte do caminho que vai para Assú, para a parte do mar e pedra Redonda; ainda em 1706, quem recebeu terras, nas proximidades do rio Carauhu, foram Matheus Rodrigues de Sá e Domingos Lopes; por fim, é feito um registro de terras em favor do ordenando Antonio de Araújo e Souza,  das terras doadas para ele por sua irmã Eugenia Rodrigues de Sá  e o cunhado, capitão Manoel de Mello e Albuquerque, no sitio Guarapes. Esse Antonio de Araújo e Sousa aparece em 1708, já como padre.

A grande dúvida que fica é sobre o parentesco da viúva Maria Fernandes de Araújo com o padre Simão Rodrigues de Sá. Suspeito que ela era mãe de alguns irmãos de Eugênia Rodrigues de Sá. Um assentamento de praça, de 1743, dá notícia que certo José Fernandes de Sousa era filho de Manoel Fernandes de Sousa, natural do Porto. Talvez, esse fosse o esposo da viúva Maria. Outra pergunta que faço: Qual a relação de Eugênia e seu pai, o Vigário Simão Rodrigues de Sá, com o Cônego Simão Rodrigues de Sá e outra Eugênia Rodrigues de Sá, residentes em Olinda, que receberam terras, em 1681, em Caruaru?

Vem aí um novo livro de artigos: Mais notícias genealógicas do Rio Grande do Norte

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

CONTO DE UM CÉTICO

Alexandre, o Grande, me mandou este e-mail que reproduzo aqui.





No ventre de uma mulher grávida estavam dois bebês... O primeiro pergunta ao outro:

- Você acredita na vida após o nascimento?

- Certamente. Algo tem de haver após o nascimento. Talvez estejamos aqui principalmente porque nós precisamos nos preparar para o que seremos mais tarde.

- Bobagem, não há vida após o nascimento. Como verdadeiramente seria essa vida?

- Eu não sei exatamente, mas certamente haverá mais luz do que aqui.Talvez caminhemos com nossos próprios pés e comeremos com a boca.

- Isso é um absurdo! Caminhar é impossível. E comer com a boca? É totalmente ridículo! O cordão umbilical nos alimenta. Eu digo somente uma coisa: A vida após o nascimento está excluída - o cordão umbilical é muito curto.

- Na verdade, certamente há algo. Talvez seja apenas um pouco diferente do que estamos habituados a ter aqui.

- Mas ninguém nunca voltou de lá, depois do nascimento. O parto apenas encerra a vida. E, afinal de contas, a vida é nada mais do que a angústia prolongada na escuridão.

- Bem, eu não sei exatamente como será depois do nascimento, mas com certeza veremos a mamãe e ela cuidará de nós.

- Mamãe? Você acredita na mamãe? E onde ela supostamente está?

- Onde? Em tudo à nossa volta! Nela e através dela nós vivemos. Sem ela tudo isso não existiria.

- Eu não acredito! Eu nunca vi nenhuma mamãe, por isso é claro que não existe nenhuma.

- Bem, mas, às vezes, quando estamos em silêncio, você pode ouvi-la cantando ou sente como ela afaga nosso mundo. Saiba, eu penso que só então a vida real nos espera e agora apenas estamos nos preparando para ela...
                         Pense nisso!!!

Sobre Agora: Resenha de "A Ordem da Rosa Branca - O Enigma do Anel", de Daniel Násser

Sobre Agora: Resenha de "A Ordem da Rosa Branca - O Enigma do Anel", de Daniel Násser

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

OS LEITE DE CHAVES E MELO NA SERRA DO MARTINS. (III).

   
Por Marcos Pinto

                  A  pesquisa  efetivada  em  mananciais  temáticos  da  história  social  dos  primeiros  habitantes  da  SERRA  DO  MARTINS,  delineia  para  a  assertiva  de  que  o  trivial, o  cotidiano  e  o  comum  angustiavam  esses  grandes  homens, pioneiros  no processo da  ocupação  do  solo. O  ambiente  lhes  imprimia o  colorido verista  da  contagiante  simplicida-
de  bucólica.  Sabiam  as  histórias  miúdas  e  muitos  segredos, que pediam  horas  de  luz  lunar  como  paisagem  indispensável  à suas  reminiscências.  
                  Na  retentiva  dos  documentos  oficiais  cartoriais, dos  arquivos  das  Freguesias  Eclesiásticas  setecentistas, evidencia-se  a saga  da família  LEITE  DE  CHAVES  E  MELO, cujos  atos de nobreza  justificava  suas  generosidades.  Tinham  como característica  comum  o  fato de serem  detentores   de  modos  cerimoniosos  e  cortezes.   Entrelaçaram-se  à  famílias  que  traziam no sangue  a  mesma  identidade, com os  seus  costumes  arraigados  em  firmes  convicções  de  reciprocas  lealdade  e  sinceridade.  O grande  tribuno  ALMINO ÁLVARES  AFONSO  foi um dos mais distintos  e  prestimosos  varões  Martinenses, que  ligaram o  seu  nome  de  maneira  indelével  aos  acontecimentos  de  um  passado glorioso, que tanto  enobrece, orgulha  e  exalta  as cidades  de  Martins, Mossoró, Fortaleza  e  Manaus.
                  Surgem os  liames  genealógicos, com  os  consórcios  dos filhos  do  famigerado  Capitão-Mór  GERALDO  SARAIVA  DE  MOURA (Inventariado em   1808) e de  sua  segunda  esposa  RITA  MARIA DE  JESUS, filha  do  1º  Cura  da  Freguesia  das  Várzeas  do  Apodi -  Pároco  no período  de  1766  a  1776  o  pernambucano  de  Recife  JOÃO DA  CUNHA PAIVA.  Dois  irmãos da  família  portuguesa  LEITE  DE  CHAVES  E  MELO  casaram-se  com duas  filhas  do  Capitão-Mór  Saraiva  de  Moura, respectivamente  FRANCISCO AFONSO DE  CHAVES  MELO  e  MANOEL  ÁLVARES  AFONSO, que casaram, o  primeiro com  LEANDRA,  e  o segundo  com  FRANCISCA, de cujo casal  nasceu  Francisco  Álvares  Afonso, que por  sua vez  foi  o  genitor  do  abolicionista  e  grande  tribuno  ALMINO  ÁLVARES  AFONSO.
                   O  celebrado  historiador  e genealogista  CARLOS  FEITOSA, em sua  obra  intitulada  "A  DESCENDÊNCIA  DE ANTONIO  LEITE  DE  CHAVES  E  MELO -  Revista  do Instituto do  Ceará, 68:155-177, 1954"  diz  que na  sepultura  de  D.  Luisa  Cândida  Teles  de  Menezes, mãe  de  Almino, no  cemitério  São  João  Batista, de  Fortaleza, lê-se  esta  inscrição: "Natural da  cidade  de  Aracati, Província  do  Ceará, casada  no  Rio  Grande  do  Norte com  Francisco  Manoel  Álvares  Afonso, neto  do  Capitã-Mór  Geraldo  Saraiva  de  Moura, ficando viúva  pobreza, educou  heroicamente  seis  filhos (Vide  livro "VELHOS INVENTÁRIOS DO OESTE  POTIGUAR - Pág. 33 - Coleção  Mossoronese - Série  C - Volume  740 - Ano 1992 - Autor:  Marcos  Antonio  Filgueira).  Os antigos  entrelaçamentos entre as famílias  do  Rio Grande  do Note  com as  do  Ceará atrelava-se ao  fato  de  que  até o  ano de  1850 a  cidade  de  Aracati  foi  um verdadeiro  empório  comercial  dos  sertões  cearenses,  a  primeira  praça  de comércio  e o  mais  opulento  povoado  da  Província, para  onde  acorriam  os  comboios  comerciais  do  Rio  Grande  do  Norte, transportando  algodão, couros  bovinos  e  caprinos, e  a  cera  da  Carnaúba.
                  Um  tio-avô  paterno  de  Almino  Afonso   exerceu  destacada  relevância  no movimento  denominado de  REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA DE  1817, no  Rio Grande  do  Norte.  Trata-se  do  intrépido  DAVID  LEOPOLDO  TARGINO, preso  a  06  de  Junho  de  1817, acusado  pelas  forças  legalistas, de  subir  a  serra  do  Martins  com  20  homens  armados e de  ser  dos  mais entusiasmados  agentes  da  revolução  no  Rio  Grande  do  Norte. No movimento havia  a  presença  de  bravas  mulheres,   mulheres que fugiam a regra da etiqueta do Séc. XIX, do espaço privado da casa, e lutaram ao lado dos maridos. Foi o que aconteceu  com  Ana  Clara  de  S. José  Coutinho, esposa  de  Estevão  Carneiro  da  Cunha. Para  enfrentar  as dificuldades, os  patriotas  mais ricos  fizeram doações, e Ana ofereceu  o seu  ENGENHO  DO MEIO  com tudo que tinha dentro: Quarenta escravos, quarenta  bois  e  mais utensílios  importantes  para  as  despesas. Um mulher  considerada  poderosa, que  juntou forças  com o seu  genro  David  Leopoldo  Targini, para  apoiar  o  movimento e, consequentemente, ficar  ao lado do seu  marido.  A  história  amalgama  os seus  anais  com  as  dinâmicas  estratégias  de  vida  adotadas  pelos  indômitos  sertanejos.