quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Os Moraes Navarro na Serra de Martins

 Por Marcos Pinto

                             Impressionou-me  a  constatação  da  existência  da  estirpe  MORAIS  NAVARRO  na  lendária  e  uberosa  SERRA  DO  MARTINS, tendo  decorridos  longos  314 anos  que  aportou  na  então  cidade  do  Rio  Grande  o  célebre  bandeirante  "CALÇÃO  DE  COURO"  -  como  era  conhecido  o  Mestre-de-Campo  MANOEL  ÁLVARES  DE  MORAIS  NAVARRO, comandando o  não menos famoso  "TERÇO DOS PAULISTAS".  O  epíteto atrela-se ao fato de  que a  sua  indumentária  compunha-se de  um  calção  de couro  que descia até  um  pouco abaixo  dos  joelhos, onde  era  amarrado  a  uma  espécie  de  bota, também de couro.   Pisou  o  solo  potiguar  no dia  18 de  Novembro  de  1698.  Era natural  da  então  próspera  Vila  de  São  Paulo, de onde veio   incumbido  pelo  Governador-Geral  do  Brasil  Matias  da  Cunha, que  dirigiu um  ofício  à  Câmara  de  São  Paulo, "pedindo  que  ela  fizesse  todo  o  esforço  para  conseguir  que  os  Bandeirantes  de  Piratininga  viessem  em socorro  dos seus  patrícios  setentrionais", que estavam sendo  assolados por  um  LEVANTE  DO GENTIO  INDÍGENA.  Tal correspondência foi datada  de  10 de  Março de  1688.  Concedidas  as primeiras  "Datas de  Sesmarias"  no  interior  das  Capitanias  da  Paraíba, Ceará  e  Rio  Grande  do Norte, os índios  tapuias, aparentados  dos Janduís, começaram a sentir  os efeitos  negativos, representados  pela desapropriação de  suas  terras, para  eles  indispensáveis  à  obtenção de sua  alimentação  voltada  para  a  caça,a  pesca  e a  coleta  de  mel. Foi  assim  em Apodi, na região do  Seridó, em  Assu  e  na  região  do  Jaguaribe, no  Ceará.  O  combate  à  indiada  hostil  foi denominado de  "A  GUERRA DOS  BÁRBAROS", cujo  início  deu-se no  ano de  1683, sendo  o  epicentro do levante  a  Capitania do  Rio  Grande.

                         Da cidade  do  Rio  Grande, ou Natal, o  TERÇO DOS PAULISTAS  seguiu  para  o  Arraial do Açu, feudo dos  índios  Janduins ou Janduís,  onde seria  a  sua  atuação  bélica.  Na  Ribeira  do  Açu  novos  indígenas  foram  alistados  no  Terço, provenientes  da  Missão Jesuíta  do  Reverendo  Padre  Philippe  Bourel,  Jesuíta  alemão  responsável  pela  Aldeia  do  então  Lago  Podi (Apodi), formada por   tapuias paiacus.  Os  componentes  do  Terço  tinham  o  espírito de  independência  exagerado, ao ponto de  Morais  Navarro  ter  saído  do  Açu  e se dirigido  até  a  região do Jaguaribe, onde  hoje  se  localiza  a cidade  de  Limoeiro do Norte, a   pretexto de  firmar  a  paz  com  os  Tapuias, comandando  130 infantes  e mais de cem  índios  Janduís.  Antes, enviara  um  índio  com  fácil  acesso  àqueles, convidando-os  para  confraternização, prometendo-lhes  presentes  para  as  mulheres e crianças índias.  Era uma cilada. Após  beberem, comerem e  dançarem, o  próprio  Morais  Navarro  deu  início  à  matança, eliminando o cacique  Jenipapoaassú  e seu  irmão, sinalizando para  que os  seus  soldados e  índios  da  sua tropa  continuassem  o   cruel  trucidamento, que  culminou  no  extermínio de  450  índios, não tendo sido  poupados  sequer as  mulheres  e  crianças, cujos corpos  ficaram  expostos, juncando  aquelas plagas  cearenses  com  tristeza  e  dor.  Os que  caíram ainda vivos  pelas balas dos  bacamartes  e  dos  arcabuzes, eram passados  ao  fio das  espadas, ou seja, degolados.  Esse  trucidamento  ocorreu  a  04 de  Agosto de  1699.
 
                        No que  diz  respeito  à presença  da  família  MORAIS  NAVARRO  na  "Serra  do  Martins",  encontrei  no arquivo  morto  do  1º  Cartório Judicial  daquela  cidade, um inventário do  ano  de  1924, no qual  consta  como   inventariado  o  Sr. ANTONIO  CIPRIANO  DE  MORAIS  NAVARRO, que  havia  falecido  a  24  de  Janeiro  de  1917, deixando a  viúva  Sra.  Lívia  Augusta  Soares  de  Morais, e os  filhos:
                        F.01- ALEXANDRINA  DE MORAIS  SOARES  -   Casada  com  Mecenas  Messias  Soares.
                        F.02- ANTONIO CIPRIANO  DE  MORAIS  NAVARRO. (Repete o nome do pai). -  Casado com  Clarice  de  Lavor  Navarro.
                        F.03- PHILOMENA  DE  MORAIS  NAVARRO.
                        F.04- THEREZA DE  JESUS  LISBOA -  Casada  com  José  Rosendo de  Lisboa.
                        F.05- IDALINA  DE  MORAIS  NAVARRO.

                         O  patrimônio do  falecido  representava  uma  considerável  abastança, posto que  constava  uma  formidável  fazenda, denominada  de  "Sítio Oriente, antigo  sítio  
Pé-de-Serra,  com  dois engenhos: Um   para  a  fabricação  de  farinha  de  mandioca  e  o outro para  a  fabricação  de  rapaduras.   Consta, ainda, uma casa  senhorial  situada  na praça  da  Conceição (Ao lado da  Igreja-Matriz  de  Martins)  fazendo esquina  com  a  Rua  Senador  Pedro  Velho, contando duas  portas  e  duas  janelas  na  frente, e  uma porta e três  janelas  no  oitão  que  deita  para  o  poente, devidamente  murada.  Essa  majestosa  casa  ainda  encontra-se  edificada  e bem conservada, onde  reside  atualmente  a  abnegada  professora  aposentada  AZELMA  ROSENDO.   Sugiro aos estudiosos da genealogia  martinense, que  envidem  esforços no sentido de  procurarem  o  liame  genealógico que  liga  o  descendente  martinense  ao  famigerado  Mestre-de-Campo  Manoel  Álvares  de  Morais  Navarro.
                         Lendo  uma  edição  fac-similar  do  jornal  "MOSSOROENSE", Edição de  11  de  Fevereiro de  1874, encontrei  cópia de sentença condenatória do  Capitão  João  Félix  de  Morais  Navarro, que residia  na então  Vila de  Portalegre, sentenciado  como um dos autores  intelectuais (mandante)  dos  crimes  de  mortes  perpetrados  nas pessoas  de José  Marcolino de  Bessa  e  de  Ricarte  José  da  Silva.  Surge  a  necessidade  de  acurada  pesquisa  de  campo, para  averiguar se  este  militar  deixou  descendência  naquele  belo  rincão sertanejo.

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