domingo, 10 de abril de 2011

Notas avulsas de Genealogia (4)

Notas avulsas de Genealogia (4)
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor de Matemática da UFRN e membro do INRG
No livro A Guerra dos Bárbaros, de Affonso Taunay, há referências ao Sargento mor de Pernambuco, Pedro de Lelou, que lá de Olinda, em 1699, tomava a defesa ardente de Moraes Navarro e dos Paulistas, na briga deste último com o Capitão mor da Capitania do Rio Grande, Bernardo Vieira de Mello. Pedro Lelou acusava Bernardo de ser um tipo sórdido e invejoso. Dizia mais que nosso Capitão mor fizera seu filho, menino adolescente, juiz ordinário da cidade do Natal e para ele obtivera uma patente de Alferes. Aliás, no nosso blog postamos os assentamentos de praça de dois filhos de Bernardo Vieira de Mello, em 1698, ambos com soldos de mil oitocentos e sessenta e oito réis: Bernardo Vieira de Mello com 14 anos e Antonio Leitão Arnoso com 13 anos.
 Anteriormente, em 1693, Pedro Lelou tinha sido nomeado Capitão mor do Ceará. Ele era, como cita Guilherme Studart, flamengo, bruxelês, filho de Ludwig Wolf e afrancesara pitorescamente o nome para Lelou. Mas Lelou não pode assumir o posto de Capitão mor porque havia uma denúncia de que falsificara certo documento a fim de proteger seu filho Luiz Lobo Albertin. Lelou conseguiu provar que as acusações eram falsas e, portanto foi expedida, em 14 de Novembro de 1694, a carta patente para o posto por três anos.
No livro da Freguesia de Itamaracá, transcrito pelo Major Salvador Drumond, já citado em vários dos nossos artigos, consta o casamento de Luiz, filho de Pedro Lelou, onde faltam algumas partes.
Aos 27 de Novembro de 1702, de manhã na Capela de São João, filial desta Matriz de Nossa Senhora da Conceição da Vila de Itamaracá, em presença de mim, o Padre Antonio Borges de Lemos, Vigário da dita matriz, sendo presente por testemunhas o Capitão João Guedes Alcoforado e o Sargento mor Pedro de Lelou, se casaram por palavras de presente, o Capitão Luiz Lobo Albertin, filho do Sargento mor Pedro de Lelou, e de sua mulher D. Maria Dias de Abreu, e Margarida Guedes; e logo tomaram as bênçãos, corridos os banhos; e não houve impedimento algum, observada a forma do Sagrado Concílio Tridentino; do que fiz este assento e por verdade me assinei. O vigário Antonio Borges de Lemos.
No documento acima não aparece o nome de Dona Margarida, mas no seguinte, onde consta o seu óbito, se obtém mais informações, inclusive o nome do pai. Aos 29 do dito mês de Julho de 1703, falecendo da vida presente D. Margarida, mulher do Capitão Luiz Lobo, com todos os Sacramentos, não fez testamento pela enfermidade lhe não dar lugar; e foi sepultada na Capela do Engenho de São João que é de seu pai o Capitão João Guedes (Alcoforado).
Nos registros de óbitos salvos, encontra-se, também, o seguinte: hoje, 25 de Setembro de 1715, faleceu da vida presente, D. Thereza, filha do Capitão mor Jerônimo Cesar de Mello, morador nesta Freguesia de Maranguape, casado com o Capitão Francisco Berenguer de Andrade, de idade de 25 anos pouco mais ou menos, com o sacramento da penitencia, Eucaristia, e unção; e para constar fiz este assento. O cura José Ferreira Guedes.
Há, ainda, nas arengas entre Bernardo Vieira e Manoel Álvares de Moraes Navarro, acusações de Pedro Lelou a Francisco Berenguer de Andrade, tio do nosso Capitão Mor, não sei se era o mesmo acima, esposo de Thereza. Diz Lelou deste Berenguer: mau homem e diabólico em fazer manifestos falsos, sem temor de Deus, homem que trazia sessenta e duas demandas, empatando-as todas sem pagar nem restituir o alheio. Verdadeiro perturbador da República, nela semeava mil cizânias, "irmão que parecia de um letrado certo David de Albuquerque, judaizante, natural de Covilhan e descendente daqueles que seguiam os execrandos ritos da Lei Velha. Real mercê de Deus fora tirar semelhantes sujeitos da praça para a tranqüilidade dos povos.
Consta ainda no livro Guerra dos Bárbaros que Berenguer conseguira que o Bispo excomungasse o Mestre de Campo, Moraes Navarro, o que levara Lelou a protestar representando que o castigo de crimes militares cabiam aos Príncipes e Generais e não aos prelados.
Há uma carta, como consta do livro Guerra dos Bárbaros, do nosso Senado da Câmara, datada de 29 de maio de 1688 para o Capitão General de Pernambuco, onde se fala em um Francisco Berenguer de Andrade: há seis meses preciosos que V. S. não tem mandado os socorros prometidos e já recomendados por Sua Majestade e pelo Governador Geral; nestas condições, fazemos seguir o procurador do povo, Gaspar Rebouças Malheiros, em companhia do capitão-mor Francisco Berenguer de Andrade, a fim de apresentar os nossos protestos; em nome de Sua Majestade, e do Governador Geral, pelo estado em que se acha a Capitania, diminuída, quase abandonada pelas forças, devido a essa falta de mantimentos e socorros que até o presente não tem chegado.
Um dos participantes ativos na Guerra dos Bárbaros era o pernambucano Manoel de Abreu Soares. Seu filho, que também participou, no tempo de Moraes Navarro, Paschoal Gomes de Lima, era casado com Helena Berenguer, que não sei se tinha parentesco com o Francisco Berenguer acima.

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