domingo, 22 de dezembro de 2013

Gente da Freguesia de Santa Rita da Cachoeira


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor de Matemática da UFRN e membro do INRG

Hoje iniciamos um passeio pelo Trairi. Vamos encontrar outros lugares como Bananeiras, Brejo de Areia, Guarabira, Araruna, Cuité; outros sítios e fazendas; mais famílias, como Gomes de Mello, Ferreira de Macedo, Arruda Câmara, Fernandes Pimenta e outras mais. Começamos com o livro de casamento. Está escrito no dito livro de abertura de casamentos: Servirá este livro para nele se lançar os assentos de casamentos da Freguesia de Santa Rita da Cachoeira: vai todo numerado e rubricado com a rubrica =Justino = de que uso; e no termo de encerramento, na última página, se vê o numero de suas folhas. Do que para constar faço este termo de Abertura, que assino. Villa de Jardim, em visita, 20 de Novembro de 1859. Francisco Justino Pereira de Brito. Vejamos o primeiro registro de casamento que consta no  livro.

Aos cinco de Maio de mil oitocentos e cinqüenta e nove pelas onze horas da manhã, havidas as Cerimônias Canônicas, e examinados em Doutrina Cristã e Confissão Sacramental, Juxta Sac.Conc. Trid., uni em matrimonio, e dei as Bênçãos Nupciais aos contraentes Olympio Balduíno de Freitas, e Anna Adelina de Faria, aquele natural, e morador na freguesia de Araruna, e esta nesta Freguesia, ele filho legítimo de Antonio de Freitas Chaves e Francisca Romana do Espírito Santo, ela filha legitima de João de Faria Costa, e Maria Alexandrina da Conceição, em presença das testemunhas Manoel Januário  de Faria, e Antonio (ilegível) de Freitas, moradores na Freguesia de Araruna, do que para constar fiz este termo, que assino. Antonio Dias da Cunha, vigário Encomendado da Freguesia.

Segue outro casamento de filho de João de Faria Costa e Maria Alexandrina.
 Aos vinte e dois de Julho de mil oitocentos e cinqüenta e nove, pelas cinco horas da tarde, no lugar denominado, São Bento desta Freguesia, havidas as Cerimônias Canônicas, e exame de Doutrina Cristã, e confissão Juxta Sac. Conc. Trid., não constando impedimento, uni em matrimonio, e dei as bênçãos nupciais aos contraentes João Clementino de Faria, e Cordulina Ursulina da Rocha, aquele natural e morador nesta Freguesia, esta natural da Freguesia de Bananeiras, e moradora nesta, ele filho de João de Faria da Costa, e Maria Alexandrina de Jesus, ela filha legitima de José Pereira da Rocha e Anna Joaquina de Mello, em presença das testemunhas Manoel Thomaz de Faria, e Bernardino Gomes de Faria, aquele morador na Freguesia de Araruna, este nesta Freguesia, do que para constar fiz este assento em que assino. Antonio Dias da Cunha, Vigário Encomendado da Freguesia.

Agora, o casamento de um membro da família Fernandes Pimenta e na seqüência, das famílias Gomes de Mello e Arruda Câmara
Aos vinte e três de Maio de mil oitocentos e cinqüenta e nove, pelas oito horas da manhã, no lugar denominado (ilegível), desta Freguesia, havidas as Cerimônias Canônicas, e exame de Doutrina Cristã, e Confissão Sacramental, Juxta Sac. Conc. Tridentinum, e não constar impedimento, uni em matrimonio e dei as bênçãos nupciais aos contraentes José Felis da Silva, e Cândida Maria da Conceição, naturais e moradores, ele filho legitimo de Joaquim Felis de Lima, e Antonia Maria da Conceição, e ela filha de José Fernandes Pimenta, já falecido, e Rita Maria da Conceição, em presença das testemunhas Honofre Barbosa de Lima, e Pedro Barbosa de Lima, moradores nesta Freguesia, do que para constar fiz este termo em que assino. Antonio Dias da Cunha, Vigário Encomendado da Freguesia.

Aos dezessete de Outubro do ano de mil oitocentos e cinqüenta e nove, pelas onze horas da manhã, no lugar denominado Caiçara de Baixo, desta Freguesia, havidas as Cerimônias Canônicas, e exame de Doutrina Cristã, e confissão sacramental, Juxta Sac. Conc. Trid., não constando impedimento, uni em matrimonio e dei as bênçãos nupciais aos contraentes Manoel Gomes de Oliveira, e Maria Perpétua de Mello, ele natural e morador na Freguesia de Guarabira, e ela natural e moradora nesta Freguesia, aquele filho de João José dos Reis e Maria José Soledade, e esta filha de João d’Arruda Câmara, e Emerenciana Gomes de Mello, em presença das testemunhas Onofre Barbosa de Lima e Francisco de Salles Bezerra, moradores nesta Freguesia, do que para constar, fiz este termo em que assino. Antonio Dias da Cunha, Vigário Encomendado da Freguesia.

Vejamos dois casamentos no mesmo dia, da família Ferreira de Macedo. Vicente e Antonio eram irmãos do Barão de Araruna, Estevão José da Rocha.
Aos vinte e quatro de Novembro do ano de mil oitocentos e cinqüenta e nove, pelas onze horas da manhã, no lugar denominado de Santo Antonio, desta Freguesia, havidas as Cerimônias Canônicas, e exame de Doutrina Cristã, e Confissão Sacramental, Juxta Sac. Conc. Trid., não constando impedimento, uni em matrimonio, e dei as bênçãos nupciais, a Manoel Zacharias de Macedo, e Josefa Felismina de Macedo, aquele natural e morador na Freguesia de Cuité, e esta natural e moradora nesta Freguesia, ele filho legitimo de Vicente Ferreira de Macedo, e Theodora Maria de Jesus, e ela filha legítima de João de Faria Costa, e Maria Alexandrina de Jesus, em presença das testemunhas Olympio Balduíno de Freitas e Trajano José de Faria, aquele morador na Freguesia de Cuité, e esta nesta Freguesia, do que para constar fiz este assento, em que assino. Antonio Dias da Cunha, Vigário Encomendado da Freguesia.

Aos vinte quatro de Novembro de mil oitocentos e cinqüenta e nove, pelas nove horas da manhã, no lugar denominado Santo Antonio, desta freguesia, havidas as cerimônias canônicas, e exame de Doutrina Cristã, confissão, Juxta Sac. Conc. Trid., não constando impedimento, uni em matrimonio, e dei as bênçãos nupciais, aos contraentes Candido José Meira e Maria Avelino de Faria, ele natural e morador na Freguesia de Cuité, e ela natural e moradora nesta Freguesia, aquele filho legitimo de Antonio Ferreira de Macedo, e Thereza Maria de Jesus, e ela filha legítima  de Miguel Rodrigues do Nascimento e Virginia Francelina de Jesus, em presença das testemunhas José Gomes de Mello e João Amâncio de Macedo moradores nesta Freguesia, do que para constar, fiz este termo que assino. Antonio Dias da Cunha, Vigário da Freguesia.


José Gomes de Mello era casado com Úrsula de Macedo, filha de Antonio Ferreira de Macedo e Thereza Maria de Jesus. Francisco Umbelino, filho de José e Úrsula, casou com Felismina, neta de Vicente e Teodora, e, também, de Antonio Ferreira de Macedo  e Thereza e Maria de Jesus

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Krishnamurti: o Instrutor do Mundo

Jiddu Krishnamurti
O grande mestre Krishnamurti ainda jovem. 

Se você quer conhecer um mestre dos tempos atuais, leia algum trabalho ou veja algum vídeo sobre esse espírito avançado do nosso tempo. 
Você pode acessar os sites sobre ele na internet. 

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Natal e o Forte dos Reis Magos


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
Encontramos, em um dos jornais antigos da Hemeroteca Nacional: esta Província foi descoberta em 1499, antes de Pedro Álvares Cabral fundear em Porto Seguro, segundo afirma Mello Moraes na sua Corografia Brasileira, fundado em Herrera, - História das Índias – dizem que Alonso de Hogeda e Américo Vespúcio em 1499 encontraram em 5 graus ao sul equinocial uma terra alagada e segundo todas as probabilidades uma das bocas do rio dá Piranhas ou Apodi (hoje Mossoró) e que não seguiram mais ao sul pelas correntes das águas.

Em 1501, os portugueses chantaram o marcos de Touros, aqui no nosso Rio Grande do Norte, e, depois disso, não há notícias da presença deles, nas nossas terras, por décadas, diferentemente dos franceses que aqui aportaram desde 1503, se consorciando com nossos índios, militarmente, comercialmente e maritalmente. Pudsey, que esteve aqui com os holandeses, diz que os Cariris são originários da miscigenação dos franceses com os tapuias.

Com a instituição das capitanias hereditárias, João de Barros e seus herdeiros tentaram por duas vezes se apossar do seu legado, mas fracassaram. Outros viajantes e piratas devem ter, ao longo desse tempo, nos visitado, mas somente em 1597 resolveu o Rei de Portugal, Felipe II da Espanha, tomar conta da sua colônia, dando ordens a Mascarenhas Homem e Feliciano Coelho, para construir um forte, expulsar os franceses e povoar nossa terra.

O Forte dos Reis Magos é o símbolo maior do nosso Rio Grande do Norte e da cidade do Natal. Diferentemente do que ocorreu em outras localidades, sua construção precedeu a fundação da cidade do Natal.

No dia 25 de dezembro de 1597 Mascarenhas Homem entrava no Rio Potengi, e no dia 6 de janeiro de 1598 dava início à construção do forte. Em 24 de junho do dito ano de 1598, concluída a primeira versão, ele foi entregue a Jerônimo de Albuquerque (mais tarde Maranhão), que tinha a missão de defender nossa terra e trabalhar a paz junto aos índios para a fundação da cidade. Foi um processo demorado. Somente em 11 de junho de 1599 foi feita a aliança com os indígenas, na capital da Paraíba.

A partir daí se iniciou a fundação da cidade com a demarcação de seus limites e a construção da matriz, a meia légua do Forte. Acredito que programaram tudo para que o ato de fundação se desse no aniversário de dois anos da entrada no Rio Potengi. As datas estavam sempre associadas aos eventos religiosos: Natal, Reis Magos, São João e novamente Natal. Em alguns registros aparecem nomes como cidade dos Reis, Santiago, cidade do Rio Grande, Natal, ou Natal dos Reis.

A partir de 1600, com a posse de João Rodrigues Colaço, como capitão-mor, começaram as concessões de sesmarias, sendo o primeiro beneficiado, o próprio capitão-mor, por ato de Manoel Mascarenhas Homem. Essa sesmaria foi comprada, posteriormente, pelo padre vigário da capitania, Gaspar Gonçalves Rocha.

A 2ª já foi concedida por Colaço para os padres jesuítas. Na relação de terras concedida até a data de 1612, quando houve uma revisão, citamos alguns: Jacque de Py; Manoel Rodrigues; João Lostau, com grande descendência, no Brasil; Antonio Gonçalves Minhoto; Francisco Coelho, talvez aquele vitimado pelos holandeses; Bartholomeu Ledo; os irmãos Antonio de Albuquerque e Mathias de Albuquerque, filhos de Jerônimo de Albuquerque, Dona Úrsula, filha de Antonio Cavalcanti; Catharina da Costa, filha de Jorge Gonçalves; Jerônimo Cunha, pai do depois capitão-mor, Manoel de Abreu Soares; Francisco da Cunha, filho de Jerônimo Cunha; Manoel de Abreu; Jerônimo de Ataíde; José do Porto; Maria Rodrigues; Maria de Albuquerque; Manoel Rodrigues Faleiros, talvez ascendente de Pedro e Gonçalo da Costa Faleiros; Manoel Vaz de Oliveira; Inez Duarte, possivelmente a esposa de Antonio Vilela Cid; Antonio Machado; Beatriz do Pania, filha do alferes Luis Gomes; e Antonio Vilela. Foram 185 concessões, muitas delas distantes da nova cidade, tendo alguns dos beneficiados recebidos mais de uma sesmaria.

O núcleo da cidade não prosperou muito em termos de habitação. Nossos povoadores tinham preferências pelas localidades mais distantes da matriz, talvez pela qualidade da terra.

Os holandeses, quando aqui tiveram, não trouxeram nenhum benefício, muito pelo contrário, pois além de promover massacres contra nossos habitantes, destruíram a cidade na conquista, assim a mantiveram, enquanto estiveram por aqui, e pioraram na hora da saída.

Com vimos em artigo anterior, alguns cronistas dizem, até agora não comprovado, que, em 1654, D. João IV doou, para Manoel Jordão, parte do território do Rio Grande, que alguns dizem ter sido Natal, por isso chamado de Natalópolis, e que ele não tomou posse por ter naufragado na entrada do Rio Potengi, e, por isso, o feudo retornou a Coroa; a segunda informação dava conta que D. Pedro II, de Portugal, concedeu o título de Conde do Rio Grande para filho ou filha de Francisco Barreto de Menezes, por sua participação na luta contra os holandeses. Lopo Furtado foi beneficiado por casar com a filha de Francisco Barreto. Segundo alguns, foi o primeiro titular que teve o Brasil.

Nosso Forte passou por várias reformas até ter chegado ao formato atual. O IPHAN, que tomou posse recentemente do Forte, realiza novas reformas, mas, antes disso, um grupo de arqueólogos promove, atualmente, escavações mostrando os vários pisos e intervenções no Forte. Devemos ter novidades sobre a história desse símbolo da nossa terra.


Na Hemeroteca Nacional, encontramos uma descrição da nossa cidade, no ano de 1883: Natal, ou Rio Grande do Norte, pequena, mas bonita por sua posição na península formada pelo Rio Potengi e o oceano, com três praças e dois grandes largos, cinco ruas extensas e retas atravessadas por outras cinco; sendo notáveis os seguintes edifícios: Igrejas de Nossa Senhora da Apresentação (matriz), Nossa Senhora do Rosário, Santo Antônio e Bom Jesus; palácio do governo, assembleia provincial, câmara municipal, tesouro da fazenda, tesouro provincial, alfândega, atheneu, quartel de linha, quartel de polícia, hospital militar, casa de caridade e cadeia.




terça-feira, 10 de dezembro de 2013

A morte de D. Altina, esposa de José da Penha


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, sócio do IHGRN e do INRG
Cem anos atrás, o capitão José da Penha incendiou este Rio Grande do Norte com suas palavras flamejantes. Mas antes disso, o capitão mais atrevido das nossas forças armadas se envolveu em outros episódios de luta. As críticas que pronunciou através do artigo "Traído e Caluniado", em defesa de Lauro Sodré, publicado no Jornal do Ceará, em 1904, acabaram gerando sua prisão. No jornal “A Província” de Pernambuco encontramos o relato da morte de D. Altina, no Forte do Brum.

Preso na fortaleza do Brum desde o dia 18 de dezembro último (1904), o alferes do 17º batalhão José da Penha Alves de Sousa, foi ontem ao anoitecer ferido por um dolorosíssimo golpe.

Esse distinto oficial, que veio do Ceará sem nota de culpa aguardar aqui deliberação do marechal ministro da guerra, a cuja ordem se acha preso, trouxe consigo a sua esposa Altina Alves de Sousa, senhora assaz formosa, ornada de belos dotes de coração e de espírito e extremosamente dedicada ao marido e à duas filhinhas que constituíam a alegria e a consolação do casal através da vida forasteira e acidentada que constitui quase sempre a carreira militar.

O alferes José da Penha, por sua vez, nutria pela família um afeto extremo e um desvelo a toda prova, de sorte que, fossem quais fossem as atribulações da existência, havia de reinar entre eles uma felicidade relativa, a felicidade do lar pelo menos.

No entanto, D. Altina, senhora altamente impressionável, não estava satisfeita; não por si, mas por julgar-se um obstáculo à carreira do marido. Daí a tresloucada ideia do suicídio que a assaltou, ideia que por mais de uma vez pretendeu levar a efeito, conseguindo fazê-lo afinal ontem (9 de janeiro de 1905) às seis e meia horas da noite.

De nada valeram as prevenções e as cautelas do alferes José da Penha e da criada Damiana, uma criada de rara dedicação que acompanhava D. Altina desde a infância.

A desventurada senhora, não se sabe como, conseguiu uma cápsula para o revólver que o marido tinha o cuidado de trazer sempre descarregado e fechado na mala, e, ontem à citada hora, apoderando-se da arma, carregou-a e disparou-a contra a têmpora direita.

Ao estampido, o alferes José da Penha, que tomava café da parte de fora com dois outros oficiais, correu, como muitas outras pessoas, para o ponto de onde ele partira – um compartimento de tabique situado a um canto da sala cedida ao casal. Ali deparou, preso do mais doloroso assombro, uma cena desoladora. A esposa jazia por terra, insensível e banhada em sangue; a morte fora instantânea.

 A inditosa moça desprendera-se da vida sem uma contração de agonia, sem um traço de amargura no rosto e, quando mais tarde a vimos naquela mesma sala, então transformada em uma câmara mortuária, parecia mais uma criatura serenamente adormecida de que um cadáver. Apenas traziam à ideia o tristíssimo sucesso algumas manchas vermelhas sobressaindo nas ataduras brancas que abraçavam a cabeça da morta.

- Logo que teve conhecimento do fato o general Serra Martins compareceu a aquela praça de armas e providenciou para que se iniciassem imediatamente os competentes inquéritos: militar e civil. Neste intuito comunicou o ocorrido ao Dr. Chefe de polícia que fez seguir para ali o Dr. Glycério Gouveia, delegado do 1º distrito. Além desta autoridade compareceu também o Dr. Souza Paraízo, delegado do 2º distrito.
Entre os muitos oficiais que foram à fortaleza do Brum enquanto lá estivemos, notamos os tenentes coronéis Alberto Gavião e Eduardo Silva.
Reinava geral desolação entre as pessoas ali reunidas, desolação a que nos associamos, apresentando condolências ao brioso oficial.

Dois dias depois da publicação acima, o alferes escreveu para a redação.

Senhor redator: - De par com os meus agradecimentos pela tocante e carinhosa notícia do inesquecível sucesso do dia 9, aceitai uma breve explicação, a que não posso renunciar.

Afirmaste que era minha desventurada esposa, altamente impressionável, conjeturando-se um obstáculo à minha carreira do que lhe advieram tendências para suicidar-se. Consente-me que vos ministre mais acertados informes.

Desgraçadamente mais do que pura impressionabilidade, comandam o corpo e o espírito as prepotências da alienação mental, que a martirizaram três vezes no curto lapso de oito anos. De cada uma, conforme fosse o delírio ou a mania, deixava ou não de ter, consoante a lei que preside ao desdobrar daquela triste moléstia, as impulsões suicidas, o que lhes servem de instrumento os objetos mais inconcebíveis, confirmam todos os profissionais, de qualquer procedência ou escola.

Cessada a causa dessa obstinação intraduzível, que fazem somente ideia pouquíssimas pessoas, o que mais torturava aquela alma de santa, era justamente o horror de suas “criminosas tentativas”, como lhes chamava ela.

Repugnava-lhe às crenças religiosas, restauradas nos momentos de trégua, achar desculpa, mesmo estando alienada, para quem atentava contra a própria vida. E quando de fato se restabelecia de todo, transpunha os limites do normal o seu desejo de viver para os nossos filhos. E os modestos incitamentos, com que me impelia à conquista do seu mais forte ideal – um nome para seu esposo, adquirido na luta pela justiça e pela liberdade, - ultrapassavam identicamente a zona, em que se agitam as fragilidades comuns à maioria das pessoas do seu sexo.

Tanto assim, que o meu derradeiro tributo à sua alma, será imolar-me sempre quando for oportuno, aos meus ideais, em que apoia minha consciência de crente e homem livre.


Reiterando meus comovidos agradecimentos, subscrevo-me vosso patrício e admirador. J. da Penha.


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Defesa de Ormuz junto ao IPHAN





Ilustríssimo Senhor
Doutor ONÉSIMO JERÔNIMO SANTOS
Muito Digno Superintendente do
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN no Estado do Rio Grande do Norte,
N A T A L

Em atenção aos termos do Auto de Infração nº 10977, lavrado em 27 de novembro próximo passado, por Fiscal desse Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, contra o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, em tempo oportuno, consoante o prazo estipulado no referido documento, vem o signatário ORMUZ BARBALHO SIMONETTI, na condição de Vice-Presidente do referido IHGRN e tendo em vista ter sido o dirigente responsável pelas obras de reforma física em partes do prédio da Instituição, apresentar as suas razões de defesa e justificativas necessárias em razão da irregularidade tipificada no art. 17 do DL nº 25, de 1937, juntando a documentação exigida no referido Auto de Infração, consoante se segue:

1.      É do domínio público a situação precária com que a nova Diretoria recebeu o Instituto, com documentação irregular, dívidas e nenhuma fonte de recursos, o que obrigou aos dirigentes a tomar providências paulatinas, inicialmente, com recursos particulares de cada um e encetar campanha para obter ajudas financeiras e celebração de termos de Convênio e Cooperação com entidades públicas e privadas.

2.      O próprio IPHAN se fez presente, algumas vezes, vistoriando o prédio e fotografando, constatando a precariedade referida e acenando para a possibilidade de colocar o Instituto no plano nacional de recuperação do patrimônio público.

3.      Acontece que, em razão de parcerias efetuadas, o Instituto está obrigado a permitir o manuseio do seu acervo para pesquisadores e estudantes que por lá comparecem, apresentando extremas dificuldades em razão dos seus espaços físicos, em parte inacessíveis.

4.      O que estava em pior situação era o auditório, sobretudo após a retirada de um carpete, que já substituiu um anterior na última reforma promovida pelo IPHAN realizada em 2008, que certamente verificou a impossibilidade de recuperar o piso de mosaicos. Em verdade, esse carpete escondia antigas mazelas, como afundamento dos mosaicos, com indicação de partes ocas do subsolo, afastamento acentuado do piso nas paredes laterais, de onde brotava permanentemente cupins e colocando os móveis ali existentes em desnível, pondo em risco pedestais com bustos de bronze e outros objetos históricos, em especial a réplica do Marco de Touros, com peso estimado em torno de uma tonelada. Aliás, durante o velório do seu ex-Presidente Enélio Lima Petrovich, já acontecera um prenúncio da situação, quando o crucifixo de metal que ficava na frente do caixão, inesperadamente tombou sobre o corpo do pranteado dirigente, atingindo a sua cabeça. Já existia, então o já narrado desnível.

5.      Visando a correção do problema e dar ao ambiente total funcionalidade e possibilidade de retorno das aulas, palestras e solenidades, o ora defendente tomou a iniciativa de providenciar os serviços necessários. Para isso enviou ofício

6.      Ao IPHAN pedindo autorização para tal procedimento, o acreditava não ter obstáculos, haja vista o reconhecimento em conversas com membros do mesmo, da precariedade do local. Recebeu a resposta por meio eletrônico e ao lê-lo deu interpretação equivocada ao Parecer, entendendo como afirmativo e iniciou os trabalhos, retirando alguns mosaicos, fazendo prospecção do solo, constatando que parte do espaço não tinha contrapiso e alguns mosaicos foram afixados em areia frouxa, tanto que uma haste de ferro, de cerca de 1,60 foi introduzida e a mesma penetrou sem maior esforço até o seu final. Retirados os ladrilhos, logo verificou a imprestabilidade para a reposição, pois alguns estavam quebrados, outros rachados e a maior parte inutilizada por uma cola escura de borracha que segurava, sucessivos carpetes ali colocados, sendo ouvida uma empresa especializada em remoção de sujeiras em pisos, que afirmou a impossibilidade de limpeza dos mesmos. Face a isso, contactou com fabricante de mosaicos para o fornecimento de piso semelhante. O ambiente foi compactado com máquina hidráulica, cedendo cerca de 20 cm, sendo regularizada essa diferença através de aterro e colocado um contrapiso para receber os novos mosaicos.

7.      Foi nessa situação que recebeu uma ordem de embargo da obra, o que lhe causou surpresa, indo buscar o documento resposta do IPHAN e só então, com maior cautela, compreendeu o seu equívoco, o que motivou a sua ida imediata até o referido Órgão e tomado conhecimento de que houve uma denúncia anônima sobre o assunto.

8.      Logo em seguida houve provocação da imprensa que noticiou o fato e aí começou a sua aflição, pois de certa forma foi destratado por pessoas ligadas ao Instituto, apesar de assumir pessoalmente a responsabilidade do episódio.

9.      Invocando a boa fé e o único propósito de soerguer o IHGRN, vem apresentar a documentação exigida por esse Órgão, representada pelas seguintes peças:
a)      Requerimento preenchido e assinado;
b)      cópia de CPF e identidade;
c)      comprovante de responsabilidade sobre o imóvel (Conta de energia elétrica);
d)      projeto arquitetônico da intervenção (planta baixa com localização da área embargada e laudo do Engenheiro Civil Sanderson Torres de Miranda – CREA nº 2104078407-7);
e)      cópia do Estatuto vigente do IHGRN que define as atribuições do Vice-Presidente, em seu artigo 16.

10.   Ademais disso, pondera, ainda, que o IHGRN, há muito tempo, vem realizando serviços no piso do mesmo, tanto que existem ambientes que apresentam piso de Paviflex, taco, cerâmica vitrificada e mosaicos, parte deles encobertos por um carpete e, em verdade, somente os tacos constituem piso original, os demais foram substituídos no correr dos anos, sedo esta a primeira vez que ocorre contestação, o que não se discute o acerto do IPHAN, mas apenas se pondera que houve um equívoco de interpretação, no afã de ter, ainda este ano, o seu funcionamento pleno com a limpeza geral do prédio e reparações estéticas.

11.   Adianta o defendente, por oportuno, ser o único responsável pelo acontecimento para o que se propõe a fazer a devida reparação, com o permanente acompanhamento do IPHAN e sob a orientação de profissional especializado, adiantando que o material retirado está armazenado e organizado no Largo Vicente Lemos, vizinho ao prédio do Instituto, que para ali foi removido com autorização do IPHAN, para a análise que for necessária.

12.   Com tais considerações, requer e espera que seja acatada a sua defesa e suspenso o embargo do serviço, para que seja possível a devida reparação, sob a supervisão desse respeitável Órgão de Preservação do Patrimônio Público Nacional.

ANEXO AO FORMULÁRIO DE RECUOS
DEFESA/RECURSO



Pede deferimento
Natal, 02 de dezembro de 2013



ORMUZ BARBALHO SIMONETTI
Vice-Presidente do IHGRN
            CPF nº 312.553.537-91

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Dr. Carvalhinho, sobrinho do Barão de Serra Branca



João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, sócio do IHGRN e do INRG
Nas pesquisas genealógicas, uma das grandes dificuldades advém das migrações, de um localidade para outra, de pessoas ou famílias. Você perde o fio da meada. Algumas pessoas, que fazem parte dos que migraram da Ilha de Manoel Gonçalves para Macau, tomaram destino que, muitas vezes, não encontramos depois. Com a ajuda de jornais da Hemeroteca Nacional, livros mais antigos, notícias de familiares e revistas dos Institutos Históricos têm sido possível encontrar alguns descendentes desses primeiros habitantes da Ilha de Manoel Gonçalves e de Macau.

Os genros do capitão João Martins Ferreira, que acompanharam o sogro na mudança para Macau, segundo várias fontes, foram: Manoel José Fernandes, casado com Anna Martins Ferreira; Manoel Antonio Fernandes, casado com Maria Martins de Pureza; José Joaquim Fernandes, casado com Maria Martins Ferreira e Antonio Joaquim de Sousa, casado com Thomásia Martins Ferreira. Para onde eles e seus descendentes se deslocaram, posteriormente?

No livro Bacharéis de Olinda e Recife: norte-rio-grandenses formados de 1832 a 1932, do sócio do IHGRN, Raimundo Nonato, encontramos Manuel de Carvalho e Sousa, conhecido por Dr. Carvalhinho, filho de João Antonio de Sousa e Anna Joaquina da Silveira, nascido em 12 de abril de 1856, na Província do Rio Grande do Norte. Quem eram esses pais do Dr. Carvalhinho, vamos ver através do registro de casamento, abaixo.

 “Aos vinte e dois de novembro de mil oitocentos cinquenta e dois, nesta Freguesia de Santa Anna do Mattos, depois das denúncias de estilo, sem impedimentos, confissão, e exame de Doutrina Cristã, o Vigário João Theotonio de Sousa e Silva, nesta Matriz, pelas nove hora da manhã, uniu em Matrimônio just. Trid. e deu as Bênçãos Nupciais, a João Antonio de Sousa, filho legítimo de Antonio Joaquim de Sousa, e Thomásia Martins Ferreira, da Freguesia dos Angicos, com Anna Joaquina da Silveira, filha legítima de Antonio da Silva Carvalho, e Maria da Silva Velosa; foram testemunhas Felippe Nery de Carvalho e Silva, solteiro, e Balthasar de Moura e Silva, casado. Do que para constar fiz este assento, que assino. O Pároco – Coadjutor João Ignácio de Loyolla Barros.”

Pelo visto acima, João Antonio de Sousa, pai do Dr. Carvalhinho, era neto do capitão João Martins Ferreira e de D. Josefa Clara Lessa. Era, portanto, primo legítimo do meu bisavô, tenente-cirurgião Francisco Martins Ferreira. Além disso, uma das testemunhas, o português Balthazar de Moura e Silva, casou a primeira vez com Josefa Martins de Sousa, irmã de João Antonio. Dois anos após esse casamento, ela faleceu com a idade de 25 anos, e Balthazar casou novamente, 4 meses depois, com Maria Petronilla Fernandes, prima de Josefa, e filha de José Joaquim Fernandes e de Maria Martins Ferreira.

Já D. Anna Joaquina, mãe do Dr. Carvalhinho, era irmã de uma das testemunhas, Felippe Nery de Carvalho e Silva, Barão de Serra Branca. Ela nasceu em 28 de janeiro de 1828.

Dr. Carvalhinho fez seus estudos primários em Natal e os secundários e superiores em Recife, morando lá, na companhia do tio Irineu Brasiliano de Carvalho e Silva. Diplomou-se em 7 de novembro de 1877, pela Faculdade de Direito de Recife. Dr. Irineu Brasiliano era médico, casado com D. Maria Christina Antunes, filha do Barão de Messejana, Antonio Cândido Antunes de Oliveira. Morou em Aracati, por 15 anos e, lá, faleceu em 10 de agosto de 1877, com a idade de 43 anos, tendo seu pai Antonio da Silva de Carvalho, falecido um dia antes, no Assú, com a idade de 93 anos.

Dr. Carvalhinho casou-se com D. Maria Emília de Carvalho (faleceu em 1960), de quem teve os seguintes filhos: Orígenes de Carvalho, médico, 1º tenente da Marinha, falecido em 8 de janeiro de 1916, com 32 anos, na Bahia; capitão de fragata e professor da Escola Naval e da Escola de Marinha Mercante, Otávio Tácito de Carvalho, casado com D. Olga Régis Bittencourt, falecido em 19 de maio de 1932, com um único filho, o engenheiro Tácito Bittencourt de Carvalho; e D. Ofélia de Carvalho Rodrigues (falecida em 1926), casada com o Sr. Carlos Howat Rodrigues. Faleceu aos 4 de julho de 1936, no Rio de Janeiro, para onde tinha se transferido com a sua família.

Dr. Carvalhinho ocupou diversas funções aqui no Rio Grande do Norte: Promotor Público da Comarca de Macau, Diretor Geral da Instrução Pública, Juiz de Direito da Comarca de Triunfo e da Comarca de Ceará-mirim, Deputado Constituinte, e Secretário Interino do Governo Provisório, na administração de Pedro Velho. Aposentado em 1892.
Jazigo do pai do Barão de Serra Branca




domingo, 1 de dezembro de 2013

Por que o sistema de busca não funciona

Por João Felipe da Trindade
jfhipotenusa@gmail.com

Antigamente, eu coloca uma palavra na caixa de pesquisa deste blog e ele listava uma série de artigos que continha essa palavra, mas agora não aparece mais nada. O que está acontecendo?

Procurei na internet uma resposta e vi que muitas pessoas tinham a mesma questão. Mas, a solução era fora do blog.

Além disso, quando você reporta este problema no blog, não vem uma resposta de imediato.

Por que as coisas no lugar de melhorarem, pioram?

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Almirante Theotônio Coelho Cerqueira de Carvalho


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN e membro do IHGRN e do INRG
Ele nasceu aos dezenove de novembro de mil oitocentos e trinta e oito, e foi batizado aos treze de janeiro do ano seguinte, na Matriz de Nossa Senhora da Apresentação. Era filho de Theotônio Coelho Cerqueira, natural de Portugal, e D. Izabel Maria de Lacerda. Teve como padrinhos Simão Antonio Gonçalves e sua mulher D. Maria Quitéria da Purificação.

Parte de sua carreira encontrei nos antigos jornais, da Hemeroteca Nacional. No final de 1858, após prestar exames para Escola da Marinha, foi aprovado, iniciou em 1859 e concluiu no final de 1860, tornando-se apto para ser contratado como Guarda Marinha, tendo participado nessa condição, já no ano de 1861, na corveta Bahiana. Em 1864, como segundo tenente, foi promovido a 1º tenente por merecimento.

Em 1876, o Ministro da Marinha mandou louvar o 1º tenente Theotonio Coelho Cerqueira de Carvalho pela apresentação do manuscrito intitulado “Viagem de exploração ao Alto Paraná e Iguassú”, feito na Canhoneira Fernandes Vieira, de que era Comandante. Nessa viagem, uma canoa, que usava para fazer as explorações, virou, morrendo um homem e uma criança, escapando ele e mais cinco tripulantes, depois de lutar contra a correnteza das águas por mais de 25 minutos.

Em 23 de setembro de 1890, após participar da eleição como candidato ao senado pelo nosso estado, fez um agradecimento ao eleitorado independente do Estado do Rio Grande do Norte.

Escreveu o capitão de fragata: Elevado pela brilhante votação, com que sufragou o meu nome, no último pleito eleitoral, o povo do Rio Grande do Norte, meu berço natal, venho oferecer-lhe a expressão de meus sentimentos, assegurando-lhe profunda gratidão, e eterno devotamento de minha vida. Desprotegido, embora, meu nome pelo bafejo oficial, nem por isto arrefeceu o honroso acolhimento com que me distinguiu o independente eleitorado do Rio Grande do Norte, circunstância especialíssima que mais obriga o abaixo assinado para com seus dignos conterrâneos. Foi com orgulho, que muito me penhora, que soube de quanto apreço, e quanta consideração cercaram aí os fracos serviços que, com lealdade e nobreza, hei prestado ao país, e especialmente ao Rio Grande do Norte, a quem dediquei a alma, o coração, e o braço. E esta justa compensação será abençoado incentivo para que, se possível é, se ative em mim, fulgure mais a centelha do amor pátrio, talismã sagrado que tem sido e será a estrela polar de todos os atos de minha vida. Acompanhando o digno eleitorado, a quem sou reconhecido em extremo, penso corresponder a sua alta confiança, assegurando-lhe que, como ele, só conheço uma religião – a do dever – só conheço uma liberdade – a que conduz ao caminho da honra. Theotônio Coelho C. Carvalho.

Em 1890, foi nomeado para inspetor do Arsenal de Marinha do Estado do Pará, e nessa época era capitão de fragata e exercia o cargo de capitão do Porto desse mesmo Estado. Em 1891 foi nomeado para comandar a Flotilha Amazonas e, em 1893, para comandar o Cruzado Guanabara, já como capitão de mar e guerra. Em 1898, era nomeado para inspetor do Arsenal de Marinha de Mato Grosso. Assumiu o comando da Flotilha, em Mato Grosso, em 1900. Recebeu medalha de ouro, de mérito militar, em 1902. Em 1904 era nomeado para assumir o cargo de administrador da praticagem da Barra do Rio Grande do Sul, e comandar o vapor Jaguarão.

Nesse mesmo ano de 1904, faleceu no Município de São Gonçalo, Justa Coelho Cerqueira de Paiva, esposa de Luiz Ignácio Freire de Paiva, sogra do capitão José Coelho Pereira de Brito e irmã do capitão de mar e guerra Theotônio.

No ano de 1906 esteve em Natal, visitando parentes. Em 1909, o governador informa, em seu relatório, que a casa do almirante Theotônio Coelho Cerqueira de Carvalho foi desapropriada para adaptação do Palácio e residência dos governadores.

O Jornal do Brasil de 1904 anunciou: Questão de máxima importância para a Armada Nacional foi ontem resolvida pelo Supremo Federal. Tratava-se da interpretação de legalidade de promoção do capitão de mar e guerra Alexandrino Faria de Alencar. Os capitães de mar e guerra, Theotônio Coelho de Cerqueira de Carvalho, Miguel Antonio Pestana, José Ignácio Borges Machado e José Pedro Alves Barros, reclamaram contra a promoção a contra-almirante do capitão de mar e guerra Alexandrino de Alencar. Alegavam que não foi ouvido o Conselho Naval, e nem Alexandrino de Alencar tinha cumprido o tempo de 2 anos no cargo de capitão de mar e guerra. O Supremo Tribunal Federal negou a solicitação.

Segundo Adauto Câmara, Theotônio casou com Cecília de Carvalho Coelho, em Uruguaiana, RS, tendo desse casamento um filho, Joaquim de Carvalho Coelho Cerqueira, nascido em 1878. Casou em segundas núpcias com Eugênia de Gouveia Coelho de Cerqueira, de Areia, PB, filha do desembargador Epaminondas de Souza Gouveia, nascendo desse casamento Maria Eugenia, Horminda, Isabel. Tinha cinco irmãos: Rosa, Justa, Vulpiana, Maria Honorina e José Coelho de Cerqueira. Faleceu em 14 de fevereiro de 1930, no Rio de Janeiro.

Segundo o Diário Oficial da União, foi reformado compulsoriamente, em 21 de novembro de 1904, no posto e com o soldo de Vice-Almirante, e graduação de Almirante, com 48 anos, 10 meses e 27 dias de serviço, na idade limite de 62 anos. Informa Adauto, que a data de nascimento foi alterada para 19 de novembro de 1842, para entrar na Marinha.


terça-feira, 19 de novembro de 2013

1881, descrição de Angicos (II)

João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN e membro do IHGRN e do INRG
Vista a parte histórica, no artigo anterior, vejamos agora como foi descrita a Vila de Angicos nas suas outras partes, pela Câmara Municipal. Antes disso, um pequeno comentário sobre essa parte histórica. Alguns desses vereadores descendiam dos primeiros habitantes daquela Região de Angicos. Entretanto, não mencionam outros personagens que contribuíram para o nascimento de Angicos. O presidente da Câmara Manoel Fernandes da Rocha Bezerra que casou com minha tia-bisavó, Maria Xavier da Costa Torres, era neto de Balthazar da Rocha Bezerra, mas não fez menção que a Fazenda Angicos, antes de ser vendida ao tenente Antonio Lopes Viégas, pertenceu ao Coronel Miguel Barbalho Bezerra, como provou Aluízio Alves. O vereador, cadete José Avelino Martins Bezerra, tetraneto de João Barbosa da Costa, não contribuiu com nenhuma informação sobre seu tetravô, ascendente da maioria dos angicanos daquela época. Aliás, a História de cada município do Rio Grande do Norte precisa ser revista, pois ela é contada por pessoas que não se dedicaram ao exame mais detalhado dos documentos mais antigos. Para exemplificar, boa parte dos documentos do Assú, tanto dos cartórios como da Igreja, estão perdidos. Mais ainda, os que restaram continuam esquecidos e descuidados pelos seus responsáveis, que não se preocupam nem em digitalizá-los.

Topografia: Esta Vila está situada à margem esquerda do Rio Pata-chó (em vários documentos mais antigos da Província, tenho encontrado o nome do rio com sendo Pata-choca). Nome de antiga tribo de índios, que pararam por estes Sertões (vários autores contestam a passagem dos Pataxós, por aqui). A Vila ocupa a maior parte de um terreno plano e arenoso de 800 metros em quadro.

Conta-se duas pequenas ruas, largas e bem arejadas, e mais três alinhamentos de boas casas que formam o Adro da Matriz, bonito e decente edifício. Ao Nordeste confronte a mesma acha-se a cadeia pública ainda em obra, tendo boa sala livre, onde funciona a Câmara Municipal. Ao Sueste (Sudeste), no mesmo quadro está a Casa do Comércio, edificada ultimamente as expensas dos socorros públicos, que embora não concluída, de muito tem servido, não só para cômodo dos viajantes, como aos negociantes do lugar e seus subúrbios. Ao Levante, vê-se o alto e majestoso Pico do Cabugi, que semelhante ao antigo telégrafo nos anuncia as chuvas pelos cúmulos de nuvens em sua mais elevada extremidade, onde por singularidade, com dificuldade, foi colocado um poste com o respectivo para raio. Ao Leste Setentrião e Ocidente, observam-se diversos serrotes de granito que concorrem ao longe para formar-se da pequena Vila mais avultada ideia. Do centro da situação observam-se diversas casas de telhas, dos maiores Altos Monte Alegre, Favela, Espírito Santo, Coração de Jesus, e Fazenda Nova, propriedades e benfeitorias dos mais abastados do lugar. Finalmente ao Oeste, 100 metros das últimas casas, encontra-se o açude do Glorioso Senhor São José Padroeiro da Freguesia, edificado pelo Reverendo Ibiapina, nas Missões de 1862, obra atualmente em ruínas, que serve apenas para conservar a frescura do terreno, útil aos plantadores de vazantes.

População – Segundo o último recenseamento, consta a população livre de 5. 500 almas, e a escrava de 180. Desta população, apenas habitam a Vila, 300 almas, compreendidas 13 escravos.

Agricultura – Lavoura – Consiste na cultura de mandioca, algodão, milho, arroz, feijão melão e melancia, além de diversos legumes. Criação – A grande criação consiste de gado vacum, cavalar, lanígero, e cabrum. A pequena criação limita-se às aves domésticas.

Indústria Fabril – A indústria fabril é de pouca importância atualmente, consistindo apenas em pouca farinha de mandioca, obras de olaria, como sejam louças de barro, telhas e tijolo de alvenaria; há também tecidos grossos de algodão.

Comércio – A exportação é pouco e limita-se ao algodão e gado vacum; devida esta escassez aos efeitos da calamitosa seca de 1877 e 1879. A importação também é de nenhuma importância, limitando-se a pequena negociação de molhados e fazendas.

Instrução – Para a instrução primária há duas escolas, sendo uma do sexo masculino criada por Resolução Provincial no ano de 1833, e uma do sexo feminino criada por Lei Provincial nº 497, de 4 de maio de 1860.

Divisão eclesiástica – Pertence este Município à Diocese de Olinda, e contem uma só Paróquia denominada São José dos Angicos, a qual desmembrada da de Santana do Matos, foi criada por Resolução Provincial no ano de 1836; e tem sido administrada por três Vigários, sendo dois encomendados e um colado, os Reverendos Manoel Antonio dos Santos Morais Pereira Leitão, Manoel Januário Bezerra Cavalcanti, e Felis Alves de Sousa, pelo primeiro de 1836-1839, pelo segundo de 1839-1844; e pelo terceiro de 1844 até o presente.

Obras públicas – Paço da Câmara Municipal, a Casa do Comércio e o Cemitério.

Distâncias – Dista esta Vila da capital da Província de 42 léguas; as distâncias às Vilas e Cidades dos Municípios confinantes são as seguintes: à Vila de Santana do Matos, 8 léguas ao Sudeste; à cidade do Assú, 8 léguas ao Noroeste; à cidade de Macau, 14 léguas poucos graus abaixo do Norte.

Agora, duas sugestões: que nossas universidades e faculdades ajudem os municípios na reconstituição de suas verdadeiras histórias; que os municípios digitalizam os documentos antigos, ainda existentes em suas sedes. Educação é muita mais que prédios, merenda escolar, bolsas, e bibliotecas.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Ignácio Francisco Ribeiro, morador em Cacimbas do Vianna

Por João Felipe da Trindade
Notícias da velha Cacimbas do Viana, no ano de 1896


Tempos de criança


Augusto Leal, engenheiro

          Eu daria tudo que tivesse /Pra voltar aos tempos de criança/ Eu não sei por que a gente cresce/ E não sai da mente esta lembrança.
           A minha infância foi vivida nos bairros de Petrópolis e Tirol. Nasci e vivi na Rua Seridó, até os seis anos de idade, depois fomos morar na Rua Mossoró de onde sai casado.
            Na Rua Seridó meu pai fez uma casa quase que exclusiva para crianças. O nosso quarto tinha no teto, pintado as figuras do Mickey, Pato Donald, Pateta e outros personagens das histórias de Walt Disney. No jardim casinhas feites com pés de fícus, que dava para a gente entrar e ficar fazendo traquinices, jogando caroço de pitombas e carrapateiras com baladeiras nas pessoas e nos carros que passavam. Tinha uma charrete puxada por um carneiro, chamado Belém, a gente andava dentro do quintal ou na Praça Pedro Velho. Belém morreu e o carneiro passou a ser meu irmão José Maria, que na época era mais gordo que Jô Soares e tinha longos cachos nos cabelos. Por isso foi promovido a carneiro por mim e minha irmã Liege. As tardes mamãe reunia os três no jardim da frente da casa para contar histórias infantis. Lembro-me de uma triste que a madrasta de uma menina enterrou ela no jardim da casa, os cabelos cresceram com as ramas e quando o jardineiro ia cortar as ramas ela cantava uma música que tinha uma parte que dizia assim “Jardineiro de meu pai/ não me cortes o meu cabelo/Minha mãe me penteou, minha madrasta me enterrou/Pelos figos da figueira/Que o passarinho bicou.”
            As tardes uma senhora que morou muito tempo na casa de meus pais, nos levava brincar na Praça Pedro Velho, lá tinha um parque infantil muito grande, com vários equipamentos, como gangorra, balanços, escorregos. Na praça havia bancos para sentar, pés de fícus cortados em formas de animais, de cassinhas, fotógrafos para tirar fotografia naquele momento, tanques com água onde tinham peixes, tartarugas, um coreto com um pequeno bar e lanchonete e uma quadra para a prática de esportes.
            Da Rua Seridò fomos morar na Rua Mossoró no ano de 1950, mas continuei frequentando o bairro de Petrópolis, pois fui estudar depois no Colégio Sete de Setembro e jogar basquete e futebol de salão no Santa Cruz Futebol Clube. Tive como treinador de basquete os irmãos Oscar e Cristalino Fernandes. Oscar era professor de desenho no Sete de Setembro e Cristalino me parece que já era funcionário do Banco do Brasil.

            Na Rua Moçoró, já um meninote, tinha a liberdade de andar só. Fui estudar no Atheneu, ainda continuei ligado a Rua Seridó, pois deixei por lá muitos amigos e continuei jogando pelo Santa Cruz.

            A Rua Moçoró a partir da Rua Prudente de Morais era quase que deserta, principalmente os quarteirões ente a Prudente e a Afonso Pena, sem pavimentação o leito da Rua era de terra batida, servia para os nossos campos de futebol mirim. Havia poucos veículos, é tanto que quando aparecia um, alguém gritava – Parábola- Era um aviso para parar a bola, parar o jogo, quando o veículo passava a “pelada” continuava.
              O quarteirão onde estava localizada a casa de meu, (foi a terceira a ser construída), era de vizinhança escolhida, por serem pessoas boníssimas. Na esquina com a Prudente Djalma Marinho e Eider Furtado, José Barbosa de Farias, por ser muito magrinho e de pouca estatura, era conhecido como Seu Pigmeu, em frente Aderson Eloi de Almeira. adiante Olimpio Procópio de Moura. Iderval Medeiros, Paulo Sobral, Antônio Justino Bezerra, José Idelfonso Emerenciano, José Lopes, Tenente Clotário Tavares, e por último João Rodrigues Barbosa, não sei por que também chamado de João Mamão.
              A Rua Mossoró ainda hoje é ligada com a Ulisses Caldas, onde ficava o comércio de meu pai (Farmácia Natal), e quando eu fazia minhas traquinices, era sentenciado a ir de castigo passar as tardes na Farmácia, aprendendo o oficio ou estudando, ia a pé e voltava a pé. Da Rua Ulisses Caldas já se tinha uma visão ampla da Rua Mossoró, pois não tinha arvores plantada, daí a visão direta do Parque das Dunas. No domingo este morro, na parte por trás do Estádio Juvenal Lamartine, ficava lotados de torcedores que iam assistir aos jogos e sentado no batente do portão da minha casa eu tinha a visão daquela torcida, que às vezes soltava alguns foguetões geralmente anunciando um gol do ABC Futebol Clube.
              Na época do inverno, como o leito da rua era de terra batida, formava grandes poças de água, onde se ouviam o cantar das rãs ou dos sapos que passavam a noite cantarolando. Tinha os vaga-lumes que ficavam desfilando pela noite com sua luzinha apagando e acendendo, e a meninada a procurar pega-los para colocá-los em um vidro para fazer lanterna. Fazíamos coleções de besouros e borboletas caçados nos terrenos baldios, colocados em pequenas caixa de madeira e conservados no formol.
Na rua além das “peladas” jogávamos bola de gude, biloca, triângulos e tila eram as modalidades preferidas. Brincávamos de bandeirinha ou pega bandeira, de tica, de esconde esconde, cobra sega, guerra de baladeiras, tô quente tô frio, bom barquinho e outras.
Nos colégios as quermesses, nas igrejas as festas, íamos às festas do Colégio Sete de Setembro, Colégio Marista, Ginásio São Luiz, quermesse na Lagoa Manoel Felipe, hoje Cidade da Criança, a da Igreja Santa Terezinha, do Colégio Nossa Senhora de Fátima, Festa da Padroeira na Praça André de Albuquerque, Festa da Mocidade, na Praça Pio X. Aos domingos, banho de mar nas praias do Meio, Forte e Areia Preta, ou a travessia do Rio Potengi, nas lanchas de Luiz Romão, ou nos botes a vela, capitaneados por Janjão, Ferrinho ou Gonzaga.]
Cresci, envelheci, ficou a saudade. Boas lembranças de um tempo bem vivido.