quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

O inventário de Thomaz Bengala




João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Embora tenha deixado uma descendência ilustre, o nosso personagem, Thomaz Bengala, deixou, também, um mistério com relação a sua vida e a sua morte. Não se sabe quando nasceu, quem eram seus pais, com que idade faleceu, e onde foram registrados seus filhos. Em nenhum livro vi referência ao seu nome, nem Câmara Cascudo e nem Olavo Medeiros Filho escreveram, que seja do meu conhecimento, qualquer coisa sobre esse Thomaz de Araújo Pereira Junior, que viveu em Santana do Matos.
Buscávamos seu inventário, acreditando que boa parte desse mistério pudesse ser resolvida. Mas, nada. De qualquer forma, algumas novidades surgiram que vamos inserir aqui. Não vamos entrar nos detalhes dos bens, que não eram muitos. Não parecia ser uma pessoa abastada.
Sobre seu inventário, que chegou às minhas mãos, pelo descendente Prof. João Abner, informamos, inicialmente, que: Aos dezoito dias do mês de maio de 1863, na Fazenda São José, do Termo da Cidade do Assú, em casa de aposentadoria do Doutor Juiz de Órfãos, Doutor Ignácio Dias de Lacerda, e na presença do escrivão do seu cargo João Batista de Oliveira Monteiro, foi deferido o juramento dos Santos Evangelhos, onde Dona Rita Regina Câmara informou que seu marido, Thomaz de Araújo Pereira Junior,  faleceu aos 31 de outubro de 1862, sem deixar testamento, e que daria os nomes dos filhos, com suas respectivas idades, como também a relação dos bens deixados pelo marido, sem ocultar nada. Assinou por ela, por não saber escrever, seu irmão Manoel Antonio de Miranda.
Nessa declaração inicial, de Dona Ritta Regina, nenhuma informação sobre a causa da morte, nem tampouco a idade do falecido. Mas, uma coisa ficou, aparentemente, clara, que seu pai se chamava Thomaz de Araújo Pereira.
Sobre os filhos, disse Dona Ritta Regina que seu marido, Thomaz de Araújo Pereira Junior, deixou os seguintes: Maria de 7 anos; Ananília de 4 anos; Bemvenuto de 3 anos e Vivaldo de 2 anos de idade. 
Com a informação acima, podemos inferir que Thomaz e Regina devem ter se casado um pouco antes de 1855.
Na parte das dívidas devidas, citou Dona Rita a quem devia o casal: à sua irmã Maria Francisca Nobre, procedido de dinheiro de empréstimo; aos órfãos de Vicente Gomes de Lima, por ter sido seu marido tutor dos referidos; a seu pai João Ferreira de Miranda, e a Canuto Ildefonso Emerenciano procedido de fazendas que o marido dela comprou ao referido Canuto.
Uma coisa que chama nossa atenção, no ítem das dividas, é o fato de não aparecer nenhum parente de Thomaz, mas um irmã e o pai de Ritta. Aliás, em todo o inventário não aparece parente algum do inventariado.
Dona Ritta, até por seu requerimento, ficou como tutora dos filhos por certo tempo, e seu irmão como fiador, já em 1863, conforme seu procurador Luiz da Rocha Pitta, mas por um pedido desse seu irmão, houve alteração, em 1870: Diz Manoel Antonio de Miranda, residente no Termo de Ceará Mirim, em qualidade de fiador de Rita Regina da Câmara, tutora dos órfãos seus filhos, que tendo esta mudado-se deste Termo para o de Acary, e o suplicante para o de Ceará Mirim, e desejando este lançar-se fora da dita fiança, vem requerer a V. Sª se sirva de ordem que sejam enviados para o referido Termo de Acary, os autos do inventário que se precedeu por falecimento do marido da dita tutora, Thomaz de Araújo Pereira, que devem existir no Cartório  de Órfãos deste Termo, a fim de que possa aí ser nomeado outro tutor dos referidos Órfãos, visto ter aquela passado à segunda núpcias.
Nesse ano de 1870, ela nomeou Joventino da Silveira Borges (nomeado tutor no lugar de Ritta), em primeiro lugar, e Luiz Valcacer da Rocha Pitta, em segundo lugar para prestarem contas no Juízo de Órfãos de Assú, dos bens dos seus filhos. Esse documento veio com as assinaturas de Manoel Pires de Albuquerque Galvão (2º marido de Rita Regina), José Ferreira Nobre Câmara e João Ferreira de Miranda Junior (irmãos) e Manoel Victoriano da Silva Santos.
Nesse mesmo inventário, encontramos que: Em 5 de setembro de 1883, no Sítio Area, termo de Acary, em casa do capitão Luis de Medeiros Galvão foi intimado o tutor para prestar contas, que na ocasião informou que todos os bens foram entregues aos seus tutelados em virtude dos seus casamentos e por terem atingido idade de suas emancipações, estando presentes eles e seus maridos: Manoel Jacintho da Silveira Borges, Manoel Salustino Gomes de Macedo, Bemvenuto Pereira de Araújo, e Vivaldo Pereira de Araújo, por si e como administradores de suas mulheres Maria Regina e Ananília Regina. Assim, e aí presentes, assinaram dando quitação do recebimento de suas legítimas, na presença do Juiz de Órfãos Doutor Francisco Aprígio de Vasconcelos Brandão.
Annanília Regina e seu marido Manoel Salustino Gomes de Macedo foram os pais do Desembargador Thomaz Salustino. Manoel Salustino, natural de Picúi, era tio avô do meu sogro Francisco Umbelino Neto.
Em artigos anteriores, transcrevemos os casamentos de Vivaldo Pereira de Araújo com Maria Quitéria da Silveira, filha de  Manoel da Silveira Borges, e Maria Quitéria Barbalho Bezerra, e o de Maria Regina de Miranda com Manoel Jacinto da Silveira, filho legítimo de Jacintho José Thomas da Silva e Anna Clara da Silveira, já falecidos.
No casamento, de Vivaldo, é informado que ele era natural da Freguesia de Santa Rita.
O 2º casamento de Dona Ritta Regina foi em Acary, como segue: Aos trinta de setembro de mil oitocentos e sessenta e nove, pelas sete horas da tarde, no Sítio Cascavel, desta Freguesia de Acari, depois de obtida as necessárias  dispensas de parentesco de afinidade, proclamas e hora, uni em matrimônio os contraentes Manoel Pires de Albuquerque Galvão e Rita Regina da Câmara, viúvos, sendo ele desta Freguesia e ela da Freguesia de Sana Rita da Cachoeira, servatis servandis, sem impedimento algum, em presença das testemunhas Antonio Pires de Albuquerque Galvão e Sérvulo Pires de Maria Galvão, que comigo assinaram o assento, pelo qual mandei fazer este assento que assino. O Vigário Thomaz Pereira de Araújo.
Duas coisas chamam nossa atenção no casamento de Ritta Regina: primeiro, que ela era da mesma Freguesia do filho Vivaldo, a saber Santa Rita da Cachoeira; segundo, a dispensa de afinidade no casamento com Manoel Pires de Albuquerque Galvão. Já tínhamos visto em um registro de 1864, que Dona Ritta Regina viúva, foi madrinha, no Sítio Bodó, sendo dada sua Freguesia como sendo de Santa Cruz. Quanto a afinidade, pode ter vindo de duas possibilidades: a mãe de Manoel Pires é descendente do Velho Thomaz de Araújo Pereira (o 1º do nome), um parentesco distante, ou, talvez, Manoel Pires fosse parente bem próximo de Thomaz de Araújo Pereira Junior. Corre uma lenda, segundo me contou o Prof. João Abner, à boca pequena, na família, que Thomaz Bengala era filho natural do Padre Thomaz Pereira de Araújo, com uma moça, lá de Santana do Matos, esse mesmo que casou Ritta com Manoel Pires.  Porfíria Alexandrina de Jesus, uma irmã do Padre, foi casada com Antonio Pires de Albuquerque Galvão Junior, irmão de Manoel Pires, esposo de Ritta Regina. Outro irmão do Padre, de nome Antonio Pereira de Araújo Junior foi casado com Teodora Maria de Jesus, irmã de Manoel Pires.
Os pais de Ritta Regina da Câmara eram João Ferreira de Miranda e Joaquina Maria da Conceição. Este casal já estava em Santana do Matos, em 1837, pois foi aí que batizou uma filha de nome Maria, no Sítio São José, tendo como padrinhos Luiz da Rocha Pitta e minha trisavó, Maria Ignácia Rosalinda Brasileira. A batizada, talvez, fosse Maria Francisca Nobre, a irmã que emprestou dinheiro para o casal Thomaz e Ritta. Nos filhos de João Ferreira de Miranda e Joaquina Maria, aparecem sobrenomes com Câmara e Nobre.
Não encontramos em Santa Cruz (Santa Rita da Cachoeira) qualquer registro sobre Ritta Regina ou seus filhos, embora ela e Vivaldo sejam dados como dessa freguesia. Esperamos encontrar outros documentos que ajudem a desvendar o mistério que envolve a vida de Thomaz Bengala.
Filhos de Thomaz e Ritta Regina

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