quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Natal no século XIX, segundo Henry Koster

Natal no século XIX segundo Henry Koster

Dois estrangeiros estiveram no Brasil no inicio do século XIX. A passagem deles aqui pelo Nordeste gerou duas obras que todos deveriam ler: Louis-Francois Tollenare escreveu Notas Dominicais e Henry Koster escreveu Viagens ao Nordeste do Brasil, este último com tradução de Luis da Câmara Cascudo. Tollenare foi testemunha da Revolução Republicana de 1817. Ele morou em Recife e em Salvador. Koster chegou ao Brasil em 7 de dezembro de 1809 e, viajou com destino ao Ceará, em 1810. Mas, vamos aos comentários de Henry Koster quando veio a Natal.
Nos preparos para a viagem ao Rio Grande escreveu: "Tinha muitas esperanças de que o Senhor Joaquim me acompanhasse até ao Rio Grande, mas ele mudou de parecer e tomei, então, as providências para viajar sozinho. Comprei mais três cavalos, contratei um guia para o sertão, homem branco da região, e dois indígenas, com certa de 16 anos". 
Koster passou por Goiana, Mamanguape, Cunhaú, no engenho do Coronel André dÁlbuquerque Maranhão, e  Papari, onde fez o seguinte comentário: "Papari é situada num vale estreito e profundo, mas de lindo aspecto". Estando lá, informa que o Senhor Dionísio apresentou sua mulher, ele português e ela brasileira. Na verdade, estava falando dos pais de nossa Nísia Floresta, Dionísio Gonçalves Pinto Lisboa e Mônica da Rocha Bezerra. Seguiu depois para São José e, por fim, partiu para Natal.
 Quando da chegada a Natal fez, inicialmente, o seguinte comentário: "Um estrangeiro que, por acaso, venha a desembarcar nesse ponto, chegando nessa costa do Brasil, teria uma opinião desagradável do estado da população nesse País, porque, se lugares como esse são chamados cidades, como seriam as vilas e aldeias?" Mais adiante diz: "As construções foram feitas numa elevação a pequena distância do rio, formando a cidade propriamente dita porque contém a Igreja Matriz. Consiste numa praça cercada de residências, tendo apenas o pavimento térreo, as igreja que são três, o palácio, a câmara e a prisão. Três ruas desembocam nesta quadra, mas elas não possuem senão algumas casas de cada lado. A cidade não é calçada em parte alguma e anda-se sobre uma areia solta, o que obrigou alguns habitantes a fazerem calçadas de tijolos ante suas moradas. Esse lugar contará seiscentos ou setecentos habitantes."
 Continua em outro trecho: "À tarde, saímos passeando para ver a cidade baixa. É situada nas margens do rio e as casas ocupam as ribas meridionais e não há, entre elas e o rio, senão a largura da rua. Essa parte pode conter 200 a 300 moradores e aí residem os negociantes do Rio Grande".
Sobre o porto fez o seguinte comentário: Enfim, o porto é de acesso difícil. O rio é muito seguro, quando se haja vencido a barra. A água é profunda e completamente tranqüila, e nesse ponto há amplitude para que dois navios possam entrar. Adiante o fundo é raso e, num espaço de algumas milhas, a profundeza é extremamente diminuída. Imagino que sei ou sete navios podem estar perfeitamente no porto. Não se deve penetrar em barras formadas entre bancos de areia, como esta, senão com bons pilotos, porque elas mudam sempre de lugar e de fundura."
Na época governava o Rio Grande Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque e a nossa Capitania era sujeita ao governador de Pernambuco. Comenta que quando Francisco de Paula Chegou ao Rio Grande: "raras eram as pessoas que se vestiam bem, mas ele conseguiu persuadir uma família a mandar comprar no Recife tecidos manufaturados na Inglaterra. Uma vez introduzidas, essas mercadorias fizeram sucesso e como ninguém queria ser excedido por outro, no curso de dois anos, o uso se tornou geral."
Continua Koster: "Visitamos a Igreja à tardinha. Todas as senhoras estavam elegantemente vestidas com sedas de várias cores, com véus negros cobrindo-lhes a cabeça e o rosto. Um ano antes, as mesmas pessoas teriam comparecido à igreja, de saiotes de algodão, feitos em Lisboa, panos de tecido grosseiro na cabeça, sem meias e com chinelos nos pés."
Sobre nossa força militar disse que se compunha de 140 homens, mas estava em melhor ordem que as de Pernambuco ou Paraíba e gozava de perfeita calma e os roubos eram raros.
Depois de Natal, Koster passou por Ceará - Mirim e seguiu na direção do Ceará.
Hoje, Natal é constituída por uma população de aproximadamente 800 mil habitantes e todos os viajantes que aqui chegam, tanto do exterior como do Brasil, falam com admiração de nossa cidade.

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