quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Eles também tinham escravos

Eles também tinham escravos
Nas margens dos registros vão aparecendo ao lado dos nomes, como complementos, as palavras brancos, pardos, cabras, índios ou escravos. Vamos passeando pelos registros em busca de parentes. Não podemos dispensar nem as testemunhas nem os padrinhos. Precisamos saber com quem conviviam e como viviam nossos ancestrais. Por isso, os registros dos escravos não podiam ser desprezados. Nos registros de casamento desses escravos, na maioria das vezes, só constava o primeiro nome dos nubentes. As testemunhas, na maioria dos casos, eram da família a quem pertenciam os escravos. Da mesma forma nos batizados, os padrinhos eram da família dos "Senhores".
Na escritura de terras compradas por Domingos Afonso Ferreira e o Tenente Coronel Bento José da Costa a D. Francisca Rosa da Fonseca, que iam de Guamaré às proximidades do Rio Mossoró, entre os pertences, que faziam parte da venda,  estavam os escravos como veremos  a seguir: "... com todos os seus pertences de matas, pastos, logradouros, fontes, vertentes, águas, pesqueiros e salinas, casas de vivenda, todos os gados vacum, cavalar, de ferros e sinais, cabras e ovelhas, e com todos os seus acessórios de ferramentas, selas, tachos, oratório com suas imagens e demais móveis pertencentes às referidas fazenda, com dezessete escravos, de nomes João Francisco, Antonio Viégas, Custódia, mulher, Antônio José, Antônio, cabra, Pedro, Bento, Manuel Benedito, André, Manuel Raposo, Joaquim, Francisco, Manuel, Antonio, cabra, Francisco, Caetano, Belchior, e todos os bois manso que se acharem, onze carros, quatro canoas grandes e duas pequenas, uma casa de telha no lugar Oficinas e todo o sal que houver por compra a José Lopes Reis".
Em um  registro de batismo, encontramos um relato singular: "Joaquim filho natural de Antonio Álvares da Costa, e de Maria, Escrava de Joaquim Álvares da Costa, de idade de dois meses, batizada na Capela de Guamaré aos vinte e sete de Setembro de mil oitocentos e trinta e cinco pelo Reverendo David Martins Gomes Delgado Freires de minha licença; cuja criança foi batizada com os Santos Óleos,e forra por preço e quantia de cem mil réis, os quais o dito Senhor recebeu antes de se  batizar, e o mesmo mandou que fizesse esta declaração para o todo tempo constar, e para firmeza do referido assinou comigo. Foi Padrinho André de Sousa Miranda, casado: do que mandei fazer este assento, e por verdade assinei. O Vigário João Theotonio de Souza e Silva."
No movimento através dos livros sentimos um mal estar, que perdurou por muito tempo,  quando encontramos alguns ancestrais que tinham escravos. Tudo ia acontecendo com naturalidade por conta da realidade do passado, mais não se deu do mesmo jeito quando o escravo era de um parente. Entre os registros encontramos o seguinte de escravos de uma pentavó: "Vicente filho legitimo de João e Maria escravos de Claudiana Francisca Bizerra nasceu a 2 de janeiro de 1844 e foi baptizado solenemente pelo Reverendo Paroco Manoel Januário Bezerra Cavalcanti a 9 de Abril do mesmo ano na fazenda Carapebas. Sendo P.P José Felix Alves Cantalicia e Anna Francisca Xavier, e para constar fiz este assento p mim assinado. Pe Felis Alves de Sousa, vigário Interino de Angicos." Na margem a observação Vicente, preto.
Depois vou encontrando outros registros onde outros ancestrais são donos de escravos: em 1827, na Fazenda Santa Cruz, meu trisavô João Miguel da Trindade e João de Barros são testemunhas do casamento de dois escravos, João e Maximiana, de Claudiana Francisca Bezerra; em 1845, Miguel e Bonifácia, escravos de meu tetravô Vicente Ferreira da Costa e Mello do O' são padrinhos de batismo de  Vicência; em 1837, na Povoação de Macao,  há o batismo de João, pardo, filho natural de Ângela, escrava de meu trisavô José Martins Ferreira;
Para finalizar o registro de um óbito, onde aparece como proprietário de uma escrava, meu trisavô Vicente Ferreira Xavier da Cruz: "Aos dez de Outubro de 1877 foi sepultado no Cemitério Público o cadáver de Ritta Maria da Conceição residente no Sítio São Romão d'esta Freguesia, Solteira, liberta, filha natural de Maria, escrava de Vicente Ferreira Xavier da Cruz, e falecida de epilepsia sem sacramentos aos nove do dito mês e ano com trinta e oito anos de idade; foi amortalhada, e por mim encomendada; do que faço este termo em que assino. O vigário Felis Alves de Sousa."
No livro de Henry Koster, "como melhorar a escravidão", editado pela  UFRN, há o seguinte comentário: "Os escravos brasileiros que se mantém a si próprios têm um dia na semana para esse propósito: mas se espera que eles não precisem de nenhuma ajuda do senhor. A vantagem, entretanto, está do lado do brasileiro, quando comparado com o negro da Jamaica, pois o primeiro tem aves e porcos e pode obter peixe dos riachos sem qualquer dificuldade, e além dessa vantagem possui outra infinitamente maior: tem no decorrer do ano cerca de 30 dias livres, afora os domingos."

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