João Felipe da  Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN,  membro do IHGRN e do INRG
Já  tivemos oportunidade, em artigo anterior, de falar sobre as dificuldades que a  nossa cidade enfrentou ao longo de sua existência.  Agora mesmo, olhando para seus canteiros,  suas calçadas e suas ruas, vemos que não é a mesma Natal de quatro anos atrás. Além  disso, sofre as mesmas dificuldades na saúde, educação e segurança que outras  cidades deste Brasil grande, mas com uma péssima distribuição de renda pessoal  e municipal.
A  situação que vive a cidade tem várias origens, mas houve incompetência para  manter uma qualidade, pelo menos razoável, por parte da administração municipal  e por conivência e omissão da Câmara Municipal. 
Quando  estive um tempo na Prefeitura vi o quanto era difícil construir um orçamento,  pois as receitas não eram suficientes para cumprir nem o obrigatório, da mesma  forma que comprovei isso no Governo do Estado por onde passei, anteriormente.  Quando se preenchem os orçamentos da folha de pessoal, os percentuais  obrigatórios da saúde, da educação, os precatórios, as obrigações patronais, e  outras obrigações de lei, já se tem extrapolado o orçamento total. E aí, ele é  refeito para se contemplar os investimentos e os custeios. Nesse refazimento,  são efetuados cortes nas destinações já previstas.  As necessidades da cidade são maiores do que suas  receitas. Por isso, o orçamento é uma máscara da realidade. Pior, os vereadores  que deveriam ter maior conhecimento disso, não se dão conta da realidade  orçamentária, nem se debruçam sobre a execução orçamentária. Nossos vereadores  são, em boa parte, despreparados, e tão cedo não será diferente, pelo que se  prenuncia neste momento. Eles mesmos repetem que não entendem de contas. Você  deve ter ouvido ou lido isso.
Um  exemplo é o orçamento da folha de pessoal, preenchido a menos do que se faz  necessário, passa o ano todo recebendo remanejamentos dos orçamentos de  projetos, que nunca se realizarão. Se houver um aumento fora das possibilidades  gera mais remanejamentos.
A  Urbana é outro caso que merece destaque, pois, há muitos anos é deficitária.  Sempre vira o ano com uma dívida de exercícios anteriores, alta. Essa dívida  come parte do orçamento do ano seguinte, que passa a ser deficitário e gera  novas dívidas de exercícios anteriores, e assim sucessivamente. 
Existem  outras receitas que tem destinação específicas, e que por isso não podem ser  remanejadas, como por exemplo as oriundas das multas de trânsito e da taxa de  iluminação.
Se  as receitas que contribuem para os percentuais da educação e da saúde forem  menores, ficamos com outro problema, os percentuais são os mesmos, mas, os  valores destinados a essas áreas serão menores, obviamente. Assim, quando o  município inventa de renunciar receitas em trocas de alguns projetos, está  prejudicando essas áreas. Algumas decisões judiciais obrigam, também, o  município a alterar o seu orçamento.
Por  outro lado, o município tem dificuldades em receber os recursos da dívida ativa,  hoje mais de 1 bilhão.  Os prefeitos até  tentam, mas a maioria esbarra na lentidão da justiça. O TCE cobra anualmente  dos prefeitos, mas eles se sentem impotentes para resolver isso. Só a justiça  poderia ajudar.
Os  problemas da nossa cidade não se resolverão, tão somente, com diagnósticos,  auditorias, vontade política, planejamento estratégico, reformas  administrativas, cortes no custeio, parcerias com governo federal e estadual e  consultorias. Isso tudo, repetido insistentemente pelos candidatos, já foi  feito a exaustão. Precisamos construir um caminho que gere mais receitas para o  nosso município, sem necessariamente aumentar os impostos. A propaganda de  governo deveria ser feita somente nos sites municipais, sendo proibida na  televisão.
Na  Saúde e, principalmente, na Educação, onde há mais recursos, tanto municipais  como federais, os problemas não são de planejamento, pois há de mais, mas de  gestão. E não adianta criar ilhas de excelências, pois elas serão demandadas e  em pouco tempo se tornarão ineficientes. Todas as escolas e todos os postos  deviam primar pela qualidade. 
O  que os candidatos apresentam na televisão, no programa eleitoral, é um conjunto  de promessas desintegradas sem tempo de execução e sem os custos disso. Falta  modéstia da parte deles, candidatos. Falta conhecimento do dia a dia de uma  Prefeitura. Por enquanto estão mais interessados em destruir os concorrentes do  que discutir, de verdade, a realidade municipal. Os eleitores são bombardeados  por uma série de soluções decoradas que não tem o mínimo de respaldo  orçamentário e financeiro. Uma enganação. Vamos ter anos difíceis pela frente, muito  difíceis, mas ele não tratam disso. 
Não  há nada de novo na política do Rio Grande do Norte, e muito menos na nossa  cidade. Ninguém é novo por ser candidato pela primeira vez. Eles estão dentro  de velhos partidos, carcomidos por interesses escusos. Aqui se agridem, no  interior, se amancebam. Não pode falar em ficha limpa quem tem por trás velhas  raposas e aves de rapina. Costuram nos bastidores há muito tempo. Já vivem de certa  forma no poder. Os poderosos se distribuem bem pelas diversas alianças. Eles,  candidatos, chegaram até aqui através de algum tipo de poder.
 Além disso, se eleitos, terão como obstáculo  uma Câmara que não está interessada, de verdade, nos problemas da cidade, mas  unicamente nos seus currais eleitorais. É algum tipo de poder que privilegia a  chegada de muitos candidatos à Câmara. E lá chegando, vão querer retribuir os  que lhe alçaram ao legislativo, usando o próprio poder executivo. Um bom  vereador luta pela cidade e não especificamente por um extrato dela. 
Não  vote em um candidato bonzinho, pois, como diz o povo, bonzinho não presta. E  muito cuidado como o fermento dos fariseus.
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