João Felipe da
Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN,
sócio do INRG e do IHGRN
Muitas vezes as pessoas não compreendem porque,
em suas famílias do passado, vários irmãos tinham sobrenomes diferentes. Sempre
acham que era desleixo por partes dos pais. Entretanto, depois de pesquisar
várias famílias, descobri que na verdade eles tentavam dar continuidade aos
sobrenomes dos seus ancestrais no lugar de ficar repetindo o mesmo por várias
gerações.
Francisco Xavier da Cruz e Lourença Dias da
Rosa tiveram os seguintes filhos que detectei: Miguel Francisco da Costa
Machado, Vicente Ferreira Xavier da Cruz, Joaquina Maria de Santa Ana,
Mathildes Quitéria da Cruz e Gonçalo José Barbosa. Para confirmar essas
relações de parentesco de gente com sobrenomes diferentes tive que utilizar
várias informações paralelas, pois, ou não tinha o casamento deles ou quando
tinha, não havia a informação dos pais. Para essas pessoas acima, utilizei a árvore
de Jacob Avelino, documento de 1949, as informações de meu pai, e o casamento
de Gonçalo José Barbosa. Neste caso, de onde surgiram esses sobrenomes? As
mulheres, em sua maioria, tinham nomes religiosos; Miguel Francisco herdou Costa
do avô paterno, João Barbosa da Costa, e Machado do avô materno, Antonio Dias
Machado; Gonçalo ficou com Barbosa do avô paterno, citado acima; Vicente
carrega o Xavier da Cruz do próprio pai. Uma curiosidade na descendência de
João Barbosa da Costa e Damásia Soares é que os sobrenomes Ferreira e Melo, que
não aparecem nos filhos, surgem, posteriormente, em vários descendentes, nas
mais variadas combinações, entre elas Ferreira Barbosa, Costa Ferreira,
Ferreira da Costa e, Costa e Melo, .
Possivelmente havia um Ferreira e um Melo nos ascendentes de João Barbosa da
Costa ou de Damásia Soares. O desaparecimento dos livros mais antigos do Assú
criou dificuldades para todos os genealogistas da região.
Mais vamos escrever um pouco sobre Gonçalo
José Barbosa. Quando estava pesquisando minha família estranhei a presença dele
nos eventos religiosos da minha família, pois desconhecia que era irmão de dois
bisavós meus, Vicente Ferreira Xavier da Cruz e Miguel Francisco da Costa
Machado
Gonçalo casou três vezes. O registro de
casamento dele, em 29 de setembro de 1828, em Santana do Matos, com Maria
Francisca das Virgens, dá conta que ele ficara viúvo de Francisca Ritta, de
quem não tive maiores informações. Maria Francisca era filha de João Paes e
Francisca Xavier. Houve dispensa de segundo grau de consanguinidade atingente
ao primeiro, denunciando parentesco com a nubente. Com os sobrenomes reduzidos
na forma acima, ficou difícil descobrir como se dava esse parentesco.
Aos 13 de Fevereiro de 1831, de novo viúvo,
ele volta a casar, na mesma Matriz de Santana do Matos. Vejamos esse registro
na íntegra.
Aos treze dias do mês de fevereiro de mil
oitocentos e trinta e um, nesta Matriz de Santa Ana do Mattos, pelas onze horas
da manhã, tendo precedido as canônicas denunciações sem impedimento, confissão,
comunhão, e exame de doutrina cristã, ajuntei em matrimônio, e dei as bênçãos
nupciais aos meus paroquianos Gonçalo José Barbosa, e Marianna Rosa da Silva,
naturais e moradores nesta Freguesia, ele viúvo, por falecimento de sua mulher
Maria Francisca, e filho legítimo de Francisco Xavier da Costa, e de Lourença
Dias, já falecida, ela filha legitima de João de Barros Silva, e Jerônima
Francisca da Costa, sendo testemunhas Francisco Xavier de Sousa, e Francisco
Sales Sidrim, casados, desta Freguesia; do que para constar fiz este assento,
que com as ditas testemunhas assino. João Theotonio de Sousa e Silva, Francisco
Xavier de Sousa, Francisco de Sales Sedrinho.
Às vezes os nomes nos registros não batiam
com as assinaturas, como ocorreu no caso acima.
É
nesse documento que surgem os nomes dos pais de Gonçalo: Francisco Xavier da
Costa (na verdade da Cruz) e Lourença Dias (da Rosa). Os registros nem sempre
são fiéis ou completos com relação aos nomes dos personagens presentes neles.
Alguns filhos de Gonçalo e Marianna, que
encontrei, tinham, também, diversidades de sobrenomes, a saber: Antonio
Francisco Xavier da Costa casado com Anna Joaquina Xavier da Costa; Lourença
Silvério Xavier da Costa casada com Alexandre Francisco da Silva Bastos; Luiz
Antonio Brasileiro casado com Anna Rosa da Silva; Januário Xavier de Menezes
casado com Francisca Xavier da Silva; Francisco Xavier de Oliveira Bello casado
a primeira vez com Rita da Natividade Xavier da Costa, e a segunda com
Francisca Ritta Xavier de Maria; José Alves Xavier da Silva casado com
Francisca Emiliana Xavier de Melo; Rita
Silvina Xavier da Costa casada com Alexandre Xavier da Costa; e João Xavier da
Costa casado com Teresa de Jesus Xavier da Silva.
Nos filhos do casal, Gonçalo e Marianna, é
possível ver de onde vem os sobrenomes de alguns, mas de outros não. Oliveira, Brasileiro, Melo e Menezes de onde
surgiram?
Boa noite prof. João Felipe,
ResponderExcluirEste assunto sobre a origem dos sobrenomes me intriga há anos. Pude perceber que os sobrenomes de minha família são mantidos com um certo cuidado para não mudá-los até determinada geração. Logo após, com o casamento, os sobrenomes duplos são divididos, escolhendo-se os de melhor sonoridade ou mesmo o da mãe, por se achar mais bonito.
Em resumo, pude observar que os sobrenomes duplos foram preservados em minha família até a primeira metade do século passado, mas depois cada um fez o que quis.
Sem querer ofender ninguém, mas parece que hoje em dia cada um faz o que quer, no que diz respeito ao nome dos filhos, embora eu defenda que deveriam definir melhores regras para a formação dos nomes, principalmente o primeiro. Tenho observado uma crescente onda de nomes diferentes; alguns bonitos, outros esdrúxulos com os quais estão sendo registradas muitas crianças, principalmente aqui no Nordeste.
Taí uma sugestão para um futuro artigo.
Mário, realmente muitos nomes que são colocados nas crianças tem escritas que não obedecem regra nenhuma. No futuro gera uma série de perguntas intermináveis para quem for escrever.
ResponderExcluirSe um jovem disser qual é o nome dele, em geral, não vamos saber como se escreve.