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segunda-feira, 26 de março de 2012

O Conde que arribou na Ilha de Manoel Gonçalves

conde Maurício Augustus, Conde de Benyowsky

João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN e membro do IHGRN e do INRG

Na Penny Cyclopaedia of the Society for the Diffusion of Useful Knowledge, encontramos as seguintes informações: Mauritius Augustus, Conde de Benyowsky, magnata húngaro, nasceu em Worbuena ou Verbowna, domínio hereditário de sua família no condado de Nittria no reino da Hungria, no inicio do ano de 1741 (outros dão seu nascimento como em 20 de setembro de 1746). Era filho de Samuel Conde de Benyowsky, um general da cavalaria no serviço do Imperador da Áustria, e de Rosa, baronesa de Revay.
Na sequência, a dita enciclopédia relata grande parte das aventuras do Conde, com base, principalmente, no livro intitulado Memórias e Viagens de M. A. Conde de Benyowsky, escrito por ele mesmo. Uma das informações importantes para nosso artigo é que, segundo a enciclopédia, ele partiu de Baltimore para o Porto de St. Augustine, na costa leste de Madagascar, em 25 de outubro de 1784, no navio que foi chamado de Intrepid. Devido à gravidez de Madame Benyowsky, o conde deixou sua família na América. A viagem, desde o principio foi lenta e azarada. No inicio de janeiro de 1785, o Intrepid chegou à costa do Brasil, de onde Benyowsky escreveu a última carta que seus amigos tenham recebido. Cerca de um mês depois o navio encalhou na Ilha de Juan Gonçalves (na verdade Ilha de Manoel Gonçalves, como veremos), e não foi antes de abril que ele saiu em boas condições de navegabilidade. Benyowsky partiu, então, pelo Atlântico em direção ao continente Africano.
É no projeto Resgate Barão do Rio Branco, projeto ultramar da UFPE, que vamos encontrar o sumário do que aconteceu com o Navio Intrepid que arribou na Ilha de Manoel Gonçalves.
Em 27 de maio de 1785, o governador da Capitania de Pernambuco, José Cesar de Menezes, enviou ofício ao Secretário de Estado da Marinha e Ultramar, Martinho de Mello e Castro, encaminhando o sumário abaixo, e seus complementos.
"Nas praias de Manoel Gonçalves, distrito da Capitania do Rio Grande do Norte, arribou em princípios de janeiro, próximo pretérito, o navio americano denominado Intrépido, comandado por Lucas David, e mandando eu pelo Doutor Provedor da Fazenda Real da dita Capitania praticar as diligências, que em tais casos determina o Régio Alvará, de cinco de outubro de mil setecentos e quinze, satisfez com o sumário, que ponho com esta na presença de Vossa Excelência, do qual se mostra que saindo o dito navio de Baltimore para o Cabo da Boa Esperança, e Madagascar, por causa dos ventos e correnteza das águas, e também por falta de água e lenha, arribara ao mencionado distrito, de donde continuou sua viagem depois que proveu do necessário; e não fez comércio algum enquanto ali se deteve".
Para praticar as diligências, acima referidas, foram para Ilha de Manoel Gonçalves as seguintes pessoas: Provedor Doutor Antonio Carneiro de Albuquerque Gondim; Escrivão Antonio José de Sousa e Oliveira; Meirinho da Real Fazenda, José Ribeiro da Silva; o seu escrivão João Cardoso Batalha; os oficiais nomeados pelos capitães-mores interinos da Capitania José Barbosa Goveia, militar, Antonio da Rocha Bezerra, vereador mais velho, a saber: o sargento José da Costa Pereira, Comandante da Tropa paga, por não haver outro oficial maior, na dita tropa; o mestre carpinteiro Francisco da Rocha; o mestre calafate Alexo Silva.
Na Ilha de Manoel Gonçalves foram tomados os muitos depoimentos dos tripulantes e passageiros, que praticamente contaram a mesma história relatada no sumário. Entre eles, depoentes, estavam o Conde, já citado acima, várias mulheres, e o comandante na Ilha, José Pereira Vas Botelho. Em síntese, disseram que o navio saiu de Baltimore para o Cabo da Boa Esperança e Madagascar, no início de outubro, mas as correntezas e os ventos dificultaram a viagem. As correntezas levaram para os baixos do Cabo de São Roque, mas não puderam contorná-lo. Por conta da dilatação da viagem, começou a faltar tanto água, como lenha. Procuraram avistar terras para suprir suas necessidades, chegando ao Cabo de Tubarão. Tentaram fazer reparo e o provimento das necessidades fora da Barra, sem intenção de entrar nela. Usaram bandeiras para se comunicar com uns pescadores que estavam numa jangada próxima ao Navio Intrepid. Entretanto, eles fugiram. Mas no outro dia, apareceu um português que subiu no navio e se ofereceu para levar para mais próximo da terra, pois seria melhor para provimento de água e lenha. Mas, o navio encalhou em um banco de areia, aumentando as avarias. Com dez pessoas e duas bombas não conseguiram conter o volume de água que entrava a cada hora cinco pés ou sete palmos. Tiveram que jogar ao mar cinco peças, vários mastros, paus e outros objetos. Para escaparem, o General (conde de Benyowsky) e vários passageiros saíram em um Escaler para a terra. Na Ilha de Manoel Gonçalves pediram auxílio ao capitão mandante José Pereira Vas Botelho, 50 anos, capitão da Cavalaria Auxiliar do Regimento da Ribeira do Assú, residente naquelas praias,  que acudiu, em vista do perigo, e mandou um prático, outro português, para entrar na Barra, onde estavam agora consertando o navio.
Informou, o Conde sobre o material encontrado no navio, que tudo era dele, depoente, que levava para as suas fábricas de açucares, e aguardente, como caldeira de cobre, e ferro, bacias do mesmo; moinhos vários, alguma pólvora, espingarda de caçar para negócio, e uns pretos da África; tijolos para alguma obra, e cal. O Conde fez seu depoimento em Latim que foi vertido no português, e assinou com o Ministro nomeado Antonio Carneiro.
Nas suas credenciais constava, entre outras, como Conde do Sacro Romano Império a Benyowsky, magnata do Reino da Hungria e da Polônia, Comendador da Ordem da Águia Branca, Cavalheiro da Ordem Real Militar de São Luiz, Camarista de Sua Majestade Imperial e General maior da mesma Majestade.

Assinatura posta no depoimento na Ilha de Manoel Gonçalves, Costa do Rio Grande do Norte, em 1785

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