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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Paulo Leitão de Almeida e a Capela de Utinga

Paulo Leitão de Almeida e a Capela de Utinga

Estava em Pirangi lendo o livro de Augusto Tavares de Lira, História do Rio Grande do Norte, quando o telefone tocou. Do outro lado da linha identificou-se Paulo Leitão de Almeida, 87 anos de idade, militar do Exército, formado em Engenharia Elétrica pelo Instituto Militar de Engenharia,  foi  presidente da Companhia de Gás do Rio de Janeiro e Superintendente de Suprimentos da Hidrelétrica de Itaipu. Contou  que estava me ligando por recomendações do diácono Leilson, lá da Cúria Metropolitana e Prof. Xavier. Paulo está escrevendo um livro que, temporariamente, tem o título de Gotas de Saudade e precisava de mais informações sobre um ascendente dele, Agostinho Leitão de Almeida. O livro contém um capítulo sobre o pai de Agostinho, o Professor Régio de Português, no Recife, José Leitão de Almeida.
Coincidentemente, no livro de Augusto Tavares de Lira, citado acima, há uma pequena biografia de Agostinho Leitão de Almeida. Nela, Tavares de Lira  diz que tinha informações que Agostinho nasceu em Natal e que sua atividade política data de 1821. Outras informações dão conta que Agostinho nasceu na freguesia de São Pedro Gonçalves do Recife. Paulo busca, com insistência, os registros da Igreja Católica para identificar, toda a família de Agostinho. Por isso me procurou.
Aos 87 anos não descansa. Fui até sua casa para conversarmos. Expôs novamente as suas pretensões. Como eu tinha vasculhado alguns livros de registros de batismos, óbitos e casamento da Cúria e do Instituto Histórico era possível que tivesse encontrado alguma coisa relativa às buscas de Paulo. Na verdade, me lembrei de ter encontrado um documento onde constava o nome de Agostinho. Era o registro de casamento de José Ignácio Fernandes Barros, em 20/5/1820, onde Agostinho Leitão era uma das testemunhas. Do documento, a única informação mais útil é que nessa data ele era casado. Fiquei com o compromisso de tentar localizar entre minhas anotações mais algumas informações sobre Agostinho.
Outra coincidência que me chamou a atenção foi que durante a leitura do livro de Augusto Tavares de Lira, uma preocupação que passei a ter era tentar localizar Utinga. Na conversa que tive com Paulo ele fazia referências a essa localidade que sua família falava sempre.
Um dos massacrados em Uruaçu foi Estevão Machado de Miranda. Um dos meus ascendentes, João Machado de Miranda, batizou, em 1709, um filho na Capela de Utinga. Daí nasceu minha curiosidade de descobrir se havia algum parentesco entre meu ascendente e o mártir de Uruaçu.
Paulo, então, fez referência a um documento que estava com ele doado por  Câmara Cascudo  ao pai dele, Boanerges Leitão de Almeida. Era uma genealogia das famílias de Utinga, documento muito antigo, que Paulo preserva com muito zelo. Essa genealogia começa com o português Antonio Vilela Cid, um dos massacrados de Uruaçu, e sogro de Estevão Machado de Miranda.  Permitiu que eu fotografasse.
Essa genealogia era escrita, manualmente, no verso e anverso de uma folha razoavelmente grande. Deve ter sido escrita por volta de 1840.
Neste momento estou fazendo um esforço muito grande para transcrever o documento, mas já encontrei, na genealogia, vários personagens que estiveram presentes em batismos ou casamentos de descendentes de João Machado de Miranda, aumentando as evidências de que ele tinha algum parentesco com Estevão Machado de Miranda.
Essas coincidências me levaram a fazer uma visita a localidade chamada Utinga. Saí, na tarde do dia 5 de Fevereiro de 2009, em companhia de meu concunhado Aurino Simplício, de Macaíba, em direção a Igreja Nova a procura de Utinga.  No meio do caminho dobramos a direita e fomos parar na  Capela de Utinga. No seu frontispício estava cravada a data de 1785, uma data muita mais recente, do que a verdadeira data de sua construção. Deveria ser uma reforma, como aconteceu com a nossa Igreja de Nossa Senhora da Apresentação. De qualquer forma, aquela é uma das mais antigas do Rio Grande do Norte. Chamava-se capela de Nossa Senhora do Socorro de Utinga. Chico de Utinga, morador  do Distrito, se orgulha dizendo que é a segunda mais antiga do Rio Grande do Norte. Felipe, um menino que foi buscar as chaves, informa que ali houve filmagens de "O homem que desafiou o diabo".
Dentro da Igreja encontramos uma placa de mármore, desgastada pelo tempo, quase rente ao chão com os dizeres; "Jazigo Perpetuo do Cap.m João Gomes Freire. Nasceo aos 23 de 10.bro  de 1817. Casou-se em Fev. de 1837. Falleceo a 20 de 8.bro de 1877. Foi Vice Presidente desta Província da Câmara Municipal e Juiz de Paz (ilegível). Sua inconsolável espouza em signal de saud.e e gratidão lhe mandou fazer este. PYAM." Pelo desgaste pode ser que alguns desses números ou nomes tenham sido transcritos errados.
Aquela localidade e aquela capela deveriam ser mais bem cuidadas pelo poder público. Fabio Arruda, estudioso dos engenhos do Nordeste, diz mais: "Aliás, esta Capela deveria ser tombada, no mínimo, pelo Estado do RN, mas deveria, ao certo, ser tombada pelo Patrimônio Histórico Brasileiro, quem dirá Internacional, em função do episódio do Uruaçu envolver membros de outros países."

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