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sexta-feira, 8 de julho de 2022

A Verdade de José Anselmo, eleições e os Pinheiros de Angicos.

 Por João Felipe da Trindade

jfhipotenusa@gmail.com

 

A Verdade, publicado no Diário do Natal,  em 1909

Não era meu desejo ocupar-me, pela Imprensa, dos assuntos que envolvem os Srs. Pinheiros.

Desde o desaparecimento do saudoso e inesquecido Cel. José Rufino que o Sr. L. Pinheiro iniciou a sua direção política, fora da linha da moderação e do direito. Sobejamente reconhecido está, que o Sr. L. Pinheiro é destituído de capacidade e critério para dirigir uma política local.

Desde a sua estreia política, que se tem revelado um insensato, praticando diatribes e insolências contra adversários honestos e pacatos da sua política.

Para provar exuberantemente a sua perniciosa orientação política nas proximidade de 30 de janeiro, excluiu da presidência das mesas eleitorais os melhores correligionários e amigos, como o Srs. Cel. Bernardo Pinto de Abreu e Miguel Trindade. Qual o motivo com que se possa justificar de tamanha falta de desconfiança e desprestígio para com aqueles membros de sua política?

Parece-me que o Sr. L. Pinheiro não teria justificativa satisfatória para esta merecida consideração que deu àqueles seus amigos e correligionários. Não tinha nenhuma necessidade de fazer este ato, desde que a eleição corria livre; pois que já haviam percorridos todo município em busca das assinaturas dos eleitores, com os livros das mesas eleitorais, (isto pelo menos 6 dias antes) da eleição. Quanto a se apresentar nas ruas, com meia dúzia de eleitores, e vários capangas armados a rifles, isto foi para melhor desempenho de vergonhosa farsa que tinha de representar.

Que precisão tinha de entrar em um pleito com capangas quando possuíam a maioria, e já tinham feito a eleição há tantos dias? Muito menos tinham em propalar que o pleito correu livremente.

Por que não aceitaram o proteste de 55 eleitores oposicionistas? Qual o fim de nomearem J. Côiro e o arruaceiro Miguel Rufino, presidentes das mesas eleitorais?

Certamente porque estas feras intimidavam aos opositores, como o fazem com todos os seus desafetos, que vivem aterrorizados diante das prepotências de tão poderosos sultões.

Provado fica que, se o Sr. L. Pinheiro, que é o único responsável na direção da política, não fosse um espírito fraco, se deixando levar pelos que nenhuma responsabilidades têm  e vivem imbuídos de celebridades de cangaceiros, patrocinados pelo amo. F. Maranhão não lhes aprovava em todos os desmandos.

Mais louvável seria que tivesse honestidade para sustentar todas as palhaçadas que têm feito, não tendo o revoltante cinismo de dizer fora do município que sua política é de paz e amor.

Bem o sabemos... rifles e surras (prometidas). Quanto a propalar-se, me ter-me feito calar, diante das bravatas do Sr. Rufino, são mentiras muito peculiares  aos Pinheiros por serem desprovidos de dignidade e coragem, e muito conhecidos e desprezados por todos os homens de bem. Muito ridicularizados são, porque ainda não levam a efeito uma só das  ameaças feitas a Manoel da Mata, Joca do Pajeú a quem o Sr. Rufino atacou, em sua própria residência, e também a tentativa à pessoa do distinto e honrado chefe, Teodoro Filho, provocação feita na própria residência do honrado cavaleiro. A pouco dias o digno e honrado comerciante Honorato Germano, pelo fato de ter censurado a entrada dos capangas armados, no dia 30 de janeiro, foi da parte deste Sr. Rufino, que parece atacado de hidrofobia, - intimidado com recados em que este bravateiro mandara dizer  e achar-se na Vila com seus capangas, e que se o Germano quisesse fosse desarmá-lo.

Ainda não contente (ou saciado), esse pobre maníaco de exibições quixotescas, me agrediu na tarde de 23 do passado, quando eu caminhava com destino a esta capital, no lugar próximo – Várzea dos Bois, ganindo injuriosas ameaças e, apeando-se do animal, tirou de dentro da carona uma mauzer pronto a me fazer recuar. Como o conheço sobejamente, por ter certeza de que aproveita-se de minha ausência para dizer a todo mundo que me fez recuar com suas fanfarronices e assombrosa coragem, é que declaro não passa isso de uma torpe mentira. Depois de passarmos uns dez minutos, a sós, na estrada, de armas engatilhadas, - pois eu tencionava apenas me defender, disse-lhe: creio que você só pode atirar em homem pelas costas, e dando de  marcha, deixei-o às moscas da estrada. Assim provam os Srs. Pinheiro que não passam os seus atos de fanfarronices, e que são desprovidas de dignidade.

Não é o bastante o Sr. L. Pinheiro dizer a alguns amigos que não pode conter as loucuras de seu sobrinho, e de seu cunhado J. Côiro. Muito menos ainda em jurar que não tem intuito de ofender-me, e perseguir-me porque sou  casado com uma filha do seu único benfeitor, e idolatrado irmão. Melhor avisado andaria o Sr. L. Pinheiro não se cercando de pessoas como J. Côiro, e seu sobrinho, tendo em recordação que seu irmão dizia sempre:

Angicos terá sossego enquanto J. Alexandre não intervir na política. Quanto ao seu sobrinho bem o sabe, que na direção do pai, nunca ocupou nem o lugar de servente de justiça, sendo sempre excelente tratador de cavalos de sela. Hoje que por infortúnio deste pobre município, são estes os que o desgovernam, apoiados por uma corrupta e despótica política como a atual, não mais poderão gozar tranquilidade os habitantes desta terra de gente tão pacata.

Em qualquer oportunidade que me for permitido voltar a Angicos,  provarei que sempre desprezei os arreganhos dos perniciosos Pinheiros dominantes, enfrentando-os quer na imprensa, quer pessoalmente. Aviso aos meus amigos, parentes e correligionários, que evitem o contato desses tipos e desprezem as ameaças com que eles procuram intimidar aqueles que batalham em defesa dos seus direitos usurpados e do seu ideal político. A todos quanto me apararam com o seu apoio moral e prestígio nas críticas emergências da minha vida, lhes hipoteco minha sincera gratidão.

Desnecessário se torna mais uma vez oferecer pela imprensa meus diminutos préstimos, na cidade de Bragança, para onde vou foragido pelas perseguições dos sultões de Angicos.

Natal, 6 de março de 1909.

 

 

 

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