João Felipe da
Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN,
sócio do IHGRN e do INRG
Com a chegada do aeroporto, São Gonçalo do Amarante se
tornará mais internacional do que já foi. Há necessidade, portanto, de um maior
cuidado com sua verdadeira história, pois estará mais exposta. Embora tenha
feito um artigo, anteriormente, chamando a atenção para equívocos sobre seu
passado, observamos, que eles se repetem em vários sites, e, talvez, nas
escolas.
Está na hora da Prefeitura de São Gonçalo providenciar junto
às nossas Universidades estudos sobre o passado riquíssimo desse município com
base em documentos primários.
Para exemplificar, transcrevo trecho de uma notícia que
encontrei em jornal de 1930, “Notas fornecidas pelo desembargador Antonio
Soares, a pedido do tenente Manoel Cavalcanti, prefeito do município de S.
Gonçalo: ...sendo seus primeiros habitantes e fundadores os Srs. Paschoal Gomes
de Lima e Ambrósio Miguel de Serinhaém, os quais, “in illo tempore”, foram os
primeiros que a este lugar chegaram, vindos do lado sul. (talvez de
“Serinhaém”, Pernambuco, conjeturamos nós outros). Aqui edificaram eles suas
casas assobradadas e construíram uma capela dedicada a S. Gonçalo do Amarantho
(?) e onde colocaram uma imagem do mesmo, que era esculpida em pedra, ficando
assim o lugar denominado S. Gonçalo do Amarantho, os dois srs. Paschoal e
Ambrósio, ambos casados legitimamente, e possuindo família, foram ligando
reciprocamente seus descendentes, de
modo que hoje toda a família são-gonçalense, na pluralidade de seus membros,
podem afirmar terem sidos aqueles senhores os seus verdadeiros ascendentes”.
Vários sites colocam a data de chegada de Pascoal e Miguel
como sendo 1710. Vamos aos fatos. Na região do Potengi, vamos encontrar antigas
capelas como Santo Antonio do Potengi, São Gonçalo do Potengi, Nossa Senhora do
Socorro de Utinga e Oratório de Jundiaí. Vejamos alguns batismos nessa localidade, dos
muitos que ocorreram no período de 1688 até 1711.
No dia 29 de junho de 1688, na capela de São Gonçalo, foi
batizada Leocádia, filha do capitão Manoel de Abreu Frielas (provavelmente,
irmão de Pascoal) e de sua mulher Izabel Dornelas.
No dia 31 de outubro de 1689, na Capela de São Gonçalo, foi
batizada Bárbara, filha de Manoel Rodrigues Santiago e de sua mulher Catarina
Duarte de Azevedo, tendo como padrinho Matias Camelo; nessa mesma capela de São
Gonçalo, aos 26 de novembro de 1691, foi batizada Izabel, outra filha desse
casal, tendo como padrinhos o capitão Theodósio da Rocha e Joana, filha do
capitão Pedro da Costa Faleiros. Essa Catarina descende dos mártires de Uruaçu,
Estevão Machado de Miranda e Antonio Vilela Cid, trucidados em 1645.
Ainda, em 10 de junho de 1688, na capela de Santo Antonio,
foi batizado Bonifácio, filho do capitão Theodósio da Rocha (outro participante
da Guerra dos Bárbaros) e de sua mulher Antonia de Oliveira, tendo como
padrinhos o capitão Afonso de Albuquerque (Maranhão) e Maria de Sá.
Já em 25 de abril de 1691, na capela de Santo Antonio da
Pebuna (?), foi batizada Ana, filha do capitão Theodósio de Grasciman e de sua
mulher Paula Barbosa (descendente de outro mártir, João Lostau), sendo madrinha
Antonia de Oliveira.
No dia 24 de novembro de 1697, na capela do Potengi do Bem Aventurado
Santo Antonio, foi batizado Manoel, filho de Manoel de Sousa Cirne e de Maria
Pereira, sendo padrinhos João da Costa Almeida e sua mulher Domingas da
Fonseca.
No dia 12 de junho de 1709, na capela da Utinga, de Nossa
Senhora do Socorro, foi batizado João, filho de João Machado de Miranda e de
Leonor Duarte de Azevedo. João e Leonor são meus hexavós.
Izabel, que foi batizada, em 1691, conforme registro acima,
tornou-se Izabel Rodrigues Santiago, casou com Salvador de Araújo Correa, e batizou
em 18 de junho de 1710, na capela de Nossa Senhora do Socorro de Utinga, Luiza,
sendo padrinhos o padre Antonio de Araújo Sousa, e uma irmã de Izabel, de nome
Elena Duarte de Azevedo. Esta Elena foi batizada, em 27 de dezembro de 1701, na
capela de São Gonçalo do Potengi, tendo como padrinhos Antonio Duarte e Ana de
Macedo, filha do capitão João Martins de Sá.
Em 7 de março de 1711, no Oratório de Jundiaí, foi batizado
Manoel,filho de Antonio Cabral de Vasconcelos e de Mariana da Costa, tendo como
padrinhos o capitão-mor Gonçalo de Crasto Rocha e D. Joana Gomes de Abreu,
mulher de Manoel Tavares Guerreiro.
Pelo apresentado, muitas famílias já existiam, no século
XVII, onde hoje é São Gonçalo, inclusive a família de Pascoal Gomes de Lima que
participou da Guerra dos Bárbaros, junto com seu pai, o norte-rio-grandense,
capitão-mor Manoel de Abreu Soares. Já em 1697, Pascoal Gomes de Lima foi
padrinho de uma filha de Antonio Batista Pimentel, e, em 29 de dezembro de
1698, na capela de São Gonçalo do Potengi, foi batizada Antonia, filha do
capitão Pascoal Gomes de Lima e de sua mulher Helena Berenguer, sendo padrinhos
Pedro Berenguer e D. Maria de Cerqueira. E, em 11 de outubro de 1701, foi
batizada, na capela de Santo Antonio do Potengi, Maria Magdalena, outra filha
de Pascoal e Helena, tendo como padrinhos Estevão Rodrigues de Sousa e D.
Theodósia da Rocha, filha do capitão Theodósio da Rocha.
A esposa de Pascoal Gomes de Lima, Dona Helena, aparece em
diversos registros com sobrenomes diferentes; uma hora Berenguer, outra Barbosa.
Acredito que fosse da família Berenguer de Pernambuco, do sogro de João
Fernandes Vieira. Nessa família tinha um Ambrósio Berenguer de Andrade que
casou com Magdalena Barbosa de Albuquerque. Acredito, que no lugar de um
casamento entre filho de Pascoal e desse suposto Ambrósio Miguel, tenha havido
o casamento de um filho de Manoel de Abreu Soares (Pascoal) e uma filha de um
desses Berenguer (Helena). Na descendência de Pascoal e Helena aparece o sobrenome
Barbosa de Albuquerque.
Leocádia de Manoel de Abreu Friellas, 1688 |
A Genealógia é complexa, mas interessante porque com ela se tem uma base para a origem de um ou mais sobre nomes. Parabéns por mais um artigo! Cristina Nunes.
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