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segunda-feira, 4 de março de 2013

Clara, irmã de Frei Miguelinho, e o supositício de Cascudo





João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
Batismo de Clara
Daqui a quatro anos, no dia 6 de março, a revolução que começou em Pernambuco, em 1817, completará 200 anos. Entre seus mártires, o nosso Frei Miguelinho, arcabuzado em Salvador no dia 12 de junho daquele ano. Clara, irmã de Miguelinho, entrou para a história como conta o jornalista Manoel Dantas: aqui começa a epopeia do martírio de Miguelinho. Tendo, na qualidade de secretário do governo, muitos papéis e documentos comprometedores de inúmeras pessoas, para livrá-las da sanha dos agentes da tirania, o herói natalense, em vez de acompanhar os seus amigos para o engenho Paulista, na noite de 20 de maio, condenou-se voluntariamente à morte e tratou, antes de morrer, de salvar o maior número possível dos seus concidadãos, implicadíssimos no movimento revolucionário. Nessa mesma noite, Miguelinho sobe as escadas da casa de sua residência em Olinda, onde, debulhadas em lágrimas, recebe-o sua irmã D. Clara. Miguelinho estreita ternamente a irmã querida e dize-lhe com meiguice: Mana, nada de choros; estás órfã, tenho enchido os meus dias, logo me vem buscar para a morte, entrego-te à vontade de Deus; nele terás um pai que não morre; mas aproveitemos a noite, imita-me; ajuda-me a salvar a vida de milhares de desgraçados. Trataram então os dois heróis de queimar todos os documentos e papeis que existiam na sala sobre a revolução e que podiam complicar a sorte dos seus companheiros. Findo esse serviço de abnegação patriótica, os dois irmãos passaram o resto da noite em ternos e afetuosos preparativos para receberem os algozes.

Relata, ainda, Manoel Dantas sobre D. Clara Joaquina de Almeida Castro: Foi a companheira fiel e devotada do insigne herói que o acompanhou até o começo do seu martírio. Morando em companhia de Miguelinho, foi suspeitada de cumplicidade nos acontecimentos revolucionários e por esse motivo encarcerada de ordem de Luiz do Rego, saindo somente da prisão depois que o governo do Rio de Janeiro mandou peremptoriamente que desse por finda a terrível devassa. D. Clara era digna irmã do intemerato patriota, e dotada de ânimo varonil e forte. Sofreu com inabalável constância a prisão afrontosa e os castigos que lhe foram infligidos.

Outro fato contado por Manoel Dantas sobre Clara: A respeito dessa senhora, conta-se um episódio que dá a justa medida da força de ânimo indomável que possuíam os Castros. Tendo, ao sair da prisão, concordado em casar-se com o sobrinho tenente-coronel Ignácio Pinto de Almeida Castro, que então se achava em Recife, encontrou embaraços por parte da Igreja. Desenganada de efetuarem essa união, fizeram ambos, na ocasião em que assistiam uma missa, declaração solene e pública de que estavam casados e assim seguiram para o Ceará onde receberam as bênçãos.

Dizem vários escritores, que em 1784, Clara seguiu para Recife na companhia de Miguelinho e outros irmãos. Mas Câmara Cascudo, que não tinha visto o batismo de Clara, infere por várias razões, que ela para ter ido morar em Recife deveria ter sido uma das irmãs mais velha de Miguelinho. Por isso, escreveu: Proponho o ano de 1769 como do nascimento de Clara de Castro. É supositício, mas possui todos os elementos de convicção comprovada.

Na verdade, Clara não poderia ter ido para Recife, naquele ano, como informaram os historiadores, pois seu nascimento se deu em data posterior, se não vejamos: Clara, filha do capitão Manoel Pinto de Castro e de sua mulher Francisca Antonia Teixeira, neta pela paterna de Francisco Pinto de Castro e de sua mulher Izabel Pinto de Almeida e pela materna de Francisco Pinheiro Teixeira e de sua mulher Bonifácia Antonia de Mello, nasceu aos doze de agosto de mil setecentos e oitenta e sete, e foi batizada aos vinte dois do dito mês e ano por mim abaixo assinado; foram padrinhos o Reverendo Padre Joaquim José Pereira e Joanna Gomes de Mello, solteira, do que mandei fazer este assento em que por verdade me assino. Pantaleão da Costa de Araújo, vigário do Rio Grande.

Segundo Mariana Almeida Assunção, em sua tese de mestrado sobre escravidão em Fortaleza, D. Clara Joaquina de Almeida Castro deixou um testamento, com as seguintes informações: era moradora da Rua do Garrote em Fortaleza e não teve filhos do seu casamento com o sobrinho Ignácio Pinto de Almeida Castro; entre seus bens, havia 29 escravos, sendo que doze deles deixou alforriados; havia ainda plantações de cana, engenho de ferro e alambique em seu sítio na povoação de Maranguape; no sítio São Francisco, situado na Serra de Maranguape, deixou plantações de café; seu inventário, datado de 21 de novembro de 1855, encontra-se no Arquivo Público do Ceará – COF, maço 19.

Ignácio Pinto casou novamente quando enviuvou. Sua esposa, Maria Joaquina, sua sobrinha, era filha de Joaquim Felício (mesmo nome de um tio), um irmão de Ignácio. Houve descendência.
Outra informação que precisa ser corrigida é sobre o nome do irmão de D. Clara, que era pai de Ignácio Pinto de Almeida Castro. Ele se chamava Francisco Pinheiro Teixeira, como vários dos seus ascendentes. Casou em 9 de junho de 1799, na capela de Santo Antonio do Potengi, com Maria de Assunção Oliveira, filha do sargento-mor José de Oliveira Leite e de Maria de Assunção, e neta paterna de Thomé Leite de Oliveira e Marianna de Assunção, e materna de Antonio Vaz de Oliveira e Bernardina Josefa de Moraes. Ele deixou descendentes no Ceará.